http://dx.doi.org/10.5540/DINCON.2011.001.1.0016 59 NOVAS PERSPECTIVAS DE UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA SUPERCONDUTORA EM LIMITADORES DE CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO Laura de Oliveira Carraro 1, Marlon José do Carmo 2, José Evaristo Rodrigues Costa 3, Ângelo Rocha Oliveira 4 1 CEFET-MG Campus III, Leopoldina, Brasil, [email protected], 2 [email protected], 3 [email protected], 4 [email protected] Resumo: Nesse artigo a presenta-se uma proposta de duas topologias de circuitos ressonantes ideais como FCL utilizando bobinas supercondutoras de fit a YBCO. Estes circuitos serão usados para derivar uma topologia alternativa para o limitador, baseada da cone xão de um circuito ressonante série e out ro paralelo. Discute-se, também, uma nova abordagem utilizando SMES. Palavras-Chave: Aplicações em Engenharia, SMES, SCFCL. 1. INTRODUÇÃO Vários projetos e pesquisas têm u tilizado supercondutores para limitar correntes de curto circuito. Estes projetos são denomidados SCFCL (Sup erconducting Fault Current Limiters). Motivados pela busca por melhorias na qualidade da produção, transmissão e di stribuição de energia elétrica (com o intuito de reduzir ao m áximo as falhas e os prejuízos financeiros) aumentaram-se significativamente as pesquisas com dispositivos supercondutores FCL (Faul t Current Li miters), que são capazes de reduzir os níveis de correntes de curto circuito. Um curto circuito é um a ligação de bai xa impedância entre dois pontos de potenciais diferentes. No momento do curto circuito acontece um a rápida ele vação da c orrente atingindo valores superiores a dez vezes a corrente nominal do circuito. Com a elevação da corrente, surgem efeitos mecânicos e efeitos térmicos, que prejudicam os componentes dos equipamentos. Atualmente, a medida mais comum para reduzir as correntes de curto circuito em sistemas industriais são dispositivos passivos (que não necessitam de siste ma de controle para a sua atuação) [1]. Os FCL são dispositivos que necessitam de um sistema de controle para a sua atuação. Para que um FCL seja considerado eficiente, ele deve ter as se guintes características [2]: • • • Oferecer uma impedância desprezível durante a operação normal; Oferecer uma impedância alta nas condições de falha; Dissipar pouca potência; Limitar, com rapidez e eficácia, a corrente nas condições de um curto-circuito; • Apresentar alta confiabilidade durante longos períodos; • Apresentar baixo peso, baixo volume e baixo custo; • Não alterar o fator de potência dos circuitos [3]; • Apresentar um curto tempo de recuperação (dentro de 1 a 2 ms ) quando ocorrer uma corrente de curto-circuito [4]. O presente trabalho está dividido da seguinte forma: a seção 2 apresenta uma breve re visão a respeito dos fenômenos da supercondutividade; a seção 3 abordam-se os FCL; novas perspectiva s são apresentadas na seção 4. Na seção 5 conclui-se este trabalho. • 2. SUPERCONDUTIVIDADE E FCL’s Em 1911 (em Leiden, na Holanda), Heike Kamerlingh Onnes, descobriu que a resistência (à passagem de corrente elétrica) do mercúrio era zero quando este material era submetido à temperatura de 4,2K. Três anos antes, a e quipe por ele liderada, ha via obtido a liquefação do gás hélio, que ocorre a mesma temperatura, 4,2K (-268,936ºC). Em 1914, Onnes observou que um material deixava de ser supercondutor se fo sse submetido a u m campo magnético externo superior ao campo crítico (Hc), mesmo se a temperatura tendesse a 0K. Esta d escoberta possibilitou verificar que também havia uma densidade de co rrente elétrica crítica ( Jc) que, caso superado, seria responsável pela transição para o estado normal (Sotelo et. al, 2009). Estavam, então, descobertos alguns parâmetros relacionados à supercondutividade: temperatura crítica ( Tc), campo magnético crítico (Hc) e densida de de c orrente elétrica crítica (Jc). No ano de 1986 (em Zurique, na Suíça), J. G. Bednorz e K. A. Müller descobriram a supercondutividade acima de 30 K em um óxido cerâmico contendo lantânio, bário e cobre. Através desta descoberta, deu-se início aos estudos dos chamados supercondutores de alta temperatura crítica (High temperature superconductors – HTS) que iriam, mais tarde, superar os até entã o conhecidos supercondutores de baixa temperatura crítica (Low temperature superconductors - LTS). 60 NOVAS PERSPECTIVAS DE UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA SUPERCONDUTORA EM LIMITADORES DE CORRENTE DE CURTOCIRCUITO Laura de Oliveira Carraro , Marlon José do Carmo , José Evaristo Rodrigues Costa , Ângelo Rocha Oliveira . Antes do final de 1986, os cientistas tinham verificado o começo da su percondutividade a 9 3 K no óxido de ítriobário-cobre (YBa2Cu3O7). E com o passar dos anos novos materiais supercondutores de alta temperatura crítica (HTS) foram descobertos, como por exemplo, os compostos à base de bismuto (Bi-Sr-Ca-Cu-0), de tálio (Tl-Ba-Ca-Cu-0) e mercúrio (Hg-Ba-Ca-Cu-0). Estes materiais apresentam as mais elevadas temperaturas críticas conhecidas [5]. Com a des coberta dos supercondutores de alta temperatura crítica a aplicaç ão da supercondutividade se tornou economicamente mais viável porque se pode usar nitrogênio líquido (que tem u m preço acessível) como refrigerante, lembrando que hélio líquido (utilizado nos LTS) possui um preço muito mais alto [6]. Os materiais supercondutores são di vididos em dois grupos: Tipo I e Ti po II. Esta divisão tem a ver com as diferentes respostas dos materiais supercondutores quando estes são submetidos a cam pos magnéticos. Nos materiais supercondutores do Ti po I quando o valor do campo magnético crítico (Hc) é atingido, a m agnetização vai a zero e o m aterial passa pa ra a fase normal, deixando de ser um supercondutor, a Fig.1-a exemplifica esse comportamento. queda de tensão e as perdas que os mesmos ocasionam no sistema. Os RLC podem ser instalados em série co m as linhas de trans missão (Fig.2-a) ou através do seccionamento de um barramento (Fig.2-b)[7]. a) a) b) Fig. 1. Comportamento magnético de um supercondutor do a) Tipo I e b) Tipo II. Nos materiais supercondutores do Tipo II, nota-se a presença de um estado misto, que na Fig.1-b compreende a região que vai de Hc1 até Hc2. O estado misto é caracterizado pela existência de re giões normais e superco ndutoras no interior do material supercondutor. Nesse tipo de material quando Hc1 < Hc ocorre o Efeito Meissner (é caracterizado pela exclusão do fluxo magnético do interior de um material supercondutor). Na região de Hc1 até Hc2 o fluxo magnético não está to talmente expulso do material e p enetra, parcialmente, no interior do material. Quando H > Hc2 a magnetização se anula e o material perde as característica s de um supercondutor [6]. Por enquanto não há uma teoria definitiva que explique o fenômeno da supercondutividade por este motivo, existem vários físicos que propõe modelos que definem o fenômeno, tais como: Modelo de London, Modelo de London –Pippard, Modelo de 2 Fluidos etc. b) Fig. 2. Formas de instalação do RLC nas subestações. Como esses disp ositivos produzem um elevado campo magnético, deve se assegurar certa distância ao redor do RLC, ocasionando outra desvantagem, uma vez que o espaço físico pode ser l imitado em certas subestações, usinas, empresas etc. Antes de investir em uma tecnologia RLC deve-se analisar a viabilidade econômica e o custo-benefício do equipamento. Uma vez que os reatores ocasionam perdas nos sistem as, estas perdas teriam um custo rel evante com o passa r dos anos. Deve-se levar em conta, também, a su bstituição dos equipamentos superados. Hoje, no Brasil, existem RLC instalados em [7]: • • • Subestação de Jaguara 138 kV (Minas Gerais); • Subestação de Tucuruí 500 kV (Pará). 3. DISPOSITIVOS FCL Subestação de Angra 138 kV (Rio de Janeiro); Subestação de Mogi das Cruzes 345 kV (São Paulo); 3.1 RLC O RLC (Reator Limitador de Corrente de Curto Circuito de Núcleo a Ar) é um dos m ais antigos e c om os m enores custos (de aquisição) e ntre os dispositivos de limitação de correntes de curto ci rcuito. Eles fica m instalados, permanentemente, no circuito que se deseja proteger. Por este motivo, uma das desva ntagens dos RLC são a gra nde 3.2 Dispositivos Pirotécnicos Os dispositivos pirotécnicos são circuitos ativos utilizados com a fin alidade de interromper elevadas correntes de curto circui to em tempos extremamente pequenos (menos de ¼ de ciclo [7]). Estes dispositivos foram difundidos no Brasil a partir dos anos 90 (porém, são utilizados , em todo o mundo, desde a 61 década de 50). Hoje diversas empresas nacionais como, CENIBRA, ARACRUZ, ACESITA, CST Steel etc, utilizam essa tecnologia [8]. Devem ser i nstalados juntamente com os e quipamentos de manobra convencionais (disjuntores e c haves seccionadoras). Uma vez que os dis juntores e as chave s seccionadoras, entre outros, continuam agindo na interrupção de pequenas correntes de cu rto circuito, os dispositivos pirotécnicos atuam, somente, quando o sistema está exposto a corre ntes superiores à capacidade de disjuntores. 3.3 Limitadores de Corrente de Curto Circuito baseado em Circuito Ressonante controlado por dispositivos Semicondutores de Potência Como nos demais tipo de FCL esse l imitador também deve oferecer uma impedância desprezível durante a operação normal e deve ofe recer uma impedância alta nas condições de falha. A transição do dispositivo, passando da operação normal para a operação como um limitador, é conseguida variando-se a frequência de ressonância do FCL [8]. A partir do chaveamento de dispositivos semicondutores de potência (por exemplo, tiristores de potência que são os de maior capacidade disponíveis no m ercado) consegue-se controlar os elementos reativos variáveis, sintetizados com indutores e capacitores. As Fig.4-a e Fig. 4-b apresentam dois circuitos LC ressonantes, um paralelo e out ro série. Nestes circuitos, a conexão de uma impedância muito baixa nos t erminais da carga representa a ocorrência de uma falha ou curto-circuito, sendo assim, a corrente Is que flui pela fonte senoidal atinge valores elevados. a) b) Fig. 4. Topologias de FCLs baseados em circuitos ressonantes: (a) Paralelo e (b) Série. Os resultados obtidos permitem afirmar que o li mitador proposto constitui uma poderosa ferramenta para aumentar a confiabilidade das redes elétricas submetidas a curto circuitos. 4. PERSPECTIVAS FUTURAS PARA OS SCFCL 4.1 Proposta de um FCL baseado em circuito ressonante com indutor supercondutor de fita YBCO controlado por dispositivos Semicondutores de Potência A análise desses circuitos será usada para derivar uma topologia alternativa apresentada por [8] para o limitador, baseada da conexão de um circuito ressonante e outro paralelo. O g rande problema é que as t opologias a ser em investigadas utilizam indutores com alto valor de indutância, o que torna comercialmente desinteressante tais aplicações. Pretende-se substituir o i ndutor comum por uma bobina supercondutora, sendo a mesma confeccionada por fita supercondutora YBCO (ítrio-bário-cobre) de segunda geração. 4.2 Proposta de um SCFCL utilizando SMES A tecnologia SMES (Superconducting Magnetic Energy Storage) é baseada na habilidade dos supercondutores de transportar elevadas correntes DC (c orrente contínua), com perdas resistivas próximas de zero, na prese nça de significativos campos magnéticos, não armazenando diretamente a energia elétrica. A bobina supercondutora atua armazenando energia no ca mpo magnético gerado pela circulação de corrente. Se ndo a bobina um indutor L, a energia armazenada E é pr oporcional ao quadrado da corrente I que circula na bobina, conforme a Eq.1. E= 1 2 LI 2 (1) O sistema de conversão de energia proporciona algumas formas de conversã o AC em DC e vice-versa , já que os sistemas SMES (qu e são dispositivos DC) estão quase sempre conectados a um sistema de energia AC. O sistema de refrigeração criogênico mantém a bobina supercondutora na temperatura de operaçã o apropriada para o material supercondutor utilizado. O sistema de controle estabelece uma ligação entre a demanda de energia da rede e o fluxo de energia que chega ou sai da bo bina supercondutora além de informar o st atus da m esma, do re frigerador e d os outros equipamentos do sistema. Uma nova t ecnologia está sendo discutida: trata-se de um SCFCL utilizando SMES. O di spositivo proposto será composto de um circuito de detecção de falhas, um sistema de conversão de energia (Chopper + VSI), uma bobina supercondutora, um sistema de refrigeração criogênico e um sistema de controle. O sistema, basicamente, atuará da se guinta forma: quando uma falha for detectada, o dispositivo SCFCL atuará 62 NOVAS PERSPECTIVAS DE UTILIZAÇÃO DA TECNOLOGIA SUPERCONDUTORA EM LIMITADORES DE CORRENTE DE CURTOCIRCUITO Laura de Oliveira Carraro , Marlon José do Carmo , José Evaristo Rodrigues Costa , Ângelo Rocha Oliveira . (limitando a cor rente na rede e evi tando maiores danos), porém, o ponto-chave é que esta corrente não será dissipada (ou será dissipada o mínimo possível). Como a idéia crucial é o aproveitam ento de energia (a fim de aumentar a eficiência do sistema) a corrente de falta “limitada” será, logo após a lim itação, armazenada na bobina supercondutora SMES e, t ão logo o sistema de controle ordenar, esta energia será devolvida para o sistema. A Fig.5 apresenta uma idéia geral do dispositivo proposto. Grids in E urope. Applied Superconductivity, Transactions on, vol. no. 99, pp.1, 2010. IEEE [3]DOI Dias, D. H. N., Motta, E. S., Sotelo, G. G., Andrade, R., Stephan, R. M., K uehn, L., de Haas, O., Sc hultz, L.. Simulations and Tests of Superconducting Linear Bearings for a MAGLEV Prototype. Applied Superconductivity, IEEE Transactions on , vol. no.19, pp.2120-2123, 2009. [4]DOI Irjala, M., Huhtinen, H., Jha, R., Awana, V. S., Paturi, P.. Optimization of the BaCeO3 Concentration in YBCO Films Prepared by Pulsed Laser Deposition. Applied Superconductivity, IEEE Transactions on , vol.P P, no.99, pp.1, 0, 2011. [5]DOI Sotelo, G.G., Andrade, R., Fe rreira, A.C. Test and Simulation of Superconducting Magnetic Bearings. Applied Superconductivity, IEEE Transactions on, vol. no. 19, pp. 2083 – 2086, 2009. Fig. 5. Estrutura básica de um SCFCL utilizando SMES. 5. CONCLUSÃO Este trabalho apresentou duas perspectivas de utilização da tecnologia supercondutora em limitadores de corrente de curto-circuito. A an álise da viabilidade econômica (dos FCL’s) se torna muito difícil uma vez que os mesmos ainda estão em fase de desenvolvimento e testes (ainda não estão disponíveis no mercado). Entretanto, a matéria-prima (fita ou fio 2G HTS) pa ra a construção das bobinas supercondutoras já est á sendo produzida e comercializada pelas empresas líderes mundiais. Sabe-se que esta matéria-prima possui um preço m uito elevado ($300-400/kA-m [9]) porém, através dos significativos avanços tecnológicos estão previstas melhorias significativas, as quais podem ser a chave para disseminação de novas tecnologias baseadas em supercondutividade. Os elevados custos podem ser c ompensados pelos grandes benefícios que as novas tecnologias propostas constituem, aumentando a confiabilidade das redes elétricas, que são susceptíveis a curto circuitos. AGRADECIMENTOS Os autores Gostariam de agradecer à FAPEMIG pelo apoio, bem como o CEFET-MG pela conclusão deste trabalho. 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