030 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ” Departamento de Economia, Administração e Sociologia Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - Cepea DESCRIÇÃO DE ALGUNS ENTRAVES NA COMERCIALIZAÇÃO DA FARINHA DE MANDIOCA NO BRASIL Gabriel Granço1, Lucilio Rogerio Aparecido Alves2, Fábio Isaias Felipe3 (1) Graduando em Economia pela Esalq/USP e estagiário do CNPq. E-mail: [email protected]; (2) Doutorando em Economia Aplicada pela ESALQ/USP, Pesquisador do Cepea. E-mail: [email protected]; (3) Graduando em Economia, pesquisador do Cepea. E-mail: [email protected]. INTRODUÇÃO ¾ A mandioca vem ganhando destaque no cenário agrícola nacional e internacional; Dentre os principais subprodutos da mandioca, destacam-se a fécula e a farinha ; ¾ Do total de mandioca produzida no Brasil, 20% são destinadas para as fecularias e a quase totalidades dos demais 80% tem seu uso para a fabricação de farinha (Almeida & Silva, 2004); ¾ Devido a modernização da economia, antigos hábitos alimentares estão sendo substituídos por outros mais práticos e nutritivos, atingindo negativamente o consumo de farinha de mandioca. ¾ Nos estados do Norte e Nordeste o processamento da raiz para farinha ocorre nas chamadas casas de farinha, estruturas produtivas representante do método tradicional; ¾ No Centro-Sul, o processamento ocorre nas farinheiras consideradas agroindústrias, apresentando uma estrutura de trabalho geralmente mais adequada e profissional. OBJETIVOS ¾ Os objetivos deste trabalho são: 9 Descrição dos entraves enfrentados pelo setor farinheiro, como pouca diferenciação dos produtos e inconstância na oferta de matéria-prima; 9 Descrição da atuação do governo no setor; 9 Análise da interação entre as casas de farinhas do Norte/Nordeste com as farinheiras do Centro-Sul. MATERIAIS E MÉTODOS ¾ Revisão e pesquisa bibliográfica acerca da cadeia agroindustrial da mandioca no Brasil, com foco no setor de farinha; ¾ Análise de dados estatísticos obtidos juntos a órgãos governamentais, institutos de pesquisa, universidade, setor privado, entre outros. CARACTERIZAÇÃO DO SETOR NAS REGIÕES ¾ A estrutura do mercado de farinha nas regiões Norte e Nordeste é caracterizado pela atuação das casas de farinha e alta informalidade: 9 As casas de farinha apresenta uma estrutura pouco profissionalizada, baseada na mão-de-obra familiar, com característica de produção voltada para subsistência; 9 A farinha é vendida, geralmente, no atacado, em feiras livres. Devido a essa forma de comercialização não é realizado um beneficiamento maior do produto; ¾ A região Centro-Sul possui uma estrutura de mercado mais profissional, caracterizado por um ambiente contratual mais desenvolvido. Essa característica é devida, entre outros fatores, pela concorrência com as fecularias; 9 Nesta região, as farinheiras podem caracterizadas como agroindústrias e muitas das unidades produtivas possuem marcas próprias, sendo considerado um diferencial competitivo e forma de agregar valor; 9 A região apresenta também indústrias beneficiadoras responsáveis por adequar a farinha produzida em outros lugares aos padrões exigidos pelo consumidores da região. ¾ Desde 1999 a produção de raiz das regiões Norte/Nordeste são as maiores do país seguidos da região Sul (Gráfico 1); Gráfico 1 – Participação na produção estimada de raiz de mandioca em 2005 Centro-Oeste Norte Sudeste 7,3% 36,4% 9,7% ENTRAVES NA COMERCIALIZAÇÃO DA FARINHA DE MANDIOCA NO BRASIL ¾ A produção de farinha sofre com a oferta irregular de raiz e com as variedades utilizadas pelos produtores, as quais apresentam características que reduzem a qualidade da farinha; ¾ A variação nos tipos da farinha, aliado às especificidades de cada região, dificultam a atuação de uma empresa no âmbito nacional; ¾ Ambiente contratual pouco desenvolvido, grande atuação de intermediários, em especial na região Norte/Nordeste ; ¾ Competição com outros amilícios na forma de farinha e com outros produtos mais práticos e nutritivo; ¾ Poucos investimentos em qualidade e diferenciação, seja através de marca ou novos tipos de farinha; ¾ Entrada facilitada de novos fabricantes, permitindo ações oportunista, nocivas ao mercado no longo prazo; ATUAÇÃO DO GOVERNO ¾ Apesar de ter uma ação ainda considerada pequena, o governo federal atua no mercado visando garantir um preço mínimo para farinha, pois além de ser um produto presente na cesta básica, sua produção emprega um grande número de trabalhadores; ¾ Essa política dava-se principalmente através da Aquisição do Governo Federal (AGF). Atualmente, o programa mais utilizado é Compra Direta da Agricultura Familiar (CDAF). Deve-se destacar a tentativa de utilizar outros mecanismos de comercialização como o Contratos Privados de Opção de entrega (PROP); ¾ A criação da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Mandioca e Derivados, em nível nacional, representa um elo de ligação entre os produtores ligado a cadeia e o governo; ¾ Atua através de algumas poucas entidades públicas, como o IEA em SP, visando o desenvolvimento de variedades mais aptas à produção de farinha; INTERAÇÃO ENTRE AS REGIÕES ¾ As regiões Norte/Nordeste são as maiores produtoras e consumidoras de farinha de mandioca; ¾ Devido a essa característica, o comportamento desse mercado influência fortemente todo o mercado nacional; ¾ Esses ciclos de excesso/escassez de oferta provocados pela seca incita a atuação de produtores oportunistas, fortalecendo a figura do intermediário; ¾ Diante disso, as farinheiras do Centro-Sul sofrem ciclos de crescimento ou retração em decorrência da qualidade da safra de raiz na região Norte/Nordeste; ¾ A indefinição sobre o mercado do Norte/Nordeste afeta também o setor feculeiro, pois a competição por raiz entre as fecularias e as farinheiras fica mais acirrado quando a produção do norte-nordeste do país não vai bem, provocando alta no preço da raiz. ¾ Essa competição entre fecularia e farinheira, faz com que investimentos em melhorias do produto (descomoditização) seja realizados pelas farinheiras; ¾ Indústrias beneficiadoras do Centro-Sul compram farinha do Norte/Nordeste, efetua o refinamento, o empacotamento para depois realizar vendas para os estados da região Norte/Nordeste. ¾ Essas indústrias beneficiadoras são pouco atingidas pelos problemas de oferta da região Norte/Nordeste, pois esta região não possuí beneficiadoras (Santos, 1997); CONSIDERAÇÕES FINAIS Sul 22,1% Nordeste 24,6% Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2005). ¾ O consumo de farinha apresenta uma trajetória de queda em todas as regiões do país. Na última edição da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) a soma do consumo da região Norte e Nordeste corresponde a 92% do consumo nacional (Tabela 1) Tabela 1 – Aquisição alimentar domiciliar per capita anual por grandes Regiões em 2002–2003 (Kg) Regiões Fisiográficas Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Consumo Representação per capita no Consumo (Kg) Total 33,827 63% 15,333 29% 1,427 3% 1,040 2% 1,359 3% Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2005). ¾ No geral, observa-se que o mercado de farinha de mandioca precisa estruturar-se melhor, adotando uma postura mais profissional. A não informalidade das empresas pode ser uma saída; ¾ Apesar de ser um setor importante, tanto para a alimentação quanto para geração de emprego, para as classes menos favorecidas da população, existem poucos dados disponíveis sobre a quantidade produzida e outros fatores importantes para a compreensão do setor farinheiro; ¾ Inovações nos produtos ofertados, como é o caso da farofa e/ou farinha temperada, podem garantir maior rentabilidade para o produtor; ¾ Para melhor desenvolvimento do setor é necessário maior interação do produtor com o agricultor. A verticalização também pode ser uma solução este problema. ¾ Para pesquisas futuras mostra-se necessário um aprofundamento nos dados sobre a produção de farinha e a quantidade de raiz utilizada para produção, podendo estabelecer uma relação direta entre a seca no nordeste e a oferta (preço) da farinha nos mercados; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ¾ ALMEIDA,C.O.; SILVA LEDO,A.R. Um Caso Mais que Perverso das Elasticidades. Informe GEPEC. Paraná, v. 8, n.2, jul./dez., 2004. ¾ SANTOS, J.A.G. do. Competitividade: perspectivas para o desenvolvimento da agroindústria da mandioca. Universidade Federal da Bahia, Cruz das Almas. 1997. ¾INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Sidra. Agricultura (http://www.sidra.ibge.gov.br, 28 de abril de 2005)