MAT1154 Prova 1 05/04/2010 1. [2 pt] Considere o problema de valor inicial (PVI): ′ y (t) = 2ty 2 y(0) = a (a) Supondo a = 1, encontre a solução do PVI y = y(t) como função explícita de t. Diga também em qual intervalo a solução está definida. (b) Supondo a = 0, encontre a solução do PVI y = y(t) como função explícita de t. Diga também em qual intervalo a solução está definida. (c) Supondo a = −1, encontre a solução do PVI y = y(t) como função explícita de t. Diga também em qual intervalo a solução está definida. Resolução: Para não ter que refazer as contas nos três casos, é melhor encontrar a solução geral. Vemos que a equação é separável, e resolvemos: dy = 2ty 2 dt dy = 2t dt y2 1 − = t2 + C y −1 y= . C + t2 Substituindo t = 0, temos a = y(0) = −1/C, logo C = −1/a. Portanto: 1 . O denominador se anula 1 − t2 quando t = ±1; e o intervalo onde a solução está definida deve conter t = 0; logo este intervalo é −1 < t < 1 , também escrito (−1, 1) . (a) Se a = 1 então C = −1 e a solução é y(t) = −1 . O denominador nunca 1 + t2 se anula, logo o intervalo onde a solução está definida é a reta inteira, isto é, (−∞, +∞) ou R . (c) Se a = −1 então C = 1 e a solução é y(t) = (b) Se a = 0 então C = −1/0, opa! Aconteceu um problema aqui pois na resolução da equação separável mandamos y 2 para o denominador, implicitamente proibindo y de ser zero. Então temos que proceder de outra forma para encontrar a solução correspondente ao valor inicial y(0) = 0. Notamos que o campo de linhas é horizontal no eixo horizontal (pois 2ty 2 vale 0 quando y = 0). Logo a função constante y(t) = 0 é uma∗ solução do PVI com a = 0. Esta solução está definida em toda a reta (−∞, +∞) = R . Obs: Outra maneira (um pouco menos clara, mas aceitável) de chegar na solução −1 y(t) = 0 é a seguinte: Se a → 0 então C = −1/a → ±∞ e y(t) = C+t 2 → 0. −1 Obs: Aqui vai uma terceira resolução: A fórmula da solução geral y(t) = C+t 2 não é tão geral assim pois deixou uma solução de fora. Porém substituindo C = −1/a a e simplificando temos y(t) = 1−at 2 . Esta fórmula dá a solução do PVI (como pode ser verificar fazendo a conta). A fórmula faz sentido mesmo para a = 0; portanto esta fórmula é a melhor expressão para a solução geral. MAT1154 Prova 1 Folha 2 de 5 2. [11/2 pt] Encontre o valor de b para o qual a equação abaixo é exata, e resolva a equação para este valor de b. dy (2x − 2y) + (bx + 2y) = 0. dx Desenhe os gráficos no plano cartesiano xy das soluções encontradas. dy Resolução: Para que uma equação da forma M + N dx = 0 seja exata, é necessário que ∂N ∂M ∂y = ∂x . Aplicando ao caso em questão, devemos ter b = −2 . Quando a equação é exata, suas soluções são da forma F (x, y) = c, onde ∂F ∂y = N . Ou seja ∂F ∂x =M e ∂F = 2x − 2y ∂x ∂F = −2x + 2y ∂y Integrando a primeira equação em relação a x, temos F (x, y) = x2 − 2xy + φ(y). Logo ∂F ′ ′ ∂y = −2x + φ (y). Pela segunda equação acima, temos φ (y) = 2y; logo φ(y) = y 2 + const. Logo a solução geral da equação (em forma implícita) é x2 − 2xy + y 2 = c . Lembrando o produto notável x2 − 2xy + y 2 = (x − y)2 , vemos que a solução geral pode √ ser expressa de maneira mais simples como x − y = ± c ou ainda y = x + k (k = outra constante). Portanto os gráficos das soluções são retas paralelas: Obs: Outra maneira de ter percebido que os gráficos das soluções eram retas é a seguinte: A equação é dy = 0. (2x − 2y) + (−2x + 2y) dx Dividindo por 2x − 2y fica 1 − dy dx = 0 e aí está óbvio. Obs: Ainda outra maneira de chegar nas retas: Usamos Báscara para isolar y em função de x: p √ 2x ± (2x)2 − 4(x2 − c) 2x ± c y= = = x + k. 2 2 3. Um tanque contém 50 litros de água, inicialmente (isto é, em t = 0) pura. Por uma mangueirinha entra continuamente no tanque, à taxa de 2 litros por hora, uma solução de água doce com concentração de 5e−0,14t gramas de açúcar por litro de solução (sendo t o tempo medido em horas). Por um buraco vaza solução à taxa de 2 litros por hora. Seja y(t) a quantidade de açúcar em gramas no tanque após t horas. MAT1154 Prova 1 Folha 3 de 5 (a) [1 pt] Mostre que a função y(t) satisfaz uma equação diferencial da forma dy = aebt + cy, dt e diga quanto valem a, b e c. (b) [2 pt] Resolva o PVI e encontre uma fórmula para y(t). Resolução: A primeira coisa a ser notada é que a quantidade de líquido no tanque é constante: 50 litros. Depois, taxa de variação dy = taxa de entrada − taxa de saída dt A taxa de entrada de açúcar é 5e−0,14t litros litros gramas ·2 = 10e−0,14t litro hora hora A taxa de saída de açúcar é litros y(t) gramas ·2 = 0,04y(t). 50 litros hora Portanto a equação diferencial para o problema é dy = 10e−0,14t − 0,04y dt Isto resolve o primeiro item, mostrando que a = 10 , b = −0,14 e c = −0,04 . Para resolver a equação, a reescrevemos como dy + 0,04y = 10e−0,14t , dt que reconhecemos como uma EDO linear. Há várias maneiras de resolver a equação; R façamos pelo método do fator integrante (FI). O FI é e 0,04 dt = e0,04t . Multiplicando a equação pelo FI dos dois lados temos dy −0,14t + 0,04e0,04t y = e|0,04t · 10e e0,04t {z } dt | {z } 10e−0,1t d (e0,04t y) dt 0,04t e y= Z 10e−0,1t dt = −100e−0,1t + K y = −100e−0,14t + Ke−0,04t Substituindo a condição inicial y(0) = 0, encontramos 0 = −100 + K. Logo a resposta é y(t) = 100 e−0,04t − e−0,14t . Apenas para ilustração, aqui vai o gráfico: MAT1154 Prova 1 Folha 4 de 5 Obs: Em geral a solução do PVI y ′ = aebt + cy, y(0) = 0 (com b 6= c) é a ct e − ebt . y(t) = c−b 4. [2 pt] Considere uma espécie cuja população y(t) no instante t satisfaz a equação diferencial seguinte: dy = −18y + 9y 2 − y 3 dt Responda: (a) Se a população inicial é y(0) = 2, a população tenderá a longo prazo a um valor de equilíbrio? Em caso positivo, qual? (b) Se a população inicial é y(0) = 4, a população tenderá a longo prazo a um valor de equilíbrio? Em caso positivo, qual? (c) Se a população inicial é y(0) = 8, a população tenderá a longo prazo a um valor de equilíbrio? Em caso positivo, qual? Resolução: Esta é uma EDO autônoma. Para responder às perguntas não é necessário resolver a equação; basta uma análise qualitativa. Começamos encontrando os pontos de equilíbrio, isto é, as raízes de f (y) = −18y + 9y 2 − y 3 = 0. Podemos fatorar −18y + 9y 2 − y 3 = y(18 + 9y − y 2 ). Assim um ponto de equilíbrio é y = 0, e os outros dois são encontrados usando Báscara: y = 3 e y = 6. Percebemos (testando alguns valores, por exemplo) que: (a) f (y) é negativa para 0 < y < 3 – logo estes pontos se movem para a esquerda, isto é, para o 0; (b) f (y) é positiva para 3 < y < 6 – logo estes pontos se movem para a direita, isto é, para o 6; (c) f (y) é positiva para y > 6 – logo estes pontos se movem para a esquerda, isto é, para o 6; Logo as respostas são: (a) Se y(0) = 2 então a longo prazo a população (diminuirá e) tenderá ao valor de equilíbrio 0, isto é, se extinguirá. MAT1154 Prova 1 Folha 5 de 5 (b) Se y(0) = 4 então a longo prazo a população (crescerá e) tenderá ao valor de equilíbrio 6. (b) Se y(0) = 8 então a longo prazo a população (diminuirá e) tenderá ao valor de equilíbrio 6. Apenas para ilustração, aqui vai o gráfico de z = f (y): Os valores y = 0 e y = 6 são equilíbrios estáveis (atratores), e o valor y = 3 é um equilíbrio intável (repulsor). 5. [11/2 pt] A fim de comprar um apartamento, o Sr. Urbano contraiu hoje uma dívida de R$ 100 000 com o Banco Sharks. Ao final de cada mês, o Banco Sharks cobrará 2% de juros sobre a dívida, e o Sr. Urbano realizará um pagamento de a reais. (Por exemplo, se o Sr. Urbano decidir pagar apenas a = 500 reais por mês, então após 1 mês a sua dívida será de R$ 101 500, após 2 meses a dívida será de R$ 103 030, etc. (Neste caso, a dívida não será quitada nunca, e de fato o Banco Sharks tomará o apartamento do Sr. Urbano.)) O Sr. Urbano quer quitar a dívida em 120 meses. Qual deve ser o valor a do pagamento mensal? Resolução: Seja yn a dívida no mês n. A sequência destes valores satisfaz a equação de diferenças yn+1 = ρyn − a, onde ρ = 1,02. A solução (conforme visto em aula) é y n = ρn y 0 − ρn − 1 · a. ρ−1 A condição inicial é y0 = 100000. Queremos ter y120 = 0. Substituindo na fórmula, temos 1,02120 − 1 0 = 1,02120 × 100 000 − × a. 1,02 − 1 De onde isolamos o valor procurado: a= 1,02120 × 0,02 × 100 000 = 2 204,81 reais. 1,02120 − 1 Obs: Usando a aproximação 1,02120 ≃ 11 (dada na sala), encontramos a resposta aproximada a ≃ 2 200 reais .