DOMINGO XVI do TEMPO COMUM – 19 de julho de 2015 ERAM COMO OVELHAS SEM PASTOR – comentário de Pe. Alberto Maggi OSM ao Evangelho Mc 6, 30-34 Naquele tempo, 30os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. 31Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer. 32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles. 34Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas. É a única vez, no Evangelho de Marcos, em que aparece o termo “apóstolo”, que não indica um título, uma dignidade, mas uma função. Apóstolo significa “enviado”. Quando os discípulos são enviados, então, eles são “apóstolos”. Pois bem, esses apóstolos, os discípulos, “reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado”. Mas Jesus não os tinha autorizado a ensinar e, pior, o que eles haviam feito não era o que Jesus lhes havia mandado fazer! Já vimos, domingo passado, como estes discípulos não fazem aquilo para o qual Jesus lhes havia enviado. Portanto, eles fizeram e ensinaram, mas Jesus não se mostra muito feliz com este relatório. De fato diz: “vinde sozinhos para um lugar deserto”. “Lugar deserto, afastado, sozinhos, à parte”: são termos técnicos utilizados pelos evangelistas - vamos encontrá-los repetidamente, não só em Marcos, mas também nos outros Evangelhos - que sempre indicam incompreensão ou hostilidade, ou, até mesmo, oposição a Jesus. Portanto, todas as vezes que Jesus convida os discípulos num “lugar à parte” é porque há incompreensão, hostilidade ou oposição deles à mensagem de Jesus. Então, esses discípulos não fizeram o que Jesus lhes tinha recomendado e, pior, até começaram a ensinar. Jesus nunca os autorizou a ensinar! Há uma diferença, na língua grega, entre “ensinar” e “pregar”. “Ensinar” significa usar as categorias do Antigo Testamento para anunciar o Novo e isso vai ser um papel que o próprio Jesus toma para si. De fato, só Jesus sabe o que do Antigo ainda é bom para anunciar a 1 novidade do Reino. Portanto, Jesus não autoriza nunca os discípulos a ensinar! Pelo contrário Ele os envia a “pregar”. “Pregar” significa o anúncio com categorias novas. Eles, porém, têm “ensinado”: quer dizer pegaram as categorias do Antigo Testamento e alcançaram um resultado um tanto confuso. De fato, o evangelista escreve: “ tanta gente chegando e saindo...”. Provavelmente, esses discípulos haviam proclamado um Messias de acordo com as categorias nacionalistas e isso tinha criado bastante entusiasmo. Enquanto Jesus na sinagoga de Nazaré, sua pátria, foi recebido com desconfiança e ceticismo, o “ensinamento” dos discípulos é acolhido com entusiasmo. Portanto, isso significa que a linha de Jesus e a os discípulos não é a mesma. “Então - escreve o evangelista - foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado”. Portanto, Jesus quer que eles fiquem separados da multidão, porque eles criaram uma falsa expectativa: a do Messias triunfante, do Messias vencedor! Atenção a este particular: “ao desembarcar, Jesus...” - o evangelista deveria ter escrito “ao desembarcarem”. Não, os discípulos ficam no barco, Jesus os distancia da multidão. “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão”. “Ter compaixão” é um termo técnico do Antigo Testamento e também do Novo, que é usado exclusivamente a respeito de Deus. Os homens têm misericórdia, mas é só Deus que “tem compaixão”. A “compaixão” não é um sentimento, mas um ato divino pelo qual se devolve vida a quem vida não tem. No Antigo Testamento a “compaixão” é reservada exclusivamente para Deus, no Novo para Deus e para Jesus. Pois bem, a “compaixão” de Jesus para essas pessoas que não têm vida é porque elas “eram como ovelhas sem pastor”. Moisés havia pedido que houvesse sempre um pastor para o seu povo, para que o rebanho não vivesse debandado e, em vez, essa multidão “eram como ovelhas sem pastor”. Mas, na realidade, havia pastores, muitos, talvez demasiados! O problema era que esses pastores não se preocupavam com o bem-estar das pessoas, mas apenas com seus próprios interesses. Não curavam a saúde e a vida do povo, mas defendiam só os seus privilégios: não serviam o rebanho, mas o dominavam. Então Jesus, frente esta situação que já havia sido denunciada pelos profetas, assume Ele próprio o papel de “Pastor”. A partir desse momento Jesus será o verdadeiro Pastor de Israel. “Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas”. Jesus não ensina doutrinas para dominar as pessoas, mas – o veremos – Ele mesmo se faz alimento, comunicação vital, permitindo assim que o povo possa viver. 2