ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I Versão Online 2009 O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica A participação dos soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial Caderno Pedagógico MARINGÁ – PR 2010 Estrutura Organizacional Governo do Estado do Paraná Secretaria de Estado da Educação Núcleo Regional de Maringá Universidade Estadual de Maringá Programa de Desenvolvimento Educacional Autoria Suely Aparecida Macri Borges Orientador Professor Dr. Sidnei José Munhoz Área de Atuação Disciplina de História Maringá - PR 2010 Sumário Apresentação.................................................................... 03 Unidade 1: A Segunda Guerra Mundial............................ 05 Unidade 2: A participação dos soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial................................................. 17 Unidade 3: Atividades....................................................... 23 Indicações de sites........................................................... 29 REFERÊNCIAS................................................................ 30 3 APRESENTAÇÃO Este caderno pedagógico é resultado dos estudos proporcionados pela Secretaria de Estado de Educação - SEED, por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná – PDE – Turma 2009. Segundo Maria Auxiliadora, ensinar História é dar condições para que o aluno possa participar do processo de fazer o conhecimento histórico, de construí-lo (SCHMIDT E CANIELLI, 2005, p. 30). As Diretrizes Curriculares para o Ensino de História propõem o estudo das relações de poder, o que geralmente remete à idéia de poder político. Entretanto, elas não se limitam somente no âmbito político, mas também às relações de trabalho e cultura (Diretrizes Curriculares de História). O estudo sobre o tema: O Brasil na Segunda Guerra Mundial segue a Orientação da Secretária de Estado da Educação-SEED-PR, tendo em vista estabelecer uma linha de trabalho com base nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, já que a Segunda Guerra Mundial se constitui como um dos conteúdos específicos do eixo estruturante: Relações de Poder, presentes nas Diretrizes para o Ensino Fundamental e Médio. Como resultado de estudo será desenvolvido um caderno pedagógico, cuja finalidade é subsidiar o aluno e o professor na sala de aula, com um texto objetivo, atualizado, de fácil compreensão que apresente formas possíveis e caminhos recomendáveis de como trabalhar o tema por meio de uma prática pedagógica associada ao ensino-pesquisa. A presente produção foi acompanhada e orientada pelo Professor Dr. Sidnei José Munhoz que sempre atento e dedicado indicou e proporcionou leituras e questionamentos relevantes sobre o tema, cujo resultado se transformou em três unidades didáticas que compõem este caderno, sendo apresentada na primeira um contexto mundial antes do conflito, a formação de alianças políticas, o surgimento do fascismo em oposição ao socialismo e as democracias liberais, o desenvolvimento do conflito e o mundo pós-guerra; na segunda a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, a atuação dos soldados brasileiros, o retorno ao país e as 4 dificuldades de reintegração social e profissional e na terceira sugestões de leituras, filmes e atividades que levem os alunos a refletir sobre o conflito e perceberem as mudanças que surgiram na sociedade contemporânea a partir dele. 5 UNIDADE 1: A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Para Eric Hobsbawm, a primeira fase do Breve Século XX se caracteriza pelas catástrofes. Ela foi abalada por duas guerras mundiais, revoluções que levaram ao poder um regime que se apresentava como socialista e como alternativa histórica predestinada para a sociedade capitalista. Esse modelo político foi adotado, primeiro, em um sexto da superfície da Terra, e, após a Segunda Guerra Mundial, por um terço da população do globo. Uma crise na economia mundial levou as instituições democráticas praticamente a desaparecerem entre 1917 e 1942, com exceção de uma borda da Europa e partes da América do Norte e Austrália. Enquanto isso avançava o fascismo e seu corolário de movimentos e regimes autoritários (HOBSBAWM, 2009, p. 16). Corolário: resultado, conseqüência. Para entender as origens da II Guerra Mundial, é preciso retornar às conseqüências da I Guerra Mundial, quando as potências vencedoras (EUA, Grã-Bretanha, França, Itália) estabeleceram em 1919 o Tratado de Versalhes. O tratado responsabilizava a Alemanha pela guerra e como punição impunha a perda parte dos seus territórios, a redução de suas forças armadas e o pagamento de uma vultosa indenização de guerra. As imposições advindas do Tratado de Versalhes deram origem ao ressentimento da população alemã ferida no seu orgulho nacional. Os países que saíram da I Guerra tiveram problemas para promover a reconversão das suas economias, da produção bélica para a produção civil. Essa crise de reconversão afetou países de estrutura econômica mais frágil, como a Itália e também a Alemanha. A economia alemã entrou em crise e foi corroída por uma inflação astronômica e níveis de desemprego alarmantes. Essa primeira crise na economia européia durou até meados dos anos 1920. A partir daí, a necessidade de reconstrução da devastada Europa estimulou as economias européias e a dos EUA, gerando um ciclo de prosperidade que se estendeu até o final dos anos 1920 (BERTONHA, 2001, p. 7-8). Reconversão: Adaptação a uma nova situação 6 Em 1929, uma grave crise financeira assolou os Estados Unidos, levando a economia do país a uma intensa recessão que, dada a importância do país na economia mundial, se alastrou pelo mundo capitalista. Em pouco tempo a crise se transformou em depressão econômica e levou ao desespero milhões de famílias em todo mundo, principalmente em decorrência do aumento do desemprego, que gerou legiões de pessoas sem trabalho, famintas, em busca de qualquer coisa capaz de saciar a fome e acabar com sua frustração (BERTONHA, 2001, p. 8). O trauma da Grande Depressão foi realçado pelo fato de que um país que rompera com o capitalismo parecera imune a ela: a União Soviética. Enquanto o resto do mundo, ou pelo menos o capitalismo liberal ocidental, estagnava, a URSS entrava numa industrialização ultra-rápida e maciça sob seus novos Planos Qüinqüenais (HOBSBAWM, 2009, p. 100). A expansão do fascismo foi resultado do exagerado nacionalismo herdado do século XIX, de ressentimentos nacionalistas surgidos após a Primeira Guerra Mundial e da Grande Depressão. FASCISMO: conjunto de percepções de extrema-direita em ascensão na década de 1920 decorreu em larga escala do acelerado processo de modernização e desagregação das sociedades tradicionais, particularmente sentido em setores da pequena burguesia urbana (Alemanha, Itália e Áustria) ou em amplos segmentos camponeses (Espanha, Portugal, Hungria e Romênia). TEIXEIRA DA SILVA, Francisco Carlos (org). Enciclopédia de Guerras e Revoluções XX. Rio de Janeiro: Elsevier/campus, 2004, p. 298. NACIONALISMO: corrente política que luta pela independência de um país em oposição a forças internacionais que ameaçam sua autonomia. Encyclopaedia Britannica A partir daí, grupos nacionalistas mais radicais, especialmente os da extrema-direita, passaram a utilizar a crise econômica como justificativa para atacarem todo sistema liberal-capitalista, considerado por eles, como um sistema fraco, incapaz de resolver a crise e passaram a defender um governo forte e autoritário capaz de conter a agitação social. Foi nessas circunstâncias e em oposição ao socialismo e 7 comunismo, que os movimentos de direita, como o fascismo, ganharam força na Europa. SOCIALISMO: movimento político que pretende modificar as relações dentro da sociedade, suprimindo as diferenças de classe e entregando ao povo os bens de produção. Encyclopaedia Britannica COMUNISMO: sistema de organização social baseado na propriedade comum ou na distribuição igual da riqueza, por meio da tomada de poder pelo proletariado, queda da burguesia e a supressão da sociedade capitalista. Encyclopaedia Britannica Na Europa, o primeiro país a se tornar uma ditadura fascista foi a Itália, em 1922, quando Benito Mussolini na liderança do Partido Nazionale Fascista tomou o poder e se manteve a frente do comando até a Segunda Guerra Mundial. Na década de 1920 e principalmente nos anos 1930, muitos países europeus adotaram regimes autoritários, vários deles de cunho fascista com distinção entre si, porém tinham traços peculiares como o Estado Forte, combate a esquerda, nacionalismo e militarismos mais intensos. Os problemas internacionais associados ao nacionalismo e a defesa de guerra como meio de solucioná-los, eram uma ameaça previsível para a paz e tornou-se preocupante ao atingir a Alemanha, país mais importante da Europa naquele momento e controlado por Hitler e o nazismo (BERTONHA, 2001, p. 11). Na Alemanha, o nazismo sob a liderança de Hitler chegou ao poder em 1933. A partir daí, o Tratado de Versalhes foi desrespeitado, Hitler começou a reorganização das Forças Armadas e o desenvolvimento da produção de armamentos. Iniciava-se a política de expansão territorial, proclamando-se a necessidade de que toda “raça germânica” fosse considerada superior e para isso precisava criar uma nova civilização no mundo, onde alemães e outros povos germânicos teriam o poder e as outras raças seriam escravizadas, com exceção dos judeus que deveriam ser exterminados como uma praga, pois não havia lugar para eles nesse mundo. A expansão territorial alemã teve início em 1938 com o Anschluss, ou seja, a união da 8 Áustria e da Alemanha. No mesmo ano foi anexada a região dos Sudetos (parte da Tchecoslováquia) aprovada pela Conferência de Munique, com a participação da Alemanha, França e Inglaterra, mediadas pela Itália (BERTONHA, 2001, p. 11). A URSS tinha muitos motivos para temer a agressão nazista, o interesse dos alemães em seus territórios e a rivalidade ao comunismo, ideologia inimiga. Por essa razão os diplomatas soviéticos propuseram alianças militares com a França e a Inglaterra. Os governos dos dois países a princípio recusaram o acordo, procurava ganhar tempo, usar outras estratégias para impedir o expansionismo alemão e evitar outra guerra, pois as lembranças da tragédia da Grande Guerra ainda eram muito recentes. Diante do impasse de negociação com a Inglaterra e França e acreditando que no caso de uma possível guerra enfrentaria sozinha a Alemanha, Stalin aproximou-se de Hitler numa tentativa de evitar a invasão do país por tropas alemãs. Em agosto de 1939, Alemanha e URSS firmaram o Pacto Germano-Soviético de Não-Agressão ou Pacto Ribbentrop/Molotov. O estabelecido no pacto era que nenhum dos dois lados atacaria o outro. Assim os dois países ganhariam tempo para se preparar melhor para o combate. Na estratégia do governo alemão primeiro atacaria a Europa Ocidental e só depois se voltaria contra os russos abrindo uma segunda frente de batalha. Por sua vez os soviéticos queriam mais tempo para se armar e preparar melhor a defesa contra um futuro possível ataque por parte da Alemanha. O pacto germano-soviético autorizava a URSS a retomar as Repúblicas Bálticas e também estabelecia a divisão da Polônia entre as duas potências. No dia 1º de setembro, os alemães invadiram a Polônia. De imediato, a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha. PACTO RIBBENTROP/MOLOTOV: Assinado entre Alemanha e URSS em 1939, leva o nome de seus respectivos ministros das Relações Exteriores, sendo o primeiro alemão e o segundo soviético. É mais conhecido como Pacto de Não Agressão ou Pacto Germano-Soviético, acordo que vigorou até 22 de junho de 1941, quando a Alemanha atacou a URSS. Assim, tinha início o conflito que daria origem à Segunda Guerra Mundial, que reuniria grande parte das nações do mundo divididas em dois blocos. De um lado os países do Eixo, liderados pela Alemanha, Itália e Japão, e de outro, os Aliados, comandos pela Inglaterra, França e a partir de 1941, URSS e EUA. A princípio do 9 lado do Eixo só a Alemanha se envolveu na guerra, quando invadiu a Polônia, a Itália só entrou no conflito em 1940 e o Japão ficou os dois primeiros anos praticamente sem participar até o ataque à base naval de Pearl Harbour no Havaí. Do lado dos Aliados só a Inglaterra e a França declararam guerra contra o Eixo, a URSS enquanto Hitler respeitava o tratado de não-agressão (assinado em 1939) se manteve neutra até junho de 1941, e os EUA embora apoiassem a Inglaterra e a França, se mantiveram neutros até o ataque à sua base naval no Havaí pelos japoneses em dezembro de 1941. Segundo João Fábio Bertonha a primeira fase da Segunda Guerra Mundial foi basicamente européia. Ainda que a Inglaterra e a França tivessem declarado guerra à Alemanha, as agressões não aconteceram de imediato, pois tanto o governo inglês quanto o francês estavam assustados com a perspectiva de uma nova guerra e pouco confiantes em seus recursos militares. Isso levou Inglaterra e França a uma atitude de acomodação e espera, deixando para os alemães a iniciativa da paz ou da guerra. A partir de abril de 1940, a Alemanha optou pela guerra, usando a técnica da Blitzkrieg (guerra-relâmpago) e conquistou a Dinamarca e a Noruega. No mês seguinte conquistou a Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Em junho de 1940 aconteceu a rendição da França. Para Hitler a conquista da Inglaterra não era prioridade, os ingleses eram vistos pelos alemães como uma “raça nórdica irmã” e achavam ser possível chegar a um tipo de acordo com eles. Hitler ofereceu a sobrevivência em troca da submissão, propondo um acordo de paz ao governo inglês, que recusou e entrou na Segunda Guerra Mundial para impedir a Alemanha de conquistar o restante da Europa e posteriormente a Inglaterra. Do mesmo modo, foi à disputa por poder e por áreas de influência que levou Mussolini a deixar a neutralidade e entrar na guerra em 1940, pois tinha o desejo de construir um grande Império no mar Mediterrâneo e ordenou o ataque às possessões coloniais inglesas e francesas. O exército italiano foi derrotado pelas tropas inglesas em todo o norte da África, sendo socorridos pelos alemães a partir de 1941 (BERTONHA, 2001, p.1416). 10 RENDIÇÃO DA FRANÇA BATALHA DA INGLATERRA A Alemanha ocupou a metade da França. O restante foi entregue a autoridades francesas dispostas a colaborar com os alemães. O marechal Pétain, assumiu o governo com sede na cidade de Vichy. Após a derrota, militares e civis franceses começaram o movimento de resistência comando pelo general Charles de Gaulle, refugiado na Inglaterra, de onde incentivava a população francesa a lutar contra a presença dos alemães no país. No início de 1940, apenas a Inglaterra ainda resistia aos nazistas. O ataque aéreo era realizado diariamente, aviões alemães despejavam toneladas de bombas sobre as cidades inglesas, e em menos de um ano mais de 40 mil pessoas morreram. Sob a liderança do primeiro-ministro Winston Churchill, aliada a eficiência da força aérea e do seu sistema de radares os ingleses conseguiram derrotar a aviação alemã e Hitler desistiu de invadir o país diretamente. No dia 22 de junho de 1941, o governo alemão determinou à invasão da URSS. Durante três meses, o exército alemão avançou, ao mesmo tempo, em três direções: Leningrado (antiga Petrogrado), ao norte; Moscou, ao centro; e Stalingrado, ao sul. Stalin tinha consciência do poder militar alemão e adotou a estratégia de recuo, essa decisão acarretou muitos prejuízos materiais e milhares de mortes. No Ocidente poucos acreditavam que a União Soviética conseguisse organizar uma campanha defensiva capaz de resistir por muito tempo aos nazistas, em razão dos desgastes provocados pelo choque inicial da Operação Barbarossa. Mesmo diante da reação soviética, Hitler mostrou-se estimulado pelos resultados iniciais, dando como certa a vitória no leste. O cerco a cidade de Leningrado, de setembro de 1941 a janeiro de 1944, os famosos Novecentos Dias, eliminou quase 2/3 dos seus três milhões de habitantes (AGOSTINO, 2004, p. 250, 255). OPERAÇÃO BARBAROSSA: Nome do código nazista para a invasão da URSS, em 22 de junho de 1941, violando o pacto de não-agressão Ribbentop-Molotov, foi idealizada com base nos pressupostos da Blitzkrieg, objetivando a rápida destruição do exército ocidental da URSS. Bibliografia: AGOSTINO, Carlos G.Werneck. Operação Barbarossa. In: TEIXEIRA DA SILVA, Francisco Carlos (org). Enciclopédia de Guerras e Revoluções XX. Rio de Janeiro: Elsevier/campuis, 2004, p.637. 11 Em 28 de novembro de 1941, aconteceu o primeiro contratempo nazista na frente Oriental, obrigando a saída dos alemães de Rostov. Não tardou a retaliação, à Luftwaffe três dias mais tarde lançou 45 ataques aéreos contra a cidade, provocando um número incalculável de mortos. Nesse momento, os soviéticos já estavam com suas bases de resistências consolidadas, contando inclusive com o apoio dos EUA, que contribuíram para o esforço de guerra soviético garantindo o envio de armas e suprimentos (AGOSTINO, 2004, p. 252). Luftwaffe: força aérea alemã. Depois de longos meses de uma luta sangrenta nos escombros de Stalingrado, em meio às dificuldades enfrentadas pela economia alemã, ao final de janeiro de 1943, o VI Exército alemão contrariando as ordens de Hitler, finalmente se rendeu às tropas soviéticas. O exército que parecia indestrutível foi destroçado, boa parte da população alemã perdeu a confiança em relação à invencibilidade da Wehrmacht (AGOSTINO, 2004, p.252). Wehrmacht: exército alemão. A participação da União Soviética no conflito mudou todo o panorama da guerra. Ainda em 1941, outro fato completou essa mudança: Os EUA deixaram sua neutralidade e também entraram na guerra, para o que contribuíram os seus interesses no Oceano Pacífico (BERTONHA, 2001, p. 18). No Pacífico a partir de 1931, o Japão deu início às ações de expansão territorial invadindo a Manchúria. Em 1937 iniciou uma guerra com a China e ocupou boa parte do seu território. Em 1940, os japoneses uniram-se à Alemanha e à Itália, formando o Eixo. O sucesso de Hitler na conquista da Europa deixou um espaço imperial em parte do Sudeste Asiático e abriu precedente para que o Japão estabelecesse um protetorado na Indochina. Para os EUA era inaceitável o aumento de poder do Eixo nesta região, e passaram a exercer uma rigorosa pressão econômica sobre o Japão, cujo comércio e abastecimento foram prejudicados, pois dependiam exclusivamente das comunicações marítimas. Até 1941, a tática adotada 12 pelo Japão constituiu em pressionar o governo dos EUA para que reconhecesse sua supremacia na Ásia. Diante da recusa dos estadunidenses em aceitar à exigência e pressionados pela Alemanha para entrar no conflito, o governo de Tóquio optou pela guerra. Assim, em 7 de dezembro de 1941, os japoneses efetuaram um ataque surpresa a base naval de Pearl Harbor, no Havaí, tornando a guerra mundial. Em poucos meses os japoneses conquistaram todo Sudeste Asiático, continental e insular (HOBSBAWM, 2009, p. 47-48). Para Gilberto Agostino: “O governo de Tóquio passou a conduzir o conflito com uma rigidez até então desconhecida, procurando ocupar territórios coloniais que pertenciam aos ingleses, franceses e holandeses, tidos como fontes das matériasprimas essenciais às demandas de guerra. Bombardeiros estratégicos, de forma semelhante com o que vinha ocorrendo com várias cidades alemãs, passaram a ser desencadeados pelos Estados Unidos contra o Japão. Paralelamente às ações aéreas, uma guerra submarina de grande envergadura foi desencadeada contra os japoneses, não poupando nenhum recurso que pudesse ser aproveitado pelo inimigo. Em 6 de agosto de 1945, a “ira” desencadeada pelo esforço de Guerra Total norte-americana foi lançada contra Hiroxima. Três dias depois foi à vez de Nagasaki. Em 15 de agosto, o imperador Hirohito anunciou em uma transmissão radiofônica, que os japoneses tinham de “suportar o insuportável” e reconhecer que a guerra chegara ao fim” (2004, p. 257-258). As bombas atômicas lançadas sobre o Japão tinham também o objetivo de mostrar à União Soviética o poderio bélico dos Estados Unidos. Embora aliados contra a Alemanha, Estados Unidos e União Soviética constituíam pólos políticos opostos. De acordo com Bertonha: “A Segunda Guerra Mundial consistiu em várias guerras inter-conectadas entre si. A Guerra do Pacífico um confronto basicamente aéreo e naval entre japoneses e estadunidenses, com os ingleses tendo papel subsidiário e os soviéticos se mantendo à parte. Já a luta na frente oriental foi centrada quase que exclusivamente na guerra de tanques, aviões e artilharia, e travada entre soviéticos e alemães, com os estadunidenses e ingleses se limitando a enviar algum apoio material (jipes, tanques, alimento, aviões, aço) ao Exército Vermelho, especialmente nos anos críticos de 1941 e 13 1942. Na Europa Ocidental, por sua vez, os alemães e italianos combateram basicamente os ingleses” (BERTONHA, 2001, p. 29). Para Hobsbawm o Japão só não entraria na guerra com os EUA, se abrisse mão de formar um poderoso império econômico (“Grande Esfera de Co-prosperidade LesteAsiática”), objetivo principal de sua política. Estranha foi à declaração gratuita de guerra por parte de Hitler aos EUA, fato que oportunizou ao governo de Roosevelt entrar no conflito europeu ao lado da Inglaterra. Para Washington a Alemanha nazista era um risco iminente a posição do país e do mundo. Diante dessa ameaça os EUA optaram em concentrar-se mais em ganhar a guerra contra a Alemanha do que contra o Japão, e convergir seus recursos de acordo com esses objetivos. Mesmo com todo seu potencial econômico e tecnológico, foram necessários mais de três anos e meios para os EUA derrotar a Alemanha, enquanto o Japão foi aniquilado em três meses. Até o início de 1942 os resultados do conflito eram favoráveis ao Eixo que estava no auge do sucesso, porém as iniciativas de invadir a Rússia e declarar guerra aos EUA foram decisivas para mudar os rumos da campanha e assegurar a vitória em favor dos Aliados. A partir de 1943, o Eixo perdeu sua iniciativa militar, mesmo assim, manteve uma dura resistência diante da reentrada dos aliados ocidentais na Europa em junho de 1944. Em 1945, a guerra terminou com o sucesso dos Aliados e a ocupação dos Estados inimigos derrotados. Não foi realizado nenhum acordo de paz formal a não ser uma série de conferências entre 1943 a 1945, onde EUA, URSS e Inglaterra, principais potências aliadas, se reuniram para decidirem a divisão dos espólios da vitória e definir suas relações umas com as outras no pós-guerra (HOBSBAWM, 2009, p. 48-49). Nas conferências de Teerã, em 1943; em Ialta na Criméia, no início de 1945; e em Potsdam na Alemanha ocupada em agosto de 1945, foram estabelecidos os principais delineamentos da nova ordem ou, pelo menos, o seu ponto de partida. Obviamente, em Teerã, não se tinha uma idéia completa do que seria o final da guerra. Mas, de uma conferência para outra, as coisas foram ficando mais definidas e, sobretudo, na de Potsdam, já com a guerra encerrada (GORENDER, 1995, p. 431). Segundo Sidnei Munhoz: 14 “Em Ialta, na Criméia, os aliados planejam a divisão da Europa. É bastante plausível que a indefinição da guerra e a supremacia do Exército Vermelho tenham sido fundamentais para esse acordo. Naquele momento, as diplomacias ocidentais não podiam retirar o que os soviéticos haviam conquistado pelas armas. Com a morte de Roosevelt e a posse de Truman, em abril de 1945, houve uma sensível mudança na direção da política externa norte-americana. Em agosto de 1945, quando ocorreu a Conferência de Potsdam, a guerra na Europa havia terminado e os Estados Unidos já haviam testado com sucesso a bomba atômica. Como os soviéticos desconheciam esses detalhes, os representantes dos EUA pensavam estrategicamente com a vantagem desse grande segredo militar. Em Potsdam, os Estados Unidos adotaram uma postura intransigente, forçando os soviéticos a diversos recuos” (MUNHOZ, 2004, p. 271-272). De acordo com Hobsbawm as duas guerras mundiais, principalmente a segunda, foram disputadas por ambos os lados sem a preocupação de um acordo sério, com exceção da Itália em 1943, que trocou de lado e de regime político. Tornou-se uma guerra de ideologias, sem limites, uma luta de vida ou morte para a maioria dos países envolvidos, com um saldo trágico de aproximadamente 55 milhões de mortes entre militares, civis e judeus, cujo extermínio foi aos poucos se tornando público para todo o mundo (HOBSBAWM, 2009, p. 50). Segundo Hobsbawm: “O monstro da Guerra Total do século XX não nasceu já do seu tamanho. Contudo, de 1914 em diante as guerras foram inquestionavelmente guerras de massa. A guerra moderna industrial e tecnológica envolve todos os cidadãos e mobiliza a maioria; é travada com armamentos que exigem desvio de toda a economia para sua produção. Essa mobilização de massa só pode ser mantida por uma economia industrializada de alta produtividade e ou alternativamente, em grande parte nas mãos de setores não combatentes. Mesmo em sociedades industriais, uma grande mobilização de mão-de-obra impõe enormes tensões à força de trabalho, motivo pelo qual as guerras de massa fortaleceram o poder do trabalhismo organizado e produziram uma revolução no emprego de mulheres fora do lar: temporariamente na I Guerra Mundial, permanentemente na Segunda. Se por um lado nas duas Grandes Guerras houve o enfraquecimento da maioria das nações, por outro, as guerras foram visivelmente boas para a economia dos EUA. Em ambas os EUA se beneficiaram do fato de estarem distantes da luta e serem o principal arsenal de seus aliados, e da capacidade de sua economia de organizar a expansão da produção de modo mais eficiente que qualquer outro. É provável que o efeito econômico mais duradouro das duas guerras tenha sido dar à economia dos EUA uma preponderância global sobre todo o Breve Século XX” (HOBSBAWM, 2009, p. 51-55). Para a humanidade o impacto da Segunda Guerra Mundial foi avassalador e cruel, principalmente pela participação de civis no conflito, muitas vezes como alvos 15 estratégicos onde matar e estropiar tornou-se comum, como apertar um botão ou girar uma alavanca. A partir dos horrores praticados neste conflito, o ser humano aprendeu a viver num mundo em que a violência, a matança e a tortura, passaram a fazer parte do cotidiano e não mais percebemos (HOBSBAWM, 2009, p. 56 a 58). Para Hobsbawm: “O fascismo só não triunfou e democracia só se salvou porque, para enfrentá-lo, houve uma aliança temporária entre capitalismo liberal e comunismo: a vitória sobre a Alemanha de Hitler conduzida pelo Exército Vermelho. É a ironia da história: se por um lado a Revolução de Outubro e a URSS só se deram pela fraqueza do capitalismo, pela desestruturação da sociedade burguesa, por outro lado o resultado mais duradouro da Revolução de Outubro, cujo objetivo era a derrubada global do capitalismo, foi salvar seu antagonista, tanto na guerra quanto na paz. Se foi a crise do liberalismo que fortaleceu os argumentos e as forças do fascismo e de governos autoritários, foi imprescindível a participação da URSS a salvadora do capitalismo liberal, tanto possibilitado ao Ocidente ganhar a Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha de Hitler quanto fornecendo o incentivo para o capitalismo se reformar e também paradoxalmente, graças à aparente imunidade da União Soviética a Grande Depressão, o incentivo a abandonar a crença na ortodoxia do livre mercado” (2009, p. 17, 89). Ao final da Segunda Guerra Mundial com a derrota do Eixo, abria para os governos capitalistas ocidentais, os sistemas comunistas e países do Terceiro Mundo um novo tempo de transformação social. A razão dessa mudança está relacionada ao lançamento das bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasaki que mudou a face do globo e a vida humana. Com a queda do fascismo durante o primeiro obstáculo surgido aconteceu à separação da grande aliança antifascista, mais uma vez capitalismo e comunismo se preparavam para enfrentar um ao outros como adversários mortais (HOBSBAWM, 2009, p. 176-177). Para João Fábio Bertonha: “A Segunda Guerra Mundial mudou profundamente o mundo em todos os aspectos. As nações européias perderam sua importância e foram substituídas pelas duas grandes potências que haviam sido vitoriosas do conflito, os Estados Unidos e a União Soviética. O conflito entre essas duas novas forças, sob a sombra das armas nucleares, marcou o mundo nos 45 anos seguintes ao conflito. Enfraquecidas e exaustas pela guerra, as potências européias também não tiveram forças para manter seus antigos impérios coloniais, e praticamente todas as colônias da África e Ásia se tornaram independentes poucos anos depois” (BERTONHA, 2001, p.55). A Segunda Guerra Mundial foi para a humanidade o maior conflito armado de todos os tempos. No período de 1939 à 1945, armas tradicionais e métodos mais simples de execução foram usados ao lado de armas modernas com grande poder tecnológico nas frentes de batalhas, em ataques a civis e nos campos de concentração nazista provocando a destruição e um grande número de mortes. 16 O impacto da grande mortalidade e a descoberta de campos de concentração e campos de extermínio criados na Segunda Guerra Mundial, mobilizaram e levaram à reflexão governantes e populações de todo o mundo, porém não impediu a produção de armas num ritmo crescente e o massacre das pessoas. CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO: A finalidade era obter trabalho gratuito. CAMPOS DE EXTERMÍNIO: Eram construídos com a finalidade de eliminar as pessoas. 17 UNIDADE 2: O BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL A partir do momento que a base naval de Pearl Harbor no Havaí foi atacada pelos japoneses, em dezembro de 1941, os Estados Unidos declararam guerra contra o Japão, país que integrava o Eixo. Sob pressão estadunidense, na Conferência do Rio de Janeiro, em 1942, a maioria dos países latino-americanos também rompeu relações diplomáticas com o Eixo. Nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial o Brasil por sua localização privilegiada, pelos abundantes recursos agrícolas, extrativos e minerais, despertou o interesse de negociações entre as duas maiores potências do momento, Estados Unidos e Alemanha. O governo brasileiro soube aproveitar esse momento de competição por acordos comerciais entre as duas potências, para definir suas prioridades em relação à política exterior. A princípio Vargas manteve-se neutro com ambos os lados. Porém de forma gradual e com novos acordos entre governo brasileiro e estadunidense, o Brasil aos poucos se tornava aliado dos Estados Unidos. O rearmamento nacional e a construção de uma base siderúrgica foram às principais reivindicações do governo brasileiro no cenário de negociações. A Alemanha se manifestou favoravelmente a essas reivindicações. Já os EUA dependentes das negociações com empresários do setor privado estavam preocupados com a situação de aproximação do Brasil com os alemães. Diante do impasse do governo brasileiro, autoridades estadunidenses chegaram à conclusão que o preço a pagar pelo apoio do Brasil valia a pena em troca das vantagens a serem obtidas. Em setembro de 1940, foi assinado o acordo e a liberação de recursos para a construção de um parque siderúrgico e aquisição de armamentos mais modernos. Assim, o Brasil permitiu que as Forças Armadas dos EUA usassem os portos e bases do Norte e do Nordeste brasileiros. “Entre 1942 e 1945, a Base Aérea de Paramirim, situada em Natal-RN, tornou-se o núcleo de transporte aéreo e de vigilância dos Aliados no Atlântico Sul” (FERRAZ, 2005, p. 37). 18 Na verdade, mais do que o acordo que permitiu a criação da CSN, foi o fluxo contínuo e exclusivo de matérias-primas estratégicas para os Estados Unidos e a cessão das bases do Norte e do Nordeste que envolveram o Brasil definitivamente no conflito (FERRAZ, 2005, p. 20). A partir desse momento aconteceu uma sucessão de ataques de submarinos alemães a navios mercantes brasileiros em águas internacionais e no litoral brasileiro. A população reagiu revoltada, fazendo com que o governo brasileiro a partir dessa agressão declarasse formalmente em 31 de agosto de 1942 guerra aos países do Eixo. Atendendo a pressões internas que clamavam por revanche aos ataques alemães, e com o intuito de melhorar sua posição internacional o governo brasileiro resolveu formar uma tropa para lutar na guerra. Algumas autoridades militares aliadas estadunidenses e inglesas manifestaram certa resistência ao envio de tropas brasileiras a guerra, para eles o envio de tropas inexperientes para os campos de combates não seria prudente. Para evitar transtorno entre a futura aliança do Brasil e EUA, foi autorizada a participação brasileira na guerra, definida no encontro de Getúlio Vargas com presidente dos Estados Unidos Roosevelt em Natal, no Rio Grande do Norte. A FEB (Força Expedicionária Brasileira) foi criada em agosto de 1943, mais como uma necessidade política que militar, assim depois de constituída, os soldados brasileiros, praticamente sem nenhum treinamento iriam para a Guerra (FERRAZ, 2005, p. 43). O exército brasileiro não tinha um efetivo numeroso e nem materiais bélicos apropriados para guerra que desenrolava naquele momento, e ainda precisava defender o Brasil dos ataques alemães caso precisasse. Assim era preciso formar outro exército, moderno e dinâmico. Para a formação da FEB os convocados deveriam passar por exames físicos e psicológicos. “Os critérios eram possuir altura igual ou superior a 1,60 metros, peso mínimo de 60 quilos e pelo menos 26 dentes naturais. Embora parecesse prosaica, 19 a exigência de dentição mínima foi uma das responsáveis pelo elevado número de dispensas” (FERRAZ, 2005, p. 46). Os resultados dos exames físicos e psicológicos foram assustadores pondo em evidência a precária situação sanitária do Brasil. Em meio a tantas dificuldades os critérios para a seleção foram abrandados, mesmo porque, faltavam profissionais da saúde para realizar os exames, além da discordância entre eles sobre uma possível simulação de incapacidade por parte dos convocados para escapar do processo seletivo. Outro fator foi à estratégia adotada por vários comandantes como forma de expurgar os seus inimigos do exército enviando-os para a seleção da FEB, sem falar na mobilização de alguns aprovados, principalmente da classe média, que recorriam a práticas de favorecimento para serem dispensados ou transferidos para guarnições de defesa local (FERRAZ, 2005, p. 46-48). Diante destes expedientes utilizados, o resultado da seleção foi a formação de uma Força Expedicionária que refletia a realidade social brasileira, ou seja, composta em sua maioria por soldados pobres, negros e brancos, com baixa escolaridade e que pouco sabiam dos motivos de lutar contra o Eixo. Após vários exames médicos e uma fraca preparação para o combate, os expedicionários, em sua maioria jovens e menos afortunados, foram afastados de seus empregos, famílias e amigos e embarcaram para a Itália, em vários escalões, a partir do dia 2 de julho de 1944, totalizando um efetivo com pouco mais de 25.000 homens, um número inferior ao que era pretendido. “As tropas brasileiras foram transportadas, vestidas, equipadas, armadas, municiadas, alimentadas e assistidas em suas necessidades pela imensa maquina de guerra norte-americana” (FERRAZ, 2005, p. 51). Quando os brasileiros desembarcaram em Nápoles, litoral sul da Itália, em 16 de julho de 1944, por conta das fardas verde-escuras parecidas com a dos alemães, foram confundidos e hostilizados pela população local, até perceberem que havia negros nas tropas, pois as unidades brasileiras foram às únicas racialmente integradas. 20 Para enfrentar os alemães nos Montes Apeninos, na Itália, os brasileiros receberam uma preparação mais adequada para a guerra. Todavia a estratégia usada pelos alemães em se estabelecer numa região montanhosa com terrenos acidentados era dificultar o avanço dos aliados. Foram meses de insucessos na tentativa de conquistar o monte, pois os alemães só recuaram quando não havia mais esperança de manter sua defesa. A FEB foi incorporada ao Corpo do V Exército dos EUA, assim como outros países que se uniram aos aliados, sob o comando do general Marck Clark, sua função era tática, consistia em sondar o inimigo, fazer patrulhas, transmitir informações, e efetuar o combate no front. Em relação à Força Aérea Brasileira (FAB), podemos dizer que, assim como a Força Expedicionária, teve grande importância no auxílio aos aliados naquela região da Itália. Os brasileiros também lutaram com os alemães nos vales dos rios Arno e Reno, nas proximidades de Pisa e Florença, em Monte Castelo e Montese. Somente o primeiro escalão passou por um breve período de treinamento, antes de iniciar suas ações contra os alemães, as tropas seguintes foram incorporadas a luta sem nenhum treinamento. Outro fator preocupante foi à ambientação dos soldados brasileiros nas regiões montanhosas e geladas. Em novembro de 1944, os soldados brasileiros partiram para a ofensiva sobre Monte Castelo, a oeste de Bolonha, foram quatro tentativas de conquista sem êxito e com muitas baixas. Somente através de uma articulação combinada com apoio aéreo da FAB e da artilharia, Monte Castelo foi conquistado, em 21 de fevereiro de 1945. Essa conquista foi muito importante, abrindo espaço para os aliados entrarem em Paesso de Brenner, na fronteira com a Áustria, e evitar o recuo alemão para se juntar a possíveis reforços em outras frentes. Outra difícil luta que os brasileiros enfrentaram foi o combate urbano na localidade de Montese, em abril de 1945, onde tiveram o maior número de baixas em confrontos violentos com os alemães. Após duas semanas a conquista de Montese, com uma movimentação audaciosa nas operações de perseguição, os brasileiros conseguiram a rendição da 148ª Divisão de Infantaria Alemã, fazendo aproximadamente 15 mil prisioneiros, feito grandioso na guerra travada na Itália, 21 onde raramente as rendições atingiam regimentos. Com a rendição incondicional dos alemães, em 2 de maio de 1945, a guerra terminava para os expedicionários brasileiros. Em junho de 1945 retornaram ao Brasil (FERRAZ, 2005, p. 64-65). Segundo Ferraz, a atuação e desempenho da FEB em combate podem ser equiparados ao das melhores unidades aliadas envolvidas na frente italiana. Seu aprendizado, rápido, foi no próprio combate, e se saíram bem, dentro das limitações próprias de uma divisão de Exército, em meio a outras 125 divisões do Exército Aliado na Europa (2005, p. 65). A participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial produziu conseqüências importantes, algumas imediatas, outras duradouras. No aspecto econômico, a construção da siderúrgica em Volta Redonda, no Rio de Janeiro, constituiu uma base para o desenvolvimento da indústria brasileira, mesmo com certa fragilidade em razão da reorganização mundial do capitalismo pós-guerra. Outro aspecto foi à motivação do governo brasileiro para enviar tropas para a guerra, com a finalidade de conquistar uma posição de destaque na política internacional do pós-guerra, o que não aconteceu por recusar o uso de suas tropas como forças de ocupação na Europa. Mesmo a aliança com os Estados Unidos, não surtiu os efeitos desejados, não interessava a eles dividir o poder político no continente sul-americano com o Brasil ou qualquer outro país. Na política interna, os efeitos da guerra surgiram a partir da contradição do governo Vargas no envio de milhares de jovens a outro continente lutar por uma democracia que eles não tinham em seu país. Essa contradição era ressaltada por seus opositores, que esperavam a volta dos expedicionários, para aliar-se a movimentos que pretendiam a deposição de Vargas, que se concretizou em 29 de outubro de 1945. A volta da FEB, vitoriosa contra o nazismo, foi transformada em símbolo de resistência contra o regime de Vargas e contra o populismo que ele representara (FERRAZ, 2005, p. 67). 22 Para aqueles que efetivamente participaram da guerra, as conseqüências foram desastrosas e duradouras, basta lembrar, que a FEB era formada por homens provenientes das classes trabalhadoras rurais e urbanas, sem escolaridade, que foram tirados dos seus empregos, escolas e famílias para combaterem na guerra, com garantia expressa por lei que ao voltar retomariam seus empregos e estudos. Aclamados pela população, os expedicionários foram recebidos com festas, homenagens e promessas de vantagens para os ex-combatentes. Passada a euforia do momento, começaram as dificuldades. Governo e a sociedade não planejaram nenhum um programa para a reintegração social e profissional dos ex-combatentes. Muitas vezes eram readmitidos no emprego, mas pouco tempo depois eram mandados embora por problemas de relacionamento ou incapacidade. Posteriormente para facilitar a reintegração dos veteranos na sociedade foram criadas associações de ex-combatentes, com objetivo também de preservar suas memórias. O reconhecimento pelos sacrifícios no combate e o pagamento de pensões só vieram com a Constituição Federal de 1988. “Tarde demais para a maioria deles: dos 25 mil expedicionários, pouco menos de 10 mil ainda estavam vivos quando o reconhecimento foi aprovado” (FERRAZ, 2005, p. 70). Segundo Ferraz pesquisas históricas mostra que, se a atuação brasileira não foi decisiva para a vitória dos aliados na Itália, tampouco sua importância foi nula e muito menos simbólica. Não há nada simbólico na perda da vida de 443 expedicionários, e nas marcas indeléveis que o horror da guerra deixou para os outros milhares de combatentes que retornaram ao Brasil (2005, p.71). 23 UNIDADE 3: ATIVIDADES 1- A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito que a humanidade já presenciou, provocando entre 50 e 55 milhões de mortes e destruição. Para aprofundar o conhecimento sobre este conflito, faça uma pesquisa na internet, livros e enciclopédias: a- Indique porque a revolução russa, a crise de 1929; o fascismo e a política de alianças estão diretamente ligados a esse contexto? b- Explique os argumentos utilizados pela Alemanha e União Soviética, para a assinatura do Pacto de Não-Agressão em 1939. 2- Observe o mapa abaixo e com base nas leituras já realizadas, produza um pequeno texto, narrando as etapas do plano de expansão do governo alemão. Mapa 1 - Regiões pretendidas por Hitler Obs.: Adaptado pela autora em 15.07.2010 Fonte: SERRYN; BLASSELLE, 1996 apud PILETTI, 2002, p. 66 24 3- Na Segunda Guerra Mundial, além das armas e estratégias tradicionais, foram utilizados armamentos e tecnologias modernas e táticas de guerra mais eficientes. Siga o roteiro, faça uma pesquisa e apresente para os colegas. Roteiro: blitzkrieg, luftwaffe, wehrmacht, radar, panzer, kamikases, bomba atômica, V1, V2, Katiucha, spitfire, T-34 poderosos tanques soviéticos e aviões bombardeiros dos EUA. 4- Uma das características da Segunda Guerra Mundial adotada pelo governo nazista foi a perseguição e extermínio dos judeus. O filme: O Pianista retrata a ocupação nazista na Polônia e o confinamento dos judeus num gueto. A história é baseada na vida de Wladislaw Spilman, um grande pianista polonês. a- Assista ao filme e procure destacar passagens que mostram formas de acomodação, resistência e colaboração dos judeus frente à ocupação nazista na Polônia. b- Faça uma pesquisa sobre os temas: anti-semitismo, holocausto, guetos, solução final e genocídio. 5- O ataque a Hiroxima e Nagasaki, pelos EUA, assinalaram o desfecho da Segunda Guerra Mundial. a- Explique como o uso da bomba atômica em 1945, influenciou as relações internacionais do período. b- Acesse o site http://www.youtube.com/watch?v=T-JKOj5o6dM, assista ao vídeo A Rosa de Hiroxima, música cantada por Ney Matogrosso, adaptada do poema A rosa de Hiroxima de Vinicius de Moraes. Identifique como ele se refere à bomba, que adjetivos ele usa. Indique ainda segundo a letra da música quais os danos a explosão nuclear causou aos sobreviventes. 6- Observe e compare os mapas 2 e 3 na página seguinte: a- Identifique as mudanças geopolíticas após a Segunda Guerra Mundial. b- Observando o mapa 3, indique as mudanças que ocorreram no campo ideológico após a Segunda Guerra Mundial. 25 Mapa 2 - Divisão política da Europa após a Primeira Guerra Mundial - 1923 Obs.: Adaptado pela autora em 24.06.2010 Fonte: SERRYN; BLASSELLE, 1996 apud PILETTI, 2002, p. 13 26 Mapa 3 - A Europa após a Segunda Guerra Mundial Obs.: Adaptado pela autora em 24.06.2010 Fonte: SERRYN; BLASSELLE, 1996 apud PILETTI, 2002, p. 77 7- Com base no mapa 4 da página seguinte explique a importância dos encontros diplomáticos de Teerã, Ialta e Potsdam. 27 Mapa 4 - Divisão da Alemanha em Zonas de Influência após a Segunda Guerra Mundial Obs.: Adaptado pela autora em 24.06.2010 Fonte: DUBY, Georges. Grand Atlas historique. Paris: Larousse, 2004. 8- A invasão da Polônia pela Alemanha em setembro de 1939 deu início a um conflito que levaria a Segunda Guerra Mundial, com término em 1945. O Brasil também participou do conflito ao lado dos Aliados. Verifique entre seus familiares se existe alguém que tenha vivido naqueles anos e registre suas lembranças desse período. 9- Com base na leitura do texto, explique porque o governo brasileiro manteve-se neutro durante os primeiros anos de guerra? 10- Acertada a participação do Brasil na guerra contra o Eixo, o governo brasileiro precisava formar outro exército. Assim em 1943 foi criada a FEB (Força Expedicionária Brasileira). a- Que características os convocados deveriam apresentar ao se submeter aos exames médicos? b- A convocação seguiu os critérios estabelecidos? Justifique. c- Qual a realidade social brasileira foi mostrada por meio da formação da FEB? 28 11- Em grupo faça uma pesquisa na internet, livros e revistas para aprofundar o conhecimento sobre a FEB, registre os apontamentos para serem discutidos com os colegas: Roteiro; pesquise o símbolo e o significado da expressão “A cobra vai fumar”, indique suas batalhas mais importantes, comente o retorno ao Brasil. Após o retorno, os combatentes brasileiros conseguiram voltar à sua vida cotidiana? As leis criadas pelo governo brasileiro e que lhes garantiam direitos ao voltar da guerra foram cumpridas? 12- Assista dois vídeos sobre a FEB produzido pelo exército brasileiro. Observe a atuação dos soldados brasileiros no teatro de operações na Itália, destaque a principal batalha, a considerada mais sangrenta, as baixas, e como faziam para se proteger do inverno rigoroso. Estes vídeos estão disponíveis nos sites abaixo: http://www.youtube.com/watch?v=2BI-7VmqsaY http://www.youtube.com/watch?v=0PGogCmmdFA 13- Na política interna havia uma contradição no governo Vargas evidenciada pelo envio de milhares de jovens a guerra. Explique essa contradição. 29 INDICAÇÕES DE SITES http://www.youtube.com/watch?v=T-JKOj5o6dM Acesso em 18/06/10. http://www.youtube.com/watch?v=_pMYHSNmzUQ Acesso em 18/06/10. http://www.youtube.com/watch?v=O8b09lsY9-k Acesso em 19/06/10. http://www.youtube.com/watch?v=2BI-7VmqsaY Acesso em 18/06/10. http://www.youtube.com/watch?v=0PGogCmmdFA Acesso em 19/06/10. www.starnews2001.com.br/anne-frank/diary.htm Acesso em 19/06/10. 30 REFERÊNCIAS AGOSTINO, Carlos G.Werneck. Operação Barbarossa. In: TEIXEIRA DA SILVA, Francisco Carlos (org). Enciclopédia de Guerras e Revoluções XX. Rio de Janeiro: Elsevier/campuis, 2004, p.637. AGOSTINO, Gilberto. O Século XX e a Experiência da Guerra Total. In Silva, Francisco C. Teixeira (org). 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