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ARTIGOS
Cidade média e centralidades:
o subcentro Major Prates em Montes Claros / MG
Medium size city and centralities:
the subcentral area Major Prates in Montes Claros / MG
Iara Soares de França *
Beatriz Ribeiro Soares **
Resumo: As cidades médias crescem e se expandem obedecendo a uma dinâmica e intensa trocas de fluxos de mercadorias,
de capitais e de usos. Nesse sentido, os espaços são transformados, as atividades se expandem e se deslocam, criando novas
centralidades. Em Montes Claros, o crescimento da cidade, resultante do aumento demográfico e da expansão do tecido
urbano, tem ocasionado seu alargamento com a abertura de novos bairros e loteamentos para áreas periféricas. Nessas
circunstâncias, a área central da cidade vai perdendo seu caráter residencial, passando a assumir demasiadamente diversos
tipos de funções relacionadas à prestação de serviços e ao comércio. Todavia, a emergência de novas formas comerciais ou
centralidades urbanas, tais como os subcentros de comércio e serviços, paralelamente à pujança e à representatividade
comercial do núcleo e da área central, tem marcado a dimensão econômica de Montes Claros no Norte de Minas Gerais. Para
tanto, o presente trabalho tem por objetivo compreender a emergência de novas centralidades associada à expansão urbana
e ao consumo das populações em Montes Claros, cidade média do Norte de Minas Gerais, tendo como estudo de caso o
subcentro Major Prates.
Palavras-chave: cidades médias, centralidades, subcentros.
Abstract: Mediun size cities grow and spread obeying an intensive dinamyc of commodity, cash ok changes and flow. In this
way, spaces are transformed, activities are spread and moved and also cause new centralities. In Montes Claros, the cities
growth, result of demographic increase and the urban expansion, has made its widening with an opening of new neighbors
and division into plots to the peripheral areas. In this circunstancies, the city central area is losing its residential character and
assuming several types of functions related to services rendered and trade. However, the emergency of the new comercial
ways and urban centralities as the subcentral areas of trade and services, as well as the power and commercial representation
from the nucleus and central area have marked the economical dimension of Montes Claros in the North of Minas Gerais.
Then, the present work dims understanding the emergency from the new centralities associated to the urban expansion and
to the population consumption. To this, Montes Claros has been discussed as a medium city in the North of Minas Gerais, and
the study case we have is the subcentral area, Major Prates.
Keywords: Medium cities, centralities, subcentral areas.
* Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia. Professora do Departamento de Geociências da
Universidade Estadual de Montes Claros.
** Professora Doutora do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia.
11
Montes Claros, v.9, n.1 – jan./jun. 2007
Desde a sua origem, em meados do século XIX,
Montes Claros passou por inúmeras transformações,
sobretudo, econômicas, políticas e demográficas. A
respeito do desenvolvimento da cidade, Barbosa
(1995, p. 210) considera que
Introdução
O elevado crescimento populacional das cidades
médias tem gerado uma expansão da malha urbana
associada à necessidade de moradia, trabalho, e,
conseqüentemente, ampliação do consumo. Esses
fatores justificam o surgimento de subcentros de
comércio e serviços nessas cidades. O presente
artigo analisa a emergência de novas centralidades
urbanas, resultante da expansão urbana e das
demandas de consumo das populações, tendo como
estudo de caso o subcentro Major Prates em Montes
Claros, cidade média do Norte de Minas Gerais. Para
esse estudo, foi realizado um levantamento das
atividades desenvolvidas nos espaços de maior
concentração econômica do subcentro Major Prates
e que, posteriormente, deu suporte à análise da
distribuição espacial do comércio e da prestação de
ser viços, suas características gerais e
especificidades. Para isso, foram confeccionados
mapas de uso e ocupação do solo da área de estudo,
bem como material iconográfico. O texto encontrase estruturado em duas partes, sendo que, na
primeira, é realizada uma breve caracterização da
cidade de Montes Claros, seguida de uma reflexão
teórica sobre sua posição de cidade média. Na
segunda parte, é analisado o subcentro Major Prates,
enquanto importante centralidade urbana na cidade
de Montes Claros. O texto é finalizado com algumas
considerações sobre o tema.
[...] a história de Montes Claros deve ser dividida em três partes principais: a 1ª vai até a
inauguração da estação ferroviária, em 1º de
setembro de 1926; como ponta de trilhos,
Montes Claros tomou, a partir daquela data,
extraordinário impulso, passando a funcionar
como verdadeiro centro da importante região.
Essa segunda fase prolongou-se até a instalação da SUDENE que, a princípio, não despertou
o interesse dos mineiros; mas, em seguida, criou,
em Montes Claros, legítimo pólo de convergência de todos os municípios do Norte de Minas.
A transformação que, desde então, se operou,
em Montes Claros, foi qualquer coisa de
impressionante. Hoje, Montes Claros atravessa
sua fase de maior desenvolvimento, como
grande centro industrial e comercial.
O intenso processo de urbanização decorrente dos
fluxos migratórios provenientes de outras cidades,
iniciado na década de 1970, e a expansão territorial
urbana decorrente desse movimento contribuíram para
que Montes Claros se consolidasse como centro
polarizador da região norte-mineira. O tamanho
demográfico e o papel regional que essa cidade
desempenha permitem classificá-la como uma cidade
média, conforme demonstram estudos de Andrade;
Lodder (1979); Amorim Filho, Bueno e Abreu (1982);
Pereira, Lemos (2004); Soares (1999, 2005) e França
(2007). Em muitos estudos, a cidade de Montes Claros
surge como um centro regional que comanda as áreas
do seu entorno e os municípios com menor diversidade
de funções. Abriga fluxos regulares de mercadorias,
pessoas, informação, interagindo com a capital estadual,
Belo Horizonte, que a polariza. (PEREIRA, 2005).
Montes Claros: uma cidade média nortemineira
O município de Montes Claros está localizado no
Norte do estado de Minas Gerais, na bacia do Alto
Médio São Francisco, área de clima tropical semiúmido, com vegetação predominantemente constituída pelo cerrado caducifólio. Abrange uma área
territorial de 3.576,76 km2, onde vive uma população total de 342.586 mil habitantes1 . (IBGE, 2007).
1
É importante destacar que a definição de uma cidade
média deve ser baseada não somente em critérios
populacionais e no papel regional que essa cidade
(Acesso em 2007, mas os dados referem-se à contagem populacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística/IBGE no ano de 2005).
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Artigos
Cidade Média e Centralidades: O Subcentro Major Prates em Montes Claros / MG
FRANÇA, I.S.; SOARES, B.R.
funções que passaram a definir o perfil econômico da cidade. Inicialmente, muito influenciado pela pecuária e expansão do comércio, e depois, a indústria e conseqüentemente uma grande diversidade das atividades
terciárias que se estabeleceram após a indústria.
desempenha, mas também abarcando a infraestrutura econômica, os equipamentos e os serviços
que possui. Além desses elementos, é relevante
analisar o nível de complexidade da divisão do
trabalho em que as cidades classificadas como médias
estão inseridas. Relacionam-se, para isso, entre
outros, a localização geográfica e a estrutura de
transportes e de comunicação que as cidades
possuem. Sobre os critérios que classificam uma
cidade como média, Spósito (2001, p. 329) adverte
que:
A evolução do segmento educacional e sua diversidade, especialmente no ensino superior de Montes
Claros, demonstram a importância desse ramo como
dinamizador do setor terciário e da própria economia da cidade que, por sua vez, reitera sua importância polarizadora regional e influencia o Norte, o
Leste, o Noroeste de Minas, além do sul da Bahia. A
variedade de cursos de graduação existentes na cidade, tanto público quanto privado, os programas
de pós-graduação lato sensu e stricto sensu têm contribuído para a melhoria da qualificação profissional
na cidade e na região.
[...] a expressão “cidade média” tem sido mais
utilizada como noção ou como uma classificação, do que como conceito, pois tem servido para designar cidades como população
entre 200 e 500 mil habitantes. Mais do que
parâmetros populacionais deveríamos
considerar os papéis desempenhados pelas
cidades em uma divisão de trabalho interurbana e as suas formas de expansão e aglomeração urbanas como indicadores de sua caracterização.
Um outro setor que apresenta bastante expressão e
dinamicidade na economia de Montes Claros é o da
saúde. O município possui 45% dos hospitais2 do
Norte de Minas com 138 estabelecimentos de saúde (IBGE, 2007). Os hospitais de Montes Claros contam com 876 leitos, sendo que, desse número total, 739 leitos são disponíveis ao Sistema Único de
Saúde – SUS (IBGE, 2007). Dados do Ministério da
Saúde informam que, no ano de 2001, a rede hospitalar do SUS, no Brasil, contava com 486 mil leitos
em hospitais vinculados ao SUS, média de 2,8 por
mil habitantes (Fonte: <http://www.saude.gov.br>.
Acesso em: jul. 2007). Em Montes Claros, a média,
nesse mesmo período, era de 2,4 leitos por mil habitantes na rede SUS.
Além de desempenhar funções nos setores de serviços, comércio, indústria, político-administrativos,
a cidade de Montes Claros mantém relações de produção e consumo que extrapolam o seu espaço físico, ou seja, alcançam toda a região norte-mineira,
consolidando sua importância regional. Nessa perspectiva, a cidade possui relações, sobretudo econômico-financeiras, em escala local e/ou regional. A
respeito disso, Leite (2003, p.74) considera que:
[...] o rápido crescimento demográfico dos
últimos 30 anos fez com que as cidades
redefinissem suas atividades econômico-sociais. Com efeito, a cidade de Montes Claros
alcançou ainda maior destaque no cenário
regional, tendo em vista a sobreposição de
2
Analisando a participação dos setores da economia
Esse número assim se distribui: 8 hospitais2, 3 policlínicas2 e 15 postos-centros de saúde, inúmeras clínicas
especializadas: cardiologia (8), check up (1), estética (6), fisioterapia (14), médicas (25), odontológicas (30), olhos (2),
ortopédicas (1), pediátricas (2), psicologia (7), psiquiátricas (2), radiologia (3), reabilitação (1), repouso (1), ultrasonografia e ecografia (3), somando aproximadamente 104 estabelecimentos, além de aproximadamente 30
laboratórios. (Pesquisa Direta, 2006).
13
Montes Claros, v.9, n.1 – jan./jun. 2007
no PIB municipal3 , percebe-se que ocorreram variações ao longo dos anos de 2001, 2002 e 2003. No
período de 2001 a 2002, houve uma elevação nos
setores industrial e de serviços e variação e/ou queda na agropecuária. No ano de 2001, a participação
do setor agropecuário foi de 3,3%; na indústria, de
44,5% e, no setor de serviços, 52,2% (Fonte:
www.fjp.gov.br, acesso em julho de 2007). Em 2002,
os índices continuaram a crescer em todos os setores, sendo que a participação da agropecuária na economia do município foi de 4,6%; 42,7% na indústria e
52,7% nos serviços. Para o ano de 2003, a
agropecuária respondeu por 4% da economia, a indústria respondeu por 42,3% e o setor de serviços
por 53,7% ((Fonte: www.fjp.gov.br, acesso em julho
de 2007), conforme mostra a tabela 01.
TABEL
A 01
TABELA
Montes Claros/MG: Evolução e Participação dos Setores por Atividade Econômica
via PIB, 2001, 2002 e 2003. (R$ 1 Mil)
Fonte: (FJP, 2006)
O crescimento da participação do setor de serviços
em Montes Claros é expressão do aumento ao acesso
a bens e a serviços que a população tem alcançado.
O PIB desse município é um indicador econômico
que revela essa tendência.
Novas centralidades urbanas: os subcentros
de comér
cio e ser viços
comércio
e de serviços, assiste-se à ampliação de áreas
centrais das cidades. Esse processo relaciona-se com
a expansão do tecido urbano. A expansão territorial,
com abertura de novos bairros/loteamentos, gerando
a formação de novas centralidades para atender ao
crescimento territorial e populacional da cidade, é
um exemplo de processos que vão se entrelaçar e
configurar o espaço atual de Montes Claros.
Seguindo a dinâmica da reestruturação intra-urbana,
associada ao processo de urbanização do final do
século XX, através dos fluxos decorrentes de
multiplicação e diversificação de atividades comerciais
A concentração excessiva de atividades e serviços
nos centros tradicionais das cidades, a melhoria nas
formas de transporte e o encarecimento para o deslocamento das classes mais pobres para os centros
3
Em 2001, o valor do PIB adicionado à agropecuária era de 49.948 mil reais e, em 2002, alcançou 66.875 mil reais. O
valor do PIB adicionado à indústria em 2001 foi de 679.732 mil reais e, em 2002, esse valor subiu para 718.227 mil
reais. Por último, o valor do PIB adicionado ao setor de serviços, em 2001, foi de 800.342 mil reais e, em 2002, este
número alcançou 850.993mil reais (Anuário Estatístico da Fundação João Pinheiro, 2006).
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Artigos
Cidade Média e Centralidades: O Subcentro Major Prates em Montes Claros / MG
FRANÇA, I.S.; SOARES, B.R.
tradicionais são, também, aspectos que têm causado o processo de descentralização da área central.
Somam-se a esses fatores a instalação de novas infraestruturas e os mais diferentes usos do solo urbano, que se impõem no atual período técnico-científico-informacional.
Os subcentros, pequenos ou grandes, dotados de
estabelecimentos comerciais e de serviços, começam a se formar para atender às necessidades imediatas da população do seu entorno, ou seja, das
áreas residenciais próximas. Mendes e Grzegorczyk
(2003, p.110) enfatizam que o surgimento dos
subcentros é uma característica tanto de cidades
grandes quanto de porte médio. Eles se constituem
em função da dinâmica intra-urbana das cidades. Afirmam que os subcentros,
Para Spósito (2001, p.238),
as áreas centrais estão se multiplicando e a
observação dessa tendência pode ser reconhecida como resultado de uma lógica que
passou a orientar a constante dinâmica de
reestruturação das cidades brasileiras. A multiplicação de áreas de concentração de
atividades comerciais e de serviços revela-se
através da nova espacialização urbana [...].
Em outras palavras, o reconhecimento da
multiplicação de áreas centrais de diferentes
importâncias e papéis funcionais pode se dar
através da observação da localização das atividades comerciais e de serviços.
[...] podem se originar dentro das cidades,
como resposta à expansão territorial e ao
adensamento populacional em determinadas
áreas. Este tipo de subcentro surge tanto nas
cidades grandes como nas de médio porte.
Ao reunir comércios e serviços, os subcentros
atraem equipamentos urbanos que, por sua vez,
funcionam como atrativos para empreendedores
interessados em investimentos, como também
atraem a população que procura espaços para morar
e que atendam aos seus anseios. Essa população irá
usufruir e consumir os subcentros instantaneamente.
Ocorrem, também, nesses espaços, fluxos de
informações, tecnologias, matérias-primas e capitais
que vão gerar diferentes núcleos dotados de infraestrutura e funcionalidade. Esses mecanismos são
condições para a articulação das atividades que serão
oferecidas e para o estabelecimento de uma
economia nas novas áreas centrais que se formam.
Tais processos se apresentam nas áreas centrais
antigas, e, como resultado da expansão territorial
das cidades, repetem-se nas novas centralidades
formadas via subcentros, entre outras.
Os subcentros emergem em regiões de grande
densidade demográfica, onde estão segmentos de
baixo e/ou alto poder aquisitivo, podendo ser
dotados ou não de boa acessibilidade e infraestrutura urbana. Geralmente, os equipamentos
urbanos que se localizam nos subcentros são
conquistados devido às iniciativas de investimentos
imobiliários, de empresas de médio e pequeno porte
que interessam em dotar tais áreas de infra-estrutura,
visando valorizá-las a fim de potencializar o consumo
da população, maximizando seus lucros com os
investimentos que efetuarem nos estabelecimentos.
Segadas Soares (1987) salienta a importância de estudos relacionados ao surgimento dos subcentros e
sua ligação com os acontecimentos no interior da
cidade, isto é, sua área central e dinâmica intra-urbana que extrapolam as barreiras territoriais e alcançam regiões. Para a referida autora,
Os empreendimentos que originam os subcentros
podem se dar a partir da criação de shopping centers,
novos loteamentos, hospitais, universidades ou
faculdades, postos de saúde, entre outros. De acordo
com Navarro (2005, p.108):
[...] o estudo dos subcentros, como de toda a
geografia urbana, é altamente dinâmico, e
qualquer transformação na vida da cidade
pode alterar profundamente a evolução desses núcleos de cristalização de comércio e
dos serviços da cidade (SEGADA SOARES,
1987, p. 133).
os subcentros desenvolveram-se, não para
facilitar a vida dos moradores, mas como
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Montes Claros, v.9, n.1 – jan./jun. 2007
resultado do processo de reestruturação
urbana, em função da expansão desta,
desenvolvendo uma centralização de acordo
com os atrativos proporcionados por algum
tipo de instituição ou equipamento urbano
que gera um certo fluxo de pessoas, [...].
Augusta Mota, Morada do Parque, Morada do Sol,
São Geraldo, Vargem Grande e Canelas. Esse bairro
conta com uma área de 759.898,91m2. Sua localização,
distante cerca de 4 km da área central, tem sido
determinante
para
o
desenvolvimento
socioeconômico não só do bairro, mas da própria
região Sul. O bairro possui um sistema viário que
articula um grande volume de pessoas e de veículos
para a região central da cidade. Entre as principais
avenidas de acesso a esse subcentro, estão a
Francisco Gaetani e a Castelar Prates, que assumem
um importante papel na concentração de comércio
e prestação de serviços. A essas duas avenidas
principais do bairro, convergem grandes fluxos de
pessoas e veículos. Ademais, registra-se que esse
espaço, também, faz limite com a BR 365, que
interliga o município de Montes Claros à Pirapora,
no Norte de Minas, e, à Uberlândia, no Triângulo
Mineiro.
No caso da cidade de Montes Claros, os subcentros
se originaram em áreas residenciais que,
acompanhando a expansão territorial urbana da
cidade e o crescimento populacional, passaram a
atrair comércios e serviços diversificados. Tais
subcentros estão distribuídos em vários pontos da
cidade e atendem as necessidades imediatas dos
consumidores locais, sendo que alguns se
apresentam mais qualificados e diversificados de
acordo com a acessibilidade da população.
É comum a presença de postos de saúde municipais
em determinadas áreas da cidade, equipamentos que
aceleraram o processo de formação dos subcentros
dos bairros Maracanã, Major Prates, Cristo Rei,
Independência e Esplanada. Além do posto de saúde,
essas áreas possuem um comércio diversificado,
escolas, entre outros serviços.
Pode-se depreender que a emergência do bairro
Major Prates à condição de subcentro se relaciona,
diretamente, com a infra-estrutura urbana que tal
espaço possui. Somado a isso, há a excelente
localização geográfica, o dinamismo econômico, o
grande contingente populacional, e, conseqüentemente, o forte mercado consumidor.
Nessa perspectiva, o subcentro Major Prates apresenta-se como uma nova centralidade no interior da
cidade de Montes Claros, já que assume uma forte
polarização na região em que está situado. Tal espaço, marcado por grande diversidade e especialização no oferecimento de comércio e prestação de
serviços, apresenta um atendimento que não se restringe à polarização da população local, atingindo,
também, a população regional, que busca o consumo de comércio e serviços.
O subcentro Major Prates está entre um dos maiores
adensamentos populacionais da cidade de Montes
Claros, com uma população residente total de 5279
pessoas, compreendendo 1,82% da população de
Montes Claros. (PREFEITURA MUNICIPAL DE
MONTES CLAROS, 2006).
O subcentro Major Prates é classificado como
subcentro espontâneo. Os subcentros espontâneos
configuram-se como réplicas do centro principal,
porém com diversidade comercial e de serviços e
com menor incidência de atividades especializadas
(VILLAÇA, 2001).
O subcentro Major Prates em Montes Claros/MG
Figura 01 – Comércio e serviços, Avenida Francisco
Gaetani, Major Prates. Autor: FRANÇA, I. S.de/ nov. 2006
O Major Prates localiza-se na região sul da cidade de
Montes Claros, possuindo como limite os bairros
Atualmente, desenvolvem-se, nesse espaço,
16
Artigos
Cidade Média e Centralidades: O Subcentro Major Prates em Montes Claros / MG
FRANÇA, I.S.; SOARES, B.R.
de calçados e de cama, mesa e banho, casas lotéricas,
serviços de transportes e cargas, bem como hotéis
e pensões são algumas atividades que ilustram o
desenvolvimento e a potencialidade econômica
desse subcentro.
atividades de consumo imediato da população, como,
por exemplo, o comércio de carnes e
hortifrutigranjeiros, juntamente com ramos de
atividades mais especializadas e complexas. Dessa
forma, academias, farmácias (Figura 01), comércio
Mapa 1 - Uso e ocupação do solo, subcentro Major Pratres
17
Montes Claros, v.9, n.1 – jan./jun. 2007
A partir do mapeamento da distribuição do uso do
solo, nota-se que a ocupação no subcentro Major
Prates é variada, possuindo, concomitantemente,
uso comercial e residencial. Percebe-se que os
estabelecimentos comerciais concentram-se ao
longo de dois eixos perpendiculares, as Avenidas
Francisco Gaetani e Castelar Prates, formando dois
núcleos estratégicos de passagem para a área central
de Montes Claros e para outros bairros da cidade,
bem como acesso ao anel rodoviário sul, saída para
a BR135.
Sobre isso, Tourinho (1989, p. 289) aponta que:
Essas áreas especialmente equipadas
apresentam características diferenciadas que
as potencializam como pontos de
concentração de atividades e permitem que
funcionem como intercambiadores de fluxos,
os mais diversos – comerciais, direcionais,
informacionais, culturais etc.
O consumo nos subcentros das cidades não se define
apenas por fatores meramente opcionais. Ele está
estritamente ligado a fatores como deslocamento,
otimização do tempo, custos econômicos e
comodidade dos moradores dos bairros. É sabido
que o deslocamento para o núcleo central tem sido
caro e demorado, de forma que se torna oneroso
para os grupos de baixo poder aquisitivo. Desse
modo, o consumo nos bairros justifica-se pela
comodidade que o subcentro proporciona, uma vez
que, localizando-se próximo às residências dos
moradores, dispensa- os de ter de pagar o
deslocamento para consumir e satisfazer às suas
necessidades.
Os quarteirões localizados nessas duas avenidas são
densamente ocupados por atividades comerciais,
notadamente no centro do bairro. Dessa forma, à
medida que se afasta dessa área, que é bastante ampla
em relação à dimensão total desse subcentro, vê-se
a ocorrência de residências, denotando uma nítida
separação entre uso comercial e residencial. O
resultado apresentado no mapa 1 demonstra,
também, a ocorrência, nesse subcentro, de
instituições públicas, unidades de ensino e de saúde,
templos religiosos e áreas verdes.
A prosperidade/complexidade/dinamismo do
subcentro Major Prates deve-se à proximidade com
a rodoviária da cidade, com o Montes Claros
Shopping Center, com a saída para a rodovia BR 365
e com a instalação de uma boa rede de infra-estrutura
básica: água, luz, esgoto, pavimentação, telefonia,
vias de comunicação e circulação. É, portanto, um
espaço de acessibilidades ideal para a manifestação
de centralidades.
Leite e Pereira (2004, p. 6), estudando a dinâmica
dessa área, afirmam que:
As atividades comerciais do bairro estão concentradas em dois pontos principais: a Avenida Francisco Gaetani e a Avenida Castelar
Prates. (Figura 1) A primeira se destaca por
uma diversidade de lojas, dentre as quais se
destacam as lojas de vestuário, calçados,
materiais escolares e móveis. As farmácias e
padarias do bairro, também, estão localizadas nessa avenida. A segunda se caracteriza
por uma grande concentração de bares,
pizzarias e sorveterias.
Sobre a centralidade, conquanto se afigure
um princípio constitutivo no plano do espaço urbano, é preciso destacar, incessantemente, que a troca de produtos sempre esteve
associada a ela. Os lugares escolhidos para a
troca de produtos comumente implicaram
situações estratégicas. Em outras palavras, a
atividade comercial sempre demandou
centralidade, o que também significa dizer
acessibilidade (PINTAUDI, 2006, p. 155).
O desenvolvimento de atividades de comércio e
serviços, juntamente com o crescimento intenso
de sua população e aliado ao processo de
descentralização das atividades centrais e às
transformações econômicas da cidade de Montes
Claros, contribuiu para a formação desse importante
subcentro.
Uma outra tendência presente nesse subcentro, de
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Artigos
Cidade Média e Centralidades: O Subcentro Major Prates em Montes Claros / MG
FRANÇA, I.S.; SOARES, B.R.
acordo com seu dinamismo e diversidade de
serviços, é o atendimento a bairros de outras regiões
da cidade, assim como aos distritos de Montes
Claros. Tal fato é viabilizado pela sua posição
geográfica, favorecida pela proximidade com a BR
365, que faz com que o Major Prates se destaque
como ponto de passagem de pessoas que visitam
ou passam pela cidade. Isso denota que a área de
influência do subcentro do Major Prates é maior,
estendendo-se a bairros vizinhos e a distritos de
Montes Claros.
possibilitar investimentos diversos, e, com isso,
melhorar a vida dos seus moradores. Desse modo,
assim como em todo subcentro, detectam-se, no
Major Prates, problemas relacionados à moradia, à
ineficiência ou à baixa qualidade dos transportes
coletivos, e à ausência de áreas verdes e vias de
lazer, entre outros. Nota-se que os referidos problemas estão associados às necessidades urgentes
da população, daí a exigência de investimentos que
proporcionem melhorias.
Considerações finais
Essa localização, próxima a importantes vias
de acesso, contribuiu para que fosse
desenvolvido no bairro um amplo comércio
varejista, pois as pessoas que vinham da zona
rural para comprar, principalmente roupas e
alimentos, preferiam fazer suas compras em
um local mais próximo, sem ter que se
deslocar até a área central (LEITE; PEREIRA,
2004, p. 5).
Diante do exposto, pode-se inferir que a cidade de
Montes Claros passa por importantes transformações socioespaciais, entre as quais a redefinição de
sua centralidade.
Os subcentros existentes na cidade estão relacionados, sobretudo, com o comércio de bairro, principalmente de produtos de consumo imediato, mas
que apresentam uma tendência à diversificação e à
especialização de atividades. A proximidade a eixos
de acesso rodoviário e a heterogeneidade funcional
e de consumo caracterizam o subcentro Major
Prates, aqui analisado.
A configuração do subcentro Major Prates indica a
existência de um espaço econômico de consumo
que se forma a partir das intervenções e ações de
grupos públicos e privados, bem como de alianças
entre eles. Isso se evidencia a partir da disponibilidade dos equipamentos urbanos, infra-estruturas,
comércio e serviços, ali existentes, para atender ao
potencial consumidor de uma população densa e
expressiva no tocante à cidade de Montes Claros.
Esse subcentro atrai atividades de comércio e serviços, sobretudo por possuir um solo a baixo custo,
onde o acesso é facilitado pelo sistema de transporte que integra as BRs que interligam Montes Claros
a outras regiões, além de facilitar os deslocamentos
intra-urbanos e interurbanos. As atividades econômicas desenvolvidas no subcentro Major Prates são
bastante diversificadas e concentram-se nas Avenidas Francisco Gaetani e Castelar Prates.
Essa idéia encontra sustentação em Segadas Soares
(1987, p. 133), quando ela preceitua que:
Um planejamento minucioso, apoiado em
estudos detalhados da realidade, deve ser elaborado para resolver os gravíssimos problemas dessas áreas, [...] já densamente povoadas, em que [...] o congestionamento do tráfego, a falta de áreas de recreação, a falta de
escolas, a insuficiência de rede de esgotos,
água e telefone mostram-nos a presente necessidade de planejar a reestruturação dessas áreas, tomando, como pontos de apoio,
os subcentros já existentes.
O Major Prates é o subcentro popular de maior diversificação e heterogeneidade funcional de Montes Claros. Aspectos como a situação geográfica, a
proximidade ao Montes Claros Shopping Center e
ao Hipermercado Bretas, além das infra-estruturas
instaladas e do grande adensamento populacional,
resultaram na dinamização econômica desse
subcentro no interior da cidade.
A produção e reprodução que se processam nesse
espaço, todavia, não inviabilizam melhorias para
19
Montes Claros, v.9, n.1 – jan./jun. 2007
BARBOSA, W. de A. Dicionário Histórico-Geográfico de
Minas Gerais. Vol.181. Belo Horizonte: Itatiaia
Ilimitada, 1995. 210p.
Esse subcentro é dotado de uma ampla
heterogeneidade funcional e variado mercado consumidor, constituído pelos moradores do Major
Prates, de bairros de Montes Claros, bem como
população de cidades e distritos adjacentes e que
tem como eixo de passagem a BR 365, localizada
nas proximidades desse subcentro.
FRANÇA, I. S. As novas centralidades de uma cidade
média: o exemplo de Montes Claros no Norte de
Minas Gerais. 2007. 240 f. Dissertação (Mestrado
em Geografia) – Universidade Federal de Uberlândia,
Minas Gerais, 2007.
Uma importante ação, que poderia amenizar as desigualdades nas cidades, seria estimular a formação
de subcentros de comércio e serviços em áreas não
restritas ao centro principal, a fim de atender às
populações, sobretudo, às de baixo poder aquisitivo, que não possuem condições de transportes para
se deslocarem até o núcleo central, a fim de satisfazerem as suas necessidades de consumo.
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São essas populações, no entanto, que criam novas
formas de consumo e sobrevivência nos subcentros
das médias cidades. Essas ações poderiam atingir as
periferias das cidades, quer seja pela atuação dos
pequenos e médios capitais econômicos, quer seja
pelo próprio poder público municipal. Assim, o comércio da área central das cidades iria se descentralizar espacialmente, ocasionando uma nova
relocalização de atividades em bairros de grande
adensamento populacional com possibilidade de
maior qualidade de vida para a população, bem como
reprodução do capital.
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