O despertar da Fé nas crianças dos 0-6 anos

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O despertar da Fé nas crianças dos 0-6 anos
Paróquia do Campo Grande
Tema: Quando a Fé desperta
Data: 31 de Março de 2005, 21h
Vamos conversar sobre o que é ser cristão, o que queremos transmitir aos nossos filhos e
como o fazer. Vamos conversar sobre aquilo que cada um já transmite, mesmo sem por
vezes ter dado conta disso.
Palavra de Deus: Deuteronómio 6, 4-8 “O amor é a tarefa da vida – Ouve, Israel! Javé
nosso Deus é o único Javé. Portanto, ama a Javé teu Deus com todo o teu coração, com
toda a tua alma e com todas as tuas forças. Que estas palavras, que hoje eu te ordeno,
estejam no teu coração. Ensiná-las-ás aos teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e
indo de viagem, ao deitar-te e ao levantar-te”
o Quando a Fé desperta já o coração conheceu o que é o Amor. No início de tudo
o Amor...
Desde que nasce a criança precisa de alguém que cuide dela, que a console quando
está triste, que faça festa das suas alegrias, que gaste tempo com ela, que a ajude
quando precisa, que a ensine a expressar-se, a relacionar-se.
Assim, desde cedo a criança vai sentindo, apreendendo, intuindo o que é o Amor,
vai provando desde cedo este “gostinho” de ser amada.
Desde o seu nascimento fomos ajudando os nossos filhos a crescer, pondo dia após
dia os nossos “tijolinhos de amor”, com mais ou menos tempo, paciência,
disposição, criatividade, mas sempre construindo “a casa” com Amor.
Nascemos com a grandeza do Amor no coração, com este “selo de Deus” no
coração e quando vivemos assim os nossos filhos vão “beber” nesta fonte.
o O Amor que existe no coração da criança permite que ela seja capaz de
Deus. O meu filho é “capaz de Deus”
Num coração que experimentou o Amor, a Fé tem um “terreno” muito propício
para despertar e crescer. A criança que “provou” e tem “sede” de Amor está “capaz
de Deus”. Tendo vivido e experimentado o amor humano a semente está lançada.
“Ao semeador compete não só semear mas também saber em que terreno está a
semear e prepará-lo para a sementeira”
o É importante ajudar a despertar a Fé de forma adequada à idade da criança.
Harms distingue três estádios de desenvolvimento da representação de Deus e
relaciona-os com a fase de desenvolvimento em que se situam pela idade: 0-7
Estádio da fantasia, 7-12 Estádio realista (capacidade de adaptação à religião
institucional), 12 e seguintes Fase de individuação (personalização e interiorização)
Dos três aos seis anos a criança utiliza os seus sentidos e o seu próprio corpo como
modo forte de se relacionar, gosta de ver, ouvir, mexer, cheirar, provar. Nesta idade
o seu próprio corpo permite-lhe relacionar-se com as coisas e com os outros de
maneira muito intensa (ex. brincar na praia com areia e água, abraçar um amigo,
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pintar com os dedos). Nesta idade a criança facilmente reza com o seu corpo com
os seus sentidos, facilmente entra, por aqui, na relação com a transcendência,
porque esse é o seu modo de existência e de relação. A criança pode, por exemplo,
aprender a parar e ouvir o coração para mais tarde ouvir Deus falar ao coração.
Nesta fase a criança, se tiver condições adequadas, facilmente tem experiências de
plenitude, facilmente contempla, se deslumbra, facilmente acredita no fantástico, no
imaginário, no para além do que vê; proporciona-se a introdução ao simbolismo, o
símbolo representa algo que não se esgota nele próprio mas em que a criança, pela
confiança, acredita.
Esta fase é também a do surgimento forte da dimensão espiritual da vida e da
entrada no mistério da existência humana, a criança quer saber como nasceu e faz
muitas perguntas sobre o universo (quem sou eu? no meio disto tudo) e sobre a
morte (para onde vou?).
Por outro lado, dos 3 aos 7 anos a criança também imita muito e vai tendo e
vivendo uma vida muito concreta, com rotinas muito concretas, precisa de regras,
limites, segurança, firmeza com suavidade.
o É muito importante, nesta etapa, ajudar a criança a estabelecer relação:
consigo própria, com os outros, com Deus (Irmã Maria Emília Nabuco)
•
Relação consigo própria
Nesta fase do seu desenvolvimento podemos ajudar a criança a descobrir que
além do seu corpo e do que capta pelos seus sentidos ela também tem no seu
interior pensamentos e sentimentos. É importante ensinar a criança a olhar para
eles, para a sua interioridade; criar momentos de silêncio, de tranquilidade,
povoar o mundo interior da criança de beleza, harmonia. Contemplar a
grandeza da Criação, ouvir uma música calma e bonita, ajuda a criança a criar
espaço interior, que mais tarde será o lugar de ouvir Jesus, de falar com Deus.
Também é importante ajudar a criança a crescer em auto-controle, aprender a
dominar o seu corpo, a reflectir antes de agir, a descobrir os seus limites, a dar
valor ao esforço.
Dos três aos seis anos a criança vive muito fortemente a conquista de si e a
descoberta da liberdade. Aprender a relacionar-se consigo própria vai ajudá-la a
relacionar-se com os outros.
•
Relação com os outros
Nesta fase é importante ensinar a criança a relacionar-se com os outros. Ajudála a ter autonomia, segurança para que possa ir ao encontro dos outros com
confiança e relacionar-se com proximidade, com intimidade, com “entrega”.
Ajudá-la a olhar o outro com generosidade, solidariedade, gestos de ternura que
foi interiorizando e que pode agora estender aos outros. Se a criança viver isto
na sua família mais provavelmente a relação com os outros vai ter estes traços.
•
Relação com Deus
Deus cria, age na Criação e a criança que aprende a contemplar pode captá-lo
também aí.
Deus fala ao nosso coração, à nossa consciência e se desde cedo houver espaço
de interioridade a criança “é capaz de Deus”. Nesta idade Deus torna-se
presente na vida das crianças essencialmente através de experiências. Deus vem
à nossa vida, Ele faz-se muito presente nas pessoas, nos acontecimentos, num
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momento especial como um aniversário, na época de Natal etc... Estes são
momentos em que a presença de Deus se faz forte e podemos ajudar a criança a
captá-la.
A relação da criança com Deus desperta em ocasiões que surgem
espontaneamente e em momentos especiais.
o A Fé desperta em momentos espontâneos
Na idade dos 3-6 anos a iniciação cristã passa quase unicamente pelo que a criança
faz e pelo que se passa à volta dela, a Fé desperta naturalmente no quotidiano. O
coração da criança é tocado no dia a dia de modo informal. Cada vez que há uma
tentativa de perdão, cada vez que há partilha, ternura, atenção ao outro, atenção aos
mais pobres, cada vez que há doçura, justiça, escuta, Jesus que está no coração da
pessoa vai-se revelando e a criança vai-o captando. A “arte” de que precisamos é só
estar atento nas múltiplas ocasiões da vida: as alegrias, as festas, um momento de
dor, de tristeza, de partida, para viver com as crianças, momentos que mostram,
fazem sentir, permitem saborear, como Jesus está presente na vida de cada um de
nós. “Hoje foi um dia tão bom que temos de rezar...” Margarida (4 anos)
Rezar ao deitar, rezar antes/depois da refeição, rezar quando se vê ou se vive algo
muito bom, muito bonito, rezar quando estamos em dificuldades. Falar com Jesus a
propósito de tudo o que nos vai acontecendo ao longo do dia, ao longo da vida.
Quando a criança vê os pais “falarem” assim com Jesus, rezarem, isso vai-se
tornando familiar para ela. Quando, por exemplo, a criança vê os pais darem um
beijinho ao Menino Jesus, que pode estar no quarto dela, à noite antes de dormir,
isso vai-se tornando familiar, quando a criança vai com os pais à missa isso vai-se
tornando familiar “Durante a semana os pais trabalham e as crianças estão na
Escola, ao Domingo é dia de Missa, mesmo quando eu não vou” (Margarida, 4
anos).
Se no dia-a-dia forem acontecendo gestos e palavras que falam de Deus que
também pode ser por exemplo ver uma Bíblia (“que livro tão grande e com páginas
tão fininhas é este?”), ver uma imagem bonita de Maria ou de Jesus, a criança vai
tendo a sua iniciação cristã de forma espontânea.
o A Fé Desperta em momentos especiais:
• momentos de conhecer Jesus
• momentos de fazer Festa na Igreja
• momentos de viver em Comunidade
•
Momentos de conhecer Jesus
É importante explicar à criança que Deus lhe fala e lhe responde através dos
homens e das mulheres, dos seus pais, dos seus amigos que a amam a pela
Bíblia que contém a Palavra de Deus. Através das história que a Bíblia conta a
criança vai conhecendo Deus e Jesus.
Nesta idade pode-se “apresentar” Jesus à criança, dar-lhe a conhecer este
Amigo. Se na sua casa Jesus for um amigo dos pais, provavelmente a criança
interessa-se mais por conhecê-lo e provavelmente gostará de ouvir falar de
Jesus e da sua vida. É importante que as crianças saibam que Jesus viveu, que o
reconheçam em imagens e nos desenhos, que o chamem pelo seu nome. Como
nós, ele tinha uma mãe e um pai cá na terra, Maria e José. Eles tinham uma casa
numa aldeia, Nazaré. No País dele havia pescadores, soldados, doentes. As
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pessoas bebiam, comiam, rezavam. O País de Jesus tinha inimigos, etc... Estes
assuntos muito concretos da vida de Jesus interessam as crianças e permitem ir
dando a conhecer Jesus. É principalmente com base em narrações que as
crianças entram no mundo Bíblico. A narração pode-se fazer simplesmente
contando a história, utilizando uma imagem grande ou imagens sucessivas (livro
de histórias), através de uma canção etc... para além disso há toda a
possibilidade da expressão corporal: mímica, narração acompanhada de gestos,
teatrinho feito pelas crianças etc. Na idade dos 3 aos 6 anos o que melhor
resulta é mesmo contar uma história, sem grandes explicações,
correspondências com outros assuntos, descoberta de sentido mais profundo,
se a criança o fizer por si mesma, será mais um passo mas não interessa
“forçar”.
Também é importante transmitir à criança o que é o essencial da Fé Cristã: a Fé
Cristã é uma maneira “especial” de viver, seguindo o que Jesus nos ensinou,
vivendo em relação fraterna com os outros, em ligação com Deus a quem
chamamos Pai-nosso. Afinal isto é transmitir-lhe quem é Deus, quem é Jesus e
como viver felizes com os outros. Um dos aspectos da identidade cristã é o
perdão e por isso iniciar a criança aos gestos de perdão é importante quando se
está a aprender a ser Cristão, a ser como Jesus Cristo. A questão do perdão
pode ser falada desde sempre porque o bem e o mal, fazer certo ou errado,
aprender a pedir desculpa começa cedo na vida da criança. Sentir-se perdoada e
aprender a perdoar engrandece o seu coração, mais tarde a criança poderá
experimentar que determinadas feridas no nosso coração é Deus que as cura,
Deus “perdoa em nós” (o que às vezes nós próprios não conseguimos).
•
Momentos de fazer Festa na Igreja
Também é importante que a criança descubra que há tempos, lugares, ocasiões,
linguagem pelos quais se pode dizer a Jesus que ele é importante para nós, que
o queremos escutar, agradecer-lhe, fazer festa, todos juntos com ele. Nesta
idade a criança gosta de uma oração alegre. Na Família podem proporcionar-se
momentos de oração em clima de Alegria, de Festa.
É importante que pouco a pouco a criança vá entrando, à sua medida, nos
momentos de celebração da vida da Igreja. Assim como na nossa família isso
vai acontecendo naturalmente, também na grande família que é a Igreja isso se
pode proporcionar à criança: um ambiente acolhedor, celebrações em que a
linguagem lhe seja acessível, em que a criança possa participar e sentir-se
envolvida, ir-lhe criando o gosto por estar nestes momentos de festa. A Festa da
Missa ao Domingo e de outros momentos essenciais da vida da Igreja como por
exemplo a preparação para o Natal e o Natal, a preparação para a Páscoa e a
Páscoa, o mês de Maria, em que as crianças se podem envolver de forma
especial, à sua dimensão.
•
Momentos de viver a Fé em Comunidade
Viver a Fé em Comunidade pode ser para a criança uma experiência muito
forte, por exemplo um Baptismo de várias crianças, um Baptismo em que as
crianças se aproximam do altar, um casamento em que as crianças se sentam
nos degraus ao pé do Padre, são momentos de festa, de alegria em que na Igreja
a criança se aproxima deste Deus, e descobre a sua presença carinhosa.
Um grupo de casais, famílias, que se reúna regularmente e que tenha filhos
pequenos pode ir pensando como ir dando início à educação cristã dos filhos.
Por exemplo, este ano um grupo de casais, famílias que se encontram uma vez
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Despertar da fé – 3 aos 7 anos
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por mês numa Casa de Oração em Vale de Lobos, tiveram este desejo e com
muita simplicidade juntam todas as crianças pequenas (que nesse dia foram com
os pais) e durante 20 minutos um dos adultos fica com os pequeninos e contalhes uma história da vida de Jesus. No fim do dia as crianças vão à Capela e
podem oferecer um desenho a Jesus ou simplesmente olhar para ele e pouco a
pouco ir conhecendo este Grande Amigo.
As crianças, os nossos filhos, já têm um lugar no coração de Deus, um Deus
cheio de amor que vela por eles e lhes quer propor que participem na sua Vida e
na sua Alegria. É bom que entre todos nos ajudemos a proporcionar às
crianças, aos nossos filhos, a escuta de Deus no seu coração.
EM SÍNTESE:
No despertar da Fé, dos 3-7 anos é importante:
•
Ensinar a criança a relacionar-se (consigo própria e com os outros), ensiná-la a abrir o
coração, um coração que aprendeu a relacionar-se está “capaz de Deus”; palavra
chave: RELAÇÂO
•
Favorecer a descoberta, o deslumbramento com a natureza. A contemplação,
o deslumbramento com o mundo facilmente “eleva” a Deus; palavra chave:
NATUREZA, MUNDO
•
Ajudar a criança a descobrir Deus na História (ao longo dos tempos, na sua história,
no seu quotidiano); palavra chave: QUOTIDIANO
•
Proporcionar à criança a alegria de viver a Fé em Festa, com Alegria, de celebrar em
Comunidade; palavra chave: CELEBRAR, COMUNIDADE
•
Iniciar a criança nos primeiros “ensinamentos” da mensagem cristã, dar-lhe a conhecer
o amigo Jesus e que ele pode estar no coração; palavra chave: JESUS, SER CRISTÃO
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Bibliografia:
• “O Despertar religioso” Departamento de catequese de Lisboa, Patriarcado de Lisboa,
“livrinho” de 2004
• “A educação da interioridade das crianças dos 0-6 anos” Irmã Emília Nabuco, texto de
2004
• “Psicologia evolutiva y educacion en la fe” Jose Monterovives Editorial Ave María
Livro de 1986
Bibliografia para os pais e educadores lerem às crianças dos 3-6 anos:
• Colecção “Jesus e os pequeninos”, Série “Rezar com as crianças” (5 livrinhos): Como
és bom, Quero ser teu amigo, Rezo como Jesus, Olá Maria, O meu primeiro missal, As
minhas orações; Edições Paulinas; 1999
• Colecção de livros de auto-ajuda para crianças (vários livrinhos): Respeitar, Ousar ser
justo e partilhar, Deus é meu amigo, Errado e certo e ficar liberto, Como sair de uma
grande confusão, Feliz por ser quem sou; Edições Paulinas; 2002 e 2003
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