CULTIVARES DE MAMONA EM FUNÇÃO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA EM COBERTURA Alex Gonçalves1, Oscar Mitsuo Yamashita1*, Walmor Moya Peres1, Waltemilton Vieira Cartaxo2 RESUMO: Foi conduzido um experimento com a cultura da mamoneira (Ricinus communis L.) com as cultivares BRS Energia, BRS Nordestina e BRS Paraguaçú foi conduzido no Município de Alta Floresta, MT, com o objetivo de avaliar as características produtivas das cultivares em função da adubação nitrogenada em cobertura. Utilizou-se um delineamento em blocos ao acaso em esquema fatorial 3 x 4 (3 cultivares e 4 doses de N) com 3 repetições, em que o elemento N foi fornecido em diferentes doses em cobertura. Cada parcela foi constituída de 4 linhas com 6 m de comprimento, espaçadas entre si de 2 m e 1 m entre plantas. Foram consideradas úteis apenas as 8 plantas centrais. A adubação das covas de semeadura foi realizada, levando-se em consideração as características químicas do solo, utilizando-se 0, 90 e 30 kg ha-1 de N, P2O5 e K2O, respectivamente. Os tratamentos foram representados pela aplicação de doses de N em cobertura (0, 20, 40 e 80 kg ha-1), utilizando-se como fonte a ureia. Aos 180 dias após a emergência (DAE) foram avaliadas as seguintes variáveis: altura de inserção de 1° cacho, diâmetro de caule na base, número de nós até o primeiro cacho. Por ocasião da colheita também foram determinados número de cachos por planta, frutos por cacho, produtividade de frutos, peso de 100 sementes e tamanho de semente. Os resultados indicaram que a adubação química com 80 kg ha-1 de N proporcionou aumento na produção de sementes de 90,5%. Assim, conclui-se que a adubação nitrogenada em cobertura afeta a produção da mamoneira, sendo recomendada para a obtenção de elevadas produtividades. Palavras-chave: mamoneira, nitrogênio, produtividade. GROWERS OF CASTOR BEANS AS A FUNCTION OF NITROGEN TOPDRESSING ABSTRACT: An experiment with the culture of castor bean (Ricinus communis L.) with the cultivars BRS Energia, BRS Nordestina and BRS Paraguaçú, was conducted in the municipality of Alta Floresta – MT, with the goal of evaluating the productive characteristics of cultivars in function of nitrogen fertilization in topdressing. Was used a delineation in blocks at random in scheme factorial 3 x 4 (three cultivars and four doses of N) with 3 replicates, where the element N was provided in different doses in topdressing. Each plot was constituted of 4 rows of 6 m length, spaced between 2 m and 1 m between plants. Only the 8 central plants were considered useful. The fertilization of the planting pits was carried out taking in consideration the chemical characteristics of soil, using 0, 90 and 30 Kg ha-1 of N, P2O5 and K2O, respectively. The treatments were represented by application of N in topdressing (0, 20, 40 and 80 kg ha-1), using urea as source. 180 days after emergency (DAE) were evaluated the following variable: insertion height of the first bunch, diameter of stalk in base, number of nodes until the first bunch. At occasion of harversting, were also determined the number of bunch by plant, fruits by bunch, productivity of fruits, weight of 100 seeds and size of seeds. The results indicated that the fertilization with 80 kg ha-1 of N provided an increase in seed production of 90,5%. Thus, we conclude that the nitrogen topdressing affects the production of castor beans, and is recommended to obtaining high productivity. Keywords: Castor bean, nitrogen, productivity. ___________________________________________________________________________ 1 Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT – Campus Universitário de Alta Floresta. Av. Perimetral Rogério Silva, Jardim Flamboyant, Caixa Postal 324, Alta Floresta (MT). CEP: 78580-000. *E-mail: [email protected]. Autor para correspondência. 2 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA – Centro Nacional de Pesquisa de Algodão. Rua Oswaldo Cruz, 1143, Centenário, Caixa Postal 174, Campina Grande (PB). CEP: 58428-095. Recebido em: 25/04/2012. Aprovado em: 10/04/2013. Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. A. Gonçalves et al. INTRODUÇÃO O esgotamento dos recursos naturais norteia por meios de produção com maior eficiência e melhor uso da terra no que se refere à sustentabilidade e a capacidade em suprir as necessidades do ser humano, principalmente, em relação ao consumo de recursos naturais se torna cada vez mais importante. Entre esses recursos, estão as reservas mundiais de petróleo que não são renováveis. As reservas atuais no mundo são suficientes para aproximadamente mais meio século. Este problema preocupa a sociedade, já que este combustível fóssil é empregado na fabricação de diversos produtos utilizados na produção. Dentre seus derivados está o óleo diesel, utilizado na produção agrícola, no setor de transportes e em diversas outras atividades. Partindo dessa premissa, existe uma grande preocupação em buscar fontes de energia alternativas às não renováveis e poluentes ao meio ambiente, como o petróleo. Uma delas é a produção de biodiesel, combustível renovável obtido a partir de várias matérias-primas, dentre elas os óleos vegetais. Com o advento de produção de biocombustíveis, surgiu a necessidade de selecionar culturas aptas à produção dos mesmos. Nesse processo de renovação das fontes de energia, o Brasil, devido sua grande extensão territorial e condições climáticas propícias, é considerado um país privilegiado para a exploração de culturas com estes fins. A demanda por óleos vegetais para produção de biodiesel tem proporcionado buscas por espécies com características agronômicas adaptadas para exploração econômica. No campo das oleaginosas, matériaprima potencial para a produção de biodiesel, as vocações são bastante diversificadas, onde estudos mostram que as principais culturas são a soja, o babaçu, o dendê e a mamona, cada uma dessas culturas localizada em climas que compreende sua maior adaptação. A mamoneira (Ricinus communis L.) é uma oleaginosa com representatividade no 90 cenário econômico e social, pois pode ser explorada para produção de biocombustíveis. Essa espécie tem sido cultivada como uma das oleaginosas fornecedoras de matéria prima para fabricação de biodiesel no Brasil. Essa opção de cultivo se deve a adaptação desta oleaginosa a tecnologia para cultivo em regiões de tradição para a agricultura familiar, possibilitando a inclusão social de milhares de pequenos produtores sem muitas opções agrícolas rentáveis. Embora haja importância no aspecto social, essa cultura pode ser cultivada em várias regiões do país, desde o Sul até o Norte, desde que se obedeça a suas exigências climáticas e receba manejo adequado (SAVY FILHO, 2005, SILVA et al., 2011). Entre as alternativas de plantas oleaginosas visando à produção de biodiesel, a mamona atualmente é uma planta de grande potencial, principalmente, nas regiões carentes do Brasil. A sustentabilidade de um programa de biodiesel baseia-se no fortalecimento da base agrícola e tecnológica, de suporte para o desenvolvimento e indicação de novas cultivares, tornando-se de fundamental importância para disponibilização de informações atualizadas sobre o cultivo e avanços tecnológicos que contribuam para a melhoria do conhecimento da comunidade científica e da sociedade a respeito desta oleaginosa (AZEVEDO & LIMA, 2001). O melhoramento genético da mamoneira e de sistemas de produção direcionados para esse tipo de cultura faz com que haja uma maior exigência no uso de tecnologias, visando o aumento na produtividade. A mamoneira é uma planta que necessita ser cultivada em solos muito férteis para que atinja elevadas produtividades, no entanto, o conhecimento científico sobre o uso de fertilizantes em solos com essa cultura é incipiente e carece de aperfeiçoamento e adaptação a diferentes regiões (SEVERINO et al., 2006). O nutriente nitrogênio é um macronutriente primário ou nobre, além de ser o mais utilizado mais extraído e mais exportado pelas culturas. Sendo assim, a sua utilização na agricultura é essencial para as Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. Cultivares de mamona... plantas cumprirem seu ciclo de vida. Contudo, a adubação nitrogenada é a maior responsável pela disponibilidade do N no solo. As formas em que o N se apresenta nos adubos nitrogenados são: Nítricas (Ex. Nitrato de Cálcio), amoniacal (Ou ambas como e o caso do Nitrato de Amônia), orgânica e amídica (Ureia). A concentração de N nos adubos pode variar desde 82% na amônia anidra até alguns décimo de 1% nos adubos orgânicos (MALAVOLTA et al., 1997). O objetivo do presente foi avaliar as características produtivas de cultivares de mamona (Ricinus communis.) em função da adubação nitrogenada em cobertura, na região de Alta Floresta – MT. 91 O experimento foi realizado em área experimental da UNEMAT, Campus Universitário de Alta Floresta – MT, tendo como coordenadas geográficas 09º 52’ 31” Latitude Sul e 56º 05’ 6” Longitude Oeste, com altitude de 282 metros. A caracterização climática da região é tropical chuvoso tipo Awi, segundo classificação de Köppen. Na região ocorrem duas estações bem definidas, período seco e período chuvoso com precipitação média de 2750 mm anuais e temperatura entre 18º a 40 ºC, com média de 26 ºC. O solo da área experimental é classificada como Latossolo VermelhoAmarelo distrófico (LVad) argiloso, moderadamente ácido (EMBRAPA, 2006). As características químicas do solo são apresentadas na Tabela 1. MATERIAL E MÉTODOS Tabela 1 - Composição química do solo da área experimental Prof. pH M.O. (cm) H2 O g kg-1 (mg dm-3) 0-20 4,75 3,60 0,70 189,5 P K Ca Mg Al H+Al SB T cmolc dm-3 2,0 1,1 0,2 4,35 V (%) 3,58 7,9 60,3 Análise realizada no Laboratório de Solos da Unemat, Alta Floresta – MT. A adubação de semeadura foi determinada em função dos resultados da análise química e da produtividade das cultivares, levando-se em consideração as características químicas do solo, utilizando-se 0, 90 e 30 kg ha-1 de N, P2O5 e K2O, respectivamente. Para o preparo de solo da área do experimento, foi realizada uma gradagem, sendo que área era cultivada há 2 anos com consórcio de leguminosas (crotalária, feijão de porco e mucuna) com cultura de milho. Não foi necessária a realização da calagem, pois a saturação de bases era de 60%. Foram avaliadas as cultivares BRS Energia, BRS Nordestina e BRS Paraguaçu, recomendadas para as regiões produtoras de mamona, cujas principais características foram apresentadas. As sementes foram adquiridas junto á Embrapa (Centro Nacional de Pesquisa de Algodão), em Campina Grande – PB. Cada parcela foi constituída de 4 linhas com 6 m de comprimento, espaçadas entre si de 2 m e 1 m entre plantas. Foram consideradas úteis apenas as 8 plantas centrais. Em cada parcela, os sulcos e a semeadura foram realizados de forma manual. Primeiramente, foram colocadas estacas nas extremidades da área experimental e em seguida nas linhas de cultivo, e com auxílio de uma haste de madeira foram demarcadas as linhas e posteriormente realizada a abertura das covas. As covas foram abertas a 0,10 m de profundidade para a realização da adubação de base e, em seguida, foram distribuídas 3 sementes a 0,05 m de profundidade, a semeadura foi realizada em 24 de dezembro Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. A. Gonçalves et al. de 2010 e as covas foram cobertas com solo do local. Aos 25 DAE foi realizado o desbate mantendo-se apenas 1 planta por cova. Os tratamentos foram representados pela combinação da aplicação de doses de nitrogênio (N) em cobertura (0, 20, 40 e 80 kg ha-1), utilizando-se como fonte a uréia e as cultivares BRS Energia, Nordestina e Paraguaçu. A aplicação do adubo foi realizada aos 45 dias após a emergência das plântulas (DAE), em orifícios abertos ao lado das plantas, que posteriormente foram cobertos com solo, a fim de impedir perdas por volatilização. A cultura não sofreu danos relevantes com ataques de pragas e doenças sendo dispensado o uso de produtos químicos. O controle de plantas daninhas foi realizado por meio de capinas manual, aplicação de herbicida glyphosate em jato dirigido e a partir do terceiro mês o controle foi realizado com ajuda de uma roçadeira motorizada. A colheita da mamona foi realizada de forma manual quando as plantas atingiram maturidade fisiológica, ou 2/3 dos frutos maduros nos cachos. Foi realizada a colheita dos cachos das 8 plantas centrais de cada parcela. Posteriormente, os cachos foram armazenados em sacos de plástico separado com a identificação do respectivo tratamento. A retirada dos frutos dos cachos foi realizada manualmente com ajuda de uma haste de madeira com tiras de borrachas, onde os frutos eram submetidos a batidas para desprender-se dos cachos e da casca nos frutos das cultivares semi-deiscentes. Já para a cultivar de fruto indeiscente os cachos foram espalhados em um terreirão para a secagem e posteriormente submetido ao mesmo processo das demais cultivares, sendo que também houve a necessidade da retirada das sementes das cascas através do uso de um alicate de poda. O material coletado foi peneirado para retirada das impurezas e, em seguida, o armazenando para posterior avaliação dos demais parâmetros. 92 O experimento, foi organizado em delineamento experimental em blocos ao acaso em esquema fatorial 3 x 4 (3 cultivares e 4 doses de N) com 3 repetições, em que o elemento N foi fornecido em diferentes doses em cobertura. Para a avaliação das variáveis, foram escolhidas as 8 plantas centrais dentro da área da parcela, sendo realizadas as seguintes avaliações: • Altura de inserção do primeiro cacho: Considerou-se a distância compreendida entre a superfície do solo até a altura de inserção do primeiro cacho, sendo que as medições foram realizadas aos 180 dias após a emergência (DAE), utilizando-se de uma fita métrica; • Diâmetro do caule na base: A determinação do diâmetro de caule foi feita no nível do solo, utilizando uma fita métrica, sendo que as aferições foram realizadas aos 180 DAE; • Número de nós até o primeiro cacho: Para a determinação foi contados o número de nós presentes a partir do solo até a inserção do primeiro cacho aos 180 DAE; • Número de cachos por planta: O número total de cachos foi obtido através da contagem direta dos cachos formados em cada planta, e posteriormente a determinação da média de cada parcela; • Frutos por cacho: Foi realizada a contagem dos frutos presentes em cada cacho das plantas avaliadas, e em seguida realizada a determinação da média de frutos de cada planta dentro da sua parcela; • Peso de 100 sementes: Na determinação do peso de 100 sementes, foram separadas 4 subamostras de 100 sementes por repetição, cujo peso foi determinado em balança analítica, obtendo-se a média da parcela; • Largura de sementes: Para a determinação da largura de sementes foram realizadas aferições em 20 sementes por repetição, utilizando um paquímetro digital; • Comprimento de sementes: O procedimento utilizado para aferir a largura das sementes foi o mesmo utilizado para obtenção das medidas de comprimento, Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. Cultivares de mamona... foram realizadas medições em 20 sementes por repetição, utilizando-se através de um paquímetro digital; • Produtividade: A produtividade foi avaliada colhendo-se a área útil de cada parcela, posteriormente. As amostras foram encaminhadas ao Laboratório para a determinação da umidade e da massa produzida por parcela, sendo que o valor obtido foi transformado em produtividade expressa em kg ha-1, com correção de umidade para 14%. A análise dos resultados foi realizada com auxílio do programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2008). As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. Para variáveis quantitativas, foi confeccionado o gráfico de regressão polinomial. RESULTADOS E DISCUSSÃO 93 Para a variável altura de inserção de 1º cacho, observou-se interação entre os fatores cultivar e dose. As cultivares BRS Energia e BRS Nordestina obtiveram as menores médias de altura de inserção do cacho, não havendo diferença entre as doses de nitrogênio usadas em cobertura (Figura 1). A altura do primeiro cacho é uma característica ligada à precocidade da planta, sendo considerada mais precoce a planta que lança o primeiro cacho em menor altura. Porém, neste experimento, a altura do cacho foi maior nas plantas adubadas não por causa de precocidade, mas pelo comprimento médio do internódio que aumentou e o número de nós diminuiu com o aumento das doses de adubação, concordando com os resultados obtidos por Sofiatti et al. (2010). De acordo com Nakagawa e Neptune (1971), a adubação de base promove um incremento no crescimento vegetativo nas plantas, que pode resultar, entre outras características, a maior altura na inserção do primeiro cacho. ALTURA DE INSERÇÃO DO PRIMEIRO CACHO (cm) 100 NORDESTINA y = 0,0294x + 61,02 R2 = 0,9684 ENERGIA y = 0,051x + 61,04 R2 = 0,7506 PARAGUAÇÚ y = 0,1823x + 60,42 R2 = 0,8931 80 60 40 0 20 40 60 80 -1 DOSES DE N (kg ha ) Figura 1 - Altura de inserção de 1º cacho (cm) das cultivares de mamonas submetidas a cultivo com diferentes doses de adubação nitrogenada em cobertura. Para a variável diâmetro do caule das fator dose isoladamente e o fator cultivar plantas (DCB), houve significância para o também isolado. A medida que a dose de N Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. A. Gonçalves et al. aumentaram, o diâmetro de caule aumentou (Figura 2). Silva et al. (2011), em pesquisa com a cultivar BRS Nordestina, sobre adubação nitrogenada em cobertura, observaram resultados semelhantes, sendo que o maior diâmetro (15,9 cm) ocorreu quando a dose aplicada foi 30 kg ha-1 de N. A partir de 60 94 kg ha-1 também foi observada diminuição no diâmetro do caule. Severino et al. (2006) também relataram resultados semelhantes com a cultivar BRS Nordestina, em que o diâmetro foi 23,6% superior quando as plantas receberam 50 kg ha-1 de adubo nitrogenado, em relação á testemunha. 16 14 DIÂMETRO (cm) . 12 10 8 2 y = -0,0014x + 0,1439x + 9,9001 2 R = 0,9993 6 4 2 0 0 20 40 60 -1 DOSE DE N (kg ha ) Figura 2 - Diâmetro de caule na base (DCB), das cultivares de mamona BRS Energia, Nordestina e Paraguaçu em função de doses de adubação nitrogenada em cobertura. Com relação às cultivares testadas, observou-se que a BRS Nordestina apresentou diâmetro de caule mais espesso que BRS Energia, entretanto não foi diferente da BRS Paraguaçu (Tabela 2). Esses resultados já eram esperados, pois as características morfológicas dessa cultivar indicam o maior desenvolvimento que das demais, promovendo maior porte, estatura e copa. Tabela 2 - Diâmetro de caule na base (DCB) das cultivares de mamonas submetidas a cultivo com diferentes doses de adubação nitrogenada em cobertura CULTIVAR NORDESTINA ENERGIA PARAGUAÇÚ CV (%) DIÂMETRO DE CAULE NA BASE (cm) 12,63 a 11,77 b 11,88 ab 6,23 Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probalilidade. Quanto à quantidade de nós até a quantitativa (doses de N) (Figura 3). A inserção do primeiro cacho, houve testemunha apresentou 17,7 nós por planta. A significância apenas para a variável medida que foi fornecido nitrogênio, a Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. Cultivares de mamona... 95 quantidade de nós por planta decaiu, kg ha-1). Nas demais doses de N testadas, a significativamente, reduzindo em 24% o média de nós por planta manteve valores número de nós já na primeira dose de N (20 próximos de 13,5. NÚMERO DE NÓS 20 15 10 y = 0,0017x2 - 0,1806x + 17,347 R2 = 0,886 5 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 DOSES DE NITROGÊNIO (kg ha-1) Figura 3 - Média dos nós das cultivares de mamona BRS Energia, Nordestina e Paraguaçu em função de doses de adubação nitrogenada em cobertura. De acordo com Nakagawa e Neptune (1971) e Epstein e Bloom (2006), o N provoca efeitos sobre o crescimento vegetativo das plantas adubadas. Essa adubação nitrogenada promove maior crescimento vegetativo, que aumenta o comprimento do internódio, e diminui o número de nós por planta. Quanto ao número de cachos por planta, houve interação entre os fatores estudados (Figura 4). Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. A. Gonçalves et al. 96 50 CACHOS POR PLANTA 40 30 20 10 NORDESTINA y = -0,0036x2 + 0,617x + 14,318 R2 = 0,9700 ENERGIA y = -0,0035x2 + 0,5846x + 16,275 R2 = 0,9470 PARAGUAÇÚ y = -0,0022x2 + 0,3374x + 13,724 R2 = 0,9824 0 0 20 40 60 80 -1 DOSES DE N (kg ha ) Figura 4 - Cachos por planta das cultivares de mamonas submetidas a cultivo com diferentes doses de adubação nitrogenada em cobertura. Essa é uma das variáveis mais importante do estudo e, que apresentou resultados mais relevantes em função da adubação nitrogenada em cobertura, pois o número de cachos por planta tem relação direta com a capacidade produtiva da planta, culminando, invariavelmente, no aumento da produtividade. Todas as cultivares estudadas responderam positivamente quando do fornecimento de N, sendo que BRS Paraguaçu foi a cultivar que apresentou as menores médias em relação às demais cultivares. A BRS Nordestina e BRS Energia apresentaram maiores médias de cachos por planta quando foram fornecidos 20 e 80 kg ha-1 em relação à BRS Paraguaçú (Tabela 5). O aumento no número de cachos por planta com a adubação também foi verificado por Nakagawa e Neptune (1971), na cultivar Campinas e foi atribuído como o principal fator responsável pelo aumento de produção da cultura adubada. Sofiatti (2010) observou que a adubação nitrogenada proporcionou um aumento entre 51 e 110% no número de cachos por planta em relação à ausência desse nutriente. No presente trabalho foram verificados incrementos entre 33 e 129% dentro de cada cultivar, a medida que a dose de N era aumentada. Em relação à quantidade de frutos por planta, houve interação entre cultivar e doses de N. Os dados demonstram significativo aumento em função da adubação, havendo a produção máxima (57,0 frutos) na aplicação de 80 kg ha-1 de N e a menor produção na ausência de N ( 23,8 frutos) (Figura 5). A maior quantidade de frutos por cacho foi alcançada pela BRS Energia, na maior dose de N. Já a BRS Paraguaçu obteve maior produção de frutos por cacho em relação às outras cultivares em todos os tratamentos. Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. Cultivares de mamona... 97 FRUTOS POR PLANTA 90 NORDESTINA y = 0,086x + 36,54 R2 = 0,9054 ENERGIA y = 0,1411x + 46,26 R2 = 0,9235 PARAGUAÇÚ y = 0,0546x + 24,84 R2 = 0,7938 60 30 0 0 20 40 60 80 -1 DOSES DE N (kg ha ) Figura 5 - Número de frutos por planta de cultivares de mamonas submetidas a cultivo com diferentes doses de adubação nitrogenada em cobertura. De acordo com Azevedo e Lima (2001), a BRS Nordestina apresenta características morfológicas semelhantes a BRS Paraguaçú. Entretanto, no presente trabalho, apesar dessa semelhança morfológica, Paraguaçu obteve menores quantidades de frutos, indicando que, nas condições experimentais, esta se apresentou com menor adaptação á região que as demais cutivares. Silva et al. (2005) observaram que o cultivo de BRS Nordestina sobre palhada, promoveu incremento de 137% no número de frutos em função do aumento das doses de nitrogênio fornecido na ocasião da semeadura, evidenciando a importância da adubação em N. Em relação ao peso de 100 sementes, houve diferença apenas na resposta das cultivares, sendo que as BRS Paraguaçu e Nordestina obtiveram médias 53% superiores que a BRS Energia. Essa diferença é explicada pela diferença morfológica entre as cultivares em que a BRS Energia apresenta ciclo inferior às demais cultivares (150 dias), além da altura média das plantas não ser superior a 1,40 m (EMBRAPA, 2011) (Tabela 3). Tabela 3 - Peso médio de 100 sementes das cultivares de mamonas submetidas a cultivo com diferentes doses de adubação nitrogenada em cobertura CULTIVAR NORDESTINA ENERGIA PARAGUAÇÚ CV (%) MASSA DE 100 SEMENTES (g) 62,78 a 29,23 b 62,12 a 5,94 Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probalilidade. Sobre a largura de sementes observou- sementes da BRS Nordestina apresentaram se significância apenas entre cultivares e maior largura, sendo seguidas pela BRS doses de forma isolada (Tabela 4). As Paraguaçú. Essa diferença se deve às Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. 98 A. Gonçalves et al. diferenças morfológicas em relação às demais descritas pela Embrapa (2011). A utilização de diferentes doses apresentou uma variação em relação a largura das sementes (Figura 6). Quanto ao comprimento médio das sementes houve diferença apenas entre as cultivares de maneira isolada. Pode-se considerar que a variável não apresenta relevância em uma possível escolha de cultivar, haja vista que assim como a largura de sementes, o comprimento não diferiu entre as cultivares com as mesmas características morfológicas no caso BRS Nordestina (16,47 mm) e BRS Paraguaçú (16,07 mm), diferindo da BRS Energia. Tabela 4 - Largura de sementes de cultivares de mamonas submetidas a cultivo com diferentes doses de adubação nitrogenada em cobertura CULTIVAR NORDESTINA ENERGIA PARAGUAÇÚ CV (%) LARGURA DE SEMENTES (mm) 12,94 a 8,39 c 11,54 b 2,17 Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probalilidade. Ao avaliar a largura e comprimento de De acordo com Embrapa (2011), semente, buscou-se obter informações a existem diferenças morfológicas o que respeito do tamanho da semente, fator esse explica o porquê a BRS Energia apresentou que afeta diretamente na produção. sempre as menores médias. LARGURA (mm) 12 y = 0,0001x2 - 0,0092x + 10,978 R2 = 0,9888 11 10 0 20 40 60 80 -1 DOSES DE NITROGÊNIO (kg ha ) Figura 6 - Largura de sementes das cultivares de mamona BRS Energia, Nordestina e Paraguaçú submetidas a doses de adubação nitrogenada em cobertura. Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. Cultivares de mamona... 99 Tabela 5 - Comprimento de sementes (CS) das cultivares de mamonas submetidas a cultivo com diferentes doses de adubação nitrogenada em cobertura CULTIVAR NORDESTINA ENERGIA PARAGUAÇÚ CV (%) COMPRIMENTO DE SEMENTES (mm) 16,47 a 12,52 b 16,07 a 2,63 Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probalilidade. Diante à produtividade, observou-se interação significativa entre cultivar e dose. No que se refere a cultivares, é possível visualizar que todas as cultivares submetidas a doses crescentes de adubação responderam de maneira positiva, e de forma crescente, demonstrando a importância da adubação com N. A cultivar BRS Nordestina foi que apresentou as maiores médias (Figura 7), já a BRS Paraguaçú, apesar de possuir características morfológicas semelhantes a BRS Nordestina, não atingiu a mesma produtividade. 2000 -1 PRODUTIVIDADE (kg ha ) 1600 1200 800 NORDESTINA ENERGIA PARAGUAÇÚ 400 y = 10,406x + 1046,6 y = -0,0739x2 + 13,946x + 989,46 y = -0,1374x2 + 20,972x + 575,92 R2 = 0,9518 R2 = 0,9524 R2 = 0,9725 0 0 20 40 60 80 -1 DOSE DE N (kg ha ) Figura 7 - Produtividade de plantas kg ha-1 de cultivares de mamonas submetidas a cultivo com diferentes doses de adubação nitrogenada em cobertura. Numa produtividade de 2.000 kg ha-1 de sementes, a mamona exporta da área cerca de 80 kg de N (MELHORANÇA & STAUT, 2005), partindo desse pressuposto os resultados obtidos na produção tornam-se relevantes. Silva et al. (2005) obtiveram resultados semelhantes fazendo uso de doses semelhantes (1679,0 kg ha-1 para uma dose de 60 kg ha-1 de N). Segundo Sofiatti et al. (2010), a adubação nitrogenada é a que mais afeta a produção de sementes da mamoneira, sendo indispensável para a obtenção de elevadas produtividades. Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 06, n. 01, p.89 – 100, jan/abr. 2013. A. Gonçalves et al. mamona no Mato Grosso do Sul. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2005. 65p. CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos e nas condições em que foi conduzido o experimento, pode-se concluir que: a cultivar BRS Nordestina mostrou-se recomendada quando fornecido uma dose 80 kg ha-1 de nitrogênio em cobertura. REFERÊNCIAS 100 NAKAGAWA, J.; NEPTUNE, A.M.L. Marcha de absorção de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio na cultura da mamoneira (Ricinus communis L.) cultivar Campinas. Anais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Piracicaba, v.28, p.323-337, 1971. SAVY FILHO, A. Mamona Tecnologia agrícola. Campinas: EMOPI, 2005. 105p. AZEVEDO, D. M. P. de; LIMA, E. F. O agronegócio da mamona no Brasil. SEFAZ. Legislação Tributária. Disponível Disponível em: Embrapa Algodão, Campina Grande- PB, em: <http://app1.sefaz.mt.gov.br/0325677500623 2001. 305p. 408/07FA81BED2760C6B84256710004D39 EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de 40/B2DE0BECFD8AD7E804256C67004D3 Algodão. Relatório Técnico Anual 19926E5>. Acesso em: 21 out. 2011. 1993. Campina Grande, 1995. 513 p. SEVERINO, L.S.; FERREIRA, G.B.; EMBRAPA. Sistema Brasileiro de MORAES, C.R.A.; GONDIM, T.M.S.; Classificação de Solos. 2. ed. Rio de Janeiro, FREIRE, W.S.A.; CASTRO, D.A.; 2006. 306 p. CARDOSO, G.D.; BELTRÃO, N.E.M. 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