O MITO DO GENE Desde a descoberta dos mecanismos genéticos

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O MITO DO GENE
Desde a descoberta dos mecanismos genéticos e da hereditariedade, a Ciência reduz com
propriedade o ser humano à dimensão da herança molecular, empossando o determinismo
cartesiano como o modus operandi da Natureza. A Heterogênese tem por filosofia o
contraponto ao reducionismo, ao determinismo e ao cartesianismo afirmando que somos
seres complexos (multidimensionais), compostos enquanto existências com o extravasamento
dos nossos corpos, ilimitados por esses, alcançando e construindo o Universo através dos
encontros, dos toques, dos afetos. Como é dito: “O toque tem o poder de desenhar
universos”... A Heterogênese questiona o determinismo, demonstrando in vivo a composição
sem método, a criação de vidas por emergência, sem projetos ou planejamentos, sem
instituições: a mágica do “OdosMeta”, que é realizada não pela razão, mas pela chamada razão
sensível, que inclui, ao meu ver, saberes, inteligências e linguagens desconhecidas e
inacessíveis pela racionalidade cartesiana por ser subjetiva e imensurável.
O dia-a-dia nos mostra a transdimensionalidade do homem, que extravasa seu corpo pelo
poder do afeto, dentro do complexo Natureza, fluido e inteterminável, construindo FELIZ sem
a necessidade do obsessivo método da racionalidade que criou o Estado, a Ciência, o Mercado.
Mas onde fica o Gene, nome grego para “o que dá origem”, que preenche nossas células e é
empiricamente demonstrado, desenhando nossos olhos, projetando nosso cérebro,
determinando nosso temperamento e nossa “sanidade”?
Na opinião dos deterministas-reducionistas, somos construídos e programados segundo
instruções de uma biblioteca biomolecular que reside no interior de cada célula do organismo:
o DNA. Através dessa biblioteca, nossas características (assim chamadas de fenótipos) são
expressas através da decodificação das informações genéticas. Características geneticamente
determinadas (?) que desenham o embrião, constroem nosso corpo e, ainda, sabidamente,
moldam nossa psique no que diz respeito a vivências, experiências, comportamentos. E a vida
evolui quando os genes se transformam.
Os genes desenham olhos, mas os genes desenham olhares?
Vamos colocar o gene no seu devido lugar, utilizando a própria razão que o elegeu o
protagonista da existência.
Antes de continuarmos, precisamos comentar a constatação que qualquer um de nós tem a
respeito da natureza: ela manifesta padrões. Todo homem tem (ou deveria ter) dois olhos,
duas orelhas. Todas as folhas de uma mesma espécie tem (ou deveriam ter) uma mesma cor,
um mesmo formato (basta olhar para a mangueira e a figueira) e assim por diante. Padrão é
um estado do ser, freqüente e de certa forma constante (persiste no tempo a despeito de
variações do entorno). O “normal” (que ainda discutiremos em outra ocasião) é determinado
pelos padrões. Logo, na sua concepção “natural”, o normal é o que segue “a regra” de um
determinado padrão; o anormal é o que foge a essa “regra”. Do ponto de vista natural, é
“anormal” um homem de três pernas ou uma folha de mangueira azul bem como uma gaivota
que coma sementes de manga.
O Cientista ingênuo encontra nessa simples e óbvia constatação a justificativa para defender a
tese de um universo projetado e determinado, reduzido. Mas esse cientista está errado.
Esses padrões são determinísticos ou são, de fato, emergentes, “frutos” do OdosMeta? Os
padrões naturais são complexos e dinâmicos, pois mudam a todo instante. Se não fossem, a
multivariada natureza não existiria, pois a evolução natural (que é a reinvenção dos padrões)
não ocorreria. Ao contrário do que o cientista ingênuo concebe, Darwin, quando contestou o
sumo determinismo bíblico, deu uma das maiores contribuições para o pensamento humano,
que passou a olhar para uma nova lógica: complexa, criativa, possibilista, holista, caótica,
emergente, OdosMeta.
Observando os padrões como dinâmicos, frutos da criatividade da natureza que se reinventa,
inteligente, para se tornar cada dia mais rica e complexa, podemos questionar com
propriedade o Gene como Causa do Homem.
Assumindo o primado do Gene, ou seja, que nele há o projeto para todas as características do
homem bem como suas transformações: Observamos como esse gene, de forma alguma pode
ser o gene. Uma vez que o próprio gene é conseqüência das invenções complexas da Natureza!
A força que transforma o gene e os padrões que dele são resultado, é um fator natural de
causa desconhecida porém extrínseco ao gene. Logo, o gene não pode ser a causa do Homem.
Essa causa, sim, é a força natural que transforma o gene. Mesmo sendo o gene o mecanismo
que desencadeia todas as características e transformações do homem, a causa dessas
características e transformações está aquém (ou além) do gene. Aqui eu considero como
sepultada a questão: o gene não determina coisa alguma! No máximo, desencadeia. Porém,
podemos ir além no nosso confronto questionando o reducionismo que reside na doutrina do
gene.
Nas últimas décadas, esforços internacionais foram reunidos ao redor do projeto Genoma, que
todos conhecem dos jornais e televisão. O objetivo é mapear os genes humanos. Descobriram
os cientistas que o genoma humano é relativamente modesto, contando com cerca de 30 mil
genes apenas. Serão esses 30 mil genes suficientes para desencadear todas as características e
transformações do homem?
Com raras exceções, o genoma de todas as células do organismo maduro é idêntico. O DNA do
cérebro é idêntico ao de uma célula do osso. No desenvolvimento embrionário, toda a
diversidade estrutural e funcional do organismo maduro é fruto de uma única célula e seus
genes, que se multiplica e suas cópias se diferenciam. O genoma é reproduzido, porém a forma
das células se transforma. Sabemos que a atividade seletiva desses genes coordena essa
transformação. Existem genes que somente são ativos durante a vida embrionária e nunca
mais voltam a funcionar. Como ocorre essa diferenciação, mesmo que desencadeada pelos
genes? O que controla a atividade desses genes para produzir tamanha diversidade, a partir de
uma única célula? Se há um projeto original que coordena a atividade desses genes ao longo
do desenvolvimento embrionário, onde está esse projeto? De que ele é feito? São perguntas
que não sei, pessoalmente, a resposta.
Outra consideração importante refere-se a gemelaridade univitelina. Gêmeos são clones
perfeitos gerados pela separação do embrião em duas metades, que se desenvolvem
individualmente como dois seres distintos. Assim, gêmeos univitelinos são geneticamente
idênticos. No entanto, nesses corpos idênticos residem pessoas diferentes, com
temperamentos e personalidades diferentes. Expressam doenças mentais como a
esquizofrenia de forma singular com uma prevalência menor que cinqüenta por cento entre os
irmãos. Também, corpos nem tão idênticos assim. As impressões digitais são diferentes. E
características implícitas permitem a perfeita diferenciação entre essas pessoas.
Clones não existem. Pessoas não são projetadas. Genes não determinam coisa alguma. (No
máximo, desencadeiam). A natureza não é pequena, não é linear, não é monótona. A
Natureza se reinventa, inova, cria. O Homem genuíno, enquanto parte da Natureza, segue o
seu rumo sem destino traçado e sem esperanças, criando um mundo, criando a si mesmo a
cada dia uma vida boa de se viver.
Dimitri
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