Estilhaço acalorado no atrito Alskander "O espaço

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Estilhaço acalorado no
atrito
Alskander
"O espaço-tempo age sobre a matéria e indica
como esta deve se deslocar. Reciprocamente,
a matéria age sobre o espaço-tempo
e indica como este deve se curvar."
(Misner, Thorne e Wheeler / Einstein)
Morte vive
"Na aritmética chama-se número de ouro a um número que é incomensurável e cujo
valor numérico pode ser determinado. Trata-se de um número imaginário. 'A marca do
número de ouro é de ser o incomensurável mais distante do um, por um lado e, por
outro, o que mais se aproxima (aproxima-se infinitamente) do um' (Saporiti)." - Dinara
Machado.
Imagine um ponto. À medida que penso este ponto, o real-ponto (aquele instante em
que o ponto é ponto sem que o seu campo magnético e o meu ainda se encontrem)
afasta-se - ainda mais; contudo, inexoravelmente à espreita do instante em que
aproximar-se-á além do rastro que fisga o pensar daquele habitando-lhe o giro
magnético que teu calor pesa, e vice-versa - mas sempre um 'rastro', e não por outro
motivo
"(...)O real
nos doerá para sempre." (Orides Fontela). Paradoxalmente não há como chegar ao realponto [penso este ponto como ‘real’ ao levar em consideração que há um instante em
que existe-se sem que haja embrenhamento com outros pontos - idéia absolutamente
incoerente (ou quase. Já que posso acreditar no tudo estendido pelo vazio; 'tudo' este
que é à imagem e semelhança de seu oposto, o 'vazio'. O vazio, numa certa falta de
instante, desejou ser tudo, mas para não arriscar sua Onipresença, ousou-se imaginar
uma experiência onde estendeu-se o oposto de si, o tudo, dentro de si. Assoprando-se
em big bangs o complexificar-se de si em si;) quando constatamos estarmos estendidos
em uma teia cósmica onde tudo intercomunica-se] sem que seja pelo como-penso-esteponto.
Imagine dois pontos, vc e eu, um defronte ao outro. Quando olho-te não há outro modo
de vê-lo, a princípio, que não seja como eu o filtro, e vice-versa. Vc é uma tela em
branco onde projeto imagens contaminadas das partes minhas do ponto-eu com o pontovc. À medida que me aproximo para tocá-lo, eis que a imagem que projeto vai-se
modificando, acrescendo-se à imagem que a nossa intersecção produz; e se a conexão
manter-se, possivelmente a imagem de vc tenderá a aproximar-se do ser-se deste realponto(-seu[-eu]) antes que eu o começasse a pensar - ainda que sempre um quase, posto
que estar no real-ponto em sua mais originalidade vital é como quase morrer o comopenso-este-ponto, o aniquilamento do calor de face individual. Este aproximar-se
distanciando-se remete-me ao princípio da incerteza constatado com mais veemência na
realidade quântica, quando não se faz possível precisar a posição e a velocidade de uma
partícula, simultaneamente. Faz-se possível um ou outro, sendo que quanto mais
precisa-se a velocidade, mais frenética se torna a posição, ou vice-versa. Essa incerteza
insuperável, onde ausência e presença seduzem-se ininterruptas, a meu ver, é o utensílio
da mecânica do Vivo proporcionando complexificação à vida. Posto que assegura o
infinito, a produção do incansável calor que fisga vivacidade cultivando-se inquietação
que perfura círculo em espiral ( arrisca-se não por birra, mero pq seus pontos vão sendo
tocados e sugados a funduras que os configura em presas precipitando-se
inevitavelmente a resvalos que anuncia escoamentos). Acredito na permanência
inevitável de dois mundos, o interno e o externo, e que a precipitação de ambos, um emtorno/em-direção ao outro é o impulso que edifica um outro mundo entre eles (e daí
sucessivamente procriando mundos), sendo esta intersecção o elo que pulsa-lhes em
espiral à probabilidade que os acresce e os reflete. Iscam-se a uma repetição que os
renova. Esta intersecção como que destitui a interface entre o externo e o interno – cada
um deles entrelaça-se, entremeiam-se uns pelos outros ao desatarem as linhas divisórias.
As três individualidades internutrem-se - criam outras. Outras. Imagine dois pontos
paralelos (a', a") e um terceiro ponto entre eles que se faz à medida que o ponto da
extremidade a' liga-se à extremidade a", tal e qual uma pulsação cardíaca visualizada
naqueles aparelhos - em uma espécie de ziguezague onde esquadrinha-se a terceira linha
imaginária ancorando equilíbrio aos dois pólos, na medida em que prosseguem-se
estilhaçadamente adiante dentro de um túnel. Tal e qual um nódulo que contamina um
campo magnético em torno de si (O Sol faísca curvas pelo tecido cósmico e assim
empena um campo que arrasta tudo que esteja em seu alcance, tal e qual a Lua está pelo
encalço do abraço da Terra). Agora imagine se pudéssemos olhar esta representação da
pulsação cardíaca, progressivamente, de lado. Então veríamos que quando a linha do
ponto a' dirige-se ao ponto a", eis que esta linha curva-se, e que no retorno ela faz outra
curva, encontrando o mesmo a' em um instante outro; e assim sucessivamente. A visão
que temos é uma contínua espiral (não tão linear quanto espera-se). Então se olharmos
esta representação de frente, na progressão do movimento proposto, veremos um círculo
(igualmente não-linear), que por sua vez (ao estarmos de posse do conhecimento de que
este em verdade pulsa-se espiral) toma então a dimensão de um buraco, uma manchaburaco - da fundura que o desejo é prescrito. Conforme fundura, quanto mais próximos
da velocidade da luz, como disse Einstein, mais e mais espaço-tempo foge. Uma espécie
de ininterrupta distração atenciosa – é por demais monstruoso olhar a morte olhos nos
olhos; paradoxalmente é exatamente este olhar que instiga reação de defesa contra a
aniquilação da vida. Pode ser que isto explique o frenesi não somente no mundo
quântico mas igualmente em nosso, já que olho-no-olho como que define posição e
velocidade de ambos objetos que se olham, que se incitam antes instante olho-no-olho.
É mais simples do que se possa querer - ilumina-se uma partícula e os fótons colídem
com esta partícula, movendo-a de lugar. O calor causa frenesi onde não necessita-se
dele. Não há como desviar-se do fato de que tudo (tudo) está sendo olhado, cutucado,
assoprado, aquecido - ainda que de/a infinitas distâncias. Mesmo uma estrela já morta
pode ainda tocar-me com seu brilho, conforme a lonjura entre ela e eu. É a memória
atravessando o espaço que, na ruptura, provocou-a. Afixa-se pergunta estimulando
reposta, resvalo que o questionado ainda não sabe tolerar - e daí o frenesi chamando
probabilidade palpável. Existirmos exatamente pq há persistência retiniana acreditando
que sejamos possíveis de veracidade - "Massa precipita pelo caminho de menor
resistência" (Einstein). O mundo quântico diz que quando olhamos... é uma partícula,
quando não olhamos... é uma onda – só permanecemos existindo porque pensamos em
nós mesmos por intermédio de outros. Por isto reagimos instintivamente contra o estarsó, sem possibilidade de comunicação (e fez-se arte, onde a obra artística necessita do
outro - é o artista compartilhando-se), já que isto seria o gradual anonimato da vida
como a conhecemos - e como (ainda) não a conhecemos. Ao mesmo passo que o estarse-consigo (estar-só) faz-se tão inevitável como essencial a esta rejeição ao anonimato
da vida. E por outro lado é melhor que a morte seja vista sem que a olhemos
diretamente; só para que não sejam enlaçados eternamente pela fascinação de
admirarem-se – estacando-se em uma angustia de vida [o que em verdade é (pode ser)
pura especulação, já que cedo ou tarde, de algum modo, o nó destrava-se]. Bem, eu
tenho o clic fotográfico que desata-me desta deliciosa asfixia quase-eterna. Em mim
este clic fissura o círculo e o permite escoar-se em espiral – além; ao próximo clic. Tal e
qual o espaço entre o dedo de Deus e o dedo do homem no afresco de Michelangelo,
pensamento e liberdade são quase como sinônimos. Infinitamente em torno do quase.
"Massa empena tempo-espaço; tempo-espaço empenado diz à massa qual caminho
percorrer." (Einstein). A rejeição ao aniquilamento da vida busca nos recriar mais
resistentes para que possamos nos estender vivos pelo ambiente em que a morte vive.
Essa é a lógica
A angustia rompe quando a correnteza coletiva contamina, por demais, o nosso instinto
migratório. Só quando passamos a acreditar na pele que esse instinto um dia, com a
migração, tornará palpável, é que então o incômodo revela-se em utilidade individual. E
coletiva. Na África há um rio repleto de crocodilos por onde uma imensidão abundante
de búfalos atravessa, apesar de estarem cientes do inevitável perigo. O instinto
migratório supera constantemente qualquer espécie de racionalidade. Para certos alguns,
conforme a profundidade de suas fendas, o que indica o caminho é a pavimentação que
eles próprios quase (quase) não sabem que são capazes de tecer. A angustia persistente é
o termômetro para a imortalidade desafiando-se esconder. Já que ela própria questiona o
risco pelo qual sua individualidade é exposta. Mas o que essa individualidade (ainda?!)
não sabe é que sua possibilidade de escolha depende de um movimento onde a
capacidade para a ilusão torna-se inevitavelmente necessária. O instinto migratório é a
seta irrevogável daquilo que (ainda) nem sabemos que somos capazes. Cabe a vc
arriscar-se ao que o impossível te desafia. Essa é a lógica do infinito. O instinto
migratório é o impulso que aquece o funcionamento da isca enraizando o próximo passo
evolutivo. Encontro-marcado este que acontece pq dois corpos não ocupam o mesmo
espaço (vide o 'Princípio da incerteza', da Mecânica Quântica). Ainda assim & por isso
mesmo eles se (con)fundem um pelo outro, um com o outro. Tudo isso conforme a
tolerância da escolha individual. E a isso, quase desavisadamente, damos o nome de
amizade, arte, ódio, quark, poder, paixão, amor, Sol, morte, lasanha, sexo, fóton, poesia,
aurora, raiva, estrela, cigarro, chocolate, lágrima, caneta, canção, foto, tatuagem, erro,
abraço, cerveja, calor, Via Láctea, empurrão, faca, lua, suor, mastigar. E por aí vai. A
vida acontece pq estamos em torno do quase. "... em março de 1927, Heisenberg
publicou seu trabalho ‘Sobre o conteúdo perceptivo da cinemática e da mecânica
quântica teórica’, no qual afirmava que a incerteza é inerente à medida: - é inevitável.
Ou seja, é impossível medir a velocidade de uma partícula e, ao mesmo tempo,
determinar a sua posição, sem que a partícula seja influenciada pelos instrumentos de
medição. Para medir uma variável, isto é, para observar uma partícula, é preciso
iluminá-la, e a incidência de luz equivale a colidi-la com fótons, o que altera sua
posição. Em outras palavras, todo fenômeno observado é essencialmente diferente do
não observado." (Scientific American Brasil - Quânticos, os homens que mudaram a
física; página 35 / Maria Cristina Batoni Abdalla).
"(...) a fotografia nos permite, por um lado, admirar em sua reprodução o original que os
nossos olhos não teriam sabido amar." - André Bazin. Devo aprEEnder-me a estar
ciente da necessidade de adquirir-me capaz de amar o original na {[(quase)]} mesma
tolerância que a reprodução existe-se. O quase tem que se manter como inevitável
camada da individualidade com o coletivo. Sem que um deixe-se consumir-se pelo
outro sem combinar-se. A fotografia, com a(s) sua(s) possibilidade(s), é um dos
termômetros para o (C)chamado que o instinto migratório isca. Odiar, com sua angustia,
é uma das faces do que ainda não (se) sabe. Só para que o indivíduo aprEEnda-se
coletivo. E vice-versa. O que não exime a ação que ambos ignora. Afinal o (C)chamado
tem seu tempo de validade. Chega um hora em que a existência humana não
comprEEndeu sua permanência. Enfim, é só uma questão dos mais capacitados, apesar
de, sobrevivendo(-se) à necessidade do {[(C)]}chamado.
Energia Supra Corpórea
Imagine um conjunto de células com uma onipresença supra-energética; tal qual as
células de nosso corpo formando um tecido epidérmico. De uma célula supra-energética
em particular urge a vontade de sentir o hálito das outras células, ou alguma em
particular; atitude melindrosa devido à estrutura suprabiológica das mesmas. Onde duas
energias ao se aproximarem demasiadamente uma da outra acabam ambas por se
consumirem. Estágio inevitável de associação e, posteriormente, concordância;
desaguando-se na permanência de uma espécie de energia ainda mais supra-densa.
Propulsando-se a não perder a oportunidade de se precipitar a partir de si e ainda com a
promessa de ser-se em relação ao outro, arrisca-se em uma experimento dentro de seu
próprio corpo supra-energético. Como olhar-se no espelho sem a probabilidade de verse a si mesma; contudo, sua supra-imaginação dinâmica lhe arrisca a incerteza provável
de um corpo/limite, uma expressão facial; mas até então sem a possibilidade de que isto
pudesse se concretizar no toque, na visão palpável da coisa; impulsionando-lhe à
aleatoriedade dos supra-sonhos que só se permitem na comunhão que não descarta
nenhuma hipótese, nenhuma dimensão.
Com o ímpeto de se lançar em uma experiência capaz de desfragmentar o não-lembrarse mais de si após o supra-toque e que teria que lhe proporcionar uma supra-matéria
energética, pressagiou que a mesma teria grandes chances de ser a partir de seu mais
extremo avesso - a mais densa pedra bruta. Nódulo este já estendido pelo seu supracorpo à medida em que desatava-se resvalo aceito e rejeitado pela sua supra-existência.
Neste nódulo assoprou-se a si, espiralando o que Stephen Hawking reafirmou como
'big-bang'. Rotação de um pêndulo alquebrando-se em fenda esquivando-se do fecho do
círculo - mantendo a infindável possibilidade de faiscar probabilidades que assegura-lhe
o caráter impensável do intolerável toque. Fia-se o infinito, a permanência dessa
vontade com essa incerteza insuperável; moto-contínuo que se iniciou em uma
contaminação mútua entre o mais denso dos corpos e a mais supra-límpida – até então
conhecida – energia, fundindo-se lentamente o suficiente para que ambas as faces
inevitavelmente destituíssem o mínimo de si possível, e que no devido instante decisivo
(que se por sua vez não se processasse, outras possibilidades acabariam por se
intuir/instituir) o contínuo ritual de fusão e de conhecimento de um sobre o outro
esculpiria ininterruptamente a Energia-Supra-Corpórea.
Via Láctea. Estrelas distanciando-se aproximando-se conforme a gradativa perpetuação
da expansão, reafirmando-se em brilho. Universo inconstante no tempo - que provoca a
curva que fenda; em um embrenho de lapidação onde supra-energia permeia pedra bruta
em constante falta de pudor e pedra bruta se permite permear em insistente repulsa - e
vice-versa. Buscando o equilíbrio que destitui-lhe do frenesi diante da aproximação
inevitável da outra supra-célula.
Provavelmente sua propulsão marchetou-se ao presenciar o estilhaço entre supra-células
precipitadas adiante a ela.
O tecido curvou-se, em todas as direções, com o brilho e o peso de sedução do Sol,
fisgando os objetos próximos a escorregarem-se gravitacionalmente pela precipitação.
Contudo, na contrapartida oposta ao do Buraco Negro, a manutenção do peso que
igualmente curva um campo em cada objeto/planeta proporcionou-se o contínuo giro
destes ao redor da estrela fumegante.
Em meio ao rodopio destaca-se aqui a Terra; como um olhar que cruza o nosso e
sorriem-se; planeta este que após tempos e tempos de casualidades conectadas como
encontros marcados, em função da distancia ideal do sol, de sua temperatura; nuvens
chocando-se e protestando-se em água; impulsionando o vírus, os componentes
minúsculos que reagiram e que ao distinguirem-se de seus ascendentes acabaram por
partir a película da água. O pulo da jia. Ar rasgando a garganta deste ser que, devastado,
retornou imediatamente à água. Sua curiosidade a impulsionou a ir e vir, repetir-se
assimilando biologicamente as diferenças e as necessidades para a sobrevivência;
perpetuando-se em mutações ininterruptamente quase insustentáveis de tão
irreversíveis.
As plantas já em seu processo de adaptação proporcionaram aos novos seres farto
alimento. As adaptações prosseguiram erradicando-se em inúmeros espécimes de
animais; distintos esboços daquilo que seria a promessa da face primeira, dando
praticidade à teoria da fusão de um sobre o outro; mastigando-se ambos cada vez mais
com menor satisfação pelo gosto irracional; susto esquecido aos poucos diante do
vermelho jorro.
Os pelos despistaram epiderme ainda sorrateira. Achatou-se o pé na ânsia do equilíbrio
que o ambiente ainda chama, na dádiva de ofertar às mãos outras mais possibilidades.
Eis a celebração máxima do utensílio utilizado para por em prática as sensações
faiscantes que se exacerbam em nome do toque: as mãos. Somos a partir da necessidade
de preenchermos “lugares vagos na economia da natureza” - Darwin. Somos fios
condutores por onde o pensamento corteja o impensável; cada vez mais e mais
resistentes conforme as propulsões dos caminhos de menor resistência vão abrindo,
exigindo-se pelo ambiente - pelo qual entregamo-nos quase independentes.
Um homem cabeludo e ainda curvo pulando e grunhindo dentro da caverna que o
protege do animal que interrompera o ar de sua/seu companheira/o; com fragilidade à
flor da pela ao ter apreendido circular energia no contato intimo com o outro que
ausenta-se. Este ser, não mais suportando as exigências de seu de-dentro, que se não
preenchidas causa-lhe náusea (transfigurada em movimentos e reações corpóreas
desgovernadas), rabisca as paredes da caverna. Traça seu rumo; confirmação de sua
existência; forçando-lhe, para que como que para sobreviver, a delinear as reações
hormonais do encontro de si consigo mesmo – pelo fato de que o objetivo de sua
presença é o de proclamar ininterruptamente a comunicação que instiga a derrubada de
comportas delineadas à obstrução da circulação energética. Mais adiante as expressões
artísticas, as estratégias de cura da natureza, simular-se-ão em toque ao serem-se
vislumbrados e assimilados, inevitavelmente, por um outro ser. O regozijo do parto ao
visualizar seus sentimentos expressos por intermédio de algum objeto entre as mãos
assombra-lhe maravilhado, em particular pelo fato de que a náusea já se dissipara
consideravelmente. O aroma e o equilíbrio surgido no compartilhar do toque carnal
gradativamente não mais se destaca na memória, mas que se vislumbra quase que
palpável por intermédio das formas/linhas representativas daquilo que já não se vê e já
não se toca. Sacrificando-lhe o corpo ao esculpir e revelar a escolha que renova-lhe o
corpo.
A repetição instintiva de grunhidos específicos erigidos do toque implantou as palavras;
anunciações confirmadas como palpáveis por intermédio da comprovação visual das
linhas que representam a mais provável confirmação, aqui (cada qual com seu 'aqui') da
face de um desejo.
Enquanto o Universo se dilata, o intercâmbio de pensamentos, o exercício dinâmico de
sinapses reafirma o eterno retorno em diálogo e escrita. Em meio às numerosas relações
de contato impulsionadas a partir da vontade primeira e ramificadas por todo o tecido
Universal durante o tempo transcorrido, destaca-se a confirmação por intermédio da
lógica numérica de que não mais se deve acreditar no fato da proximidade depender,
única e exclusivamente, dos “corpos” fisicamente próximos. Einstein negligenciou a sua
participação momentânea com seus camaradas em função de uma comunhão de
intenções que não se concretizavam. Sua persistência em despistar as exigências de sua
matilha social; ou ainda, sua persistência em assimilar-se pelo brilho hipnotizante da
supra-energia (escolha?) ofertou-lhe uma sensação de maior consistência com a matéria
(e sua sombra) que compreende o todo-supra-célula-que-pelo-ambiente-propulsou-se.
Imagine um espelho refletindo a imagem de um corpo real. Quebre este espelho em
inúmeros pedaços; cada pedaço partido terá uma imagem única confirmando a sua
própria particularidade de estampar-se, ainda que seja inevitável acentuar que todo o
espelho em si é o mesmo; a matéria do espelho é a mesma para todos os pedaços
partidos e que esta imagem é a simulação real de uma futura realidade-imaginada
supracorpórea; onde a imagem refletida torna-se real na medida em que entende-se a
necessidade do cultivo do sentir conjunto na direção da desfragmentação que a
materializa. Ao sensibilizar-se da matéria do nó vital (como tantos todos os outros no
decorrer do “registro do saber” Universal – e além), Einstein vislumbrou um esboço de
maior densidade e acuidade para a face tua. Este ato possibilitou a ele descortinar sinais
e dialogar com a maior parte do Cosmo, salientando com “irradiação matemática”
inquebrantável a não-existência do vazio. – Confirmação esta tão já bem elaborada com
genuína sensibilidade por uma outra enorme gama de esforços artísticos. Ao citar
apenas um, vide a poesia de Cecília Meireles: “Todas as palavras são inúteis, / desde
que se olha para o céu”.
O tempo escoou em seu devido tempo enquanto Físicos e Cientistas esmiuçaram os
estudos com grande profundidade quanto ao mundo atômico, percebendo que em
qualquer determinado pedaço aparentemente vazio exubera-se uma sociedade
microscópica frenética e aleatória, certificando-se de que com a mecânica quântica
possibilitou-se fazer previsões com uma enigmática acuidade. O “princípio da
incerteza” diagnosticado na escala microscópica coloca em xeque toda e qualquer
tentativa de entendimento expressa pela nossa visão de mundo. A mais intrigante entre
outras tão bizarras quanto gira em torno do fato de que um mesmo elétron pode
fragmentar-se a ponto de situar-se simultaneamente em várias posições conforme a
precipitação, criando outras tantas possibilidades de atuação, distintos caminhos que
“conspiram” entre si e que se precipitam em uma escolha (várias outras escolhas
dispersas por dimensões distintas). É intrinsecamente importante ressaltar aqui o
seguinte relato do Físico Brian Greene em seu livro O universo elegante: “Você tem de
permitir que a natureza resolva o que é que faz e o que é que não faz sentido”.
“Segundo a mecânica quântica, o Universo evolui de acordo com uma formalização
matemática rigorosa e precisa, mas que se limita a determinar a probabilidade de que
um futuro em particular venha a acontecer – e não qual o futuro que acontecerá”.
Greene ainda acrescenta uma revelação de inigualável pertinência: “Ao contrário dos
esquemas de Newton e mesmo de Einstein, em que se descreve o movimento de uma
partícula pelo registro de sua posição e velocidade, a mecânica quântica mostra que no
nível microscópico não se pode saber jamais ambas as coisas com precisão total. Além
disto, quanto maior for a precisão com relação a uma, tanto maior será a imprecisão
com relação à outra. E embora tenhamos exemplificado esse fato com elétrons, ele se
aplica diretamente a todos os componentes da natureza”.
E continua: “Com efeito, se se capturasse um único elétron dentro de uma caixa sólida e
se pouco a pouco se fossem aproximando as paredes umas das outras de modo a ir
reduzindo os espaços internos com o objetivo de determinar com precisão crescente a
posição do elétron, veríamos que ele pouco a pouco se moveria de maneira cada vez
mais frenética. Como se sofresse de claustrofobia, o elétron pareceria desesperado,
batendo contra as paredes da caixa com velocidade cada vez maior e em trajetórias cada
vez mais imprevisíveis. A natureza não permite que os seus componentes sejam
encurralados”.
Certamente que o mundo torna-se diferente se visto pelos olhos da mecânica quântica;
ainda assim é possível, com igual precisão, utilizar a analogia para compreendermos
melhor o nosso cotidiano; pois eis que se um ser humano pressentir-se confinado
quando sua liberdade for obstruída verifica-se que este escapulir-se-ia do desequilíbrio
que o destituiria da maioria que lhe difere, exacerbando algum tipo de atitude “rebelde”,
como, mero exemplo, uma tatuagem, um piercing (como qualquer outro onde se busque
a manutenção da individualidade em si e na matilha), um modo de escrever capaz de
fazer a palavra/língua gaguejar, encaixando-se assim em algum grupo social que lhe
ofertaria por fim a sensação de matilha que parecia dispersa. Contudo, é importante
ressaltar que este instante de liberdade (liberdade vista como o poder de decisão do
mistério) continua negligenciado, ainda que tenha sido suavizado com a máscara da
atitude de rebeldia, do encaixe social, do ser-se humano - enfim. Negligência esta
absolutamente inevitável ao círculo que torna-se espiral, ao calor que aquece pulsação
cardíaca.
Por outro lado é tudo muito mais simples do que simplesmente pode-se imaginar. Para
que se veja uma partícula, deve-se iluminá-la. Os fótons (propriedades da luz), então,
atritam-se com a referida partícula, empurrando-a então. Não por outro motivo torna-se
inviável precisar posição e velocidade simultaneamente.
"... em março de 1927, Heisenberg publicou seu trabalho ‘Sobre o conteúdo perceptivo
da cinemática e da mecânica quântica teórica’, no qual afirmava que a incerteza é
inerente à medida: - é inevitável. Ou seja, é impossível medir a velocidade de uma
partícula e, ao mesmo tempo, determinar a sua posição, sem que a partícula seja
influenciada pelos instrumentos de medição. Para medir uma variável, isto é, para
observar uma partícula, é preciso iluminá-la, e a incidência de luz equivale a colidi-la
com fótons, o que altera sua posição. Em outras palavras, todo fenômeno observado é
essencialmente diferente do não observado." (Scientific American Brasil - Quânticos, os
homens que mudaram a física; página 35 / Maria Cristina Batoni Abdalla).
Existir-se humano é a transição entre a vontade do criador de refletir-se num espelho e o
reflexo que um dia quase chegará a ser-se. Ainda que por um instante cadente fulminese palpável. É o criador curioso com a imagem que vai se fazendo no espelho. Reflexo
este que é o próprio criador desejando-se por intermédio de sua criação. Sem jamais
poder realmente ver-se a não ser pela sua vontade de ver-se. Então sentir-se fulmina-se
essencial. O reflexo, tão criador como o próprio criador que faz-se refletir-se, deseja
combinar-se ao que quase já enfim acaba-se tornando-se sem jamais ver-se. Quem sabe
um rastro? Que proclama o sentir(-se). O criador está-se ali sem concretizar-se como o
reflexo que enfim complexifica-se suficientemente capaz de sentir-se criador. Assim o
reflexo mantém-se encantado com sua própria capacidade de provocar-se reflexo - sem
poder ser visto. O reflexo, então, pode ver seu reflexo - mas nunca o criador que lhe
provocou reflexo. Quanto mais e mais é-se reflexo (do reflexo do reflexo...), mais e
mais próximo do visível atinge-se. O palpável. E mais longe do criador enquanto não
ciente de que é-se o próprio criador refletido. Posto que não é o reflexo de algo, mas sim
o próprio criador refletido. Como alguém que chama alto, onde o eco que retorna
possui-se estranhamente vivo.
Faísca estourando-se brilho
Quando o Sol atinge uma ínfima faísca de luz estendida pelo escuro, essa faísca estourase. Este Sol penetra o escuro que engole a ínfima faísca, estourando-a em brilho.
Exigindo-se cada vez mais um alcance incansável. A salvação da luz é o aceno do Sol, é
verem-se, é a barbárie – torna-se inevitável, ao extirpar um câncer, matar células
inocentes. Inocentes? Ou mera mecânica de troca de calor? A barbárie (seja lá qual for o
seu alcance) torna a lógica insuficiente. O intraduzível desafia a imaginação. "Ali onde
cessa a filosofia, a poesia tem de começar." (Friedrich Schlegel). Como encontrar poesia
nas ramificações da fome?
O calor rompe
Na imagem fotografada só há olhar sem corpo quando não é-se aquele que fotografa,
porque quando está-se no momento decisivo do clic permanece-se muito pouco a salvo.
Nem mesmo a palavra combinando-se ao inconsciente é capaz de ser-se tão pouco a
salvo. Saber fotografar é estar o mais próximo possível da pele que o conhecimento
(pode) proporciona(r). Com a imagem, em um momento decisivo, é-se possível estar no
instante em que quase, por impossibilidade (ainda), as aparências enganam. Por isso
mesmo quase toca-se. Só porque o quase é condição à permanência do infinito. Infinito:
nada mais que ousar-se acreditar pelo caminho que o calor rompe.
Cutucado por dentro
No Cine Ritz já estava em cartaz “Tropa de elite”. Parei por alguns instantes para
observar o pôster – já havia visto o filme na casa de um amigo. De súbito veio-me este
homem. Ele pedindo um trocado. Eu pedindo para fotografá-lo. Um homem com um
olho dilacerado - sacudido por dentro (não presenciei furos), sanguinário não pela
preponderância da cor vermelha mas sim pq por dentro compunha-se um desenho
retorcido obrigando-me a vê-lo como olho meramente por fincar-se na fenda comum à
do globo ocular. Perguntou-me se eu era “polícia”. Fotógrafo. Olhava-o com uma
espécie de austeridade suave - ainda que à beira da euforia. Pareceu-me igualmente
acuado como grato pela atenção. Ele tinha cara de bandido esmagado pelo medo.
Alguém, literalmente, entre o reconhecível e a morte oferecendo-me seu encanto. Há
um inevitável deslizamento de comunhão quando duas asas de um mesmo pássaro
traduzem-se juntas pelo movimento empenando-lhe rumo; mas quando essa comunhão
rompe-se em espiral o que está em jogo é exatamente a configuração buscando
equilibrar geometria - qual rumo? A falta de coerência em um olho que não encontra
comparsa arrepiou-me estranheza. Arrepio em mim significa: fotografe. Apenas um
clic. Tão rapidamente como instintivamente usei técnicas de moda – queria que seu olho
morto me tocasse como se me visse. O outro olho está ali, à espreita, selecionando
inclusive aquilo que o olho morto não capta; abstrato marchetado em meio ao mapeado
provocando desconforto. De súbito veio o silêncio, o instante em que teríamos que nos
separar, eu não conseguindo evitar seu olho morto. É quando fica-se evidente a que
ambiente cada um pertence. É quando eu começo a me sentir impotente. Já antes mesmo
de dar-lhe as costas por completo, no meu passo seduzindo firmeza, comecei a fabular o
quão preciosa a foto será. O quanto a intimidade em sua predisposição (forçada) de não
dissimular a ferida pode enfim. Tornar-nos úteis? Num clic o pus escorre e não sinto-me
aliviado. Hoje, muitos instantes após o instante, ainda sem a foto, reconheço que a isca
que fisga-me a esse instante é o olho morto; ponto este que umedece enraizamento
esticando-se pulsação àquele instante, calor esparramando presença física ao homem de
olho desfigurado. Há um instante no instante que me olha, enquanto vejo. Enquanto
olho. Esse furo no instante, rasgo na fenda, é a faísca que aciona o salto que introduz e
marcheta o acabamento enérgico desse instante. E aí, nesse buraco que alarga-se e
contrai-se cardíaco, está o incômodo em ser olhado de que Marguerite Duras delata-se.
Quando olha-se o olhar dali deflagrado, quando precipita-se a esse incômodo, como
uma camisa que se escolhe ao acaso, isso, o instante no instante, esquiva-se (não se
nomeia pelos utensílios de que dispomos). Ele não apenas permite-se como
inevitavelmente instiga-se ao cortejo. Permanecemos em seu encalço, seguindo seu
rastro, por onde cultiva-se infinitamente a aproximação ("A marca do número de ouro é
de ser o incomensurável mais distanciado do um, por um lado e, por outro, o que mais
se aproxima [aproxima-se infinitamente] do um." - Saporiti); e não por outro motivo
acaba-se sempre encontrando aquilo que não procurávamos - tal como testemunha a
realidade quântica. Em seu 'princípio de incerteza' presenciamos a impossibilidade de
precisar simultaneamente a posição e a velocidade de uma partícula. Observar uma
partícula implica em iluminá-la, o que equivale a empurrá-la por fótons, alterando assim
sua posição. Cristina Abdalla ainda acrescenta: todo fenômeno observado é
essencialmente diferente do não observado. Diz-se no documentário What the bleep do
we know? que "Quando não olhamos... é como uma onda, quando olhamos... é como
uma partícula." Nenhum ser humano é uma ilha. Ao não ser olhado, a angustia (acredito
que muito mais intransigente que o medo) é a senha que alerta-o por demais próximo
daquilo que não sabe ser olhado - aquele algo que disseca-o a ponto de reduzi-lo a um
quase onda; exigindo-o a uma agilidade corpórea que o movimento coletivo ainda não
sabe articular. A sensação cortante de desnudamento destrava-lhe a um outro que ao
olhá-lo acresce-o partícula - estender-se emerge-se tão firme como o pode ser a beleza
de um animal que caminha solto. Ou seu avesso. Quando se é uma fundura configurada
no não saber ser olhado, posto que na 'velocidade da luz tempo-espaço fogem'
(Einstein), o indivíduo (quase) identifica-se com o próprio rastro do Algo - atestando-se
selvagem ao ser olhado, já que sabota-se compactuar-se em partícula à artimanha que
coletiva-lhe sociamente humano. Qualquer semelhança com o dito frenesi quântico, não
é mera coincidência. Quando um de-dentro empena uma persistência que atrai uma
quebra da barreira de som, ovelhas são sacrificadas - a fissura provocada pelo estilhaço
acalorado no atrito complexifica o ambiente pelo qual estendem-se. "(...) se se
capturasse um único elétron dentro de uma caixa sólida e se pouco a pouco se fossem
aproximando as paredes umas das outras de modo a ir reduzindo os espaços internos
com o objetivo de determinar com precisão crescente a posição do elétron, veríamos que
ele pouco a pouco se moveria de maneira cada vez mais frenética. Como se sofresse de
claustrofobia, o elétron pareceria desesperado, batendo contra as paredes da caixa com
velocidade cada vez maior e em trajetórias cada vez mais imprevisíveis. A natureza não
permite que os seus componentes sejam encurralados." (O Universo elegante – Brian
Greene). Clic. O indivíduo não é somente onda como também não o pode ser somente
partícula, sendo sim o entremeio contínuo de ambos - e por uma impertinência sem par
prescrevendo-se a índole da "distração atenciosa" (Cortázar). Diariamente o de-dentro
encontra-se sem a habilidade de particularizar aquilo que seu cérebro ainda não sabe
articular como partícula. Ou como onda. Insistentemente o de-dentro deseja o toque que
somente como partícula pode-se determinar conexão - gráfica; sanguínea. Todo
indivíduo busca encontrar uma linguagem que decifre a tradução que desvende-lhe
insistentemente humano sem que seu de-dentro seja carcomido pela Luz que, ao ocupar
(até atingir a fundura de) sua ruptura, enraíza-se em seus tendões, córtex, medula,
genitália, músculos, silêncios, passos, sangue, sons. Civilização é um caldo espiralado
de distintos modos de ser-se humano, cada qual com seu esparramamento
(comprimindo-se em faces) diante do embrenho atraindo-se cotidiano. "Ouço a escritura
fazer-se. Pois esta se ouve, antes da projeção na página. E é esperada antes da saída da
frase. Suspendo-me neste espaço; é estar o mais próximo do enunciado interno." Marguerite Duras. Esse olho que eu vi pode desnortear um mundo que ainda não
reconhece(-se). Eu mesmo deixei de reconhecer o humano quando solicitado por ele.
Não nos esqueçamos da distância (e da velocidade capaz de suplantar essa distância)
entre dimensões - da vertigem inevitável (sempre ainda) entre elas. Como que ontem
mesmo eu vi como se ainda vejo – é a voz que ecoa, rebatendo-se em mim,
identificando-se/me persistente na vibração de sua/minha presença. Eu vi um homem.
Eu vi uma mulher com um saco amarrado na cabeça segurando o cabelo longo em
inchaço, saia escura indo um pouco abaixo dos joelhos, blusa cinza de longas mangas,
caminhando bem próxima da calçada. Altiva, de uma postura estarrecedora de tão terna
e ereta. De repente a mulher esvoaçada de magreza pára e fica olhando para o chão,
cutuca alguma coisa com a ponta dos pés nus. Empurra a coisa até a dobra do meio fio.
Continua andando. Sacode-se quase imperceptível e volta. Olha para a coisa. Abaixa-se
e com a ponta dos próprios dedos da mão direita ergue um enorme rato. Pelo rabo. Ela
não joga o rato para longe. Ela pousa-o ao pé de uma árvore e com as mãos joga terra
por sobre ele. Olha para a árvore em silêncio – quase breve. Abaixa-se. Lava a ponta
dos dedos numa água empoçada no asfalto. Balança os braços ao vento. Segue seu
trajeto. Não houve clic - então com o tempo esse instante exige-se espectro? O arrepio
que por fim transfigura-se em náusea liberta-se nas palavras. Não. Nenhuma palavra
será capaz de demonstrar o toque fundo. Ainda que agora vc seja meu comparsa.
Certamente até nem mesmo uma imagem. Só posso continuar tentando – com cuidado,
para não espantar o arrepio. O único modo de ver a própria sombra quando a luz está
bem diante dos olhos é pelo canto dos olhos. Ainda é pouco, a missão ainda não está
cumprida - o verdadeiro inevitavelmente demanda muitas versões. E acho que se eu
viver muito tempo vou ter a plena certeza de que ainda não fui capaz de tocar. A foto
ainda está sempre por ser tirada. Não porque a potência individual seja incapaz. Sim
porque o agora dificilmente pode ser realmente reproduzido, essencialmente quando o
presente desarticula-se do passado e por algum acaso incapaz dissimula-se Foucault:
"Não me diga para permanecer o mesmo." A incapacidade de corrigir os próprios erros
ainda não é uma questão... de que mesmo? Ora, então o natural é legítimo desde que
haja o vigiar com o punir no caso de extrapolar a graça vigente? "É o amor/ Que mexe
com minha cabeça/ E me deixa assim/ Que faz eu pensar em você e esquecer de mim/
Que faz eu esquecer que a vida foi feita pra viver" - Zezé Di Camargo. A angustia a ser
superada de que o filme Brokeback Mountain projeta, atinge quantas nuanças de
segredo individual forem humanamente prováveis (e inevitáveis). "O amor é uma força
da natureza", diz-se no cartaz do filme. O duelo que se trava entre os magmas dos seres
humanos e a força da natureza ("Quis mostrar que o espaço-tempo não é
necessariamente algo a que possamos atribuir uma existência separada e independente
dos objetos da realidade física. Estes objetos são espacialmente estendidos. Assim, o
conceito de 'espaço vazio' perde seu significado." - Einstein) promove um jogo de
comparsas que destrava acasos com a potência de encontros marcados. A persistência
que se move de encontro ao que o caminho de menor resistência esquadrinha destrava
estilhaços ardentes por uma superação que coloca os conceitos (pré-)estabelecidos em
xeque. A responsabilidade quanto à escolha individual e coletiva no sentido de
despistar-se mesclando-se à maldição que oxida os caminhos pelos quais descortina-se
os limites de uma imagem, de um instante, é tão vital à respiração do Vivo como
também o é ao/o instante em que o diafragma, acompanhando o campo gravitacional
dos instantes que se seguem, firma-se rumo ao atrito que desabilita-o de sua função. Os
desvios de cálculo vão até onde se tolera. Acasos são sempre encontros marcados. Onde
a escolha em ambos precipita-os a uma interseção organizando-os propensos aos
encontros seguintes - conforme a percepção do Universo que brota conforme os dados
colhidos. É tudo linguagem; onde a habilidade de cada componente é dinamizar campo
de profundidade a essa linguagem. Geometria. E essa palavra, 'geometria', ainda que já
contundente de tamanha veracidade, soa-me quase insípida (Ainda?, perguntar-me-ia).
Eu disse ‘quase’. Depois que alguém guardar o teu sangue por anos a fio como isca ao
deságüe que atesta a possibilidade de estenderem-se com vigor palpável pela miragem,
prometa-se que uma onda jamais deixa de acreditar-se partícula, e vice-versa, enquanto
o olhar puder escavar faíscas. (...)"a queda livre anula o peso" (Einstein) até que o
próximo instante fisgue-se. Palpável. Esse de olho morto, antes de ser cutucado ao
medo, era pelo medo que ele esmagava alguém? Matou algum fotógrafo que recusava
soltar sua câmera? Ou quem sabe ele mero seja um zé ninguém qualquer, um quase
inútil incapaz de dar manchete, de distrair a atenção (ao menos por enquanto) já que
descaso e barbárie (alimentados por fortunas escandalosas - isso é um fato tão simples e
objetivo como o é "Quem consome droga ilícita põe uma arma na mão de uma criança."
[Reinaldo Azevedo]) não o animalizaram perante o meu pedido? Seja lá como for,
minha missão é apertar o clic. Missão cumprida? Não.
Há um mundo em cada sombra
________
Segue o teu destino - por Ricardo Reis, 1-7-1916
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
_______
"Criei em mim várias personalidades. Crio personalidades constantemente. Cada sonho
meu é imediatamente, logo ao aparecer sonhado, encarnado numa outra pessoa, que
passa a sonhá-lo, e eu não." – Fernando Pessoa
_______
‘Segue o teu destino’ é de um quase amargor; um ‘quase amargor’ aqui indica que
Fernando Pessoa já atravessou o pântano movediço da amargura com intensidade
acumulativa, persistentemente. Ao atingir a outra margem deste ar-que-aviva/consome,
repetidamente num contínuo processo onde projeta-se à margem e retorna ao ar-queaviva/consome rumo à outra margem, o poeta assimilou gradativamente que seu
pertencer humano, seu destino, é uma realidade que encontra consistência ao ser-se um
estrangeiro no fluxo corpóreo presente – seria pretenção de minha parte dizer que, neste
caso, o indivíduo pode re-adaptadar-se na medida em que o indivíduo, seguindo seu
impulso, permiti-se ser-se absorvido pelo ambiente rejeitando-o?; teria este indivíduo
tempo suficientemente honesto para com a honestidade hormonal ao avesso para
atingir-se aquecido ao pertencer corpóreo sem que este se perdesse de vista nas idéias
que lhe arrastam à convicção de seu intimo arco?
“Os deuses são deuses / Porque não se pensam”.
O poeta definiu seu refúgio humano (instante onde a persistência retiniana faz com que
o humano acredite-se, no acumulo epidérmico, além miragem), vislumbrou-se ‘Grande’
aprimorando, desafiando a dor e a ansiedade a um patamar que as demonstra como
ferramentas essenciais antes de achegar-se ao ‘Viver simplesmente’ dele-árvore. O
poeta avança-se fragmentando-se apartado tanto por ele próprio como pelos demais, já
que de algum modo particular o limite de seu corpo acaba por ter que reconhecer-se de
comportas emperradas às credenciais sociais que incrustar-lhe-iam involuntariamente
acionado à mesma velocidade do fluxo social que não instaura inanição à postura
corpórea idealizada. Hormonalmente solidificadas, as ‘comportas ’, com determinada
ruptura funda que sobrepor-se ao emperro seria encontrar um modo de refazer-se
corporeamente de dentro para fora/de fora para dentro. Em verdade, almejar re-lapidarse a ponto de escancarar as ‘comportas emperradas’ (rupturas-fundas, ou ainda,
configurações-fundas acionadas pela intensidade do susto erigido em algum instante
específico entre o entremeio do de-dentro individual com o ambiente sócio-cósmico
solidificado com o decorrer do encorpamento do indivíduo - e, conforme a força do
hábito, tornando a re-lapidação um empenho cada vez mais simetricamente oposto; já
que este 'fundo' é mero acionar-se involuntário ao neutrino) seria como que o
aniquilamento da própria chama que acende o poeta e configura Pessoa/Reis de
identidade.
Já que é essencial que os humanos sejam seres em constante complexificação dinâmica,
eis que, ao reconhecer seu destino regando de amor tuas rosas, o poeta resvala-se pela
curvatura gravitacional que lhe prontifica atualmente presente sem que interrogações
decepem-lhe o prazer dali permitir-se enraizante pelo ambiente, tornando-se por fim
capaz de cultivar-se rumo a uma complecificação que acidenta-se em si. Aceitação esta
inevitavelmente instaurada!, eis que, no decorrer dos persistentes contatos entre o
ambiente e o de-dentro individual, e ainda quanto à fragmentação do discernimento de
um entendimento prático daquilo que ele sente, o poeta acaba por resvalar-se ao seu
caminho de menor resistência - como disse Einstein: "O movimento de um corpo se
deve unicamente à tendência da matéria para seguir o caminho de menor resistência". E
dali é-lhe capaz atingir paragens e sensações dificilmente alçadas por aqueles que
tenham em seu caminho de menor resistência um entendimento prático que desvia-se
consideravelmente do cultivo acumulativo deste sentir - e vice-versa. Pessoa atesta a
inevitabilidade do segredo de manter-se enigma, próprio de seu estado de homem
acionado como ser vivente. O poeta atesta a importância de algum limite que não deve
ser cogitado antes que se vasculhe todos os outros, não havendo assim, no aconchego do
agora carnes, nenhum outro modo de aprimorar o agora-presente individual que não
pela complexificação humana via movimento das gerações, pois que após decodificar os
impasses, inicia-se um processo de fortalecimento do humano que, conforme a força da
atração, entremeia-se ao próprio movimento biológico deste, instaurando-o assim bem
mais resistente, inclusive contra a resistência de si mesmo.
"Só nós somos sempre / Iguais a nós-próprios".
O poeta resvalou-se ao lugar aonde vê-se a vida ‘de longe’, pois que estar-se em meio
ao fluxo humano é acionar o essencialmente perpétuo embate-debate humano - que
assanha-lhe tão primitivo como um cometa que, ao adentrar a atmosfera terrestre, só
sabe tocar em um epestáculo de estilhaços apreciáveis à distância. Viver é fatal, é
contaminar-se, é essencialmente equilíbrio. Interrogar-se no outro é complexificar-se no
movimento vivo-humano, onde escapa-se a uma negligencia aos “Deuses” a partir de
um patamar que obriga o corpo humano a despistar o chamado dos “Deuses” via reflexo
involuntário de sobrevivência. Interrogar-se entremeado pelo clamor gravitacional dos
Deuses é complexificar-se no trêmulo equilíbrio humano das I/idéias; onde busca-se
atingir o calor epidérmico de um C/corpo ainda inacabado. Deste (último) modo o poeta
quase engana o pedido de tua carne ao transfigurar-se num “deus” para aqueles que
exercitam-se em continência a vida corpo-corpo. E não corpo-palavra-corpo - ao menos
não no agora exato em que o tempo projeta o reflexo: “Os deuses são deuses / Porque
não se pensam”; repete-se o quase. Ao cultivar-se sem interrogações, a vontade em
repetir o prazer que o relaxamento proporciona instiga-lhe em curiosidade rumo a
caminhos que o corpo, estacado em uma versatilidade diversa, jamais se permitiria
resvalar.
Ora! "(...) se se capturasse um único elétron dentro de uma caixa sólida e se pouco a
pouco se fossem aproximando as paredes umas das outras de modo a ir reduzindo os
espaços internos com o objetivo de determinar com precisão crescente a posição do
elétron, veríamos que ele pouco a pouco se moveria de maneira cada vez mais frenética.
Como se sofresse de claustrofobia, o elétron pareceria desesperado, batendo contra as
paredes da caixa com velocidade cada vez maior e em trajetórias cada vez mais
imprevisíveis. A natureza não permite que os seus componentes sejam encurralados." O universo elegante, Brian Greene. Há um empasse ou mera birra existêncial? Seria
possível Pessoa desativar o reflexo involuntário que o faria adquirir altos níveis de
asfixia se este insistisse-se em permanecer vendo a vida de perto? Então eis que o
presente de Pessoa jamais será aquele em que ele encontra-se em corpo, mas sim aquele
em que seu corpo não poderá estar - senão em outros que ele mesmo assopra vida.
Não por outro motivo ‘Segue o teu destino’ é de um quase amargor. Ao ‘Imitar o
Olimpo’ o poeta desvia-se da exigência biológica que é pensar-se por intermédio do
embate-debate corpo-corpo social, para, enfim, desqualificar o frenesi que surge pelo
fato do poeta-carne desviar-se/ser-se desviado involuntariamente como conservação de
si no momento em que estende-se pelo ambiente – ‘involuntariamente’ no instante em
que a descoberta faz-se, mas ‘voluntariamente’ quando este ser-se torna-se um objeto de
estudo para que enfim o ser possa-o assimilá-lo biologicamente via cultura. O poeta
aniquila (e, conseqüentemente, inicia o processo de corrosão de teu próprio corpo –
ação que chamaria de efeito-buraco-negro) o frenesi corpóreo imitando-se um deus no
Olimpo com profunda paixão, atingindo deste modo a serenidade (mantida a devida
distância) que lhe permite criar um método que o afixa como contribuição para a
complexificação acumulativa do homem.
Acredito Pessoa biologicamente de uma potência estrondosa, na mesma proporção que
seu medo corpóreo; assim os heterônimos (Ricardo Reis, no caso) fizeram-se tão
demasiados essenciais como que inevitáveis. Pessoa sentia, muito adiante ao pó de seus
ossos, o perigo que não via; Pessoa escoava-se incessantemente pelos vazios (“O vazio
não existe” – Einstein) da imaginação, atestando-se como que portador de um sentido
que ainda não fora devidamente assimilado pelo corpo, mas que fatalmente anunciava a
formação, ali, de um pedaço de tecido ainda inacabado. Ele, Pessoa, interrogava-se
incessantemente, obstruindo deste modo a película que o permitia acreditar-se
incondicionalmente em Deuses. Um ir e vir que instaura o atrito que, em um momento
decisivo, fulgura-lhe obra-destino.
Precipitação
comparativa
entre
‘Manifesto
do
Surrealismo’ de Breton & ‘O cágado’ de AlmadaNegreiros
“O trabalho é a atividade humana por excelência, pela qual o homem transforma a
natureza e a si mesmo. Mas, nos sistemas onde persiste a exploração, ao invés de
contribuir para a liberdade do homem, o trabalho torna-se condição de sua alienação”
(Filosofando / Maria Lúcia de Arruda Aranha & Maria Helena Pires Martins).
A capacidade de renovação do capitalismo é um espetáculo de fragilidades, é tão
humana quanto a fenda entre o dedo de Deus e o dedo do homem no afresco de
Michelangelo. Por este desvio resvala-se ‘uma necessidade prática imperativa, que não
permite ser desconsiderada’; e nem pode, sob pena de negligenciar-se ao processo de
complexificação humano-cósmico. ‘Manifesto do Surrealismo’ é um impulso que
oficializa um acréscimo ao Dadaísmo ao assimilar-se como mais uma ferramenta
eloqüente à afirmação construtiva do processo de civilidade humana.
Não se pode negar que a arte surrealista, no limite entre a ironia e a perversão, busca
expandir a imaginação do 'espectador' a ponto de que este se vivifique tal e qual como
os próprios surrealistas apercebiam-se no mundo; a tal ponto involuntariamente
asfixiados com a cadência social, que terminaram por registrar como viam e o que viam
de onde - hormonalmente configurados - estacavam-se. Plantaram a semente que instiga
o cultivo da imaginação em versatilidades distintas das propostas, pois que a
imaginação/sonhos são a essencial isca que esquadrinha um dinamismo capaz de
complexificarmos-nos pulsantes, cada vez mais cotidianamente cientes do enigma
dinâmico de estarmos ‘estendidos’ no fluxo social-cósmico.
A mecânica da vida nos arrasta à essencialidade de conservar-se vivo.
Os surrealistas declararam que ‘não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a
meio-pau a bandeira da imaginação’. Temos aqui, no movimento surrealista, corpos de
indivíduos que, por uma questão de instinto de conservação ("Segue o teu caminho" –
Fernando Pessoa), acabaram por negligenciar, por intermédio de um processo seletivo
instintivamente próprio, os apelos corpóreos e, num arroubo de unificação de
pensamentos, manifestaram-se contra a 'liberdade' proposta que cultivava (e permanece
cultivando, ainda que esteja em um tal estágio de sutileza que só podem ser detectadas
por aqueles que assimilaram-se - como em qualquer época - em uma ruptura tal que lhes
configura uma rejeição involuntária ao ambiente socialmente inquestionável pelo qual
estendem-se) grande parte da massa como meros desejosos de ascenderem-se ao ‘status’
de conforto e paz, ainda que se prefira, para tal, utilizar dos meios da "Guerra Corporal"
ao invés da "Guerra Mental" (William Blake). Deste modo desvia-se consideravelmente
dos apelos de originalidade da imaginação, do mesmo modo que os próprios surrealistas
esgotaram o corpo. Não por outro motivo suas produções artísticas encontravam-se à
beira das ironias e perversões – corpos uivando um brilho estético que escapava-lhes
por entre os dedos, já que o exercício da liberdade imaginada era um instinto de
conservação profundamente mais imperativos que os arroubos corpóreos. Os
Surrealistas priorizaram-se na guerra mental artística, de onde ansiava-se adquirir
ferramentas necessárias que pudessem aquilatar a selvageria corporal negligenciada
pelos próprios. Com uma racionalidade inconsciente, sedimentada quase que
corporeamente em Freud, desviavam-se (não de modo tão radical quanto o Dadaísmo)
do pertencer humano direto por receio do selvagem estilhaçante que continuavam
aquilatando à medida que o mergulho na imaginação abria-lhes comportas, desatavalhes medos e desejos.
Dentro do surrealismo destaca-se três períodos importantes entre si: o período dos
sonhos (1924), o acreditar irrestrito na imaginação, devidamente pavimentado pela
eloqüência ‘científica’ de Freud [eloqüência esta que fora propositalmente desviada da
massa (seja ela qual for: massa de proletariados, banqueiros, estudantes, artistas, etc), ao
adulterar os escritos de Freud rumo a um teor mais acadêmico, onde trocou-se, entre
outros, os termos: ‘eu’ por ‘ego’, ‘isso’ por ‘id’, ‘supereu’ por 'superego’]; o período do
compromisso político (1928), onde seus líderes filiaram-se ao socialismo; e uma
terceira fase (1930), de difusão, onde instalou-se a formação de grupos surrealistas em
toda a Europa, e a adesão de alguns grupos americanos.
Percebe-se claramente que as etapas do movimento surrealista mantiveram-se muito
bem definidas: em primeira instância acreditaram no arrepio que as sensações
indicavam-se, acreditaram na miragem e oficializaram-na em um manifesto a ponto de
quase tocá-la – aproveitando-se, com toda razão eloquente e discernida, das mesmas
ferramentas utilizadas pelo próprio sistema que nauseava-lhes. Em segunda instância,
perseguindo ainda mais o intrínseco desejo biológico (vide o mercúrio) de pertencer-se,
ao menos um entremeio que não se distancie por demais de seu alcance energético
emergido do atrito, ou seja, um entremeio que não estique a linha que interliga corpo e
mente além pulso vivo, filiaram-se ao movimento socialmente político que propunha
uma ação que atraía seus pensamentos de ‘liberdade’. Filiaram-se a um calor
‘politicamente’ corpóreo antes que seus de-dentros começassem a deteriorar-se de suas
aspirações revolucionários, ou seja, antes que os magmas dos surrealistas iniciassem o
processo de auto-absorção (/reabsorção) deles próprios (seria como que retornar, de um
modo bem decadente, ao Dadaísmo?); transfigurando-se em possíveis ‘buracos negros’
se se permitissem distanciar-se do crescente processo artístico acumulativo a que
haviam estabelecido-se. Num terceiro momento assimilou-se que tal associação a
movimentos políticos era apenas um outro modo de atestar a mesma inevitabilidade dos
fatos, uma persistente repetição brutal das situações alienantes, e assim, avançaram-se a
uma contaminação artisticamente surrealista por toda a Europa e América. A arte como
ferramenta primordial tanto para o indivíduo como que para o oletivo.
O capitalismo resvala-se à ‘cura’ pela hipnose, enquanto que os Surrealistas atestavam
um modo eloqüente de dizer que se ‘se removesse um sintoma pela hipnose, não
avançaria nada na compreensão do paciente’ (D.W. Winnicott), ou ainda, não haveria
nenhum tipo de cultivo de consistência no indivíduo que o precipitasse rumo a um
reconhecimento de si cada vez mais pleno no presente. Tal e qual como o capitalismo
age negligencia-se o agora individual, já que o corpo humano necessita da hipnose para
não se permitir ao frenesi que o espantaria (de doses-homeopáticas em doseshomeopáticas) do medo perante o mundo que não busca equilibrar-se mas sim defenderse. O capitalismo "necessita, da parte dos consumidores, de um espírito completamente
pragmático e hedonista: um universo mecânico e puramente terrestre, no qual o ciclo da
produção e do consumo possa se efetuar segundo sua própria natureza” (Luiz Nazário).
A própria essência do Surrealismo, onde se cultiva a imaginação que promove uma
incessante re-lapidação do indivíduo rumo a uma compreensão ininterrupta de si próprio
estendido no todo, é inconciliável com as exigências do consumo. No capitalismo é
essencial promover uma quase aniquilação do indivíduo; entretanto, deve-se manter a
‘evolução’ humana nos trilhos, e assim o capitalismo utiliza-se da complexificação via
gerações, pois que neste trajeto é-se possível ter um maior controle das inusitadas
reações humanas individuais. Oferecer conhecimento à massa é fazê-la reconhecer a
alienação à qual submete-se, e se este anseio de entender-se no mundo e no Cosmos não
for uma necessidade intrínseca no indivíduo, eis que certamente a sua ascensão não será
nenhuma contribuição à complexificação humana, mas apenas uma continuação estéril
do que já se processa. Troca-se as posições, apenas – apenas?; pois que deve-se ressaltar
que este ‘apenas’ abarca aniquilamentos, torturas, cultivo de ansiedades e de doenças
psicossomáticas em um nível de tamanha sutileza que instiga-nos a acreditar que hoje
não se está sujeito à ignorância de antes.
O corpo é servo da mente. Tal e qual aquela estrela de 'EF Eridanus', uma estrela de
massa menor que sempre esteve condenada a orbitar sua parceira de massa maior
durante milhões de anos, e que por tal infortunio essencialmente fatal (às estrelas, pelo
menos, pois que elas não possuem ferramentas disponíveis que nos propiciem,
humanos, desprendermos-nos do arrastão que nos mumifica de prazer perante a
alienação inevitavelmente imperativa) ela morreu de tanto ceder radiação à sua
companheira maior. Ou seja, a estrela menor estava condenada a ter sua radiação sugada
pela estrela maior em função de uma outra realidade física intitulada 'efeito corpoarrastão' onde se efetua 'um efeito bizarro no qual uma massa em rotação arrasta o
espaço-tempo a seu redor'. Deste modo, tal e qual 'quando uma bola de boliche gira em
um fluido espesso como o melaço', do mesmo modo, 'enquanto a Terra gira, arrasta
tempo-espaço ao seu redor e isto altera as órbitas dos satélites do nosso planeta' (Erricos
Pavlis). O corpo precipita-se pela curva que a mente projeta; quanto mais epidérmica a
miragem maior torna-se o alcance da curvatura acionada pelo seu peso. O corpo
pertence à mente, e vice-versa. Há um pêndulo constante que pulsa atração e recuo
lapidando suor à imaginação.
Os Surrealistas resvalaram-se pela imaginação por perceberam que esta poderia ser uma
ferramenta de civilidade que, como objetivo principal de sua existência, não pode
jamais ser contaminada pela falta de umidade (a não ser em um nível bem primitivo)
expressa na hipnose, digamos, capitalista. Tiveram que se manter em constante
reciclagem, pois que o capitalismo assimilou-se da propriedade (tal e qual a própria
Natureza/Cósmos) de apreender superações às ações humanas que desviam-se de seu
controle, e a partir dali recriar-se e manter-se atento às novas investidas. De investida
em investida o sistema em voga amplia-se como modo de controle ao mesmo passo que
melhora o ambiente humano (?).
Está-se evidente que qualquer modo de adequar a consciência individual à consciência
do mundo é um modo de hipnose; a diferença é que alguns desejam uma liberdade
individual, um controle mais imperativo (Surrealistas, e tantos outros) sobre os
caminhos da cura. Controle este que é mero instinto de conservação – eis aqui as
cartadas de trunfo hipnótico da Natureza, que, digamos, sacrifica o pertencer individual
em meio ao coletivo-em-voga tal e qual a hipnose proposta pelo capitalismo explora e
ata os indivíduos a desejos elementares distintos que aos de-dentros; por outro lado o
controle hipnótico do sistema capitalista pode ser driblado quando a ruptura (indivíduo
X ambiente) configura um ser humano em um determinado impulso de vida que
involuntariamente desvia-se das credenciais sociais em voga, a ponto de instaurar um
patamar acima na complexificação humano-cósmica.
Esta hipnose social, segundo uma parte da grande elite intelectual&financeira (e todos
aqueles servos de tal pensamento), declara esta ação hipnótica capitalista devidamente
necessária por ter sido atestado uma ansiedade a respeito da natureza humana;
essencialmente levando em consideração que, em função daquele específico momento
histórico, onde ocorreu um borbulho de pensamentos – Freud, Nietzsche, etc (e que
certamente deve ter amedrontado a virilidade do grupo em questão) –, eis que erigiu-se
reações de equilíbrio simetricamente agressivas – a Segunda Guerra Mundial –
cultivadas por aqueles que, contrários aos Surrealistas, precipitavam ("O movimento de
um corpo se deve unicamente à tendência da matéria para seguir o caminho de menor
resistência." – Einstein; em outras palavras, um instinto de conservação tão essencial
quanto os dos próprios Surrealistas) a “Guerra Corporal” em oposição à “Guerra
Mental” (William Blake). Provavelmente Picasso tenha sido o grande experimentalista
(igualmente em um reflexo involuntário de conservação) que comungou a fermentação
corporal à arte, resultando deste modo numa arte (Cubismo) que repousava inúmeros
olhos – distintos ângulos – sobre um mesmo ‘objeto’; contudo, em contrapartida, ao
desviar em catarse a sua inevitável margem abismal do movimento socialmente amplo,
eis que Picasso terminou por ruir o ambiente familiar em torno de si.
Aqui pode-se clarificar-se que o grande inferno (a guerra corpórea) realmente amplia-se
dentro de nós mesmos ao cultivamos-nos o mito; que por sua vez parece só ter o teu fim
anunciado à medida que aniquila-se o trabalho como condição de alienação e
exploração humana. O perigo, amigos, parece estar pulsando, tão essencial quanto
inevitável, em qualquer ponto minucioso em nós ou em torno; e, provavelmente, se não
nos apegarmos à essencialidade de apreendermos uns com os outros, independente de
qualquer tipo de ‘status’, não será-nos possível atingir a necessária versatilidade.
Ressaltando ainda que deveria-se difundir que todo e qualquer indivíduo possui a sua
parcela de selvageria, essencialmente inevitável, e que deveríamos domá-la via “Guerra
Mental”.
Admiravelmente límpido fica a analogia comparativa que pode-se ascender entre o
‘Manifesto do Surrealismo’ e o texto ‘O Cágado’ de Almada-Negreiros. Qualquer ser
vivo encontra-se afixado a uma espécie de apnéia quando inserido em circulação
sanguínea no instante em que assopra-se pulsante em meio à atmosfera. Situar-se no
planeta Terra é alargar-se a um trabalho que transcende a própria satisfação sem
negligenciar-se a ela, pois que vislumbrar-se como ser individualmente coletivo é
alertar-se de modo construtivo com o processo da complexificação cósmico. À medida
que o homem desce da árvore e passa a caminhar com os próprios pés, eis que aí,
exatamente no instante em que proporciona-se o toque àquilo que o estico de seus
braços não atinge, vemos um salto alargando o ser humano de consistência. O ‘registro
do saber cósmico” (Baudrilard) anota as novas reações erigidas entre indivíduo e
ambiente e possibilita a sua materialização à medida que a consciência coletiva
configura-a hormonalmente cotidiana.
A ‘vontade’ exuberada por Almada-Negreiros distingue a falta de maturidade ainda
incrustada nos indivíduos; e que também é, a ‘vontade’, o inevitável impulso, tão fatal
como essencial, que direciona esta imprescindível complexificação humana-cósmica
que alarga, passo a passo, a individualidade a um patamar de maior consistência
comunitária - é devidamente improvável que não chegue a ocorrer perdas durante o
processo de comunhão entre ambiente e indivíduo; neste trajeto há excessos a serem
descartados. Esta negligência é mero instante de conservação-momentânea que
assemelha-se às fases da asfixia por submersão (e não por outro motivo deve-se
aquilatar e disseminar o conhecimento geral): Se num primeiro momento ocorre a
apnéia inicial, a suspensão da respiração, com o objetivo de impedir a entrada de líquido
nas vias respiratórias; eis que posteriormente inicia-se a dispnéia, onde ocorre discretos
movimentos de respiração em oposição à concentração de gás carbônico, piorando ainda
mais a situação com maior concentração de gás carbônico devido a inspiração de
líquido.
O instante surrealista é o esperneio do todo-vivo que busca reverter alguma coisa de
humano que se perdeu ou está em vias de. Há perdas, grandes e inevitáveis (?) perdas;
essencialmente por que, com o frenesi irradiado em função da negligência corpórea que
proporciona comportas abertas ao cultivo da imaginação, relega-se a despistar-se
incessantemente do cágado devidamente alojado no primeiro monte de terra. Cavoucarse é conhecer-se, atingir-se negligenciando o calor social é atingir um hermetismo a tal
ponto asfixiante que, por instinto de conservação, retorna-se à superfície terrestre com
os devidos pés no chão. Por outro lado, tal e qual a jia que insistentemente partiu a
película da água com seu pulo e com o tempo complexificou-se pelo... ar, certamente
que esta ‘vontade’, esta configuração que segue-se (cegamente, pra não dizer... com a
devida honestidade e ingenuidade necessárias para tamanho empreendimento, onde se
coloca a própria vida m risco) pelo caminho que a força de atração que o instinto de
conservação que as partículas elementares do todo-vivo instaura; certamente que esta
vontade terminará por acidentar este humano a cavoucar, após seu retorno, quantas
vezes mais a sua vontade fizer-se imperiosa. Ao menos até o instante em que este
humano tornar-se distinto de um mamífero humanamente pensante, seja
individualmente e/ou coletivamente.
Fundamental a um aprofundamento de nosso entendimento, a esta altura, e igualmente
fundamental ao desenvolvimento da Teoria Quântica, é o Princípio de Incerteza descrito
pelo físico alemão Werner Heisenberg em 1927: “...é impossível determinar com
precisão absoluta, no mesmo instante, a posição e o momento de uma partícula. Quanto
mais precisão buscarmos em um aspecto, mais prejudicado vai ficar outro.”
Não por outro motivo não há como terminar esta concatenação de palavras a não ser do
modo como iniciou-se, já que é demonstrável que toda e qualquer direção humana é
semelhante quanto ao fato de que todo e qualquer corpo é devidamente um servo da
mente acionada e alimentada constantemente pelo ambiente e pelos outros corpos, seja
em que nível social este ser estaque. A real diferença entre estas margens é o grande
dilema que assimila-se no Mito da Caverna de Platão, onde torna-se difícil desviar-se do
prazer encarcerante que a dependência alheia instiga, especialmente quando o próprio
equilíbrio depende deste pacto (equilíbrio este definido pela própria sociedade) e ainda
quando não se assimila esta dependência como uma ação inevitável em qualquer corpo
vivo estendido pelo tecido igualmente vivo, e essencialmente quanto ao fato de que
pode ser, em oposição à mumificação, devidamente remasterizada ao prosseguir-se
rumo ao dinamismo da versatilidade mental e corporal. Como diziam os gregos: ‘mente
são em corpo são’.
"Quis mostrar que o espaço-tempo não é necessariamente algo a que possamos atribuir
uma existência separada e independente dos objetos da realidade física. Estes objetos
são espacialmente estendidos. Assim, o conceito de 'espaço vazio' perde seu
significado." - Einstein
É perceptível que processa-se um aperfeiçoamento, um amadurecimento da resistência
individual com o decorrer da complexificação humana. Em verdade todas as vidas são
um fato inédito, todas as vidas merecem atenção. Proteger-se, acreditar-se, ofertar-se a
devida atenção, precipitar-se em grupos sociais conforme o peso gravitacional que o
pensamento individual indica é arquear-se energeticamente equilibrado em meio ao
organismo.
A entropia é nula quando não existe incerteza, e para tanto uma disseminação cotidiana
de estímulos que fisguem o indivíduo rumo conhecimento faz-se imprescindível, posto
que somos servos da mente e já que não existe consciência individual separada da
consciência coletiva. "A massa empena tempo-espaço e tempo-espaço empenado
informa qual o caminho pelo qual a massa precipitar-se-á" – Einstein. Não por outro
motivo, também, emergem-se inevitáveis instantes que ruptura o organismo vigente,
como se por um breve suspiro a incerteza da consciência individual a separasse da
coletiva, para logo em seguida alargar-se parte do todo. São os saltos que nos
suspendem o fôlego – um instante decisivo que não permite mumificar o tempo e o
espaço e a gravidade.
Estar-se cotidianamente consciente (ou seja, uma consciência de mundo que
negligencie-se da alienação) de que cada pedaço humano encontra-se estendido no
'vazio' que o compreende determina um resvalo irremediavelmente consciente (e na
prática atinge-se a distração consciente) e consistente para o de-dentro do todo via
magma em si, onde a imaginação permanece a irreversível liberdade instantânea que
esquadrinha o círculo da vida alquebrado em espiral.
“Que povo estamos nos tornando? Ignoramos essas circunstâncias, que agora não são
apenas corrupção escancarada e impune, mas falta de compostura de quem era a última
instância de nossa vida problemática, derradeira inspiração para a desorientada
juventude nossa. Mas não ignoramos por sermos ignorantes, e sim porque nos dizem
que está tudo numa boa, e não adianta reclamar. A gente se acomoda, se distrai, olha
para o outro lado, porque a capacidade de reagir nos foi lentamente, subliminarmente,
retirada. Não por sermos um povo acomodado ou superficial, mas mergulhado num
estado geral de desinteresse – e isso contagia feito uma gripe de derrotados sem sempre
suínos.” – Lya Luft
Como lembro ‘Ainda lembro’ de Jean Wyllys
Parece que uma réstia de luz solucionou o que Caetano, em Verdade tropical,
considerou ‘irresolvido’: “Uma das coisas mais deprimentes de um país desorientado
em sua história – de um país incompetente como disse Hannah Arendt dos países
subdesenvolvidos – é a incapacidade de se adequarem os talentos e os temperamentos
dos indivíduos às funções que irão exercer. Há uma sensação de desperdício e frustração
de que sempre tive consciência e contra a qual sempre quis me insurgir. Este é um ponto
central de meus cuidados, foi do tropicalismo e permanece, para mim, irresolvido”.
Foi bizarro; deixei o teu livro de lado depois de horas seguidas. No retorno eu já estava
ouvindo Calcanhoto, por acaso. ‘Todos nós a esmo’ é, da Parte dois, a minha predileta:
“Olha, eu afirmava, até pouco tempo, que todas as pessoas que comigo se deitaram me
desejaram. Já não tenho certeza. Sabe por quê? Porque diante da solidão todos ficamos
desesperados, perdemos os critérios e nos agarramos ao que vemos pela frente. E nos
enganamos, e aos outros.” Inclusive ‘... a esmo’ me remeteu à mais deliciosa das
definições da realidade quântica, onde se encontra algo sem procurar. “Conversar com
Einstein seria profanar a sua sagrada solidão” - (Humberto Rohden). Há muito timbre
aflito gotejado pela segunda parte. “Amor sem palavras, cinema mudo” é
impressionante e implacável: “Circulamos como baratas e ratos no escuro, à procura de
comida, em meio à imundice e ao mofo. Ratos e baratas que, à menor réstia de luz,
recolhem-se ao seu buraco”. Achei intrigante a mulher chamar-se Clarice;
essencialmente ao ouvir “A causa de nossa separação sou eu, é meu desejo”. Você pode
achar que estou alucinando, mas tenho que dizer o que anuncia-se em mim. Eu vi (e
continuo a ver todas as vezes que o releio) Lispector, com Ulisses, esgueirando-se pelos
labirintos de tua casa, escutando o que escapa aos ouvidos, à procura do Whisky
escondido que lhe disfarça o pavor do enorme rato ruivo ("Perdoando Deus") e dos
toques quebradiços da barata que lhe percorre e atravessa enquanto dorme, acordando
de madrugada para estar mais próxima da velocidade da luz que parece enfim iluminar o
fundo sem fundo da fenda que aconteceu-lhe Clarice. Eu a vi preservando-se,
despistando-se do susto ao colocar a "pistola" entre os dedos. “É tão pesado carregar o
sol de todo dia e as noites que lhe sucedem”. Há uma intercomunicação constante entre
as ficções, por vezes às claras e em outras por túneis sigilosos – não porque o autor
desvie-se, mas sim porque desfruta dos resvalos minuciosos de quem olha de perto;
ainda que ao longe por vezes se faça, tal e qual de perto, inevitávio. “O que eu quero
mesmo é que, na hora da divisão, sigamos em paralelo até o azul do mar profundo”.
Combinação esta que contamina todo o livro, espiralando-o do frescor que conserva-se
da loucura, ao passo que também a seduz. “Estou livre do seu capricho de ter um
coração empoeirado na estante”. A lucidez quanto ao presente resguarda-se na memória
do autor-gente. “Um dia de sol. Mas de um sol pálido, sobretudo à tarde, quando
farrapos de nuvens no céu começaram a ficar rosa”. Vejo-o ciente de que em cada pôrdo-sol algo acrescer-se-á e que o anterior – o agora, enfim – não deve ser menosprezado
com a (quase) indiferença da mesma covardia de agora a pouco. “Não sei se o sotaque
depôs a meu favor, mas a verdade é que ele, além de relaxar, confessou que também
notava algo de familiar em meu rosto”. Deste modo parece promover uma dinâmica que
brinca com a inexatidão e aposta na probabilidade de si como – insistente – promessa
que desvela-se e complexifica-se a uma tradução cada vez mais rigorosa. “Despedi-me
do vendedor com a promessa de que voltaria ao Rio em breve. Voltei”.
Particularmente, de tudo o que eu li seu, o que mais me ordena arrepios é ‘(...) para vêla um dia sorrir sem medo’. Isto me remete a uma música com Nina Simone, onde ela
uiva em sussurros agudos: ‘slave to your mind, slave to your mind’. Seu livro é a
revelação de um ‘inacreditável’, de uma das faces da fome humana, de uma pulsação
com palavras que nos perfuram com um peso tal que é-nos inevitável precipitarmo-nos
pelo timbre que tua voz esquadrinha. Deixamo-nos guiar pelos teus olhos ‘enquanto
durarem’ – há uma fundura que suas palavras provocam, exigindo-me, marchetado,
preencher e destrinchar este empenamento com um toque não menos honesto. Já na
contracapa percebe-se o modo como você lapida o mundo: o momento em que uma
'réstia' de sol atinge sua camisa. Eu vi a cena pela televisão, e vê-lo descrevendo-a fica
evidente os contornos mágicos-tangíveis com que teus sentidos permitem-se ao que
pulsa. O real-impossível que você seduz torna-se possível, basta ver e acreditar no
trajeto que você pavimenta. Há uma persistência retiniana que transforma a miragem em
toque. E há tantos respaldos espalhados pelo livro, além de tuas próprias palavras,
quanto os amigos pelos quais nos aquecemos e nos multiplicamos de potência em uma
mesa de bar – Drummond, Gil, Clarice, Saramago, Arenas, Rô Ro, outros. Lembro-me
do efeito mercúrio que torna imperativo ao humano agrupar-se, alimentar-se, faiscar-se.
[não, não me parece que esteja sendo desmedido com as palavras – respondo ao
fantasma que tremelica-me]
Parece indissociável combinar você, seu livro, os autores mencionados, eu. Eu apenas
permito – como um instinto de sobrevivência que fisga-se a uma superação – que a voz
que irradia-se do teu livro traduza com o máximo de frescor possível o tremor que
estende-se em mim; do mesmo modo como já resvalei-me por outros escritos, sejam
eles de amigos próximos ou de renomados escritores já falecidos ou não. Lembro-me da
primeira vez em que escrevi um conto. Lá estava eu caminhando pelas esquinas do diaa-dia SEM a minha câmera fotográfica, quando de súbito vi uma sem-teto com
menstruação coagulada pelas pernas, rosto inchado, cambaleante, carregando um buquê
de rosas vermelhas empedradas de secura. Passou por mim com uma altivez de tirar o
fôlego. Essa cena me perseguiu por quase três anos a fio, até que uma náusea alojou-se
em meu de-dentro com tamanha ousadia inflexível que não deu outra. Senti-me como
uma presa sendo separada da manada, tendo que encontrar uma fenda escapadiça. Em
mim o conto nasceu. Utilizo fotografia e escritura para despistar-me da náusea corpórea
que diariamente alça-me - seja lá em que ambiente social o for. Quero realçar um
detalhe – eu não sou oficialmente acadêmico (não sou um profissional - ainda que eu
esteja ao encalço deste sem que nele eu desfigure-me do livre? acesso ao
transcendente); segui-me (e sigo-me) cavoucando-me pelas pessoas e livrarias e
bibliotecas que encontro, desvendando-me a/à Voz que me arrebata com palavras e
aromas que me destaca a névoa dos olhos. E que me permite ver sem que seja-me
necessário esquecer/lembrar - tão facilmente.
Clarice - você também relembra - ‘afirmava só estar viva quando escrevia’. E mais
adiante você fala de Ícaro, com sua ‘obsessão desmedida’. Eis aí uma questão que (já)
me consumiu (com muito mais ardor) durante anos, e que seu livro reascendeu de modo
quase corrosivo. Seria birra essa persistência enraizando-se pelo ser do artista quando
encharca-se desta 'obsessão desmedida'? Como diriam psicanalistas: seria mera certeza
imaginária que sustenta um discurso neurótico? [“Nascida numa crise da sociedade
ocidental, a psicanálise não pode de maneira nenhuma tornar-se, na visão lacaniana, o
instrumento de uma adaptação do homem à sociedade. Originada de uma desordem do
mundo, ela está condenada a viver no mundo pensando a desordem do mundo como
uma desordem da consciência. E por isso, no momento mesmo em que Lacan enunciava
o princípio de que todo sujeito determina-se por seu pertencimento a uma ‘ordem’
simbólica, ele avançava uma outra tese segundo a qual o reconhecimento desse
pertencimento é fonte, para o sujeito, de um dilaceramento original e de uma inelutável
neurose” – Elizabeth Roudinesco; o “homem de nossa civilização moderna” não pode
ser outro a não ser o portador de uma neurose que não deveria ser rejeitada (sob pena de
criar fendas dentro de fendas – “a passagem de uma geração a outra de faz à custa de
uma neurose”), mas sim despertada pela noção de que se é livre quando constata-se
estendido na impossibilidade da liberdade, elucidando este homem ao cultivo de suas
probabilidades e vivacidades – neuróticas – em oposição a ‘uma sensação de
desperdício e frustração’]. Uma falta de atenção à distração que lhe arrebata, e que lhe
permite concatenar palavras por demais mágicas – de tão desmedidas? Tornou-se tão
‘imperativo’ (como você mesmo descreve a si próprio) estender-me cotidianamente em
arte que atingi o instante de não mais tolerar o cotidiano de secretário e artístico em
Brasília – desvencilhei-me de tudo que retirava-me concentração e acentuava-me asfixia
(era isto ou a loucura - que não me identifica - rondando-me) e saí, com câmera a tira
colo e caneta na mochila, de carona em carona, de clic em clic, de palavra em palavra,
indo aportar-me em Curitiba, onde encontrei uma cidade que me propiciava andar pelas
praças, ler e fotografar, além de internete gratuita 24 horas (Deste período surgiu
‘Versículos e fissuras’). O monstrinho que me corroia haveria de encontrar um modo
menos selvagem de alertar-me vivo, pois afinal que vontade era [e é – agora eu sei com
atitudes-eu mais mansas e exigentes] aquela que me faz(ia) caminhar com o dedo no
clic a ponto de tornar-me invisível (inclusive para mim mesmo) o suficiente para que eu
não interfira nos momentos decisivos a serem captados – bem de pertinho!
“Amar o perdido/ deixa confundido/ este coração” - Drummond. O que me alimentava
estava começando a me asfixiar - seguia-me a sabotar, rumando-me a uma caquexia que
eu driblava com alguns exercícios leves de yôga. Eu apenas dizia sim ao chamado;
entrava na Biblioteca Federal de Curitiba permitindo-me acreditar no arrepio que me
fisgava uma combinação de paz e ansiedade. 'O Jogo da amarelinha' de Cortázar e ‘Os
diários íntimos’ de Kafka marcaram fundo. Li os livros de Clarice junto com as
biografias e tudo mais a que tive acesso. Sei que era (é) perigoso o meu intento – tentar
entrar numa vida por intermédio das entrelinhas de suas (Lispector) próprias palavras e
de outros; e dali, de algum modo, encontrar ainda mais luz - algum tipo de iluminura
que me desvendasse essa 'obsessão desmedida'. Chamou-me a atenção quando em
‘Perto do coração selvagem’ a personagem principal diz algo como... porque é que todas
as vezes que me aproximo de um homem, ainda que eu o deseje, sinto-me como se as
paredes se fechassem ao meu redor.
De súbito eu me remeti a um livro que ainda está em mim, ‘O universo elegante’ de
Brian Greene: "(...) se se capturasse um único elétron dentro de uma caixa sólida e se
pouco a pouco se fossem aproximando as paredes umas das outras de modo a ir
reduzindo os espaços internos com o objetivo de determinar com precisão crescente a
posição do elétron, veríamos que ele pouco a pouco se moveria de maneira cada vez
mais frenética. Como se sofresse de claustrofobia, o elétron pareceria desesperado,
batendo contra as paredes da caixa com velocidade cada vez maior e em trajetórias cada
vez mais imprevisíveis. A natureza não permite que os seus componentes sejam
encurralados”. A fundura da natureza em Clarice não a permitia estender-se pelo
ambiente da civilização sem que provocasse-se trajetórias imprevisíveis – ainda não
assimiladas? De que modo este ser-se desmedida incrustou-se nela? Teria Clarice como
reverter aquilo que a consumia, sem que com isto ela se perdesse de seu ‘nó vital’ – a
própria escritura seria esta busca? Será que hoje em dia tornou-se mais viável uma certa
superação porque “as transformações, hoje, acontecem da noite para o dia.”? E ainda
assim pode ser que a fundura da ruptura individual possua o seu peso inegável diante
deste controle? E afinal o que é que desobstrui o ser ao que os ouvidos não escutam?
Até que ponto é possível desviarmos-nos da imposição que o Sistema endócrino
demarca? É fato: é utensílio da mecânica da vida a fundura individual articulando
tempo-espaço próprio – quanto mais fundo o negrume da fenda mais tempo-espaço
individual precipita-se à velocidade da luz? Já que o ambiente desfruta pertencer.
Einstein assanhou-me ainda mais: a massa empena tempo-espaço; tempo-espaço
empenado informa a massa qual caminho ela irá percorrer. Se deixarmos cair um lápis
ao chão, e se este levar dois segundos para atingi-lo, então diz-se que o lápis empenou o
tempo em dois segundos e o espaço de acordo com o trajeto que percorreu. O que levou
a massa-Clarice empenar-se pelo tempo-espaço que sensibilizava-lhe a livros? “Achava
que livro nascia assim como nasce uma árvore” – Lispector. O que é que o faz, Jean,
ainda lembrar? “O que é o eu, senão algo que o sujeito experimenta primeiro como
estranho no interior dele? [...] O sujeito tem sempre assim uma relação antecipada à sua
própria realização, que o devolve ao plano de uma profunda insuficiência e testemunha
nele uma profunda fenda, um dilaceramento original, [...]” (Lacan). É imperativo ao ser
humano faiscar-se em outros humanos, celebrando assim a inevitável e necessária troca
energética que alimenta a mecânica do pulsante - em casos específicos esta troca
energética dá-se via ambientes corpóreos que os olhos nus não decodificam? O que
ordenava Clarice tocar o outro tendo palavras (como senhas ao mais além) em seu
intermédio? A presa encontrando a fenda escapadiça seria um modo de descrever a
(dinâmica fluência da) civilização? O medo, presente em qualquer indivíduo, é mais um
dos utensílios que arquiteta civilização - sem ele provavelmente a imaginação já teria
entrado em extinção? Então quer dizer que o medo em Clarice era de uma fundura tal
que os utensílios sociais requeridos por ela eram a anunciação de uma comunhão
futura?
O poeta Einstein diz: ‘(...) massa precipita-se pelo caminho de menor resistência’. Então
esta precipitação (a escrita) era o caminho de menor resistência de Clarice? Mas como é
que se solidifica um caminho de menor resistência; seja ele o seu, ou o meu, ou de quem
quer que seja? É enfim o resvalar-se pelo próprio pensamento combinando-o ao
ambiente pelo qual estende-se? "Quis mostrar que o espaço-tempo não é
necessariamente algo a que possamos atribuir uma existência separada e independente
dos objetos da realidade física. Estes objetos são espacialmente estendidos. Assim, o
conceito de 'espaço vazio' perde seu significado." (Julho de 1952, Einstein). Celebrando
enfim a configuração que nos torna únicos – e humanos e contraditórios? Clarice
continuou perseguindo-se em livros, pedindo que as pessoas se rendessem como ela se
rendeu para não se sentir só na fenda que lhe configurava sabotagem aos utensílios
sociais que poderiam tornar-lhe mais pertencente ao presente - se fosse-lhe capaz
comungá-los, já que a fundura de sua ruptura esquadrinhava um específico pertencer.
Clarice se separa de seu marido, quase na mesma época em que conclui ‘A paixão
segundo GH’, onde promete seu eu a S/si mesma de maneira inflexível, perseguindo
enfim aquilo que adora e que, paradoxalmente, destitui-lhe da asfixia comprimindo-a
(Na velocidade da luz tempo-espaço fogem - Einstein); desaguando em ‘Água viva’, já
no início, como um aviso, algo como: ninguém mais me prende, já estudei matemática,
a loucura da razão...
"Eu queria saber sobre o que pretendem de mim os meus livros." (Clarice Lispector).
Não devemos fazer certas perguntas? Só sei que as faço, do mesmo modo como você,
no modo como concatena as palavras, também as faz. Caetano fala do ‘pulo da jia’. Será
que foi a desmedida obsessão da jia que saltou-lhe repetidas vezes de encontro ao limite
que transcendeu-lhe ao ar como modo respirável de vida? "O bebê alucina o objeto do
desejo" (M. Klein). De súbito deparei-me com uma informação (Verdade ou mentira?):
quando Clarice nasceu (no ato do nascimento) transmitiu uma doença à mãe,
confinando-a a um progressivo definhamento corpóreo (ambas!?!), devidamente
compactuado com a criança Clarice. Quer dizer então que configurou-se em Clarice um
presságio de morte, um desejo desmedido de transcendência; onde tocar o outro,
diretamente, seria como que trazer a própria morte ao vivo? Sendo que por outro lado
também seria como que forçar o humano a assimilar uma respiração transcendente - e
assim desvelarmos-nos a um ambiente a mais de vida? A arte filtra essa quase
maldição? “Sou o meu acontecimento”, destila Lacan. Então quer dizer que a vida é
passível de justificativa? O que não significaria lacrar-se contra um modo de vida que a
solidificação individual não assimila? E não por outro motivo precipitamos-nos ao
consumismo desvairado - seja ele qual for? Será então que a vida só se complexifica
porque um determinado susto solidifica uma responsabilidade em certos indivíduos a
ponto de que estes superem a si próprios? E, deste modo, arrastam a civilização em seu
encalço. "E o que precisamos agora não é apenas de um Rousseau mas de um pelotão de
Profetas - uma grande e sagrada casta de 'homens superiores' no sentido que Confúcio
deu à palavra - para nos libertar da escuridão." (J. G. Fletcher). A tua infância, a fome,
as chacotas, os momentos felizes solidificaram-no de um terceiro olho que o faz
esquecer via utensílios que promovem um lembrar? “Essa cena me acompanhou até
entrar na casa e com certeza não me livrarei dela tão cedo”. Quer dizer então que quanto
mais funda a ruptura, maior é o instintivo desvio do cotidiano em prol de um silêncio
que provoca abalos ao estender-se pelo ambiente humano presente – e não por outro
motivo a escrita de Clarice só se tornou referência com o passar do tempo? “A repressão
aos gays não seria parte da histórica repressão às mulheres(...)?” Será que Clarice, com
sua particular configuração solidificada, olhou ao redor e não encontrou (quase) nada
que lhe conectasse ao pertencer humano – levando em consideração essencialmente o
momento histórico? Será que por vezes é-se tão vivo que parece ser mais do que
deveria? "deveria"?
Prefiro afirmar com interrogação. Com a palavra Clarice Lispector: "A realidade é a
matéria-prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la - e como não acho. Mas é do
buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço.
A linguagem é meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e por destino volto
com as mãos vazias. Mas volto com o indizível. O indizível só poderá me ser dado
através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção é que obtenho o
que ela não conseguiu". O meu intento é iluminar um cômodo e ali resvalar-me por uma
porta até então desapercebida - e (d)ali redemunhar-me por outros cômodos (ou pelos
mesmos) e outras portas (ou pelas mesmas). "Eu que apareço neste livro não sou eu.
Não é autobiográfico, vocês não sabem nada de mim. Nunca te disse e nunca te direi
quem sou. Eu sou vós mesmos." - Lispector em Um sopro de vida.
Dá-me tua mão:
vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta. (C.L.)
O que ouço ao ler o teu livro é... ‘um pouco de possível, senão eu sufoco’ (Deleuse). E o
possível, com sua lança, e seu cavalo branco, veio no convívio, na ousadia (ame e dê
vexame), no teu 'esforço humano' (cada qual com o seu). Lembro-me de vc, lindo,
sorridente, à beira da gargalhada, dizendo... baiano gosta mesmo é de viver. Você fala
da saudade daqueles oitenta dias. Agora imagine a falta que foi chegar em casa e não ter
mais a vida tão à flor da pele. Muitos intelectuais e não-intelectuais criticam reality
shows, mas eu vejo neles um modo de motivar a civilização a algo melhor. Quando se
lê um livro identificamo-nos em personagens, cria-se imagens que refletem o trajeto que
o escritor delineia e, a partir dali, somos capazes de colocarmo-nos em alguma espécie
de paredão que nos faz questionar os conceitos pré-estabelecidos que servem de
andaimes ao nosso próprio equilíbrio. Diante do BBB eu vi um procedimento tão
semelhante que é como se a qualquer momento as duas linhas (aparentemente)
paralelas, aonde minha visão não atinge, encontrar-se-iam. Percebi que em meu dedentro teria que talhar a faísca da coragem que superaria o medo. Viver só pode ser
aprender como é que se vive - isto é o que chamam de amor? “(...) esta mão que se
dirige ao fruto, à rosa, à lenha que subitamente queima, seu gesto de esperar, de colher,
de atiçar, é estreitamente solidário da maturação do fruto, da beleza da flor, do
cintilamento da tocha. Mas quando, neste movimento de esperar, de colher, de atiçar, a
mão foi para um objeto bem distante, se do fruto, da flor, da lenha, uma mão surge ao
encontro da mão que é a sua, e neste momento é sua mão que se paralisa na plenitude
acabada do fruto, na abertura da flor, na explosão de uma mão que queima, - então, o
que se produz aí, é o amor." (Lacan). Comunicação. Paixão. Lubrificação das
articulações. "(...)o tempo é, está e permanece; ele é total demais para o meu tamanho".
"A vida e o tempo parecem-me inextrincáveis como as faces de uma moeda,
completam-se como sombra e luz. Assim, o tempo tem o tempo todo para ser (e não ser)
e a vida tem a vida toda para tirar (e para dar)" - Jean Wyllys.
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