Roméria Soares Barbosa

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Roméria Soares Barbosa
[email protected]
Rômulo Soares Barbosa
[email protected]
Iara Soares França
[email protected]
ISEIB – Instituto Superior de Educação Ibituruna – www.iseib.com.br
A invenção do semi-árido montesclarense: comportamento dos
indicadores de temperatura, pluviosidade, umidade entre as décadas
de 1960 e 1990 e a percepção da população sobre o clima de Montes
Claros/MG.
INTRODUÇÃO
A partir do fim da 2o guerra mundial, surge na sociedade uma preocupação significativa com
o meio ambiente. O clima é um fator determinante na escolha de uma região para desenvolver
determinadas atividades econômicas, tais como, agricultura, agropecuária, turismo,
implantação de um comércio específico, dentre outros. É importante ressaltar que na escolha
de um lugar para residir, o clima mais uma vez merece consideração, haja visto que este
contribui para o bem estar da saúde humana.
Partindo desses pressupostos, pesquisar o comportamento dos elementos climáticos
(temperatura, umidade, precipitação) de Montes Claros-MG, é tornar possível o
esclarecimento desses atributos e suas interferências nas atividades sócio-econômicas da
sociedade. Sobretudo, pela necessidade de uma organização desta, que geralmente ocorre a
partir das características do clima local em que se insere. Desta forma, faz-se necessário a
realização de trabalhos científicos, no intuito de avaliar os fenômenos climáticos de um lugar,
antes e depois de um crescente processo de urbanização, industrialização, comércio,
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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agropecuária, dentre outras atividades econômicas, avaliando se houve interferência no clima,
principalmente alterações de temperatura no ambiente urbano.
Contudo, esse trabalho pretende levar ao conhecimento da sociedade montesclarense a
classificação do clima da cidade, este classificado como semi-úmido, embora geralmente seja
percebido pela população e utilizado pelos interesses políticos como semi-árido. A proposta
desse trabalho é confrontar ou dialogar a idéia da aridez. Haja visto que a irregularidade das
chuvas, elevada temperatura durante um bom período do ano, a posição geográfica da
cidade, por estar localizada em região de fronteira com o semi-árido, remete a idéia da aridez.
No entanto os dados coletados dos elementos climáticos confirmam a classificação do clima
de Montes Claros como semi-úmido.
A análise do comportamento dos indicadores climáticos poderá contribuir com o
planejamento de ações públicas e privadas no município. Sobretudo, auxiliando na
preservação ambiental da cidade, fazendo com que os novos projetos urbanísticos venham a
ser diferenciados, com infra-estrutura adequada para um ambiente mais saudável.
É importante ressaltar também, que se houve uma elevação da temperatura da cidade, sentida
pela sociedade local – sensação térmica – pode estar relacionada ao processo de
crescimento urbano. A partir de uma análise mais detalhada, é possível verificar se existe em
Montes Claros o fenômeno conhecido como ilha de calor.
OBJETIVO GERAL
Analisar o comportamento dos indicadores climáticos (temperatura, pluviosidade e umidade)
entre as décadas de 1960 e 1990 e a inserção sociopolítica de Montes Claros no semi-árido
mineiro, para compreender as implicações da reclassificação política de um município
climatologicamente semi-úmido em semi-árido, para o seu crescimento, planejamento e
gestão.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Examinar os indicadores climáticos (temperatura, umidade, precipitação) de Montes Claros,
entre as décadas de 1960 e 1990;
Descrever a percepção da sociedade montesclarense sobre o clima local;
Estabelecer relação entre a região semi-árida do ponto de vista técnico e político;
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Identificar os efeitos da inserção política no semi-árido mineiro para o crescimento e
planejamento do município.
METODOLOGIA
Para a realização desta pesquisa será utilizada pesquisa bibliográfica tendo como referências
as seguintes temáticas de estudo: clima (Ayoade, 2003; Conti, 1998; Ross, 2005). Moreira e
Sene, 2005; Lombardo, 1985), localização e crescimento urbano (Pereira e Almeida, 2004;
França, 2007; Leite e Pereira, 2008; Santos, 1993; Spósito, 2001; Instituto Brasileiro de
Geografia e estatística - IBGE ). Pesquisa documental em órgãos públicos: Secretaria de
planejamento urbano de Montes Claros e em alguns jornais locais. Aplicação de questionários
para parte da população da cidade. E visitas as estações meteorológicas para coleta e
observação de dados climáticos de Montes Claros–MG e Belo Horizonte. A pesquisa
bibliográfica servirá para a construção do campo teórico-conceitual com o qual o estudo
proposto dialoga. A pesquisa documental será feita em arquivos públicos municipais e de
empresas jornalísticas com o objetivo de identificar como a sociedade montesclarense
construiu ao longo dos anos a percepção sobre seca, falta d água, regime pluviométrico, e
semi-árido. A pesquisa nas estações meteorológicas permitirá o acesso aos indicadores
climáticos, para a construção da análise sobre seu comportamento histórico.
RESULTADOS PRELIMINARES
A hipótese que orienta essa proposta de pesquisa é que o clima de Montes Claros deve ser
classificado como semi-úmido, de acordo com Ayoade (2003) e Ross (2005), se
fundamentando nos indicadores de temperatura, umidade e precipitação, observados entre
1960 e 1990. Portanto, a classificação do município como semi-árido é uma construção
sociopolítica com implicações para o processo de planejamento e indução à industrialização,
sob a orientação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE, com
efeitos diretos para o crescimento e a urbanização da cidade.
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Figura 1 - Mapa do Estado de Minas Gerais – divisão municipal atualizada até 1998
Fonte:
Folhas
da
Carta do Brasil
O município de Montes Claros está localizado na Mesoregião Norte de Minas, na bacia do
Alto médio São Francisco, numa área de transição entre o domínio do cerrado e do domínio
da caatinga. O clima predominante é o Tropical semi-úmido, com temperatura média anual de
29oC. Possui uma área de 3.582 km² e uma população absoluta de 352.384, dados
coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE ,no ano de 2007. As
atividades econômicas mais expressivas nesse município são o comércio, a indústria e a
agropecuária.
Sua localização geográfica é latitude 16o 43’ 41”, longitude 43o 51’5” e sua altitude é 638
metros. Por estar situado em uma faixa de transição entre o cerrado e a caatinga, o município
apresenta características das duas vegetações. O relevo tem predomínio de serras, com a
presença de rochas calcárias.
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De acordo com Pereira & Almeida, (2004)
O conjunto de fatores edafo-climáticos permite classificar essa
região como uma área de transição entre o domínio do cerrado para
o da caatinga. Ocorre, portanto, o predomínio de clima tropical
semi-úmido com incidência de aridez em determinados trechos.
(PEREIRA & ALMEIDA, 2004, p.15)
Por estar localizado numa faixa de transição entre dois domínios morfoclimáticos, a faz ter
características de ambos. Conforme Conti (1998) o clima tropical semi-úmido, caracteriza-se
por média pluviométrica entre 1500 –700 mm, vegetação típica, floresta savana decídua e
semi decídua, cerrado. E o clima tropical semi-árido, caracteriza-se por média pluviométrica
entre 750 – 250 mm, vegetação característica savana seca, caatinga. “Mancha semi-árida,
trata-se de um enclave de escassa pluviosidade (inferior a 600 mm anuais) dentro do domínio
tropical, abrangendo quase 1 milhão de km2, desde os litorais do Ceará e Rio Grande do
Norte até o médio São Francisco.”(ROSS,2005, p.103). Nesse contexto é possível entender
porque Montes Claros foi inserida no semi-árido brasileiro. Aspectos políticos e
socioeconômicos fizeram com que em meados da década de 1970 a cidade fosse
incorporada à Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE. Inserir
Montes Claros no Polígono da Seca era uma forma estratégica de atrair recursos federais
para o desenvolvimento dessa cidade. Desta forma a cidade passou a ser um atrativo para a
população rural. Nos dados coletados na Prefeitura da cidade, percebe-se um aumento
significativo da população nas últimas décadas. Dados coletados pelo senso demográfico do
IBGE e da Secretaria de planejamento urbano da cidade em 2008 revelam que até o ano de
1950 a população total da cidade era de 52.367 habitantes. Esta se dividia em 21.943 de
população urbana e 30.424 de rural. Após 1970, onde foram implantados no município os
investimentos oriundos da SUDENE, foram atraídos incentivos para a indústria. Dessa forma
a população absoluta em 1970 era de 116.486, onde 55.154 habitantes viviam em área
urbana e 31.332 na rural. Já em 1980, apenas uma década depois, esse número aumentou de
forma significativa no cenário urbano. A população urbana passou para 155.313 e a rural
ficou em 21.995, totalizando 177.308 habitantes na cidade. A partir desse crescimento da
população urbana de Montes Claros, surgem os vários problemas oriundos das grandes
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cidades. O crescimento urbano desta pode estar relacionado com essa possível alteração da
temperatura, sentida pelos moradores – sensação térmica.
De acordo com Lombardo, (1985)
As condições climáticas de uma área urbana extensa e de
construção densa são totalmente distintas daquelas dos espaços
abertos circundantes, podendo haver diferenças de temperatura, de
velocidade do vento, de umidade, de pureza do ar etc. O desenho
físico urbano, desde a escala de edifícios até as áreas
metropolitanas, pode ter fortes repercussões nas condições
climáticas locais. (LOMBARDO, 1985, p.78)
A partir dessas considerações, pode-se inferir que os fatores que classificam o clima de
Montes Claros podem ser definidos com múltiplas características. Embora ocorra um longo
período de estiagem, os índices pluviométricos e as temperaturas médias anuais são
característicos de clima tropical semi-úmido. O fato dessa cidade está inserida no Polígono
da seca do Nordeste Brasileiro, foi uma estratégia política administrativa que teve o interesse
de arrecadar fundos para promover o desenvolvimento da cidade através do apoio da
SUDENE. No entanto, foram desconsiderados os aspectos climáticos de Montes Claros.
Através da pesquisa de campo, foi possível perceber porque parte da população desconhece
a classificação climática da cidade, e muitos a consideram como árida.
Enfim, a proposta desse trabalho é uma tentativa de se fomentar a discussão a respeito do
clima de Montes Claros. O que fazer em termos urbanísticos para tentar amenizar o calor
dessa região no período de estiagem? E, sobretudo, desmistificar essa imagem de cidade do
semi-árido, de pobreza. A imagem que infelizmente remete o semi-árido brasileiro.
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Figura 2 – Indicadores Climáticos, Montes Claros/MG.
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REFERÊNCIAS
AYOADE, J. Introdução a climatologia para os trópicos/ J.O Ayoade; tradução de
Maria Juraci Zani dos Santos; revisão de Suely Bastos; coordenação editorial de Antônio
Chistofoletti. – 9O ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE cidades. Brasília: 2005.
BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais:
2007.
CONTI, José Bueno. Clima e meio ambiente/ José Bueno Conti; coordenação Suely
Angelo Furlan, Francisco Scarlato. – São Paulo: Atual, 1998. (Série meio ambiente).
FRANÇA, I. S. As novas centralidades de uma cidade média: o exemplo de Montes
Claros no Norte de Minas Gerais. 2007. 240 f. Dissertação de Mestrado em Geografia.
UFU, Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, 2007.
LEITE, Marcos E.; PEREIRA, Anete M. Metamorfose do espaço intra-urbano de
Montes Claros-MG. Montes Claros: Editora Unimontes, 2008.
LOMBARDO, Magda Adelaide. Ilha de Calor. Exemplo de São Paulo. São Paulo:
Hucitec, 1985.
MOREIRA, João Carlos, SENE de Eustáquio. Geografia : volume único / João Carlos
Moreira, Eustáquio de Sene. – São Paulo: Scipione, 2005.
PEREIRA, Anete Marília, ALMEIDA, Maria Ivete Soares de ( organizadoras). Leituras
geográficas sobre o Norte de Minas Gerais. – Montes Claros: editora Unimontes, 2004.
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ROSS, Jurandyr L. Sanches (org). Geografia do Brasil, - 5. Ed. Ver. E ampl. – São Paulo :
Editora da Universidade de São Paulo, 2005. – ( Didática;3).
SANTOS, Milton. A urbanização brasileira: a urbanização e a cidade corporativa. São
Paulo: Hucitec, 1993.
SPOSITO, M. E. B (Org.). Urbanização e cidades: perspectivas geográficas. Presidente
Prudente (SP): GASPERR/FCT/UNESP, 2001.
Sites consultados
Disponível em http:/www.brcactaceae.org/clima.html
Disponível em http:/www.ibge.org.gov.br
Disponível em http:/www.inpe.org.br
Disponível em http:/www.montesclaros.com.br
Disponível em http:/www.unimontes.br
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