1 Carbânions Alguns compostos orgânicos funcionam como ácidos, em que um próton é liberado por uma ligação C-H. A base conjugada é conhecida como carbânion. C H C + + H - ¼ Esta tendência é pouco pronunciada em hidrocarbonetos alifáticos, porque a ligação C-H é bastante forte e não existe característica estrutural que favoreça a acidez do átomo de hidrogênio. Ex: CH4 pKa = 58 CH3COOH pKa = 4,76 - A presença de 1 ou mais grupos aceptores exerce um efeito mais acentuado ainda. Ex: Tricianometano CN CN C CN CN H H + C - CN CN C C N C N , C - N Este composto tem quase a força dos ácidos minerais. O grupamento ciano é importante na acidez dos compostos. CH3 C N Acetonitrila (pKa alto) H + - CH2 C N CH2 C N etc 2 De maneira análoga, o grupo carbonila (C=O) de aldeídos e cetonas, aumenta a acidez dos átomos de hidrogênio ligados ao carbono α e mediante isso, dá origem a uma série de reações químicas. Ex: Ionização de um hidrogênio α. O O C + C C ..B C - + Base O C .. H B - C Equivalente a O - Ionizações deste tipo não acontecem em hidrogênios β, γ, etc C C Formação de carbânions - Embora a tendência à dissociação espontânea de ligação C-H seja baixa, fatores estruturais (grupos que retirem elétrons) podem causar nos átomos de hidrogênio acidez suficiente para sua retirada fácil por base. H R C X . + .B ; CH3NO2 R - CH X + .. H B H Assim, O O C EtO CH2 C OEt pKa 15 ; C CH3 pKa 10,2 O O CH2 C ; OCH3 pKa 10,2 O O C CH2 C CH3 CH3 pKa 8,8 3 Estabilidade dos carbânions Efeitos de grupos retiradores de elétrons aumentam a acidez do átomo de hidrogênio e estabilizam o carbânion resultante. H R + C ..B O N O H + CH R O + - O - N CH R N O - O - .. + H B + H B Grupo nitroso H R O C C ..B - CH R - C CH R C R R R H O O Grupo carbonila F H R C C H F F ..B F CH R F C + .. H B F Menos eficiente Algumas reações de carbânions - Reações de adição (condensação aldólica) O CH3 C H - O CH3 - OH C - CH2 O O C CH3 O CH2 C CH2 C H H O C H H H2O H OH CH3 C H O CH2 C H .. 4 - Condensação de ésteres (condensação de Claysen) (Reação do tipo aldólico ⇒ Base necessária ETO-). O CH3 C OCH3 - O CH3 EtO C O O - C CH2 CH3 O H2O O + CH3 (álcool) .OH . O CH2 C (ceto-éster) OCH3 - OCH3 CH3OH C OCH3 C CH2 CH2 C OCH3 OCH3 O CH3 CH2 C C O C OCH3 OCH3 OCH3 ¼ Nas condensações, forma-se uma nova ligação C-C, aumentando assim a cadeia. - Um exemplo biológico da condensação de Claysen é a condensação de acetil-CoA com ácido oxalacético, para dar ácido cítrico. Um dos componentes do “ciclo do ácido cítrico” (uma importante fonte de energia e de intermediários em reações biológicas). O CH3 C SR C CH2 O O O - SR + C HO C O CH2 C OH Ác. oxalácetico O CH2 O C HO C O SR H2O C CH2 OH O C OH HO O CH2 C C CH2 C OH + OH C O Ác. cítrico OH RSH (CoA) 5 Descarboxilação - Outra reação que compreende carbânions é a descarboxilação de numerosos ácidos carboxílicos através de seus ânions. O R C - R O- O + + H C RH + CO2 O Próton do solvente ou outra fonte - Outro exemplo é a descarboxilação de ácidos β-cetônicos. O O - C O CH2 CH2 C O C O + R R + - H CO2 CH3 C R O CH2 C R ¼ Muitas reações de descarboxilação (mediada por enzimas) acontecem nos seres vivos. 6 Radicais livres - Intermediários reativos obtidos pela cisão homolítica da ligação covalente. - Ocorrem na maioria das vezes na fase gasosa, mas também podem ocorrer em solução, principalmente em solventes nãopolares e catalisadas pela luz ou pela decomposição de substâncias produtoras de radicais como, por exemplo, peróxidos ¼ Uma vez iniciada uma reação de radicais, ela é muito rápida devido ao estabelecimento de rápidas reações em cadeia. Podem ser classificados em radicais de vida longa e vida curta a) Radicais de vida longa (Facilmente estabilizados) φ φ φ φ C C φ φ Solvente apolar φ C. 3 (Benzeno) + . C φ3 φ Hexafeniletano Grande estabilidade do radical trifenilmetila . C C , etc C . . ¼ Estabilização pela deslocalização de elétrons desemparelhados via orbitais π dos núcleos benzênicos (3 núcleos). φ N N φ φ φ . φ 2 N + (2 núcleos) Tetra-aril hidrazina φ S S Dissulfeto de bifenila φ 2 φ . S (1 núcleo) . N φ 2 7 b) Radicais de vida curta Ex: . Embora mais difíceis de usar, tem maior importância como participantes em reações químicas (extremamente reativos) H3C Ordem de estabilidade . . . . R2CH R3C CH3 RCH2 ¼ As diferenças de estabilidade em radicais são menos pronunciadas do que aquelas com carbocátions. - Radicais que envolvem posições alílicas ou benzílicas exibem estabilidade realçada (via orbitais π). . CH2 CH . CH2 CH2 . CH2 CH CH2 ; CH2 . , etc Métodos de formação (Radicais de vida curta) ⇒ Vários métodos Cisão fotoquímica, cisão térmica, oxi-redução, eletrólise Reações de radicais • Reações de adição a) Halogênios b) Haletos de hidrogênio c) Polimerização vinílica • Reações de deslocamento a) Halogenação b) Auto-oxidação (Reação entre composto orgânico e o oxigênio) ¼ A decomposição da maioria dos compostos orgânicos expostos ao ar e à luz solar deve-se à oxidação fotossensibilizada. 8 Compostos Orgânicos Oxigenados - A presença de um ou mais átomos de oxigênio faz com que os compostos difiram grandemente dos hidrocarbonetos simples. Os compostos orgânicos podem ser reunidos em “famílias” de compostos relacionados baseadas em sua estrutura química. Os membros de cada família têm em comum um certo arranjo de átomos chamado “grupo funcional” Onde a maioria das reações químicas acontecem. ¼ O átomo ou grupo de átomos de um grupo funcional sofre as mesmas reações químicas independentemente da natureza do resto da molécula. Ex: Alcanos ⇒ Família cujo grupo funcional de identificação é a ligação carbono-carbono. Alquinos ⇒ Grupo funcional, ligação tripla carbono-carbono. Hidrocarbonetos halogenados ⇒ Átomo de halogênio. Localização no início, meio ou fim da molécula O grupo funcional determina suas propriedades - Quanto maior o tamanho do resto da molécula (“esqueleto carbônico”), menor a influência do grupo funcional. Grupos funcionais mais comuns contendo oxigênio Nome da família Álcool Éter Aldeído Cetona Ácido carboxílico Éster Fórmula geral Grupo funcional ROH ROR' O OH O O RCH O CH O RCR' O C O RCOH O COH O RCOR' CO O radical R (alquila) num aldeído, ácido e éster pode ser um átomo de hidrogênio. 9 ¼ Em geral alguns grupos funcionais como álcool, aldeído e ácido, aceitam apenas um radical alquila. Éter, cetona, éster ⇒ Formam ligações com dois radicais alquila. Os dois radicais alquila não precisam ser iguais. (R, R’) podem ser iguais ou diferentes. Os átomos de oxigênio podem existir num hidrocarboneto sob várias maneiras. Assim, podem ser formados um grande número de isômeros. Ex: C2H6O CH3CH2OH (PE = 78°C) Líquido (PE = -25°C) Gás à Tamb Álcool etílico CH3OCH3 Moléculas muito diferentes, com propriedades diferentes. Éter dimetílico Álcoois Álcoois são moléculas que contêm o grupo hidroxila (-OH), ligado a um radical alquila. Grupo hidroxila ≠ íon hidróxido .. . . - .O ...H Íon hidróxido Ânion poliatômico (octeto completo) Ex: ..O....H .. +- Na Base tipo hidróxido Ligações iônicas (se dissociam na água) .. . .O ...H Grupo hidroxila Incompleto (7 elétrons no nível externo) H .. .... . . HC .. .O...H H Álcool Ligação covalente (não ioniza na água) Ligação polar (oxigênio mais eletronegativo) Os álcoois formam ligações hidrogênio e são geralmente solúveis em água. 10 Álcoois mais simples CH3OH Metanol (Álcool metílico) Nome IUPAC CH3CH2OH Etanol (Álcool etílico) Sufixo: Identifica o a CH3CH2CH2OH Propanol (Álcool propílico) grupo “ol” a CH3CH2CH2CH2OH Butanol (Álcool butílico) CH3CH2CH2CH2CH2OH Pentanol (Álcool pentílico)a Adicionado a uma __________________________________________ raiz que indica o n° de átomos de C. Nome trivial entre parênteses a – Um dos vários isômeros possíveis Raízes – Derivadas do alcano correspondente sem “O” final. Ex: Metan- ; Etan- ; Propan- ; Hexan- - Além dos álcoois de cadeia “linear” com um grupo hidroxila no último átomo de carbono, outros arranjos existem (OH intermediário). Álcoois Primários, Secundários e Terciários Tipo de átomo de carbono Modelo de ligação Exemplo H Primário (1°) C Secundário (2°) C C CH3CH2CH2 CH2OH H 1-Butanol (Álcool n-butílico) C CH3C HCH2CH3 C OH 2-Butanol (Álcool sec-butílico) H C Terciário (3°) C C C CH3 H3C C CH3 OH 2-metil-2-propanol (Álcool tert-butílico) 11 Exemplos de álcoois ¼ Os álcoois estão largamente distribuídos na natureza. Ligados quimicamente a outras moléculas (na forma de ésteres, acetais ou outros derivados) Álcool metílico ou metanol ⇒ (Álcool de madeira) Venenoso Ingestão em pequenas quantidades pode causar cegueira, paralisia e morte. (Vapores também são nocivos) Álcool etílico ⇒ Ocorre no estado livre Fermentação de grãos, frutos, legumes (Processo no qual os açúcares são convertidos em álcool etílico e dióxido de carbono – Ajuda de enzimas) C6H12O6 Glicose Enzimas 2 CH3CH2OH Etanol +2 Fermentação CO2 Dióxido de carbono O etanol é o único álcool relativamente “seguro” para se beber, embora seja também considerado tóxico. Todos os “whiskeys”, vinhos e cervejas contêm etanol. Sua concentração é dada pelo “teor alcoólico” Ex: Álcool etílico a 100% (álcool absoluto). ⇒ Atribuído um teor alcoólico igual a 200. Uma garrafa que indica um teor alcoólico igual a 80, tem 40% de álcool em água. Etanol ⇒ Bom solvente, usado para fazer preparações conhecidas como “tinturas”. (Carregado com os princípios ativos de uma substância vegetal) Misturado à água ⇒ Solução a 50-70%, desinfetante ou antisséptico. 12 Para uso “externo” ⇒ O etanol é usualmente “desnaturado” (adição de metanol ou outras substâncias venenosas difíceis de serem removidas). Os governos forçam aqueles que querem ingerir álcool a adquirir o produto não-desnaturadoo com alto imposto incidente. Álcool isopropílico (2-propanol) ⇒ “álcool para fricção” em banhos de esponja. Age como adstringente, fazendo com que o tecido se contraia, endurecendo a pele e limitando as secreções. Sua evaporação causa o abaixamento da temperatura da pele. A 70% é usado como antisséptico. Para uso “interno” – Tóxico. ________________________________________________________ Propriedades dos álcoois Metanol Etanol Propanol - Solúveis em água em todas as proporções. - Propriedades físicas e químicas assemelham-se às da água. - Grupo OH – Determina as propriedades físicas e químicas dos álcoois inferiores. Álcoois de PM mais elevado ⇒ Apenas parcialmente solúveis em água, ou mesmo insolúveis (longa cadeia de HC) Propriedades físicas assemelham-se aos alcanos Grupos OH → Determinam a reatividade química - Os pontos de ebulição da água e dos álcoois são anormalmente elevados em relação aos PE de hidrocarbonetos, éteres e outros compostos de PM semelhante. Ex: Composto CH4 H2O CH3CH3 CH3OH CH3-O-CH3 CH3CH2OH PM 16 18 30 32 46 46 PE (°C) -161 100 -89 65 -25 78 Com a formação de ligações de hidrogênio, é necessária uma energia adicional para romper esses agregados e permitir que as moléculas individuais passem para a fase vapor. Fenômeno de compostos contendo ligações NH, OH e SH. 13 Preparação dos álcoois - Os álcoois são preparados por hidrólise de derivados halogenados de alcanos. + RX H2O ROH + HX A reação se processará segundo um dos seguintes mecanismos possíveis. (dependerá da estabilidade do carbocátion intermediário, derivado do haleto de alquila) a) Se o carbocátion for relativamente estável (2 etapas) (SN1) Etapa 1 (Lenta) CH3 CH3 CH3 C C+ CH3 Br CH3 + - Br CH3 Etapa 2 (Rápida) CH3 CH3 C+ CH3 + CH3 2 H2O C CH3 OH + + H3O CH3 De maneira semelhante: CH2 CH CH2 Br H2O - Br- CH2 + CH CH2 H2O - H+ + CH2 CH CH2 Estabilização por ressonância CH2 CH CH2 OH 14 b) Segundo tipo de hidrólise ⇒ Ocorre com haletos de alquila que tem carbonos com alta energia. (Brometos de alquila primários) (SN2) Pequena tendência a se ionizar em água pura. .... HO .. .. .. H C Cl HO H CH3 + Cl - H Reações de hidrólise ⇒ Reações de substituição nucleofílica ________________________________________________________ Reações dos álcoois: Podem ser classificados em 2 grupos gerais 1) Reações que acontecem com a quebra da ligação O-H C O H 2) Reações que acontecem com a quebra da ligação C-O C O H ______________________________ 1) Reações envolvendo quebra da ligação O-H. Muitas das reações dos álcoois são semelhantes às da água. Ex: Os álcoois reagem com metais alcalinos para formar sais 2 ROH + 2 Na ácido fraco 2 RO Na+ + H2 alcóxido (base conjugada) mais forte que o íon hidróxido As reações que acontecem são reações de oxi-redução; os metais altamente eletropositivos deslocam o hidrogênio dos álcoois. 15 Formação de ésteres Os álcoois reagem com ácidos carboxílicos formando ésteres, através de uma reação de condensação conhecida como esterificação. Ex: O + C CH3 O + H CH3CH2OH CH3 H2O OCH2CH3 OH etanol ac. acético acetato de etila O O + + C + C H OH + C CH3OH H2O OCH3 metanol ac. benzóico benzoato de metila Mecanismo (Reação catalisada por ácidos fortes. Na ausência, acontecem lentamente) R ..OH + ..O H + O R C C OH OH H R .. R'OH + C O O R' R + C H2O OR' ..OH H Oxidação dos álcoois Os álcoois primários podem ser oxidados a aldeídos e ácidos carboxílicos O R CH2OH (o) R C H O (o) R C OH A oxidação de um álcool implica na perda de 1 ou mais hidrogênios (hidrogênios α) do carbono que está ligado ao –OH. H R C OH H álcool 1ario (2 H alfa) A oxidação de aldeídos a ácidos carboxílicos se dá com agentes mais brandos do que os requeridos para oxidar álcoois primários a aldeídos, por isso torna-se difícil interromper a oxidação no estágio aldeído. P/obter aldeído: Remover aldeído assim que se forma 16 - Os álcoois secundários podem perder o único hidrogênio α que possuem e formar cetonas. Em geral, a reação para no estágio de cetona, porque a oxidação posterior requer a quebra de uma ligação carbono-carbono. R' R C O (o) OH R C R' H Álcool 2ario - Um álcool 3ario não contém hidrogênios α, somente pode ser oxidado sob condições drásticas. A oxidação de um álcool 3ario requer a quebra de uma ligação C-C e as oxidações, quando ocorrem, são de pouca utilidade sintética. R' R C (o) OH Difícil de oxidar R" Ex: Oxidação do isopropanol (álcool 2ario a cetona) O agente oxidante mais comumente empregado é o ácido crômico (H2CrO4). Normalmente é preparado “in situ” pela adição do óxido crômico (CrO3) ou dicromato de sódio (Na2Cr2O7) ao ácido sulfúrico. Mecanismo sugerido: Etapa 1 – O álcool reage com o ácido crômico para produzir um éster (cromato). Nesta etapa não acontece nenhuma mudança nos estados de oxidação. O CH3 CH .. O .. CH3 Isopropanol H + H .. O .. Rápida Cr O Cr +6 O O CH3 H CH CH3 O Cr O H O Cromato de isopropila (éster) Cr +6 + H2O 17 ¼ A etapa 2 é mais lenta. O éster cromato perde um próton e um íon HCrO-3 para dar a cetona. Pode ocorrer de 2 maneiras: Etapa 2a H CH3 H .. O .. CH3 H C O C CH3 Lenta O Cr O O + - HCrO3 + H3O + CH3 H Cr +4 O Cr +6 O cromato pode transferir um próton para a água. Etapa 2b CH3 H .. Lenta C O C CH3 CH3 O Cr O H O + H2CrO3 CH3 Cr +4 O Cr +6 O próton pode ser transferido em um mecanismo cíclico. ¼ Em qualquer um dos mecanismos, o estado de oxidação do álcool cresce passando ao de cetona, e o estado de oxidação do Cr muda de +6 para +4. ¼ O ácido crômico usualmente promove a oxidação dos álcoois primários a ácidos carboxílicos. 18 Oxidação biológica do etanol Os álcoois podem ser oxidados nos organismos vivos. Um exemplo prático é a oxidação do etanol em acetaldeído. CH3 CH2 OH Oxidação Redução O CH3 C H Reação catalisada por uma enzima, a desidrogenase do álcool. O agente oxidante é um dos mais comuns em sistemas biológicos, o NAD (dinucleotídeo de nicotinamida adenina) Coenzima, molécula orgânica que colabora com uma enzima na realização de uma determinada transformação química. ¼ Neste caso, a enzima possibilita o encontro do etanol e a coenzima, sendo a coenzima a que efetivamente realiza a oxidação. - Na oxidação, o NAD arranca do substrato 1 hidrogênio e 1 par de elétrons (um íon hidreto). Representação do NAD: + NAD (Forma oxidada) NADH (Forma reduzida) CH3 CH2 OH + NAD + Desidrogenase do álcool (NAD oxidado) CH3CHO + NADH + H + (NAD reduzido) O etanol perde um dos seus hidrogênios α com um par de elétrons, e seguidamente (provavelmente simultâneo), perde o próton ligado ao oxigênio, dando aldeído. 19 Mecanismo H .. O .. CH3 C O CH3 H + C NADH + H + H H + NAD As enzimas aceleram a reação tanto num sentido quanto no outro. A desidrogenase do álcool catalisa também a redução do acetaldeído pelo NADH. CH3CHO + NADH + H + CH3 CH2 OH + NAD (NAD reduzido) + (NAD oxidado) O acetaldeído vai buscar um íon hidreto e um próton do solvente. Mecanismo O CH3 C H H + H CH3 C O H + + NAD H NAD H ¼ No organismo, após ingestão de bebida alcoólica, o álcool é rapidamente absorvido, particularmente em estômago vazio, neste caso, a absorção é praticamente completa em 1 hora. O etanol é degradado no fígado pela enzima desidrogenase alcoólica. A reação de conversão de etanol a acetaldeído é a etapa lenta da degradação do álcool. - O acetaldeído é convertido em acetato e depois canalizado para um processo liberador de energia que produz 7 Kcal por grama de álcool. O nível alcoólico sangüíneo volta a zero após cerca de 6 horas. ¼ Drogas usadas para tratamento de alcoólatras, como o disulfiran (antabase), impedem a oxidação do acetaldeído. Elas causam tontura, dor de cabeça, náusea, vômito e dificuldade respiratória se álcool for ingerido. 20 2) Reações envolvendo quebra da ligação C-O. - Várias reações dos álcoois ocorrem com a quebra da ligação carbono-oxigênio. Ex: - Substituição nucleofílica - Eliminação ¼ Este tipo de reações exige a presença de ácido para converter o álcool ao verdadeiro substrato, o álcool protonado. - Tanto nas reações de substituição nucleofílica, quanto nas de eliminação, seguindo um mecanismo bimolecular (SN2) ou unimolecular (SN1), o substrato tem que perder um grupo nucleofílico. ¼ O álcool protonado perde facilmente a molécula de água fracamente básica. O álcool não-protonado teria que perder o íon hidróxido, fortemente básico, processo difícil que raramente acontece. Desidratação (Eliminação) - Quando os álcoois são aquecidos com ácidos fortes, sofrem eliminação de água (desidratação) e formam alquenos. Os ácidos mais comumente usados (doadores de prótons) são o ácido sulfúrico e o ácido fosfórico. - Os álcoois nos quais o grupo hidroxila está ligado a um carbono primário (álcoois 1arios) são os mais difíceis de desidratar. A desidratação do etanol, por exemplo, requer ácido sulfúrico concentrado e uma temperatura de 180°C. H CH3 C O H H2SO4 conc 180°C H H H C + C H2O H H Eteno - A desidratação do álcool n-propílico requer também H2SO4 concentrado e T igualmente alta (170°C). CH3CH2CH2OH H2SO4 conc 170°C CH3CH CH2 + H2O Propeno 21 - Os álcoois 2arios geralmente se desidratam sob condições mais brandas. O ciclo hexanol, por exemplo, se desidrata em ácido fosfórico a 85% a 165-170°C. OH H3PO4 (85%) + 165-170°C H2O Ciclo hexeno (80%) Ciclo hexanol - Os álcoois 3arios são, geralmente, tão facilmente desidratados que podem ser usadas condições muito mais brandas. O álcool t-butílico, por exemplo, se desidrata em H2SO4 aquoso a 20%, a uma temperatura de 85°C. CH3 CH3 C OH CH3 H2SO4 (20%) + C CH3 85°C CH3 H2O CH2 Álcool t-butílico ¼ A facilidade relativa com que os álcoois se desidratam, apresenta a seguinte ordem: R" R" R C R OH H R OH C OH C R' H H 3ario 2ario 1ario - Alguns álcoois se desidratam para dar mais de um produto. - H2O Ex: 1-butanol Trans-2-Buteno, Cis-2-Buteno e 1-Buteno CH3 CH3CH2CH2CH2OH H2SO4 conc 170°C C H CH3 H + C CH3 C H H CH3 + C CH3CH2CH H C H Trans-2-Buteno Cis-2-Buteno 1-Buteno (Produto principal) (Produto secundário) (Produto secundário) 22 - Alguns álcoois 1arios e 2arios sofrem rearranjos de seus esqueletos quando são submetidos a desidratação. Ex: Desidratação do 3,3-Dimetil-2-Butanol CH3 CH3 C CH3 CH3 CH3 CH3 CH CH3 H3PO4 (85%) 80°C CH3 C CH3 OH C CH3 + CH2 C CH CH3 2,3-Dimetil-1-Buteno 2,3-Dimetil-Buteno (80%) (20%) Mecanismo Etapa 1 – Protonação do álcool CH3 CH3 C CH3 H CH CH3 + +O .. CH3 OH CH3 C H CH CH3 CH3 OH2 .. H + Álcool protonado Etapa 2 – O álcool protonado perde água e forma-se um carbocátion secundário. CH3 CH3 CH3 C CH CH3 CH3 C CH CH3 + + H2O CH3 CH3 OH2 .. + ario ¼ Neste ponto ocorre rearranjo: Um carbocátion 2 (- estável) se rearranja para um carbocátion 3ario (+ estável). CH3 CH3 CH3 C CH + CH3 CH3 C + CH3 CH3 2ario (- estável) CH 3ario (+ estável) CH3 + H2O 23 Etapa 3 – Perda de próton do novo carbocátion e formação de alqueno. Pode acontecer de 2 modos: 1 CH3 H 1 CH2 C + C CH3 CH Alqueno menos estável (Produto secundário) CH3 CH3 2 H CH2 C CH3 CH3 2 CH3 C C CH3 Alqueno mais estável (Produto principal) CH3 CH3 Reação com haletos de hidrogênio (Substituição) Os álcoois reagem com os haletos de hidrogênio (HI, HBr, HCl), para formar os haletos de alquila. Esta reação também envolve a quebra da ligação carbono-oxigênio do álcool. R OH + HX RX + H2O A ordem de reatividade dos haletos de hidrogênio é HI > HBr > HCl (O HF geralmente não é reativo). - A ordem de reatividade dos álcoois é: Benzílico > 3ario > 2ario > 1ario A reação é catalisada por ácido, ela só se processa a uma velocidade apreciável, quando um ácido forte está presente. - Os álcoois 2arios, 3arios, alílicos e benzílicos parecem proceder por um mecanismo que envolve a formação de carbocátions. 24 Mecanismo Etapa 1 – Protonação. CH3 CH3 C .. ..OH + CH3 H +O H Rápida CH3 C H CH3 + OH2 + H2O CH3 Etapa 2 – Dissociação do álcool protonado para formar carbocátion e água. CH3 CH3 C H O + CH3 Lenta CH3 C H CH3 + + H2O CH3 - Nesta etapa, o carbocátion reage com o nucleófilo (íon haleto). CH3 CH3 C + + .. ... Cl .. . CH3 Rápida CH3 CH3 C Cl CH3 ¼ Muito freqüentemente, nas conversões de álcoois aos haletos de alquila, verifica-se que a reação é acompanhada pela formação de um pouco de alqueno (i.e. por eliminação). Alguns carbocátions se estabilizam pela perda de prótons.