ANO 6 – NÚMERO 55 – DEZEMBRO DE 2016• PROFESSORES RESPONSÁVEIS: FLÁVIO RIANI & RICARDO RABELO 1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS À medida que o tempo passa os resultados dos indicadores econômicos brasileiros e as notícias sobre o atual quadro político do país revelam gradativamente o equívoco da tese de que a substituição do governo seria a alternativa para sairmos da crise. No presente, até mesmo indicadores positivos, como a forte diminuição nas taxas de crescimento da inflação, não podem ser comemorados na medida em que acabam sendo fruto de uma situação econômica e social degradante caracterizada pela falta de capacidade de compra dos indivíduos e resultante, sobretudo, da elevada taxa de desemprego marcante hoje no país. Paralelamente a esse quadro apuram-se, ainda, taxas negativas de variações no PIB e na indústria resultantes de fatores diversos, dentre eles a diminuição na capacidade de compra da população, do baixo nível de investimentos públicos e privados e de um cenário internacional também nebuloso. Neste aspecto, a economia mundial aprofunda suas características de baixo crescimento no caso dos países desenvolvidos e de desaceleração ou recessão nos países emergentes. As ‘soluções” de curto ou de longo prazo não buscam garantir o bem estar social de todos mas apenas um “equilíbrio econômico” marcado pelo crescimento da desigualdade, reforçado pelos avanços tecnológicos, sem efetivamente conseguir evitar novas crises financeiras prolongadas. 2 – IPCA DE 0,18% EM NOVEMBRO É O MENOR PARA O MÊS DESDE 1988 Prof. Flávio Riani O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o último Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apurado , que representa a inflação oficial do país. A taxa de 0,18% registrada em novembro além de ser inferior à do mês anterior ( 0,26%) é também a menor taxa para o mês de novembro desde 1998 cujo valor foi 0,12%. Tal resultado gera, de certa forma, um alívio para o governo, porém com avaliações negativas uma vez que ele é fortemente consequência de uma situação extremamente preocupante revelada pela diminuição na capacidade de compra do consumidor, resultando, de forma agregada, num menor nível de produção de bens e serviços nos país. Após os impactos inflacionários tempestivos ocorridos no início do ano, por ocasião dos ajustes nos preços dos serviços e bens administrados pelo governo, a inflação dá sinais de enfraquecimento e de que ainda é possível imaginar uma taxa anual bem próxima ao teto máximo de 6,5%. – EXPEDIENTE – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Grão-Chanceler – Dom Walmor Oliveira de Azevedo | Reitor – Professor Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães | Vice-Reitora – Professora Patrícia Bernardes | Assessor Especial da Reitoria – Professor José Tarcísio Amorim | Chefe de Gabinete do Reitor – Professor Paulo Roberto Souza | Chefia do Departamento de Economia – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação do Curso de Ciências Econômicas – Professora Ana Maria Botelho | Coordenação Geral – Professor Flávio Riani e Professor Ricardo F. Rabelo Instituto de Ciências Econômicas e Gerenciais: Prédio 14, sala 103 | Avenida Dom José Gaspar, 500 | Bairro Coração Eucarístico CEP: 30535-901 | Tel: 3319.4309 | www.pucminas.br/iceg/conjuntura | [email protected] Através das informações descritas no gráfico 1 pode-se avaliar o movimento decrescente da taxa de inflação mensal de novembro de 2016, tanto em relação ao mês anterior quanto ao mesmo mês do ano anterior. Grtáfico 1 -Taxa Mensal de Inflação IPCA % Brasil 1,20 1,01 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,26 0,18 0,00 Novembro/2016 Outubro/2016 Novembro/2015 As taxas do IPCA agregadas no ano e nos últimos doze meses até novembro estão destacadas no gráfico 2. Gráfico 2 -Taxa de Inflação Acumulada IPCA Brasil 15,00 10,00 9,62 5,97 10,47 6,99 5,00 0,00 Acumulado até Acumulado até novembro/2016 novembro/2015 Acumulado Acumulado últimos 12 últimos 12 meses até meses até Novembro/2016 Novembro/2015 Dados do gráfico 2 mostram as diminuições ocorridas nas taxas de inflação acumuladas em 2016 comparativamente ao mesmo período em 2015. Eles indicam claramente a possibilidade de que a taxa anual da inflação de 2016 fique muito próxima ao teto máximo de 6,5% para ela estabelecido pelo governo para o período. A diminuição na taxa do IPCA relativa ao mês de novembro foi fortemente influenciada pela elevada queda no preço dos alimentos, de -0,05% para - 0,20%. O feijão carioca e tomate – que durante meses foram considerados os vilões da inflação –, tiveram as maiores quedas juntamente com a batata inglesa. Como esses elementos são básicos no item Alimentação e Bebidas e como esse grupo tem peso relativo significativo na apuração do IPCA acabam influenciando, de forma significativa, no valor final do IPCA Além desses itens os preços relativos a artigos de residência (de -0,13% para 0,16%), sob influência de eletrodomésticos (-0,92%) e aparelhos de TV, som e informática (-0,92%) foram os que apresentaram maiores quedas. No sentido oposto tiveram elevações os itens relacionados a saúde e cuidados pessoais (de 0,43% para 0,57%); despesas pessoais (de 0,01% para 0,47%); educação (de 0,02% para 0,06%) e comunicação (de 0,07% para 0,27%). 3 – PIB DECEPCIONA MAIS UMA VEZ Após a apuração e divulgação do PIB do trimestre anterior criou-se no país a expectativa de mudanças no quadro recessivo em função do ligeiro aumento registrado no item de Formação Bruta de Capital Fixo e na Indústria. Entretanto, o recuo de 0,8% apurado nesse terceiro trimestre de 2016 frustrou tal expectativa e completou a 7ª queda trimestral seguida no nível da produção nacional. Conforme mostra o gráfico 3, depois de uma queda no 2º trimestre de 2014 o PIB brasileiro apresentou dois trimestres de elevações extremamente baixas. Pior ainda que a partir do 1º trimestre de 2015 ele caminha numa trajetória decrescente nas apurações realizadas após aquele período. A queda observada de 0,8% no PIB do terceiro trimestre de 2016 frustrou a expectativa de possibilidade de sair mais rápido da recessão. A sétima queda consecutiva além de constituir a mais longa na história econômica brasileira ocorreu, também, em todos os segmentos que compõem a oferta agregada. 0,5 Gráfico 3 - Taxas Trimestrais de Variações Reais PIB - Brasil 0 -0,5 -1 -1,5 -2 -2,5 Fonte: IBGE Informações destacadas na Tabela 1 mostram que, no terceiro trimestre de 2016, qualquer que for o período de comparação, as taxas de variações no PIB do Brasil foram negativas. Pelos índices apresentados e pelas informações adicionais sobre indicadores de desempenho, pode-se esperar uma taxa negativa anual do PIB nacional por volta de 3,5% em 2016 comparativamente a 2015. Tabela 1 – PIB Taxas Trimestrais - Brasil Outro ponto marcante do desempenho do PIB nesse terceiro trimestre de 2016 é o fato de que os resultados mostram que, tanto pela ótica da oferta quando pela demanda, todos os indicadores agregados básicos apresentaram queda em relação ao trimestre imediatamente anterior.A tabela 2 e os gráficos 4 e 5, dela derivados, destacam as recentes taxas de variações reais do PIB trimestral nas óticas da produção e da demanda. Tabela 2 – Taxas trimestrais de variações reais do PIB brasileiro Do ponto de vista da oferta apesar dos três segmentos tradicionais terem apresentado queda, chama a atenção a performance negativa tanto da indústria quanto dos serviços, setores esses importante na geração de produção e renda na economia. Gráfico 4 - PIB Ótica da Oferta Brasil - Variação 3º Trim-2016/2º Trim 2016 0 -0,5 -0,6 -0,8 -1 -1,5 Agropecuária -1,4 Indústria -1,3 Serviços PIB mercado Fonte: IBGE No que se refere à demanda percebe-se também, por intermédio do gráfico 5, que todos os segmentos apresentaram queda no período em tela. Além disso, deve-se ainda destacar as quedas apuradas no segmento de consumo das famílias que, devido à participação desse setor na composição da demanda agregada afeta diretamente o consumo e por consequência o nível de produção e de investimentos. Gráfico 5 - PIB Òtica da Demanda Brasil - Variação 3ºTrim-2016/2ºTrim-2016 0 -0,5 -1 -0,3 -0,6 -1,5 -2 -2,5 -3 -2,8 -3,1 -3,5 Fonte: IBGE -3,1 Tal situação reflete na queda observada na Formação Bruta de Capital Fixo cujo índice desse trimestre, além de ter revertido a expectativa de recuperação criada no trimestre anterior, demonstra a tendência da permanência de manutenção de seu patamar, até mesmo em função da capacidade ociosa criada pela redução da demanda. Ainda no quadro das expectativas de crescimento da produção, o índice negativo das importações, na sua maior parte representada pela diminuição da aquisição de bens de capital, se incorpora na frustração da expectativa de crescimento imaginada já para esse terceiro trimestre e que não ocorreu. 4 – DESEMPENHO DA INDÚSTRIA TAMBÉM DECEPCIONA NOVAMENTE O setor industrial brasileiro voltou a apresentar queda em outubro, após uma ligeira alta no mês anterior. Na comparação com setembro, a produção do setor caiu 1,1%. É a maior retração para outubro desde 2013, quando foi de 1,5%. Comparativamente a outubro de 2015, a indústria recuou de 7,3%, o mais forte desde maio de 2016 (-7,4%). No acumulado do ano, de janeiro a outubro, a atividade industrial no Brasil acumula baixa de 7,7%. Em 12 meses, o segmento tem queda de 8,4%. Os dados que compõem o gráfico 6 destacam as variações ocorridas nos principais estados brasileiros. Inicialmente deve-se ressaltar que todas as taxas destacadas são negativas. Gráfico 6 - Taxas Negativas de Desempenho Industrial Brasil - 3º Trim. 2016 25 21,6 20 15 13,2 11,3 8,2 10 5 7,7 7,4 6,2 5,4 4,6 4,2 1,2 0 Fonte: IBGE Além desse ponto chama atenção a variação de 21,6% observada no Espírito Santo e, de certa forma, a em Pernambuco que têm um parque industrial relativamente significativo cujas variações se tornam relevantes para a análise de desempenho econômico local e nacional. Porém, o destaque maior concentra-se nos três estados mais industrializados do país (São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro) cujas taxas respectivas (-6,3 -7,4 e -5,4) mostram a dificuldade de alterar suas expectativas de crescimento, importante para reverter os impactos negativos causados pelo desempenho desses setores na formação da produção, na geração de emprego e de renda na sociedade. 5 - ECONOMIA MUNDIAL: QUAL CRISE? Prof. Ricardo F. Rabelo A economia mundial apresentou até 2008 ciclos de profunda instabilidade nos mercados financeiros, onde se alternaram períodos de intenso crescimento, como de 2003 a 2007, com períodos de forte queda da produção, da renda e do emprego , como ocorreu no período imediatamente após a crise. A partir de 2011, no entanto, iniciou-se uma nova fase da economia mundial em que se tem prenúncios de nova crise financeira internacional, caracterizados por queda acentuada nos preços das ações e de outros ativos de risco em escala internacional, obrigando a adoção de políticas de estímulo como redução da taxa de juros ou a não efetivação de sua elevação sempre estimulada por vários analistas e órgãos de imprensa especializados em economia. Por outro lado, a recuperação do crescimento, ocorrida após a crise, principalmente nos países centrais e desenvolvidos da economia mundial se mostra cada vez mais limitada e parcial. Nos países emergentes a retomada se transformou em desaceleração do crescimento ou em recessão aberta, com exceção apenas da Índia, que segue apresentando crescimento econômico. Gráfico 7 Crescimento Econômico Mundial Médio (2012-2016) 6 5 PiB (%) 4 3 Mundo Economias desenvolvidas Países emergentes 2 1 0 2012 2013 2014 Anos - 2016 - projeção Fonte: Bureau of Economic Analysis (BEA). 2015 2016 Há fatores estruturais e gerais para esta nova fase, como já apontamos anteriormente nesta carta: o alto nível de desemprego nos países desenvolvidos, a manutenção de baixos índices de crescimento na maior parte destes países, além do fracasso das políticas monetárias de estímulo ao crescimento e da incapacidade dos países emergentes de impedir ou pelo menos limitar a queda de crescimento econômico que vem apresentando nos últimos anos, além das tendências recessivas que caracterizam economias emergentes como o Brasil e Rússia. A atualização da análise sobre este processo é sempre necessária em termos conjunturais, objetivo principal deste artigo. Cabe também, no entanto, fazer algumas considerações sobre esta nova fase em termos estruturais, pois sua evolução recente aponta obstáculos para um novo ciclo de crescimento e fortalece a perspectiva de um período cada vez mais caracterizado por uma estagnação econômica e ameaças de crises financeiras profundas. Por outro lado, o “admirável mundo novo” previsto pela chamada Quarta Revolução Industrial se mostra o como um mundo tenebroso em que as novas tecnologias tornam uma parte considerável da humanidade dispensável. 6 - ECONOMIA DOS EUA: PERMANECE A ESTAGNAÇÃO A retomada de crescimento dos Estados Unidos é estruturalmente limitada e bloqueada pelas incapacidade de resposta às políticas de estimulo financeiro pelo próprio capital financeiro que pressiona pela elevação das taxas de juros pelo FED e outras medidas recessivas. O PIB tem crescido a taxas baixas , e manteve-se estagnado nos dois últimos anos. Em 2016, o PIB cresceu 0,8% no 1º. Trimestre e 1,4% no 2º., sendo que os analistas previam 1,1% e 2,6%, respectivamente. Os últimos dados a respeito do 3o. Trimestre, apesar de um crescimento anualizado maior – de 3,2% - reforçam esta visão, já que este crescimento se deveu mais à alta nas exportações, que se elevaram em 10,1% em relação ao trimestre anterior (dados anualizados). Gráfico 8 Evolução Trimestral do Consumo Pessoal - EUA - 2016 4,50% 4,00% 3,50% 3,00% 2,50% % 2,00% 1,50% 1,00% 0,50% 0,00% 1o. trimestre 2o. trimestre Taxas Anualizadas Fonte: Bureau of Economic Analysis (BEA). 3o. Trimestre Internamente, os gastos em consumo, que cresceram apenas 1,6% no primeiro trimestre, desaceleraram dos 4,3% apresentados no 2o. trimestre para 2,8% no terceiro. Esta redução nos gastos em consumo reflete o desempenho do mercado de trabalho. A taxa de desemprego nos Estados Unidos registrou redução em outubro, mas com estabilidade na criação de novos postos de trabalho. Os números oficiais mostram uma leve redução – 0,1% -- no índice de desemprego e uma queda na criação de novos empregos de 191.000 em setembro para 161.000 em outubro, em dados corrigidos de variações sazonais. Além do consumo, o investimento das empresas apresentou crescimento de 10%, mas o investimento imobiliário, por outro lado, contraiu-se 4,4%. A divulgação de análises positivas e exageradas sobre a “retomada”, sabe-se agora, tinha apenas um objetivo: fundamentar a política, ansiada pelo mercado financeiro, de aumento da taxa de juros. O FED finalmente implementou essa política, ao elevar a taxa de 0,50 para 0,75% . As implicações dessa medida serão, provavelmente, abortar precocemente uma possibilidade de efetivo crescimento da economia americana, além de provocar uma “repatriação” de investimentos financeiros dos emergentes para os EUA. 7 -UNIÃO EUROPÉIA E ZONA DO EURO: DA AUSTERIDADE À POSSÍVEL DESINTEGRAÇÃO A retomada do crescimento da economia européia permanece em patamares muito baixos, aprofundando a assimetria entre centro e periferia da zona do euro e desatando graves conflitos no interior da União Européia como fica evidente no Brexit e, mais recentemente, a derrota do projeto de reforma do senado italiano pelo referendo popular. A derrota mostra o fortalecimento de partidos contrários à União Européia. O que mudou em 2016 foi a atitude dos analistas, em particular a imprensa especializada, de celebrar pífios avanços no crescimento como uma perspectiva firme de recuperação. Ao lado da manutenção do eixo básico e políticas de austeridade fiscal pelas autoridades da “Troika” – Banco Central Europeu – FMI – Comissão Européia , adotou-se uma política de incentivos monetários como redução dos juros e injeção de recursos no mercado financeiro que parece se revelar completamente fracassada. 7.1 AS CONTRADIÇÕES DA PROPALADA “RETOMADA EUROPÉIA” O desempenho da economia da zona do euro evoluiu de uma contração de 0,5% em 2012 e de 0,4% em 2013 para um crescimento de 0,9% em 2014 e de 1,6% em 2015, amparada por investimentos em equipamentos e construções.O PIB da zona do euro cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2016, em comparação aos últimos três meses de 2015. O aumento, quando comparado ao primeiro trimestre de 2015, é de 1,7%. Essa rastejante retomada não é, no entanto, linear pois há fatores estruturais da crise, como a ascensão da China como grande potência produtiva e financeira, o que levou a um deslocamento de empresas de países de todo o globo rumo ao país asiático e a substituição da produção local européia por importações de produtos chineses. O Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro cresceu 0,3% no terceiro trimestre de 2016, a mesma taxa registrada no período de abril a junho de acordo com dados da Agência de Estatísticas da União Européia. A maior contribuição para o crescimento veio do gasto de consumo das famílias, com aumento de 0,2 ponto percentual ao resultado final.As variações de estoques e os gastos do setor público contribuíram com 0,1 ponto cada um.O impacto das exportações foi zero, enquanto o aumento das importações reduziu em 0,1 ponto o crescimento.O investimento não contribuiu para o crescimento, após expansão em trimestres anteriores. Em relação ao terceiro trimestre de 2015, a economia da região do euro aumentou 1,7%, depois de ter registrado expansão da mesma ordem entre abril e junho, no mesmo tipo de comparação . Na União Européia, o PIB teve ampliação de 0,4% no terceiro trimestre, seguindo aumento da mesma ordem nos três meses anteriores. A economia da zona do euro cresceu no terceiro trimestre no mesmo ritmo reduzido visto no segundo e o núcleo da inflação desacelerou em outubro, aumentando as expectativas de que o BCE (Banco Central Europeu) deverá prorrogar seu programa de compra de ativos em dezembro. A agência de estatísticas da União Européia, Eurostat, informou que o PIB (Produto Interno Bruto) nos 19 países que compartilham o euro cresceu 0,3% na comparação trimestral no período entre julho e setembro, e 1,6% na base anual. Gráfico 9 Fonte: Eurostat Ambos os números repetiram as taxas registradas no segundo trimestre, mostrando, ao contrário dos que querem os analistas, uma estagnação em níveis de crescimento muito baixos.Os preços ao consumidor na região subiram 0,5% na comparação anual em outubro, contra avanço de 0,4% em setembro e de 0,2% em agosto, uma vez que a pressão da energia elétrica sobre o índice diminuiu. Os preços da energia elétrica foram apenas 0,9% mais baixos em outubro do que 12 meses antes. No entanto, excluindo os preços mais voláteis de alimentos não processados e energia, a inflação foi de 0,7% na comparação anual, contra 0,8% nos cinco meses anteriores. O BCE quer uma taxa maior da inflação geral — perto de 2% no médio prazo — e tem comprado títulos dos governos da zona do euro para injetar mais dinheiro no sistema bancário e fazer com que os bancos emprestem para a economia real. O BCE se reúne em dezembro e terá que decidir se prorroga as compras de títulos além do prazo inicial de março de 2017. Autoridades do banco central têm dito que a política monetária expansionista será mantida até que a inflação esteja em uma trajetória sustentável para a meta. 8 - A EVOLUÇÃO RECENTE DE ALGUMAS ECONOMIAS NACIONAIS DA ZONA DO EURO Espanha O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) da Espanha registrou desaceleração no terceiro trimestre, com alta de 0,7% na comparação com o trimestre anterior, de acordo com os dados divulgados pelo INE (Instituto Nacional de Estatísticas). No segundo trimestre, o PIB do país registrou alta de 0,8%. Essa desaceleração pode indicar uma reversão do processo de crescimento que vem sendo alardeado como evidência do acerto da política de austeridade da “troika” , aplicada pelo Governo Espanhol através de medidas fortemente restritivas. Alemanha O crescimento econômico da Alemanha desacelerou mais que o esperado no terceiro trimestre, tendo como um dos fatores a queda nas exportações. A economia cresceu 0,2% no período de julho a setembro, após expansão de 0,4% nos três meses até junho, sempre comparando o crescimento com o trimestre anterior de acordo com dados da Agência Federal de Estatísticas. A expansão foi inferior ao previsto pelos analistas e imprensa especializada, que projetava crescimento de 0,3%. A análise o PIB alemão sob a ótica da demanda mostra que o consumo das famílias subiu 0,4% entre julho e setembro ante os três meses anteriores, enquanto o consumo do governo avançou 1% e os investimentos em construção aumentaram 0,3%. Por outro lado, os investimentos em fábricas e maquinário diminuíram 0,6% na mesma comparação.Já as exportações alemãs caíram 0,4% no terceiro trimestre ante o segundo, mas as importações avançaram 0,2%. A economia cresce sob o impulso dos gastos do governo e aumento de consumo, variáveis que o Governo alemão demoniza quando se trata dos países da periferia da zona do Euro, em nome da ”saúde fiscal”. O investimento e o setor externo, que foram no passado as principais forças dinâmicas da economia alemã, mostram um desempenho muito negativo. França A economia da França cresceu 0,2 por cento no terceiro trimestre na comparação com o crescimento com o trimestre anterior uma vez que o forte acúmulo de estoques pelas empresas compensou a demanda doméstica estagnada.Os gastos dos consumidores apresentaram estagnação pelo segundo trimestre seguido, disse a INSEE, o que significa que a contribuição de 0,1 ponto da demanda doméstica ao Produto Interno Bruto (PIB) se deveu apenas ao aumento de 0,3 por cento dos gastos do governo.O comércio internacional cortou 0,6 ponto do PIB, com as importações crescendo muito mais rápido do que as exportações. 9 - A PERSISTENTE DESACELERAÇÃO DOS EMERGENTES As principais economias emergentes tem sido mais fortemente atingidas pela crise internacional, pois, mantém um processo de desaceleração, sendo que Brasil e Rússia mergulharam, por razões distintas, em uma profunda recessão. Na China, o Produto Interno Bruto (PIB) da China teve expansão anual de 6,7% no terceiro trimestre, segundo dados do Escritório Nacional de Estatísticas do país. Na comparação do segundo trimestre com o trimestre anterior, o PIB chinês avançou 1,8% entre julho e setembro, considerando-se ajustes sazonais. Entre abril e junho, a segunda maior economia do mundo também havia expandido 1,8% ante o primeiro trimestre. Entre janeiro e setembro, o PIB da China registrou crescimento de 6,7% ante igual período do ano passado. Os últimos resultados do PIB mantêm a China na trajetória para cumprir a meta oficial de expansão de pelo menos 6,5% em 2016, embora o ritmo de crescimento dos dois últimos trimestres tenha sido o mais fraco desde os primeiros três meses de 2009, auge da crise financeira mundial, mostrando que o processo de desaceleração continua. Na Rússia, projeta-se uma queda de 0,4% a 0,6% no terceiro trimestre de 2016, na comparação com o crescimento com o trimestre anterior, de acordo com o Banco da Rússia. Segundo a autoridade monetária, a redução do PIB no ano ficará entre 0,5% a 0,7%. O Banco Central projeta uma leve recuperação em 2017, mas o crescimento não deve passar de 1%. Além disso, o investimento na Rússia deve cair entre 2,5% e 3,5% no terceiro trimestre. No ano passado, a economia russa reduziu-se em 3,7% , em meio à queda dos preços do petróleo. Gráfico 10 Evolução Trimestral do PIB - 2016 - China - Trimestre/Trimestre anterior 1,80% 1,60% 1,40% 1,20% 1,00% % 0,80% 0,60% 0,40% 0,20% 0,00% 1o. trimestre 2o. trimestre Fonte: Bureau of Economic Analysis (BEA). 3o. Trimestre Na Índia, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,3% no trimestre até 30 de setembro o que representa uma aceleração ante o avanço de 7,1% do trimestre anterior, comparando-se com o mesmo período do ano anterior.O crescimento indiano tem se mostrado consistentemente superior a 7% nos últimos trimestres, mas a decisão do governo de retirar e substituir cerca de 86% das cédulas de dinheiro em circulação deixou pessoas e pequenos negócios com pouco dinheiro para gastar, o que significou um freio na economia. Muitos economistas advertem que a repentina retirada de notas de dinheiro de valor mais alto pode cortar até 1,5 ponto porcentual do crescimento econômico neste ano, caso a introdução das novas notas demore muito. Os resultados do trimestre até setembro tiveram como fatores determinantes os expressivos resultados na agropecuária e no setor de construção. A produção agropecuária teve aumento anual de 3,3%, maior que a expansão de 1,8% registrada nos três meses anteriores, graças aos níveis normais de chuva na temporada entre junho e setembro pela primeira vez em três anos. A produção industrial manteve-se em nível alto, com crescimento de 7,1% no 3º trimestre, embora no trimestre anterior o crescimento tenha sido de 9,1%. 10 - RUMO A UMA NOVA CRISE FINANCEIRA? A situação atual da economia mundial com uma retomada “travada” nos países desenvolvidos e desaceleração ou recessão nos emergentes, revela as contradições de um processo generalizado de financeirização. As empresas, mesmo as muito grandes, obtém cada vez mais rendimentos financeiros e menos rendimentos advindos da produção. Ao mesmo tempo, as políticas de estímulo econômico adotadas no mundo desenvolvido, com redução de taxas de juros e injeção de recursos financeiros no mercado tem criado grandes dificuldades para o mercado financeiro, que amarga taxas de juros cada vez menores , insuficientes para dar os rendimentos necessários para sustentar o enorme acúmulo de riqueza financeira. Gráfico 11 Dívida Total dos Agentes Não Financeiros, Privados e Públicos(%PIB) - 2014/15 481 500 450 400 343 346 334 350 333 318 % PIB 300 235 250 200 150 100 50 0 França Alemanha Itália Japão Países Espanha Fonte: Bureau of Economic Analysis (BEA). RU EUA Por outro lado, os estados acumularam enormes dívidas, oriundas de má gestão e das próprias políticas de estímulo. Crescem, portanto, os passivos financeiros mundiais, que guardam cada vez menos proporção com a produção e a riqueza real. O resultado é o comprometimento da saúde financeira de todas economias, que resultam no enfraquecimento dos grandes bancos. É o caso do Deutche Bank, que se vê a frente com grandes dificuldades de manter seu equilíbrio, pois sustenta todas as grande dívidas estatais e privadas européias e que não são capazes de remunerar adequadamente seu enorme capital. Enfrenta agora também a exigência, pelos EUA, de pagamento de uma astronômica multa, devido a práticas irregulares no mercado financeiro. Outro exemplo é o processo vivido pela economia italiana. A Itália está preste a passar por uma crise bancária de grandes proporções. Os empréstimos feitos pelos bancos e cujos clientes se tornaram inadimplentes já totalizam 360 bilhões de euros, o que equivale as 17% de todos os empréstimos bancários do país, e é igual a aproximadamente 20% de todo o PIB anual italiano. Desde o início de 2016, os preços das ações dos bancos italianos já caíram mais de 50%. No caso do banco mais antigo e mais problemático da Itália, o Banca Monte dei Paschi di Siena, o preço de suas ações já despencaram mais de 75%. A economia italiana ainda não se recuperou da crise financeira de 2008, sendo hoje 8% menor do que era em 2008, e praticamente do mesmo tamanho que era ao final do século XX. A alternativa proposta pelo governo italiano enfrenta todo tipo de problema, pois admite utilizar recursos tributários para socorrer os bancos, em total desafio às regras da União Européia, que, desde janeiro de 2016, proíbe resgates, permitindo somente a utilização dos recursos dos próprios clientes para recapitalizar o banco . Esta situação em que os Governos possam ser obrigados, em caso de uma crise financeira global, a implementar políticas de recuperação de grandes bancos revela uma encruzilhada da economia mundial. A maioria dos Estados está sem condições fiscais e monetárias de investir recursos em políticas anticíclicas e estão aplicando políticas neoliberais, com a desculpa das grandes dívidas, promovendo reformas estruturais que reduzem ou acabam totalmente com as políticas de bem estar social. A cada vez maior oposição a estas políticas, por sua vez, determina o surgimento da imposição autoritária de políticas de austeridade, que só ampliam ainda mais os problemas políticos, como mostram o “Brexit” na Inglaterra e a derrota do governo em referendo das reformas políticas na Itália. Neste particular, a vitória de Trump nos EUA também vai no sentido de buscar fortalecer a economia americana com políticas protecionistas que apontam para uma ruptura com a ordem econômica neoliberal, vigente pelo menos desde a década de 90,de uma perspectiva ultra conservadora. A saída de longo prazo da crise para as economias desenvolvidas , tentando superar de forma estrutural as debilidades e problemas estruturais existentes , seria a chamada Quarta Revolução Industrial. Ela engloba um conjunto de mudanças reunindo a robótica, a inteligência artificial, a impressão 3D, a nanotecnologia, a biotecnologia, os veículos autônomos, os novos materiais, a Internet das coisas etc. De acordo com relatório do UBS a Quarta Revolução Industrial está ancorada em duas forças. A primeira é a automatização radical nos negócios, governo e vida privada. A segunda, é conectividade ampliada, que destrói a distância e o tempo como obstáculos à comunicação cada vez mais ampla e mais rápida. Isto significa a substituição das mais diferentes habilidades do trabalho qualificado pelos chamados robôs cooperativos com enorme impacto no mercado de trabalho. Nos últimos 10 anos, o número global de robôs industriais cresceu 72%, enquanto só nos Estados Unidos, a quantidade de empregos na indústria caiu 16% de acordo com dados da Federação Internacional de Robótica. De acordo com um Relatório do Fórum Econômico Mundial há projeções de uma perda líquida de 5 milhões de empregos até 2020, que poderá ser compensada com a criação de 2,1 milhões de empregos em áreas mais especializadas, tais como computação, matemática, arquitetura, engenharia, mídia e entretenimento, especialidades em geral mais competitivas nos países desenvolvidos Mapa da Distribuição Mundial de Robôs em 2016 Fonte: Merryl Linch