INSTITUTO ADOLFO LUTZ LABORATÓRIO REGIONAL DE SOROCABA Tatiane Balbo Batista Dengue: estudo soroepidemiológico no município de Sorocaba-SP, no período de 2000 a 2006 Sorocaba 2008 PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDE COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO - FUNDAP Tatiane Balbo Batista Dengue: estudo soroepidemiológico no município de Sorocaba-SP, no período de 2000 a 2006 Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional/CRH/SES-SP e FUNDAP, elaborado no Instituto Adolfo Lutz- Laboratório Regional de Sorocaba. Área: Biologia Médica Sorocaba 2008 Batista, Tatiane Balbo Dengue: estudo soroepidemiológico no município de Sorocaba-SP, no período de 2000 a 2006 / Tatiane Balbo Batista - Sorocaba, 2008. 50 f. Trabalho e Conclusão de Curso - Instituto Adolfo Lutz – Laboratório Regional de Sorocaba – Programa de Aprimoramento Profissional em Imunossorologia em Saúde Pública. Orientadora: PqC Kátia Maria de Souza Assumpção Carraro 1. Estudo retrospectivo 2. Estudo soroepidemiológico 3. Dengue Aprimoranda: Tatiane Balbo Batista Titulo: Dengue: estudo soroepidemiológico no município de Sorocaba-SP, no período de 2000 a 2006 A banca examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido no Programa de Aprimoramento Profissional – PAP Imunossorologia em Saúde Pública Realizado em 22/2/2008 considerou a candidata: ( X ) aprovado ( ) reprovado 1) Examinador(a): Maria do Carmo Antunes Macedo Meira 2) Examinador(a): Fabio Hiroto Shimabukuro 3) Presidente: Katia Maria de Souza Assumpção Carraro AGRADECIMENTOS A Enfermeira Consuelo Taciana Wanderley Matielo Vigilância Epidemiológica Municipal de Sorocaba-SP, pelas informações dos dados epidemiológicos. A Diretora Técnica de Serviço de Saúde Sueli Yasumaro Diaz da SUCENSorocaba-SP, pelas informações dos Índices de Infestação Predial e Recipientes. Ao Biólogo Fabiano Demétrio Zequetto da Seção de Zoonoses Municipal de Sorocaba-SP, pelas informações entomológicas. A Profª. Ms. Maria Andrade Pinheiro,pela análise estatística das informações. RESUMO A dengue é considerada a arbovirose mundialmente mais importante, que afeta o homem em relação à morbidade e mortalidade, se tornando um sério problema de saúde pública, particularmente, em países tropicais onde a temperatura e a umidade favorecem a proliferação do mosquito vetor. As epidemias explosivas são características da dengue clássica, entretanto com a circulação simultânea de mais de um sorotipo do vírus, pode haver a forma hemorrágica da doença, principalmente em grandes centros urbanos. No período de 2000 a 2006 foi realizado um estudo retrospectivo dos casos notificados e confirmados de dengue no município de Sorocaba, tais dados foram obtidos na Vigilância Epidemiológica Municipal, Centro de Zoonoses e SUCEN, utilizando respectivamente o SINAN, relatórios de Índice de Breteau e Índice de Infestação Predial. A análise estatística foi realizada no software BioEstat 2.0. No período de estudo, foram notificados 1315 casos, destes, 225 foram confirmados sendo 43, identificados como casos autóctones. Todos os casos confirmados foram classificados como dengue clássica. A faixa etária atingiu indivíduos menores de 1 ano até maiores de 80, tendo significância estatística a faixa de 20 à 49 anos. Com relação ao sexo, 128 são do sexo masculino e 97 do feminino não havendo significância estatística para este indicador. Não sendo possível evitar casos de dengue no município de Sorocaba, infestado pelo Aedes aegypti, é possível prevenir surtos por meio da intensificação das atividades de controle vetorial e programas de educação de abrangência popular, utilizando meios de comunicação em massa como uma das principais estratégias. Palavras Chaves: Dengue; Estudo retrospectivo; Estudo soro-epidemiológico. ABSTRACT Dengue is considered the most important worldwide mosquito-borne viral disease, which affect the man with regard to the morbidity and mortality, causing a serious problem of public health, particularly, in tropical countries where the temperature and the humidity favor the proliferation of the mosquito vector. The explosive epidemics are characteristic of the classical dengue, however with the simultaneous circulation of more than on serotypes of the virus it can be the hemorrhagic form of the disease, mainly in big urban centers. In the period from 2000 to 2006 was achieved a retrospective study about some notified and confirmed cases of dengue in Sorocaba, whose dates were obtained at Municipal Epidemiologist Vigilance, centre of Zoonoses and SUCEN using ,respectively, the SINAN, reports of index of Breteau and index of land infestation. The statistic analyses were achieved at the BioEstat 2.0 software. In the period of study were notified 1315 cases and 225 of these were confirmed and 43 identified as autoctone. All the confirmed cases have been classified as classical dengue. The ages reached people between 1 year old and over 80, being the ages with significant statistic were from 20 to 49 years old. With regard to the sex, 128 belong to the masculine sex and 97 are feminine, but there wasn’t significant statistic for this point. It’s not possible to avoid Aedes aegypti, but it’s possible to prevent outbreaks, through the intensification of vectorial control activities and education programs, using massive medias as one of the main strategies. WordKeys: Dengue; Retrospective study; Epidemiologist study. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Distribuição dos casos importados de dengue no período de 2000 a 2006 ............................................................................... Figura 2: 32 Migração de casos de dengue das cidades fronteiriças com Sorocaba................................................................................... 32 Figura 3: Distribuição de casos confirmados segundo a faixa etária....... 33 Figura 4: Distribuição sazonal do número total de casos confirmados de dengue no município de Sorocaba no período de 2000 a 2006........................................................................................... 35 Figura 5: Distribuição do Índice de Breteau no período de 2002 a 2006 35 Figura 6: Distribuição do Índice de Predial no período de 2002 a 2006 36 Figura 7: Distribuição do Índice de Recipientes no período de 2002 a 2006.......................................................................................... Figura 8: 36 Distribuição dos casos autóctones segundo as unidades de saúde no ano de 2006............................................................... 39 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Distribuição dos casos de dengue segundo o ano de notificação........................................................................... 30 Tabela 2. Distribuição dos casos confirmados segundo critério laboratorial e vinculo epidemiológico.................................. 30 Tabela 3. Distribuição dos casos importados de dengue no período de 2000 a 2006 ........................................................................ 31 Tabela 4. Distribuição de casos confirmados segundo o sexo.......... Tabela 5. Distribuição sazonal do número total de 33 casos confirmados de dengue no município de Sorocaba no período de 2000 a 2006.................................................... Tabela 6. Sintomas mais freqüentes dos casos confirmados de dengue............................................................................... Tabela 7. 34 37 Distribuição do total de casos confirmados segundo a localização no município..................................................... 38 Tabela 8. Distribuição dos casos autóctones segundo as unidades de Saúde no ano de 2006.................................................. 39 LISTA DE ABREVIATURAS A. aegypti = Aedes aegypti A. albopictus = Aedes albopictus DC = Dengue Clássica DCV = Diretoria de Combate a Vetores DEN - 1 = Sorotipo 1 do vírus da dengue DEN - 2 = Sorotipo 2 do vírus da dengue DEN - 3 = Sorotipo 3 do vírus da dengue DEN – 4 = Sorotipo 4 do vírus da dengue FHD = Febre Hemorrágica do Dengue FUNASA = Fundação Nacional de Saúde IAL = Instituto Adolfo Lutz IBGE = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OMS = Organização Mundial da Saúde SCD = Síndrome do Choque do Dengue SES = Secretaria Estadual da Saúde SINAN = Sistema de Informação de Agravos de Notificação SUCEN = Superintendência de Controle de Endemias WHO = Word Health Organization SUMÁRIO 1 Introdução............................................................................... 19 2 Objetivo................................................................................... 25 3 Materiais e Métodos................................................................ 27 4 Resultados.............................................................................. 29 5 Discussão................................................................................ 40 6 Conclusão............................................................................... 43 7 Referências............................................................................... 46 8 Anexos...................................................................................... 50 1INTRODUÇÃO - 19 - A dengue é considerada a arbovirose mundialmente mais importante, que afeta o homem com relação à morbidade e mortalidade (BRAGA et al., 2004; COLLIN, 2005; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005). Sua incidência aumentou drasticamente nas últimas décadas tornando-se endêmica na África, nas Américas exceto a do Norte, Ásia e Pacífico (WHO, 2007). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 2,5 milhões de indivíduos correm o risco de contrair a doença e 50 milhões de pessoas infectam-se anualmente, observando assim, sua grande importância na Saúde Pública Mundial (WHO, 2007). A dengue é uma doença infecciosa febril aguda que pode evoluir até quadros de hemorragia e choque, podendo levar ao óbito. É causada por um vírus que pertence ao gênero Flavivírus, família Flaviviridae, possui quatro sorotipos distintos, sendo classificado como DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4 (ANDRIES, 2007; CASALI et al., 2004; FRANÇA, 2007; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; GULBER, 2002; PEREIRA & SANTUCCIO, 2000/2001). Epidemiologicamente, este flavivírus possuem a capacidade de replicar em diferentes organismos, mostrando enorme potencial de adaptação a tipos celulares diversos (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005). A forma clássica da doença possui geralmente como característica febre alta (39º C a 40°C) de início abrupto, cefaléia, mialgia, artralgia, vômito, anorexia, podendo também aparecer um exantema intenso em pequenas áreas da pele (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005, TUBOI et al., 2002). Em pacientes adultos pode levar à hemorragias, tais como sangramento gastrointestinal, hematúria, metrorragia, petéquias, epistaxe e gengivorragia. A doença tem duração de cinco a sete dias havendo o desaparecimento dos sintomas após este período (TUBOI et al., 2002). A dengue hemorrágica possui sintomas iniciais semelhantes à dengue clássica, porém, com evolução rápida para manifestação hemorrágica ou choque. Nos casos graves, o choque ocorre entre o terceiro e quarto dia da doença, com duração curta, podendo levar ao óbito em 12 a 24 horas ou à recuperação rápida após terapia adequada (CASALI et al., 2004; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; FRANÇA, 2007; PEREIRA & SANTUCCIO, 2000/2001; TUBOI, 2002). A primeira descrição de uma epidemia de dengue ocorreu entre 1779 e 1780 em um surto nos Estados Unidos. Durante o século XIX ocorreram epidemias no continente africano e asiático, indicando que o vírus e seu vetor tiveram cerca de 200 anos para se adaptar e expandir (ANDRIES, 2007; COLLIN, 2 005; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005). Em 1906 Bancrof, descobriu que o vírus do dengue era transmitido pelo mosquito - 20 - Aedes aegypti, o mesmo vetor da febre amarela urbana (ANDRIES, 2007; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005). Até o fim da década de 40 a dengue era considerada uma doença febril aguda benigna e tinha importância devido à suas epidemias explosivas acometendo temporariamente milhares de pessoas (COLLIN, 2005; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005). A partir de 1954 caracteriza-se por hemorragias graves e ou choque provocando a morte em 40% dos enfermos, tornando-se endêmica ou epidêmica, produzindo milhares de óbitos em muitas partes do planeta (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005) . Durante os anos 80, no sudeste asiático houve grandes epidemias de dengue hemorrágica, devido à circulação de múltiplos sorotipos do vírus, acometendo principalmente crianças e adolescentes, sendo considerada uma das principais causas de mortalidade infantil naquela região (ANDRIES, 2007; DONALISMO, 1999; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005). Desde o século XIX a dengue encontra - se no continente americano, nas cidades portuárias do Caribe, na América do Norte, Central e Sul, porém sua etiologia era desconhecida (HALSTEAD, 2006). Em 1963 e 1964 foi relatada a primeira epidemia de dengue confirmada em laboratório no continente Americano, sendo o DEN-3 isolado no Caribe e na Venezuela. Nesta mesma, região na década de 50, houve o isolamento do DEN-2 que foi o responsável por alguns casos isolados. No fim da década de 60 ocorreram epidemias na região do Caribe, pelos sorotipos DEN-2 e DEN-3 (ANDRIES, 2007). Na década de 70 o DEN-1 chegou às Américas expandindo-se para as Ilhas Caribenhas, e durante a década de 80 há registros de epidemias explosivas em: El Salvador, Guatemala, México, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana Francesa, Belize, Honduras e Guiana (ANDRIES, 2007; DONALISMO, 1999). O episódio mais importante neste continente foi em 1981 com a primeira epidemia de dengue hemorrágica em Cuba desencadeada pelo DEN-2, hospitalizando 116.151 pacientes, com 158 óbitos em sua maioria crianças (ANDRIES, 2007; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; SCHATZMAYR, 2000). No Brasil os primeiros indícios de dengue ocorreram no século XIX nos estados do nordeste, sudeste e sul do país. Os sanitaristas Emilio Ribas (1903) e Oswaldo Cruz (1904) iniciaram a campanha para erradicação do A. aegypti para combater a febre amarela urbana, mas somente com o auxílio da Fundação Rockefeller a campanha atingiu todo o território brasileiro, culminando com a erradicação do mosquito, livrando o - 21 - país das epidemias de dengue entre o período de 1923 a 1981 (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005). O primeiro indício de re-introdução do A. aegypti ocorreu em 1967 no estado do Pará e, posteriormente, na cidade de Salvador em 1976, culminando com a disseminação do vetor pelo território brasileiro. (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; FUNASA, 2001; TAUIL, 2002). O A. aegypti, vetor mais importante da dengue no Brasil, é nativo da África e foi introduzido no país provavelmente pelo tráfico negreiro. Aqui encontrou ambiente propício à sua sobrevivência e reprodução, expandindo-se geograficamente por grande parte do território (PENA, 2003). Este mosquito vive no interior de residências e possui grande antropofilia. As fêmeas têm atividade hematofágica diurna e utilizam ambientes artificiais com água parada e limpa para desovar. Devido a seus hábitos ecológicos, a urbanização facilitou o aumento da população, pois houve o crescimento dos ambientes artificiais (COSTA, 2007; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; SCHATZMAYR, 2000). O A. albopictus, outro transmissor da dengue, é nativo da Ásia é encontrado no Brasil desde 1985, habitando ambientes rurais, urbanos e semi-urbanos. Faz suas desovas tanto em ambientes naturais como artificiais e durante seu ciclo gonotrófico, a fêmea faz hematofagia em varias espécies de animais, aumentando desta forma a possibilidade de transmissão da infecção para vários hospedeiros vertebrados (NETO et al., 2002). Este vetor, na Ásia, é responsável pela manutenção do ciclo silvestre, pela transmissão da dengue na zona rural e o secundário na zona urbana. O A. albopictus, no Brasil, não possui importância epidemiológica na transmissão da dengue, porém, ele é considerado um vetor em potencial tanto, para dengue como para a febre amarela (NETO et al., 2002). A re-emergência da dengue no Brasil ocorreu através de um surto em 1981/1982 no estado de Roraima causadas pelos DEN-1 e DEN-4. Em 1986, no estado do Rio de Janeiro houve a introdução do DEN-1, ocasionando uma grande epidemia de dengue clássica, que acometeu cerca de 1 milhão de pessoas. Esta epidemia tomou grandes proporções e expandiu-se geograficamente para os estados do Ceará, Alagoas, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; PEREIRA & SANTUCCIO, 2000/20001). Em 1990, devido à introdução do DEN-2, ocorreu um surto de dengue hemorrágica (FHD/SCD) no estado do Rio de Janeiro atingindo cerca de 300 pessoas, não se conhecendo ao certo o número real de óbitos (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005). O DEN-2 encontra-se - 22 - circulante no Ceará, Bahia, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo (PEREIRA & SANTUCCIO, 2000/2001). As epidemias de 2001 e 2002 que ocorreram no estado do Rio de Janeiro teve um fator agravante, que foi a introdução do DEN-3 no país. Nesta epidemia houve a circulação dos vírus DEN-1, DEN-2 e DEN-3 e foram notificados 800.0000 casos de dengue clássica, sendo 270 casos de dengue hemorrágica e destes, 150 óbitos (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; CASALI et al., 2004). Acredita-se que com a reinfecção por sorotipos diferentes exista maior probabilidade de ocorrer a dengue hemorrágica ou o choque (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; PEREIRA & SANTUCCIO, 2000/2001; HAESTEAD, 2006), tornando-se por este motivo, um grave problema de saúde pública para o Brasil (NOGUEIRA et al., 2001). No estado de São Paulo a infestação do A. aegypti foi notada em 1985, como levantamento da fauna culicidae, a qual teve uma expansão progressiva e rápida proporcionando surtos de dengue nas cidades do oeste e noroeste do estado. Em 1990 foi notada a infestação em 312 cidades pelo A.aegypti e ou A.albopictus que, posteriormente no ano de 1994, atingiu 564 cidades (DONALISMO,1999). Com a infestação do estado pelo vetor, em 1987 houve os primeiros casos de dengue autóctones, com surtos rápidos e controlados. Em 1990, a dengue voltou de forma epidêmica na região oeste dando força para a circulação do vírus (DONALISMO, 1999). Em 1998, concentrou-se na região norte e centro-oeste, mas houve a expansão das epidemias para região leste e Baixada Santista. A Grande São Paulo teve sua primeira transmissão em 2001, havendo grande dificuldade no controle do vetor devido à urbanização desenfreada da cidade. Nos anos de 2001 e 2002 houve um aumento na incidência da doença, que com a circulação dos sorotipos DEN-1, DEN-2 e DEN-3 aumentaram as chances de epidemias de dengue hemorrágica no estado de São Paulo. A população de A. aegypti até 2005 estava distribuída por 498 municípios paulistas onde vivem 85% da população do estado, dos quais em 60% já ocorreu registros de casos autóctones da doença (SES, 2005) . O município de Sorocaba está localizado na região sudoeste do estado de São Paulo, a 96 quilômetros da capital, com área total de 449 Km² e uma população em 2007, de 559.157 habitantes (IBGE, 2007). Sendo, atualmente, um grande pólo industrial do estado, a cidade gera grande fluxo de migração. Considerando a fácil transmissão, susceptibilidade da população sorocabana, a gravidade da dengue e os - 23 - fatores ambientais para a proliferação do vetor, o estudo soroepidemiológico reveste-se de grande importância para avaliar a situação desta arbovirose no município. - 24 - 2 OBJETIVO - 25 - Por tratar-se de um estudo retrospectivo, é de grande interesse como estímulo ao conhecimento, verificar o perfil soroepidemiológico da dengue no município de Sorocaba-SP no período de 2000 a 2006, procurando responder ou identificar as seguintes questões: 1. Quantificar o número de casos notificados positivos e classificá-los em autóctones ou importados. 2. Nos casos confirmados, identificar os sintomas mais freqüentes. 3. Relacionar os bairros com maior número de casos 4. Relacionar os bairros com maior densidade do vetor e classificá-los segundo o risco de transmissão. 5. Analisar o período sazonal da doença nos anos de 2000 a 2006. - 26 - 3 MATERIAL E MÉTODOS - 27 - Foram incluídos no estudo os casos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) no período de 01 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2006, encaminhados pela Vigilância Epidemiológica Municipal de Sorocaba. Os exames foram realizados no Instituto Adolfo Lutz (IAL) Laboratório Regional de Sorocaba, os testes sorológicos foram realizados através de kits comerciais para a detecção de anticorpos IgM. Os testes complementares de inibição de hemaglutinação e MACElisa durante o período de estudo foram encaminhados ao IAL Central. As análises estatísticas dos dados epidemiológicos foram realizadas no software Bioestat 2.0, sendo utilizado o teste T. Os dados de vigilância entomológica foram fornecidos pela Seção de Controle de Zoonoses da Secretaria da Saúde do município e pela Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN) de Sorocaba. - 28 - 4 RESULTADOS - 29 - No período estudado, 01 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2006, foram notificados 1315 casos de dengue, e destes, 225 (17,1%) foram confirmados e 43 identificados como casos autóctones (Tabela 1). A Tabela 2 apresenta o número de casos confirmados por critério laboratorial e ou vínculo epidemiológico. Tabela 1. Distribuição dos casos de dengue notificados e confirmados no município de Sorocaba, segundo o ano de notificação. Ano Notificados 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total 24 85 440 121 56 79 510 1315 Confirmados Importados Autóctones 7 0 14 0 61 0 25 0 5 0 7 0 63 43 182 43 Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação- SINAN Tabela 2. Distribuição dos casos confirmados de dengue no município de Sorocaba, segundo critério laboratorial e vínculo epidemiológico. Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total Laboratorial 7 13 58 24 5 7 99 213 Epidemiológico 0 1 3 1 0 0 7 12 Total 7 14 61 25 5 7 106 225 Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação -SINAN Os casos importados no município procederam de todas as regiões brasileiras, confirmando a grande distribuição da dengue no território nacional. O estado que contribuiu com maior migração de casos foi São Paulo e originados das seguintes cidades: Araçatuba, Araçoiaba da Serra, Barueri, Campinas, Capela do Alto, Guarujá, Ilha Comprida, Ilhabela, Iperó, Itapevi, Jandira, Osasco, Porto Feliz, Praia Grande, Ribeirão Preto, Rio Claro, Santos, São José do Rio Preto, São Paulo, São Sebastião, São Vicente e Votorantim. Importante relatar que das cidades citadas, cinco são fronteiriças e outras seis estão localizadas em média a 100 quilômetros de Sorocaba (Tabela 3 e Figuras 1 e 2). - 30 - Tabela 3. Distribuição dos casos importados, segundo o estado e a número de municípios de onde procederam os casos importados para o município de Sorocaba, no período de 2000 a 2006. Estado Sigla Quantidade Roraima RO 1 Amanozanas AM 1 Pará PA 5 Amampá AP 1 Maranhão MA 3 Ceará CE 3 Rio Grande do Norte RN 2 Paraíba PB 4 Pernanbuco PE 2 Alagoas AL 1 Sergipe SE 1 Bahia BA 4 Minas Gerais MG 3 Rio de Janeiro RJ 3 São Paulo SP 22 Parana PR 1 Mato Grosso do Sul MS 2 Mato Grosso MT 2 Goias GO 1 Bolivia 1 Total 63 Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN - 31 - 25 20 15 10 5 Boliv ia GO MT MS PR SP RJ MG BA SE AL PE PB RN CE MA AP PA AM RO 0 Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação - SINAN Figura 1: Distribuição dos casos importados de dengue no período de 2000 a 2006. Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN Figura 2. Migração de casos de dengue das cidades fronteiriças com Sorocaba. No período do estudo, dos 225 casos confirmados na cidade de Sorocaba, 128 (56,9%) são do sexo masculino e 97 (43,1%) feminino, não havendo significância estatística entre os sexos, segundo o teste T (p= 0,0733 para os homens e 0,0746 para as mulheres) - Tabela 4. - 32 - Tabela 4. Distribuição de casos confirmados de dengue no município de Sorocaba, segundo o sexo. Ano Masculino Feminino Total 2000 4 3 7 2001 9 5 14 2002 36 25 61 2003 16 9 25 2004 2 3 5 2005 2 5 7 2006 59 47 106 Total 128 97 225 Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Com relação à faixa etária a distribuição da doença foi ampla atingindo desde crianças menores de 1 ano até indivíduos com mais de 80 anos, sendo as faixas com maior número de casos entre 20 a 34 anos e de 35 a 49 anos (Figura 3) . De acordo com o teste T (10%), as faixas etárias de 20 a 34 anos (p=0,0812), 35 a 49 anos (p=0,0696) e teste T (5%) no intervalo de 50 a 64 anos (p=0,0398), as três faixas apresentaram significância estatística demonstrando que foram mais expostas aos mosquitos vetor, provavelmente devido suas atividades profissionais ou por haver focos próximos ou nas suas residências, pois o A. aegypti possui habito intra-domiciliar. 45 N° de Casos confirmados 40 35 2000 30 2001 25 2002 2003 20 2004 15 2005 10 2006 5 Idade 0 < 1 ano 1a4 5a9 10 a 14 15 a 19 20 a 34 35 a 49 50 a 64 65 a 79 80 e + Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação - SINAN Figura 3. Distribuição de casos confirmados segundo a faixa etária. - 33 - A Tabela 5 e a Figura 4 mostram o período sazonal da doença com a distribuição dos casos de dengue ao longo dos meses, evidenciando ampliação do período de transmissão, com maior número de casos no primeiro semestre de todos os anos. No período estudado, os anos que mais se destacaram foram o de 2002 com grande quantidade de casos confirmados, porém, importados, e o de 2006 com o maior número de casos confirmados e a ocorrência dos primeiros casos autóctones. É importante notar que no ano de 2006 houve a confirmação de casos quase o ano todo, destacando-se os meses de abril (n= 36) e maio (n= 44) considerados meses mais frios. Tabela 5: Distribuição sazonal do número total de casos confirmados de dengue no município de Sorocaba no período de 2000 a 2006. Ano Números de caso por mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total 2000 1 2 2 1 0 0 0 0 0 0 0 1 7 2001 0 0 8 0 3 0 2 0 0 1 0 0 14 2002 14 19 7 10 5 2 4 0 0 0 0 0 61 2003 4 6 8 0 2 2 0 1 0 1 1 0 25 2004 0 2 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 5 2005 1 0 0 1 0 2 1 1 0 0 1 0 7 2006 1 0 9 36 44 7 1 4 0 2 2 0 106 Total 21 29 35 49 55 13 8 6 0 Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação - SINAN 4 4 1 225 - 34 - 45 Número de casos 40 35 2000 30 2001 25 2002 20 2003 15 2004 10 2005 5 2006 D ez N ov Out S et A go J ul Jun Mai Abr Mar F ev Jan 0 Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação - SINAN Figura 4. Distribuição sazonal do número total de casos confirmados de dengue no município de Sorocaba, no período de 2000 a 2006. As Figuras 5, 6 e 7 demonstram a Vigilância Entomológica expressa, respectivamente pelos Índices de Breteau, Predial e Recipientes, realizada na cidade de Sorocaba no período de 2002 a 2006, evidenciando a irregularidade do monitoramento em discordância ao preconizado pelo Programa de Combate ao Vetor, que prevê pesquisa em todas as áreas a cada dois meses. Referentes ao ano de 2000 e 2001 não há registros de dados do controle entomológico. Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação – SINAN Nota: Este gráfico foi produzido com a média dos pontos. Figura 5. Distribuição do Índice de Breteau no período de 2002 a 2006. - 35 - Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação – SINAN Nota: Este gráfico foi produzido com a média dos pontos. Figura 6. Distribuição do Índice Predial no período de 2002 a 2006. Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação – SINAN Nota: Este gráfico foi produzido com a média dos pontos. Figura 7. Distribuição do Índice de Recipientes no período de 2002 a 2006. A Tabela 6 apresenta os sintomas mais freqüentes nos 225 casos de dengue confirmados, segundo a Ficha de Notificação Compulsória. - 36 - Tabela 6. Sintomas mais freqüentes dos casos confirmados de dengue, no município de Sorocaba no período de 2000 a 2006. Sintomas Presente Porcentagem (%) Febre 223 99,1 Mialgia 199 88,4 Cefaléia 193 85,8 Prostação 193 85,8 Artralgia 160 71,1 Náuses/ Vômito 157 69,8 Dor Retro-Orbitária 148 65,8 Exantema 110 48,9 Diarréia 57 25,3 Dor abdominal intensa 41 18,2 Choque Hipovolêmico 13 5,8 Epistaxe 11 4,8 Petéquias 7 3,1 Hematuria 6 2,7 Hipotensão Arterial/ Postural 4 1,7 Gengivorragia 3 1,3 Metrorragia 2 0,8 Ascite 1 0,4 Hepatomegalia Dolorosa 1 0,4 Sangramento 0 0,0 Derrame Pleural 0 0,0 Derrame Pericárdico 0 0,0 Miocardite 0 0 Manifestações Neurológicas 0 0 Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN A Tabela 7 e o Anexo A apresentam a distribuição dos casos confirmados de dengue nas regiões do município sorocabano, destacando a proximidade das localidades e as que apresentam maior número de casos confirmados. - 37 - Tabela 7. Distribuição do total de casos confirmados segundo a localização no município de Sorocaba período de 2000 a 2006. Localização Além Linha Além Ponte Arvore Grande Bairro Caguaçu Bairro Martins Cajuru Campolim Central Parque Centro Chac. Blanca Chac. Mansão Jd. Altos Do Itavuvu Jd. Do Sol Jd. Europa Jd. Magnólia Jd. Nova Esperança Jd. Paulistano Jd. Piratininga Jd. Santa Rosalia Jd. São Conrado Jd. São Guilherme III Jd. São Paulo Jd. Vera Cruz Lopes de Oliveira Mangal Pq. Três Meninos Quintais Do Imperador Angélica Assis Carol Carvalho Fiore Haro Helena Nova Sorocaba Progresso Santana Trujillo Granja Olga Barão Hortência Mª. Carmo Marcia Mendes Simus B. Tobias Escola Habiteto Mª Eugenia Vitoria Régia Bairro Dos Morros Aparecidinha Guaiba I São Marcos Jardini Barcelona Cerrado Éden Laranjeiras Mineirão Sorocaba I Sem informação Total 2000 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 7 2001 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 0 0 1 0 0 0 1 14 2002 1 1 2 1 0 1 1 2 2 0 0 2 1 2 1 1 1 1 0 1 1 1 2 3 4 1 1 1 1 1 2 1 2 3 2 1 2 2 2 1 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 61 2003 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 2 0 2 0 2 0 0 2 0 2 1 1 4 1 1 1 2 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 25 Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação -SINAN - 38 - 2004 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 2 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5 2005 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7 2006 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 11 0 0 0 5 0 0 0 13 3 0 0 0 5 0 0 2 5 3 11 7 1 8 0 5 1 0 0 0 0 0 5 8 1 3 2 5 0 106 no Total 1 1 2 1 1 1 1 2 2 1 1 2 1 2 1 4 2 1 3 1 1 1 2 15 4 1 1 8 1 1 2 15 8 3 5 1 12 2 2 6 6 8 13 9 5 14 1 7 3 1 1 1 1 1 5 8 2 4 2 5 6 225 A Tabela 8 e a Figura 8 demonstram a distribuição dos casos autóctones de dengue no ano de 2006. Tabela 8: Distribuição dos casos autóctones de dengue no município de Sorocaba, segundo as Unidades de Saúde no ano de 2006. Número de casos Porcentagem 10 23,3 Lopes de Oliveira 8 18,6 Cerrado 5 11,7 Barcelona 4 9,3 Escola 3 7,0 Maria Eugenia 3 7,0 Jd Simus 2 4,6 Márcia Mendes 2 4,6 Hortência 2 4,6 Maria do Carmo 1 2,3 Brigadeiro Tobias 1 2,3 Santana 1 2,3 Sorocaba 1 1 2,3 Total 43 100,0 Unidade de Saúde Fiore (%) a1 Soro cab San t ana iro T obi as Ca rm o Brig a de nci a M ari a do Hortê M árc ia M end e s Jd S imus nia Euge Maria Es co la Barc elo na Cerr ad o de O l iveir a Fi ore 12 10 8 6 4 2 0 Lo pe s Número de casos autóctones Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação – SINAN Figura 8: Distribuição dos casos autóctones segundo as Unidades de Saúde no ano de 2006. - 39 - DISCUSSÃO - 40 - A dengue é uma doença re-emergente de grande complexidade que tem como principal vetor o A.aegypti, um mosquito de hábito diurno, altamente domiciliar, e que desova tanto na área do peridomicílio quanto intradomicílio em coleções artificiais de água, ou seja, na água acumulada em vasos de flores, floreiras de cemitério, calhas de telhado, baldes, qualquer objeto que esteja exposto ao ambiente que possa armazenar água, desde caixas d’água abertas até tampinhas de garrafa plástica, entre outros. Sabe-se que com a urbanização houve o aumento de criadouros em potencial do mosquito vetor, devido a grande produção de materiais descartáveis que muitas vezes a própria população encaminha a um destino final inapropriado, como ocorre em alguns bairros de Sorocaba, que em períodos de chuva tornam-se grandes criadouros do A.aegypti podendo evoluir para focos de transmissão do vírus. Sorocaba é um município de grande porte, com fluxo migratório intenso, acelerada urbanização e apresenta condições favoráveis para a manutenção do ciclo. A estes fatores, somam-se as dificuldades técnicas-administrativas municipais, para o monitoramento do Controle Entomológico expressos pelos índices de Breteau, Predial e Recipiente que foi realizado de forma aleatória e impossibilita análise eficiente em cada área ao longo do ano, além de não atender as Normas de Recomendações Técnicas para Vigilância e Controle do A. aegypti no Estado de São Paulo (DCV, 2002), que preconiza a realização de procedimentos bimestrais em todas as áreas. Outro fator que também contribuiu para a deficiência no trabalho de controle entomológico é a reduzida equipe e alta rotatividade de recursos humanos, situação essa já relatada na literatura por Tauil, (2001) que aponta a redução dos recursos humanos e a contratação de pessoal de forma temporária, impossibilitando a manutenção de equipe com servidores treinados e experientes, reduzindo assim a qualidade da atividade e evidencia que as autoridades têm privilegiado ações emergenciais no combate de surtos e epidemias em vez de medidas de prevenção e luta contra o A. aegypti. Uma vez que a prioridade por ações emergenciais não é eficiente em surtos e epidemias, é necessário tornar a população consciente de sua responsabilidade com relação à produção de criadouros do mosquito A. aegypti, sendo imprescindível à mudança de hábitos simples como: vedação de caixas de água, evitar plantas aquáticas, manutenção adequada de piscinas, não eliminação de lixo em terrenos baldios, armazenamento de entulhos em quintais e pneus e outros objetos expostos ao meio ambiente, que possam armazenar água. Esta conscientização deve ser alvo das - 41 - autoridades municipais, estaduais e federais de forma contínua e não apenas em períodos epidêmicos, sendo de grande impacto, a utilização de meios de comunicação em massa e educação nas escolas. Em Sorocaba, a dengue encontra-se em áreas restritas, sendo possível evitar que a mesma torne-se uma doença endêmica, através de um trabalho sério com a reestruturação da Seção de Controle de Zoonoses em relação a recursos humanos suficientes para a população do município, treinados e capazes de promover campanhas de conscientização para a população, que será a grande aliada no controle entomológico, possibilitando a redução dos índices de Breteau e Predial a 1% como preconiza a OMS para redução da transmissão. - 42 - 6 CONCLUSÃO - 43 - A dengue é uma doença de grande preocupação para a saúde pública brasileira que não pode ser assistida apenas por ações emergenciais que não produzem grandes impactos na população, para a mudança de hábitos evitando o aparecimento de criadouros do A. aegypti. Na presença do A. aegypti, mesmo em níveis baixos de infestação em cidades fronteiriças, é praticamente impossível evitar a entrada do vírus por meio de portadores, pela pressão de regiões já infestadas (Região Metropolitana e Campinas). A provável despreocupação da população com relação a medidas preventivas, a falta de ações preventivas junto com a circulação de indivíduos infectados e fatores ambientais propícios promoveram no ano de 2006 o primeiro surto de dengue na cidade de Sorocaba, o que poderá vir a desencadear epidemias, já que possui uma população totalmente susceptível. Em Sorocaba embora tenha sido registrado casos de dengue em meses frios, o período sazonal é bastante evidente, mostrando que no primeiro semestre ocorreu maior incidência dos casos. Portanto, é de grande importância que as ações de combate ao vetor estejam presentes durante todo o ano, com ênfase no inverno para que o número de criadouros em potenciais no verão seja reduzido. Segundo o anexo A é observada a proximidade das Unidades de Saúde, onde se observa a disposição da dengue no ano de 2006. Nota-se que a doença está mais concentrada na região central, onde pode ser considerada a área mais urbanizada da cidade. É de grande importância uma intervenção mais atenciosa e eficiente nesta região para a eliminação de vetores infectados, para que não haja uma grande expansão da doença no município. É importante enfatizar que nem sempre o índice de infestação larvária apresenta correlação com a incidência de dengue, e que eventualmente há registros de transmissão na vigência de baixos índices de Breteau. Para obtenção do impacto epidemiológico esperado traduzido na regressão do número de casos, é de fundamental importância à integração da Vigilância Sanitária e Vigilância Epidemiológica nas estratégias de combate vetorial, detecção precoce de casos, solicitação das equipes, ampliação e continuidade das ações reforçadas por convênios, embasadas no conhecimento da situação da saúde municipal. Apesar dos casos notificados terem preenchido critério clínico de casos suspeitos de dengue, a maioria (82,9%) teve resultado negativo, demonstrando sensibilidade à - 44 - notificação, face à atuação da Vigilância Epidemiológica (local e regional) e dos agentes controladores de vetor. Os fatores abióticos como pluviosidade e temperatura possuem grande influência na incidência da doença, pois altas temperaturas e chuvas favorecem o aumento da população do mosquito vetor. Entretanto, em países tropicais onde as temperaturas baixas ocorrem apenas em um curto período de tempo, diminui a transmissão neste período, mas não a elimina. Atualmente, um fator muito importante com relação à evolução do ciclo da dengue é o aquecimento global, que provavelmente acarretará na eliminação do período sazonal e esta doença terá êxito durante o ano todo. O único elo frágil nesse ciclo é o mosquito vetor, e desta forma, enquanto não é descoberta uma vacina anti-dengue eficiente, que seria a maneira de erradicar a doença, a arma que temos é a luta contra o A. aegypti. É de grande importância a conscientização da população sorocabana sobre a situação da dengue no município para que haja a colaboração da mesma nesta batalha e que esta moléstia não se torne uma endemia. - 45 - 7 REFERÊNCIAS - 46 - ANDRIES, Susie. História da Dengue. Instituto virtual da dengue do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 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Fonte: Dados sobre a Atenção Básica em Sorocaba 1 1 3 5 11 2 3 13 5 5 5 2 2 3 5 7 5 5 11 8 1 8 5 Fonte: Dados sobre a atenção básica em Sorocaba (Prefeitura Municipal de Sorocaba, 2006). - 51 -