AS CONTRADIÇÕES DA VILA DE JERICOACOARA NO

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AS CONTRADIÇÕES DA VILA DE JERICOACOARA NO PROCESSO DE
FORMAÇÃO DA IMAGEM TURÍSTICA
Autor: Débora Raquel Freitas da Silva/bolsista PET/UFC
[email protected]
Co-autor: Jéssica Girão Lopes/bolsista PET/UFC
[email protected]
Orientadora: Maria Clélia Lustosa Costa
Universidade Federal do Ceará
[email protected]
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho analisa o turismo do Ceará e a inserção de Jericoacoara nesta lógica
através da produção de uma imagem turística, além de discutir os impactos sobre a
comunidade local.
O turismo no Ceará ocorreu, grosso modo, em três etapas: o turismo ocasional dos
anos 1970, o início do turismo de sol e praia nos anos 1980-1990 e a sua efetivação nos
anos 1990-2000.
Observa-se que uma das principais áreas de turismo, no Brasil, é a região Nordeste.
Vários autores estudiosos sobre o assunto apontam a “salvação da economia” pelo turismo
em locais pobres.
O turismo no Ceará é recente e foi difundido por industriais e empresários que ao
observarem o sucesso desse fenômeno na Espanha e no Caribe, planejaram-no para o litoral
nordestino. Porém nos anos 1970, sua efetivação consistiu-se em algo incipiente, já que no
comando dos militares, à indústria foi incentivada como principal atividade econômica.
Nos anos 1980, com a reestruturação na esfera política federal e estadual, observa-se
a priorização do turismo no Ceará a partir do Governo das Mudanças (1986). Inicia-se,
portanto, um processo rápido de planejamento e efetivação do turismo.
A atividade turística foi priorizada no Nordeste. No Ceará foi reforçada com a
implantação do Programa Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR – CE)
nos anos 1989 e 1990. Houve investimentos pesados em infra-estrutura, no intuito de colocar
na rota turística internacional, o litoral e os “pólos turísticos” cearenses.
Nesse contexto, com uma área de 201 km², o município de Jijoca de Jericoacoara foi
criado em 1991, efetivando a priorização da atividade turística. Para tanto, o governo
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estadual através de publicidades, e propagandas, estratégias de marketing visando atrair
investimentos privados e turistas, construiu uma imagem turística da vila de Jericoacoara. De
isolada vila de pescadores, Jericoacoara transforma-se em Paraíso Turístico, com grande
remodelação espacial, cultural e econômica.
Esta pesquisa realizada em 2009, contou com levantamento bibliográfico e pesquisa
de campo, com aplicação de questionários semi-estruturados e entrevistas com residentes e
turistas do local, além de empresários.
2 TURISMO NO CEARÁ E POLÍTICAS PÚBLICAS – BREVE HISTÓRICO
O turismo no Ceará é um fenômeno recente e tem relações intrínsecas com o
planejamento estatal. Até os anos 1980, segundo Bernal (2005), o governo estadual visava
principalmente à indústria, pois, esta era considerada como um vetor de desenvolvimento.
Notadamente, no Nordeste brasileiro esta política tem início com a criação da SUDENE
(Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), no final de 1959.
No Governo das Mudanças, liderado por Tasso Jereissati, vinculado ao Centro
Industrial do Ceará (CIC) altera-se esta situação. Dantas (2002) ao analisar as
transformações no espaço cearense a partir do turismo, discute a crise econômica do Estado,
o endividamento público, o enxugamento da dívida pública e novas alternativas para do
desenvolvimento econômico do Ceará. Dentre as novas ações propostas no planejamento
governamental Dantas destaca ainda que o turismo como a principal atividade econômica do
século XX e XXI.
O planejamento estatal voltado para o turismo atinge o ápice com a criação do
PRODETURIS (Programa de Desenvolvimento do Turismo do Litoral do Ceará) em 1989.
Tal programa, segundo Dantas (2006, p. 24), financiado pelo BID e tendo como órgão
executor o Banco do Nordeste visava “dotar e melhorar a infra-estrutura turística
(saneamento, transportes, urbanização e outros), implantar projetos de proteção ambiental
(...) e capacitar profissionais”, além de planejar modificações audaciosas no espaço.
Entretanto, Em 1991, o então governador Ciro Gomes continuando a política voltada
ao turismo, assina o “Pacto da Cooperação”, um movimento informal entre o Estado e a
iniciativa privada. De acordo com Aragão (2005) o pacto tem as seguintes metas: a) o
turismo como instrumento de modernidade, pois é esta que orienta todas as ações da vida; b)
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encontrar estratégias de sobrevivência das elites locais; c) mudar a mentalidade do
empresariado cearense mediante a saída cooperativista; d) aplicar a estratégia da mudança da
mentalidade em todos os setores da sociedade.
Portanto, era preciso transformações nas esferas “sociais, econômicas e espaciais”
para impor o turismo como a principal atividade econômica do Ceará. Inicia-se, então, um
processo de “marketing turístico e propaganda”.
Para Dantas (2008) isso se revela através de um novo quadro simbólico com base
nas áreas semi-áridas, mas para construir, desta vez, uma imagem positiva, servindo os
interesses de um grupo de empresários ligados ao agronegócio e ao turismo. Vê-se, no
Ceará, portanto, a transição da imagem de um estado castigado pela seca e miséria para a
imagem do Ceará paradisíaco, “a terra da luz”.
Em 1992, a implantação do Programa de Desenvolvimento do Turismo da Região
Nordeste (PRODETUR/NE) resulta de planejamento estatal, não somente na esfera estadual,
mas também federal. Através desse programa o aporte de investimentos (US$ 800 milhões
ao turismo nordestino) tornou-se muito maior do que os estados poderiam oferecer.
No entanto, no desenvolvimento dos programas referidos, alguns pontos negativos
tornam-se evidentes. Benevides (1998) detalha estas questões, apontando que os fatores
positivos que são apenas de ordem econômica: a) aumento da renda do lugar “turístico” a
partir das atividades turísticas; b) estímulo aos investimentos e à geração de empregos, pois o
turismo tem capacidade de inserir outras atividades; c) expansão das massa de salários e
“transferência de riquezas” e d) o turismo aumenta as receitas governamentais, ou seja, os
impostos, que podem ser transformado em investimentos. Outros fatores positivos podem ser
observados no aumento significativo dos fluxos turísticos, segundo dados da Embratur
(2004).
Os fatores negativos estão mais na esfera social e cultural, com impactos também no
setor da economia local: a) pressão inflacionária, excluindo a população local dos preços e
mercadorias oferecidas no lugar; b) dependência da economia ao turismo, e assim, cria-se
uma “vulnerabilidade econômica” por falta da diversidade econômica; c) questões
socioculturais e ambientais, tais como degradação ambiental, influência cultural, “destruição de
modos e comportamentos”, além do aumento da violência e “afrouxamento da moralidade
anteriormente existente”, o que leva ao turismo sexual.
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O turismo passa a ser prioridade na efetivação do desenvolvimento econômico do
Ceará. Apesar do PRODETUR/NE ser assinado em 1992, suas obras só foram iniciadas em
1997. Em 1995, cria-se a Secretaria de Turismo do Ceará (SETUR-CE) e “estadualiza” de
vez o poderio turístico do Estado. Desde 1973, com a criação da EMCETUR (Empresa
Cearense de Turismo), o planejamento vincula-se à SUDENE e ao BNB, na escala federal.
(ARAGÃO, 2005).
Na década de 1990, ocorreram maiores modificações na produção do espaço,
principalmente litorâneo, motivadas pelas atividades turísticas, direcionadas pelo Estado. O
litoral torna-se o espaço privilegiado pelo turismo. Para tanto, cria-se “áreas turísticas”: Sol
Nascente e Sol Poente, e conjuntamente, implantam-se rodovias e saneamento básico (água e
esgoto) no litoral leste e oeste. A infra-estrutura foi fundamental para o desenvolvimento
efetivo do turismo. (CRUZ, 2007). No próximo tópico, trataremos do turismo no Ceará, das
políticas públicas e como o município de Jericoacoara foi atingido por estas ações.
3 CARACTERIZAÇAO GERAL DE JERICOACOARA
Jericoacoara ocupa uma área de 5.480 ha, localiza-se no litoral Oeste do Estado do
Ceará, acerca de 310 km de Fortaleza, capital do Estado e aproximadamente a 18 km da
sede do município. Esse município encontra-se entre os rios Coreaú e Acaraú.
Trata-se de um local de beleza natural, onde a paisagem possui grande valor cênico,
econômico e estético (LIMA E SILVA, 2004). Nesse sentido, destacam-se as falésias, as
lagoas interdunares, o serrote, formação rochosa bastante significativa, os coqueirais. Na zona
de praia além tem o ícone de Jeri: a pedra furada, monumento rochoso esculpido pela
natureza com aproximadamente 10m de altura, tendo uma escavação ao centro. Fonteles
(2000) afirma que Jericoacoara é detentora de um dos mais ricos ecossistemas do Estado e
possui beleza indiscutível.
Jericoacoara, conhecida como uma simples vila de pescadores, sofreu grandes
modificações com o advento do turismo no local. “Até o final da década de 1970 os
moradores da comunidade viviam em interação íntima com a natureza, relacionando-se de
forma simples à complexidade da lógica capitalista”. (FONTELES, 2000 p.49).
Anteriormente à década de 70, tinha-se uma comunidade cuja subsistência baseava-se em
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atividades de subsistência, na pesca, no pequeno comércio e na agricultura, que passou por
mudanças significativas com a atuação turística.
As moradias, antes da chegada do turismo, tinham valor de uso e constituíam-se em
poucas casas, a maioria de taipa e algumas de pedra, o que demonstrava a simplicidade da
população de Jeri. A transformação na tipologia habitacional do lugar, somente se dá com a
implantação de atividades de lazer e turismo e mudança nos hábitos locais.
A localidade estudada possui beleza indiscutível, fato que acelerou o processo de
expansão da atividade turística e alterou não somente a organização espacial da localidade,
mas também a vida dos nativos. Dados do IBGE de 2007/2008 revelam as transformações
com impacto na organização espacial. A tabela abaixo contem informações gerais sobre
Jericoacoara:
Tipo de Variável
População
% de população urbana
% de população rural
Unidade de Saúde
Médicos
Ligação de água (% população)
Ligação de esgoto(%população)
PIB SERVIÇOS (% total)
PIB TURISMO (% total)
Situação (% , em mil, etc)¹
15.442
30%
70%
5 (5 públicas)
65
100%
8,17%
78%
63%
¹Dados do IBGE , 2007/2008.
Nas entrevistas realizadas na localidade constatou-se que não restaram muitas
alternativas aos moradores nativos, a não ser adaptarem-se as novas atividades demandadas
pelo turismo que passou a ser parte da realidade deles. Portanto:
Com a entrada do turismo e posteriormente da televisão, verificamos uma alteração
no seu cotidiano - desarticulando a comunidade, desagregando valores culturais e
psicossociais-motivando-os a reestruturarem suas práticas, a partir de um novo
referencial. (FONTELES, 2000.p.40)
Ressalta-se que adaptar-se às atividades turísticas, com a inserção da população em
atividades produtivas vinculadas ao turismo (ocupação de: garçons, guias, vendedores
ambulantes arrumadeiras, serventes de pedreiros, dentre outras) passou a ser necessário à
sobrevivência dos moradores, tendo em vista o enfraquecimento das atividades realizadas
anteriormente.
Na pesquisa de campo, com entrevistas realizadas com os moradores e turistas da
localidade, percebeu-se que Jericoacoara é um distrito voltado e que sobrevive quase que
exclusivamente do turismo. Isso só vem a confirmar o efeito da construção de uma imagem
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que o turismo criou e atraiu pessoas de outros estados e países para usufruírem das
amenidades e belezas naturais.
Além destas informações supracitadas, é importante ressaltar que Jericoacoara
constitui-se em uma área de proteção ambiental. No início da década de 1980, depois de
estudos realizados, a área de campo de dunas e seu entorno foi declarada área de proteção
ambiental, culminando a criação da APA de Jericoacoara.
Com a criação da APA ficam garantidas a proteção e a preservação dos constituintes
naturais, bióticos ou abióticos existentes no local. O decreto n. 90.379 de outubro de 1994
faz proibições e restrições a tudo o que possa vir a degradar ou destruir esse ambiente.
Apesar de alguns desrespeitos ao meio ambiente, como a existência de lixo e esgotos
a céu aberto, percebeu-se haver cuidado com a preservação da localidade. Essa preservação
foi promovida a partir da implantação da APA de Jeri, outro fator utilizado para atrair turistas.
A idéia de preservação ambiental atualmente é moda e atrai turistas principalmente
estrangeiros.
4 IMAGEM TURÍSTICA E JERICOACOARA
Com base nas informações adquiridas em pesquisa de campo, realizada no ano de
2009, e também, através de um levantamento bibliográfico, observou-se a importância e a
repercussão que a construção da imagem turística, com base em elementos da natureza e da
cultura, promoveu em Jericoacoara.
A comunidade de Jericoacoara permanecia com práticas isoladas dos costumes
exteriores até a década de 1980, quando foi indicada pelo Jornal Norte-Americano The
Washington Post, como “uma das mais belas praias do planeta” (LIMA & CRUZ, 2004, p.
36). Desde então, ocorreram mudanças na sua dinâmica socioespacial. Segundo a
SETUR-CE, no ano de 2007, Jericoacoara recebeu 4,2% de todos os turistas, sendo o 5°
destino turístico mais procurado do Ceará, por cerca de 87.000 pessoas. E, recentemente, foi
indicado como o “melhor roteiro escolhido do Ceará” no intitulado Troféu de Roteiros do
Brasil.
No entanto, vale ressaltar que a vila de pescadores ao passar a ser um dos cinco
destinos mais procurados, sofreu muitos impactos sociais, culturais e ambientais. A partir
deste momento, a vila de Jericoacoara passa a ter como principal atividade econômica, o
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turismo. Diante disso, pode-se entender o papel do impacto desta atividade em um lugar,
outrora não-turístico, resultado da divulgação e da construção d\ imagem paradisíaca.
A elaboração de uma imagem do Ceará como espaço turístico tornou-se, por vezes,
o carro-chefe para o desenvolvimento desta atividade econômica. Aragão (2005) destaca
que o processo de elaboração das imagens turísticas, constitui-se em duas etapas principais, a
saber, o perfil textual e o apelo visual. Essa estratégica mercadológica tenta produzir através
das imagens um ambiente perfeito, em que a praia simboliza o local ideal de se encontrar
diversão por completo. De acordo com Dantas, a imagem é “derivada de uma consciência
comum de pertencimento, passa-se para um controle das imagens das cidades mediante
política de marketing baseada na mídia, e, principalmente, na televisão”. (2009, p. 51).
Para tanto, o Estado, através da Secretaria de Turismo (SETUR-CE), usa de
publicações em revistas internacionais, brochuras e folders para divulgar o Ceará não só no
Brasil, como também em feiras especializadas por todo o planeta. Prova disso, é a atração
que as praias de Jericoacoara e Canoa Quebrada provoca em troixas nacionais e
estrangeiros.
Na construção da imagem da imagem do Ceará, representa-se esta terra, como o
lugar onde a beleza e felicidade reinam, rotulando-se o povo cearense, como humoristas,
hilários, e apropriando-se também de elementos como as tradições, a cultura, a gastronomia
entre outros. (ARAGÃO, 2005).
Em Jericoacoara isto não é diferente. Na realidade, esta praia, bem como o distrito de
Jijoca, tem sido alvo de uma pesada divulgação, através das operadoras e agências de
viagens.
É importante salientar que na produção da imagem dos destinos, o que se destaca são
as características ambientais e socioculturais. Para Poutet (apud Aragão 1995), na
construção da imagem se irá selecionar as peculiaridades mais importantes do lugar e, a partir
daí, elaborar uma publicidade em cima desta particularidade transformando-a em uma atração
turística e inserindo ainda mais este produto no mercado, e, assim contribuindo para o
aumento da demanda. Jericoacoara é um exemplo do impacto econômico desta construção
de imagem. Suas belezas naturais, como a Pedra Furada e a chamada “Duna do pôr-do-sol”
são paradas obrigatórias dos turistas.
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Este fato foi registrado no trabalho de campo, através das entrevistas a moradores da
vila. Um paulista que há 18 anos vive na vila e possui um restaurante e uma escola de kite
surf, em entrevista afirmou: “Vocês não podem deixar de visitar a pedra furada e a duna do
pôr-do-sol; vir para Jeri e não conhecer essas maravilhas é um crime”.
No entanto, sabe-se que apesar da imagem do “paraíso de Jericoacoara”, a
realidade não é a mesma para os turistas e moradores. Duas curitibanas, de nível econômico
relativamente elevado (renda mensal de R$ 7.000,00) comentaram que
Jericoacoara não é uma praia bonita. Tem praias mil vezes mais bonitas do que
esta. Aqui tem muita propaganda, isso sim. Mas é bonito, só que, por
exemplo, os Lençóis Maranhenses é inúmeras vezes melhor. O que é legal
aqui é o ambiente meio zen, os moradores e a paz, porque a praia em si, não é
bonita, até esgoto a céu aberto tem.
Vê-se, portanto que alguns se decepcionam com o local ocorre. No entanto a
grande maioria, principalmente turistas estrangeiros consideram Jericoacoara um paraíso.
Estes representaram 50% da amostra selecionada (50 turistas – 50 moradores).
Dos cinqüenta moradores entrevistados, dentre estes empresários, antigos
pescadores, muitos deixaram suas antigas ocupações para alugar suas moradias aos turistas,
construindo pequenas pousadas, ou então buscaram trabalhos vinculados a esta atividade.
Quando perguntados sobre a melhora da qualidade de vida das pessoas da comunidade,
70% afirmaram que a referida melhorou. Para eles o turismo é o grande gerador de renda, a
solução para todos os males. No entanto, ressaltaram que o custo de vida aumentou com o
turismo, afirmando um morador “tudo é caro”. Quanto a geração de renda não é tão clara
assim, haja visto que os grandes empreendimentos não são de nativos; pelo contrário, são
pertencentes à italianos, portugueses e estrangeiros em geral.
Nos empreendimentos econômicos ligados a atividades turísticas e comerciais na
vila, encontraram-se joalherias, lojas estas, com produtos de valores altos, voltado quase
exclusivamente à população flutuante. Ocorreu modificação no comércio, no perfil dos
moradores e em suas estratégias de sobrevivência. A maior presença dos turistas ocorre no
período de feiras, meses de Janeiro, Julho e Agosto, sendo que, para os moradores, 80% dos
turistas são de origem estrangeira (Finlândia, Canadá, França) e 20% brasileira,
principalmente oriundos do Sul, Sudeste.
5 CONCLUSÃO
Com base nos estudos realizados até o momento, observaram-se duas visões de
Jericoacoara, uma do turista e a outra da população local. A primeira positiva, em razão do
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suporte em infra-estrutura e serviços voltados aos turistas e visando a geração de renda e
empregos temporários na alta estação. Já a população local avalia os pontos positivos e
negativos da inserção de Jericoacoara na rota do turismo internacional. Antes, tinham como
principais atividades para sua sobrevivência agricultura de subsistência, a pesca, e o
artesanato local. Atualmente muitos se incorporaram ao setor turístico, trabalhando em
restaurantes, hotéis e, realizando atividades informais no comércio e serviços.
Pelas entrevistas, observou-se que poucos moradores falavam mal dos turistas.
Ouviu-se que “o turismo era a salvação da população”, pois as atividades pesqueiras estavam
passando por dificuldades e já não era suficiente para gerar renda e atender as necessidades
da população local. Outro fato ressaltado foi o aumento do custo de vida que aumentou com
o turismo. No período da alta estação eles conseguem se manter, obedecendo, dentre outras
coisas, suas práticas anteriores, mas, na baixa estação tem que buscar outras atividades
remuneradas, ou seja, trabalhar em pousadas, hotéis, e restaurantes.
A população nativa tem sofrido grandes impactos, pois nem todos conseguem se
inserir neste modo de vida, e acaba marginalizada. Muitos não têm acesso as condições
básicas, como escolas de qualidade, postos de saúde na vila, serviços de segurança, dentre
outros, tendo em vista que a gestão política e administrativa prioriza o turismo.
6 BIBLIOGRAFIA
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