INSTITUTO ADOLFO LUTZ LABORATÓRIO REGIONAL DE

Propaganda
INSTITUTO ADOLFO LUTZ
LABORATÓRIO REGIONAL DE SOROCABA
Tatiane Balbo Batista
Dengue: estudo soroepidemiológico no município de Sorocaba-SP,
no período de 2000 a 2006
Sorocaba
2008
PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL
SECRETARIA DE ESTADO DA SAUDE
COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS
FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO - FUNDAP
Tatiane Balbo Batista
Dengue: estudo soroepidemiológico no município de Sorocaba-SP,
no período de 2000 a 2006
Monografia apresentada ao Programa de
Aprimoramento Profissional/CRH/SES-SP e
FUNDAP, elaborado no Instituto Adolfo
Lutz- Laboratório Regional de Sorocaba.
Área: Biologia Médica
Sorocaba
2008
Batista, Tatiane Balbo
Dengue: estudo soroepidemiológico no município de Sorocaba-SP, no
período de 2000 a 2006 / Tatiane Balbo Batista - Sorocaba, 2008.
50 f.
Trabalho e Conclusão de Curso - Instituto Adolfo Lutz – Laboratório
Regional de Sorocaba – Programa de Aprimoramento Profissional em
Imunossorologia em Saúde Pública.
Orientadora: PqC Kátia Maria de Souza Assumpção Carraro
1. Estudo retrospectivo 2. Estudo soroepidemiológico 3. Dengue
Aprimoranda: Tatiane Balbo Batista
Titulo: Dengue: estudo soroepidemiológico no município de Sorocaba-SP, no
período de 2000 a 2006
A banca examinadora do Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido
no Programa de Aprimoramento Profissional – PAP Imunossorologia em
Saúde Pública Realizado em 22/2/2008 considerou a candidata:
( X ) aprovado
( ) reprovado
1) Examinador(a): Maria do Carmo Antunes Macedo Meira
2) Examinador(a): Fabio Hiroto Shimabukuro
3) Presidente: Katia Maria de Souza Assumpção Carraro
AGRADECIMENTOS
A Enfermeira Consuelo Taciana Wanderley Matielo
Vigilância Epidemiológica Municipal de Sorocaba-SP, pelas informações dos
dados epidemiológicos.
A Diretora Técnica de Serviço de Saúde Sueli Yasumaro Diaz da SUCENSorocaba-SP, pelas informações dos Índices de Infestação Predial e Recipientes.
Ao Biólogo Fabiano Demétrio Zequetto da Seção de Zoonoses Municipal de
Sorocaba-SP, pelas informações entomológicas.
A Profª. Ms. Maria Andrade Pinheiro,pela análise estatística das informações.
RESUMO
A dengue é considerada a arbovirose mundialmente mais importante, que
afeta o homem em relação à morbidade e mortalidade, se tornando um sério
problema de saúde pública, particularmente, em países tropicais onde a
temperatura e a umidade favorecem a proliferação do mosquito vetor. As
epidemias explosivas são características da dengue clássica, entretanto com a
circulação simultânea de mais de um sorotipo do vírus, pode haver a forma
hemorrágica da doença, principalmente em grandes centros urbanos. No
período de 2000 a 2006 foi realizado um estudo retrospectivo dos casos
notificados e confirmados de dengue no município de Sorocaba, tais dados
foram obtidos na Vigilância Epidemiológica Municipal, Centro de Zoonoses e
SUCEN, utilizando respectivamente o SINAN, relatórios de Índice de Breteau e
Índice de Infestação Predial. A análise estatística foi realizada no software
BioEstat 2.0. No período de estudo, foram notificados 1315 casos, destes, 225
foram confirmados sendo 43, identificados como casos autóctones. Todos os
casos confirmados foram classificados como dengue clássica. A faixa etária
atingiu indivíduos menores de 1 ano até maiores de 80, tendo significância
estatística a faixa de 20 à 49 anos. Com relação ao sexo, 128 são do sexo
masculino e 97 do feminino não havendo significância estatística para este
indicador. Não sendo possível evitar casos de dengue no município de
Sorocaba, infestado pelo Aedes aegypti, é possível prevenir surtos por meio da
intensificação das atividades de controle vetorial e programas de educação de
abrangência popular, utilizando meios de comunicação em massa como uma
das principais estratégias.
Palavras Chaves: Dengue; Estudo retrospectivo; Estudo soro-epidemiológico.
ABSTRACT
Dengue is considered the most important worldwide mosquito-borne viral disease,
which affect the man with regard to the morbidity and mortality, causing a serious
problem of public health, particularly, in tropical countries where the temperature
and the humidity favor the proliferation of the mosquito vector. The explosive
epidemics are characteristic of the classical dengue, however with the
simultaneous circulation of more than on serotypes of the virus it can be the
hemorrhagic form of the disease, mainly in big urban centers. In the period from
2000 to 2006 was achieved a retrospective study about some notified and
confirmed cases of dengue in Sorocaba, whose dates were obtained at Municipal
Epidemiologist Vigilance, centre of Zoonoses and SUCEN using ,respectively,
the SINAN, reports of index of Breteau and index of land infestation. The statistic
analyses were achieved at the BioEstat 2.0 software. In the period of study were
notified 1315 cases and 225 of these were confirmed and 43 identified as
autoctone. All the confirmed cases have been classified as classical dengue. The
ages reached people between 1 year old and over 80, being the ages with
significant statistic were from 20 to 49 years old. With regard to the sex, 128
belong to the masculine sex and 97 are feminine, but there wasn’t significant
statistic for this point. It’s not possible to avoid Aedes aegypti, but it’s possible to
prevent outbreaks, through the intensification of vectorial control activities and
education programs, using massive medias as one of the main strategies.
WordKeys: Dengue; Retrospective study; Epidemiologist study.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1:
Distribuição dos casos importados de dengue no período de
2000 a 2006 ...............................................................................
Figura 2:
32
Migração de casos de dengue das cidades fronteiriças com
Sorocaba...................................................................................
32
Figura 3:
Distribuição de casos confirmados segundo a faixa etária.......
33
Figura 4:
Distribuição sazonal do número total de casos confirmados de
dengue no município de Sorocaba no período de 2000 a
2006...........................................................................................
35
Figura 5:
Distribuição do Índice de Breteau no período de 2002 a 2006
35
Figura 6:
Distribuição do Índice de Predial no período de 2002 a 2006
36
Figura 7:
Distribuição do Índice de Recipientes no período de 2002 a
2006..........................................................................................
Figura 8:
36
Distribuição dos casos autóctones segundo as unidades de
saúde no ano de 2006...............................................................
39
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.
Distribuição dos casos de dengue segundo o ano de
notificação........................................................................... 30
Tabela 2.
Distribuição dos casos confirmados segundo critério
laboratorial e vinculo epidemiológico.................................. 30
Tabela 3.
Distribuição dos casos importados de dengue no período
de 2000 a 2006 ........................................................................ 31
Tabela 4.
Distribuição de casos confirmados segundo o sexo..........
Tabela 5.
Distribuição
sazonal
do
número
total
de
33
casos
confirmados de dengue no município de Sorocaba no
período de 2000 a 2006....................................................
Tabela 6.
Sintomas mais freqüentes dos casos confirmados de
dengue...............................................................................
Tabela 7.
34
37
Distribuição do total de casos confirmados segundo a
localização no município..................................................... 38
Tabela 8.
Distribuição dos casos autóctones segundo as unidades
de Saúde no ano de 2006..................................................
39
LISTA DE ABREVIATURAS
A. aegypti
= Aedes aegypti
A. albopictus
= Aedes albopictus
DC
= Dengue Clássica
DCV
= Diretoria de Combate a Vetores
DEN - 1
= Sorotipo 1 do vírus da dengue
DEN - 2
= Sorotipo 2 do vírus da dengue
DEN - 3
= Sorotipo 3 do vírus da dengue
DEN – 4
= Sorotipo 4 do vírus da dengue
FHD
= Febre Hemorrágica do Dengue
FUNASA
= Fundação Nacional de Saúde
IAL
= Instituto Adolfo Lutz
IBGE
= Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OMS
= Organização Mundial da Saúde
SCD
= Síndrome do Choque do Dengue
SES
= Secretaria Estadual da Saúde
SINAN
= Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SUCEN
= Superintendência de Controle de Endemias
WHO
= Word Health Organization
SUMÁRIO
1
Introdução...............................................................................
19
2
Objetivo...................................................................................
25
3
Materiais e Métodos................................................................
27
4
Resultados..............................................................................
29
5
Discussão................................................................................
40
6
Conclusão...............................................................................
43
7
Referências...............................................................................
46
8
Anexos......................................................................................
50
1INTRODUÇÃO
- 19 -
A dengue é considerada a arbovirose mundialmente mais importante, que afeta o
homem com relação à morbidade e mortalidade (BRAGA et al., 2004; COLLIN, 2005;
FONSECA & FIGUEIREDO, 2005). Sua incidência aumentou drasticamente nas últimas
décadas tornando-se endêmica na África, nas Américas exceto a do Norte, Ásia e
Pacífico (WHO, 2007). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 2,5
milhões de indivíduos correm o risco de contrair a doença e 50 milhões de pessoas
infectam-se anualmente, observando assim, sua grande importância na Saúde Pública
Mundial (WHO, 2007).
A dengue é uma doença infecciosa febril aguda que pode evoluir até quadros de
hemorragia e choque, podendo levar ao óbito. É causada por um vírus que pertence ao
gênero Flavivírus, família Flaviviridae, possui quatro sorotipos distintos, sendo
classificado como DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4 (ANDRIES, 2007; CASALI et al.,
2004; FRANÇA, 2007; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; GULBER, 2002; PEREIRA &
SANTUCCIO, 2000/2001). Epidemiologicamente, este flavivírus possuem a capacidade
de replicar em diferentes organismos, mostrando enorme potencial de adaptação a tipos
celulares diversos (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005).
A forma clássica da doença possui geralmente como característica febre alta (39º
C a 40°C) de início abrupto, cefaléia, mialgia, artralgia, vômito, anorexia, podendo
também aparecer um exantema intenso em pequenas áreas da pele (FONSECA &
FIGUEIREDO, 2005, TUBOI et al., 2002). Em pacientes adultos pode levar à
hemorragias, tais como sangramento gastrointestinal, hematúria, metrorragia, petéquias,
epistaxe e gengivorragia. A doença tem duração de cinco a sete dias havendo o
desaparecimento dos sintomas após este período (TUBOI et al., 2002). A dengue
hemorrágica possui sintomas iniciais semelhantes à dengue clássica, porém, com
evolução rápida para manifestação hemorrágica ou choque. Nos casos graves, o
choque ocorre entre o terceiro e quarto dia da doença, com duração curta, podendo
levar ao óbito em 12 a 24 horas ou à recuperação rápida após terapia adequada
(CASALI et al., 2004; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; FRANÇA, 2007; PEREIRA &
SANTUCCIO, 2000/2001; TUBOI, 2002).
A primeira descrição de uma epidemia de dengue ocorreu entre 1779 e 1780 em
um surto nos Estados Unidos. Durante o século XIX ocorreram epidemias no continente
africano e asiático, indicando que o vírus e seu vetor tiveram cerca de 200 anos para se
adaptar e expandir (ANDRIES, 2007; COLLIN, 2 005; FONSECA & FIGUEIREDO,
2005). Em 1906 Bancrof, descobriu que o vírus do dengue era transmitido pelo mosquito
- 20 -
Aedes aegypti, o mesmo vetor da febre amarela urbana (ANDRIES, 2007; FONSECA &
FIGUEIREDO, 2005).
Até o fim da década de 40 a dengue era considerada uma doença febril aguda
benigna e tinha importância devido à suas epidemias explosivas acometendo
temporariamente milhares de pessoas (COLLIN, 2005; FONSECA & FIGUEIREDO,
2005). A partir de 1954 caracteriza-se por hemorragias graves e ou choque provocando
a morte em 40% dos enfermos, tornando-se endêmica ou epidêmica, produzindo
milhares de óbitos em muitas partes do planeta (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005) .
Durante os anos 80, no sudeste asiático houve grandes epidemias de dengue
hemorrágica, devido à circulação de múltiplos sorotipos do vírus, acometendo
principalmente crianças e adolescentes, sendo considerada uma das principais causas
de mortalidade infantil naquela região (ANDRIES, 2007; DONALISMO, 1999; FONSECA
& FIGUEIREDO, 2005).
Desde o século XIX a dengue encontra - se no continente americano, nas
cidades portuárias do Caribe, na América do Norte, Central e Sul, porém sua etiologia
era desconhecida (HALSTEAD, 2006). Em 1963 e 1964 foi relatada a primeira epidemia
de dengue confirmada em laboratório no continente Americano, sendo o DEN-3 isolado
no Caribe e na Venezuela. Nesta mesma, região na década de 50, houve o isolamento
do DEN-2 que foi o responsável por alguns casos isolados. No fim da década de 60
ocorreram epidemias na região do Caribe, pelos sorotipos DEN-2 e DEN-3 (ANDRIES,
2007).
Na década de 70 o DEN-1 chegou às Américas expandindo-se para as Ilhas
Caribenhas, e durante a década de 80 há registros de epidemias explosivas em: El
Salvador, Guatemala, México, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana Francesa,
Belize, Honduras e Guiana (ANDRIES, 2007; DONALISMO, 1999). O episódio mais
importante neste continente foi em 1981 com a primeira epidemia de dengue
hemorrágica em Cuba desencadeada pelo DEN-2, hospitalizando 116.151 pacientes,
com 158 óbitos em sua maioria crianças (ANDRIES, 2007; FONSECA & FIGUEIREDO,
2005; SCHATZMAYR, 2000).
No Brasil os primeiros indícios de dengue ocorreram no século XIX nos estados
do nordeste, sudeste e sul do país. Os sanitaristas Emilio Ribas (1903) e Oswaldo Cruz
(1904) iniciaram a campanha para erradicação do A. aegypti para combater a febre
amarela urbana, mas somente com o auxílio da Fundação Rockefeller a campanha
atingiu todo o território brasileiro, culminando com a erradicação do mosquito, livrando o
- 21 -
país das epidemias de dengue entre o período de 1923 a 1981 (FONSECA &
FIGUEIREDO, 2005). O primeiro indício de re-introdução do A. aegypti ocorreu em 1967
no estado do Pará e, posteriormente, na cidade de Salvador em 1976, culminando com
a disseminação do vetor pelo território brasileiro. (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005;
FUNASA, 2001; TAUIL, 2002).
O A. aegypti, vetor mais importante da dengue no Brasil, é nativo da África e foi
introduzido no país provavelmente pelo tráfico negreiro. Aqui encontrou ambiente
propício à sua sobrevivência e reprodução, expandindo-se geograficamente por grande
parte do território (PENA, 2003). Este mosquito vive no interior de residências e possui
grande antropofilia. As fêmeas têm atividade hematofágica diurna e utilizam ambientes
artificiais com água parada e limpa para desovar. Devido a seus hábitos ecológicos, a
urbanização facilitou o aumento da população, pois houve o crescimento dos ambientes
artificiais (COSTA, 2007; FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; SCHATZMAYR, 2000).
O A. albopictus, outro transmissor da dengue, é nativo da Ásia é encontrado no
Brasil desde 1985, habitando ambientes rurais, urbanos e semi-urbanos. Faz suas
desovas tanto em ambientes naturais como artificiais e durante seu ciclo gonotrófico, a
fêmea faz hematofagia em varias espécies de animais, aumentando desta forma a
possibilidade de transmissão da infecção para vários hospedeiros vertebrados (NETO et
al., 2002). Este vetor, na Ásia, é responsável pela manutenção do ciclo silvestre, pela
transmissão da dengue na zona rural e o secundário na zona urbana. O A. albopictus,
no Brasil, não possui importância epidemiológica na transmissão da dengue, porém, ele
é considerado um vetor em potencial tanto, para dengue como para a febre amarela
(NETO et al., 2002).
A re-emergência da dengue no Brasil ocorreu através de um surto em 1981/1982
no estado de Roraima causadas pelos DEN-1 e DEN-4. Em 1986, no estado do Rio de
Janeiro houve a introdução do DEN-1, ocasionando uma grande epidemia de dengue
clássica, que acometeu cerca de 1 milhão de pessoas. Esta epidemia tomou grandes
proporções e expandiu-se geograficamente para os estados do Ceará, Alagoas,
Pernambuco, Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro
(FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; PEREIRA & SANTUCCIO, 2000/20001). Em 1990,
devido à introdução do DEN-2, ocorreu um surto de dengue hemorrágica (FHD/SCD) no
estado do Rio de Janeiro atingindo cerca de 300 pessoas, não se conhecendo ao certo
o número real de óbitos (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005). O DEN-2 encontra-se
- 22 -
circulante no Ceará, Bahia, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo (PEREIRA &
SANTUCCIO, 2000/2001).
As epidemias de 2001 e 2002 que ocorreram no estado do Rio de Janeiro teve
um fator agravante, que foi a introdução do DEN-3 no país. Nesta epidemia houve a
circulação dos vírus DEN-1, DEN-2 e DEN-3 e foram notificados 800.0000 casos de
dengue clássica, sendo 270 casos de dengue hemorrágica e destes, 150 óbitos
(FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; CASALI et al., 2004). Acredita-se que com a
reinfecção por sorotipos diferentes exista maior probabilidade de ocorrer a dengue
hemorrágica ou o choque (FONSECA & FIGUEIREDO, 2005; PEREIRA & SANTUCCIO,
2000/2001; HAESTEAD, 2006), tornando-se por este motivo, um grave problema de
saúde pública para o Brasil (NOGUEIRA et al., 2001).
No estado de São Paulo a infestação do A. aegypti foi notada em 1985, como
levantamento da fauna culicidae, a qual teve uma expansão progressiva e rápida
proporcionando surtos de dengue nas cidades do oeste e noroeste do estado. Em 1990
foi notada a infestação em 312 cidades pelo A.aegypti e ou A.albopictus que,
posteriormente no ano de 1994, atingiu 564 cidades (DONALISMO,1999).
Com a
infestação do estado pelo vetor, em 1987 houve os primeiros casos de dengue
autóctones, com surtos rápidos e controlados. Em 1990, a dengue voltou de forma
epidêmica na região oeste dando força para a circulação do vírus (DONALISMO, 1999).
Em 1998, concentrou-se na região norte e centro-oeste, mas houve a expansão das
epidemias para região leste e Baixada Santista. A Grande São Paulo teve sua primeira
transmissão em 2001, havendo grande dificuldade no controle do vetor devido à
urbanização desenfreada da cidade. Nos anos de 2001 e 2002 houve um aumento na
incidência da doença, que com a circulação dos sorotipos DEN-1, DEN-2 e DEN-3
aumentaram as chances de epidemias de dengue hemorrágica no estado de São Paulo.
A população de A. aegypti até 2005 estava distribuída por 498 municípios paulistas
onde vivem 85% da população do estado, dos quais em 60% já ocorreu registros de
casos autóctones da doença (SES, 2005) .
O município de Sorocaba está localizado na região sudoeste do estado de São
Paulo, a 96 quilômetros da capital, com área total de 449 Km² e uma população em
2007, de 559.157 habitantes (IBGE, 2007). Sendo, atualmente, um grande pólo
industrial do estado, a cidade gera grande fluxo de migração. Considerando a fácil
transmissão, susceptibilidade da população sorocabana, a gravidade da dengue e os
- 23 -
fatores ambientais para a proliferação do vetor, o estudo soroepidemiológico reveste-se
de grande importância para avaliar a situação desta arbovirose no município.
- 24 -
2 OBJETIVO
- 25 -
Por tratar-se de um estudo retrospectivo, é de grande interesse como estímulo
ao conhecimento, verificar o perfil soroepidemiológico da dengue no município de
Sorocaba-SP no período de 2000 a 2006, procurando responder ou identificar as
seguintes questões:
1. Quantificar o número de casos notificados positivos e classificá-los em
autóctones ou importados.
2. Nos casos confirmados, identificar os sintomas mais freqüentes.
3. Relacionar os bairros com maior número de casos
4. Relacionar os bairros com maior densidade do vetor e classificá-los segundo
o risco de transmissão.
5. Analisar o período sazonal da doença nos anos de 2000 a 2006.
- 26 -
3 MATERIAL E MÉTODOS
- 27 -
Foram incluídos no estudo os casos notificados no Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (SINAN) no período de 01 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro
de 2006, encaminhados pela Vigilância Epidemiológica Municipal de Sorocaba.
Os exames foram realizados no Instituto Adolfo Lutz (IAL) Laboratório Regional de
Sorocaba, os testes sorológicos foram realizados através de kits comerciais para a
detecção de anticorpos IgM. Os testes complementares de inibição de hemaglutinação e
MACElisa durante o período de estudo foram encaminhados ao IAL Central.
As análises estatísticas dos dados epidemiológicos foram realizadas no software
Bioestat 2.0, sendo utilizado o teste T.
Os dados de vigilância entomológica foram fornecidos pela Seção de Controle de
Zoonoses da Secretaria da Saúde do município e pela Superintendência de Controle de
Endemias (SUCEN) de Sorocaba.
- 28 -
4 RESULTADOS
- 29 -
No período estudado, 01 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2006,
foram notificados 1315 casos de dengue, e destes, 225 (17,1%) foram
confirmados e 43 identificados como casos autóctones (Tabela 1).
A Tabela 2 apresenta o número de casos confirmados por critério
laboratorial e ou vínculo epidemiológico.
Tabela 1. Distribuição dos casos de dengue notificados e confirmados no
município de Sorocaba, segundo o ano de notificação.
Ano
Notificados
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Total
24
85
440
121
56
79
510
1315
Confirmados
Importados
Autóctones
7
0
14
0
61
0
25
0
5
0
7
0
63
43
182
43
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação- SINAN
Tabela 2. Distribuição dos casos confirmados de dengue no município de
Sorocaba, segundo critério laboratorial e vínculo epidemiológico.
Ano
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Total
Laboratorial
7
13
58
24
5
7
99
213
Epidemiológico
0
1
3
1
0
0
7
12
Total
7
14
61
25
5
7
106
225
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação -SINAN
Os casos importados no município procederam de todas as regiões brasileiras,
confirmando a grande distribuição da dengue no território nacional. O estado que
contribuiu com maior migração de casos foi São Paulo e originados das seguintes
cidades: Araçatuba, Araçoiaba da Serra, Barueri, Campinas, Capela do Alto, Guarujá,
Ilha Comprida, Ilhabela, Iperó, Itapevi, Jandira, Osasco, Porto Feliz, Praia Grande,
Ribeirão Preto, Rio Claro, Santos, São José do Rio Preto, São Paulo, São Sebastião,
São Vicente e Votorantim. Importante relatar que das cidades citadas, cinco são
fronteiriças e outras seis estão localizadas em média a 100 quilômetros de Sorocaba
(Tabela 3 e Figuras 1 e 2).
- 30 -
Tabela 3. Distribuição dos casos importados, segundo o estado e a número de
municípios de onde procederam os casos importados para o município
de Sorocaba, no período de 2000 a 2006.
Estado
Sigla
Quantidade
Roraima
RO
1
Amanozanas
AM
1
Pará
PA
5
Amampá
AP
1
Maranhão
MA
3
Ceará
CE
3
Rio Grande do Norte
RN
2
Paraíba
PB
4
Pernanbuco
PE
2
Alagoas
AL
1
Sergipe
SE
1
Bahia
BA
4
Minas Gerais
MG
3
Rio de Janeiro
RJ
3
São Paulo
SP
22
Parana
PR
1
Mato Grosso do Sul
MS
2
Mato Grosso
MT
2
Goias
GO
1
Bolivia
1
Total
63
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN
- 31 -
25
20
15
10
5
Boliv
ia
GO
MT
MS
PR
SP
RJ
MG
BA
SE
AL
PE
PB
RN
CE
MA
AP
PA
AM
RO
0
Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação - SINAN
Figura 1: Distribuição dos casos importados de dengue no período de 2000 a 2006.
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN
Figura 2. Migração de casos de dengue das cidades fronteiriças com Sorocaba.
No período do estudo, dos 225 casos confirmados na cidade de Sorocaba, 128
(56,9%) são do sexo masculino e 97 (43,1%) feminino, não havendo significância
estatística entre os sexos, segundo o teste T (p= 0,0733 para os homens e 0,0746 para
as mulheres) - Tabela 4.
- 32 -
Tabela 4. Distribuição de casos confirmados de dengue no município de
Sorocaba, segundo o sexo.
Ano
Masculino
Feminino
Total
2000
4
3
7
2001
9
5
14
2002
36
25
61
2003
16
9
25
2004
2
3
5
2005
2
5
7
2006
59
47
106
Total
128
97
225
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN
Com relação à faixa etária a distribuição da doença foi ampla atingindo desde
crianças menores de 1 ano até indivíduos com mais de 80 anos, sendo as faixas com
maior número de casos entre 20 a 34 anos e de 35 a 49 anos (Figura 3) . De acordo
com o teste T (10%), as faixas etárias de 20 a 34 anos (p=0,0812), 35 a 49 anos
(p=0,0696) e teste T (5%) no intervalo de 50 a 64 anos (p=0,0398), as três faixas
apresentaram significância estatística demonstrando que foram mais expostas aos
mosquitos vetor, provavelmente devido suas atividades profissionais ou por haver focos
próximos ou nas suas residências, pois o A. aegypti possui habito intra-domiciliar.
45
N° de Casos confirmados
40
35
2000
30
2001
25
2002
2003
20
2004
15
2005
10
2006
5
Idade
0
< 1 ano
1a4
5a9
10 a 14
15 a 19
20 a 34
35 a 49 50 a 64
65 a 79
80 e +
Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação - SINAN
Figura 3. Distribuição de casos confirmados segundo a faixa etária.
- 33 -
A Tabela 5 e a Figura 4 mostram o período sazonal da doença com a distribuição
dos casos de dengue ao longo dos meses, evidenciando ampliação do período de
transmissão, com maior número de casos no primeiro semestre de todos os anos.
No período estudado, os anos que mais se destacaram foram o de 2002 com
grande quantidade de casos confirmados, porém, importados, e o de 2006 com o maior
número de casos confirmados e a ocorrência dos primeiros casos autóctones. É
importante notar que no ano de 2006 houve a confirmação de casos quase o ano todo,
destacando-se os meses de abril (n= 36) e maio (n= 44) considerados meses mais frios.
Tabela 5: Distribuição sazonal do número total de casos confirmados de dengue
no município de Sorocaba no período de 2000 a 2006.
Ano
Números de caso por mês
Jan Fev
Mar Abr
Mai Jun Jul Ago Set
Out Nov
Dez
Total
2000
1
2
2
1
0
0
0
0
0
0
0
1
7
2001
0
0
8
0
3
0
2
0
0
1
0
0
14
2002
14
19
7
10
5
2
4
0
0
0
0
0
61
2003
4
6
8
0
2
2
0
1
0
1
1
0
25
2004
0
2
1
1
1
0
0
0
0
0
0
0
5
2005
1
0
0
1
0
2
1
1
0
0
1
0
7
2006
1
0
9
36
44
7
1
4
0
2
2
0
106
Total
21
29
35
49
55
13
8
6
0
Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação - SINAN
4
4
1
225
- 34 -
45
Número de casos
40
35
2000
30
2001
25
2002
20
2003
15
2004
10
2005
5
2006
D ez
N ov
Out
S et
A go
J ul
Jun
Mai
Abr
Mar
F ev
Jan
0
Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação - SINAN
Figura 4. Distribuição sazonal do número total de casos confirmados de
dengue no município de Sorocaba, no período de 2000 a 2006.
As Figuras 5, 6 e 7 demonstram a Vigilância Entomológica expressa,
respectivamente pelos Índices de Breteau, Predial e Recipientes, realizada na cidade
de Sorocaba no período de 2002 a 2006, evidenciando a irregularidade do
monitoramento em discordância ao preconizado pelo Programa de Combate ao Vetor,
que prevê pesquisa em todas as áreas a cada dois meses.
Referentes ao ano de 2000 e 2001 não há registros de dados do controle
entomológico.
Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação – SINAN
Nota: Este gráfico foi produzido com a média dos pontos.
Figura 5. Distribuição do Índice de Breteau no período de 2002 a 2006.
- 35 -
Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação – SINAN
Nota: Este gráfico foi produzido com a média dos pontos.
Figura 6. Distribuição do Índice Predial no período de 2002 a 2006.
Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação – SINAN
Nota: Este gráfico foi produzido com a média dos pontos.
Figura 7. Distribuição do Índice de Recipientes no período de 2002 a 2006.
A Tabela 6 apresenta os sintomas mais freqüentes nos 225 casos de dengue
confirmados, segundo a Ficha de Notificação Compulsória.
- 36 -
Tabela 6. Sintomas mais freqüentes dos casos confirmados de dengue, no
município de Sorocaba no período de 2000 a 2006.
Sintomas
Presente
Porcentagem
(%)
Febre
223
99,1
Mialgia
199
88,4
Cefaléia
193
85,8
Prostação
193
85,8
Artralgia
160
71,1
Náuses/ Vômito
157
69,8
Dor Retro-Orbitária
148
65,8
Exantema
110
48,9
Diarréia
57
25,3
Dor abdominal intensa
41
18,2
Choque Hipovolêmico
13
5,8
Epistaxe
11
4,8
Petéquias
7
3,1
Hematuria
6
2,7
Hipotensão Arterial/
Postural
4
1,7
Gengivorragia
3
1,3
Metrorragia
2
0,8
Ascite
1
0,4
Hepatomegalia Dolorosa
1
0,4
Sangramento
0
0,0
Derrame Pleural
0
0,0
Derrame Pericárdico
0
0,0
Miocardite
0
0
Manifestações
Neurológicas
0
0
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN
A Tabela 7 e o Anexo A apresentam a distribuição dos casos
confirmados de dengue nas regiões do município sorocabano, destacando a
proximidade das localidades e as que apresentam maior número de casos
confirmados.
- 37 -
Tabela 7. Distribuição do total de casos confirmados segundo a localização no município de Sorocaba
período de 2000 a 2006.
Localização
Além Linha
Além Ponte
Arvore Grande
Bairro Caguaçu
Bairro Martins
Cajuru
Campolim
Central Parque
Centro
Chac. Blanca
Chac. Mansão
Jd. Altos Do Itavuvu
Jd. Do Sol
Jd. Europa
Jd. Magnólia
Jd. Nova Esperança
Jd. Paulistano
Jd. Piratininga
Jd. Santa Rosalia
Jd. São Conrado
Jd. São Guilherme III
Jd. São Paulo
Jd. Vera Cruz
Lopes de Oliveira
Mangal
Pq. Três Meninos
Quintais Do Imperador
Angélica
Assis
Carol
Carvalho
Fiore
Haro
Helena
Nova Sorocaba
Progresso
Santana
Trujillo
Granja Olga
Barão
Hortência
Mª. Carmo
Marcia Mendes
Simus
B. Tobias
Escola
Habiteto
Mª Eugenia
Vitoria Régia
Bairro Dos Morros
Aparecidinha
Guaiba I
São Marcos
Jardini
Barcelona
Cerrado
Éden
Laranjeiras
Mineirão
Sorocaba I
Sem informação
Total
2000
0
0
0
0
1
0
0
0
0
1
1
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
3
7
2001
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
2
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
3
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
1
1
1
1
0
0
1
0
0
0
1
14
2002
1
1
2
1
0
1
1
2
2
0
0
2
1
2
1
1
1
1
0
1
1
1
2
3
4
1
1
1
1
1
2
1
2
3
2
1
2
2
2
1
1
1
1
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
61
2003
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
0
0
1
2
0
2
0
2
0
0
2
0
2
1
1
4
1
1
1
2
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
25
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação -SINAN
- 38 -
2004
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
0
0
0
2
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
5
2005
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
1
0
1
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
3
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
7
2006
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
0
0
0
0
0
0
0
11
0
0
0
5
0
0
0
13
3
0
0
0
5
0
0
2
5
3
11
7
1
8
0
5
1
0
0
0
0
0
5
8
1
3
2
5
0
106
no
Total
1
1
2
1
1
1
1
2
2
1
1
2
1
2
1
4
2
1
3
1
1
1
2
15
4
1
1
8
1
1
2
15
8
3
5
1
12
2
2
6
6
8
13
9
5
14
1
7
3
1
1
1
1
1
5
8
2
4
2
5
6
225
A Tabela 8 e a Figura 8 demonstram a distribuição dos casos autóctones de
dengue no ano de 2006.
Tabela 8: Distribuição dos casos autóctones de dengue no município de
Sorocaba, segundo as Unidades de Saúde no ano de 2006.
Número de
casos
Porcentagem
10
23,3
Lopes de Oliveira
8
18,6
Cerrado
5
11,7
Barcelona
4
9,3
Escola
3
7,0
Maria Eugenia
3
7,0
Jd Simus
2
4,6
Márcia Mendes
2
4,6
Hortência
2
4,6
Maria do Carmo
1
2,3
Brigadeiro Tobias
1
2,3
Santana
1
2,3
Sorocaba 1
1
2,3
Total
43
100,0
Unidade de Saúde
Fiore
(%)
a1
Soro
cab
San t
ana
iro T
obi as
Ca rm
o
Brig a
de
nci a
M ari
a do
Hortê
M árc
ia M
end e
s
Jd S
imus
nia
Euge
Maria
Es co
la
Barc
elo na
Cerr
ad o
de O
l iveir
a
Fi ore
12
10
8
6
4
2
0
Lo pe
s
Número de casos autóctones
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN
Fonte: Sistema de Informações de Agravos de Notificação – SINAN
Figura 8: Distribuição dos casos autóctones segundo as Unidades de
Saúde no ano de 2006.
- 39 -
DISCUSSÃO
- 40 -
A dengue é uma doença re-emergente de grande complexidade que tem como
principal vetor o A.aegypti, um mosquito de hábito diurno, altamente domiciliar, e que
desova tanto na área do peridomicílio quanto intradomicílio em coleções artificiais de
água, ou seja, na água acumulada em vasos de flores, floreiras de cemitério, calhas de
telhado, baldes, qualquer objeto que esteja exposto ao ambiente que possa armazenar
água, desde caixas d’água abertas até tampinhas de garrafa plástica, entre outros.
Sabe-se que com a urbanização houve o aumento de criadouros em potencial
do mosquito vetor, devido a grande produção de materiais descartáveis que muitas
vezes a própria população encaminha a um destino final inapropriado, como ocorre em
alguns bairros de Sorocaba, que em períodos de chuva tornam-se grandes criadouros
do A.aegypti podendo evoluir para focos de transmissão do vírus.
Sorocaba é um município de grande porte, com fluxo migratório intenso,
acelerada urbanização e apresenta condições favoráveis para a manutenção do ciclo. A
estes fatores, somam-se as dificuldades técnicas-administrativas municipais, para o
monitoramento do Controle Entomológico expressos pelos índices de Breteau, Predial e
Recipiente que foi realizado de forma aleatória e impossibilita análise eficiente em cada
área ao longo do ano, além de não atender as Normas de Recomendações Técnicas
para Vigilância e Controle do A. aegypti no Estado de São Paulo (DCV, 2002), que
preconiza a realização de procedimentos bimestrais em todas as áreas.
Outro fator que também contribuiu para a deficiência no trabalho de controle
entomológico é a reduzida equipe e alta rotatividade de recursos humanos, situação
essa já relatada na literatura por Tauil, (2001) que aponta a redução dos recursos
humanos e a contratação de pessoal de forma temporária, impossibilitando a
manutenção de equipe com servidores treinados e experientes, reduzindo assim a
qualidade da atividade e evidencia que as autoridades têm privilegiado ações
emergenciais no combate de surtos e epidemias em vez de medidas de prevenção e
luta contra o A. aegypti.
Uma vez que a prioridade por ações emergenciais não é eficiente em surtos e
epidemias, é necessário tornar a população consciente de sua responsabilidade com
relação à produção de criadouros do mosquito A. aegypti, sendo imprescindível à
mudança de hábitos simples como: vedação de caixas de água, evitar plantas
aquáticas, manutenção adequada de piscinas, não eliminação de lixo em terrenos
baldios, armazenamento de entulhos em quintais e pneus e outros objetos expostos ao
meio ambiente, que possam armazenar água. Esta conscientização deve ser alvo das
- 41 -
autoridades municipais, estaduais e federais de forma contínua e não apenas em
períodos epidêmicos, sendo de grande impacto, a utilização de meios de comunicação
em massa e educação nas escolas.
Em Sorocaba, a dengue encontra-se em áreas restritas, sendo possível evitar
que a mesma torne-se uma doença endêmica, através de um trabalho sério com a
reestruturação da Seção de Controle de Zoonoses em relação a recursos humanos
suficientes para a população do município, treinados e capazes de promover
campanhas de conscientização para a população, que será a grande aliada no controle
entomológico, possibilitando a redução dos índices de Breteau e Predial a 1% como
preconiza a OMS para redução da transmissão.
- 42 -
6 CONCLUSÃO
- 43 -
A dengue é uma doença de grande preocupação para a saúde pública brasileira
que não pode ser assistida apenas por ações emergenciais que não produzem grandes
impactos na população, para a mudança de hábitos evitando o aparecimento de
criadouros do A. aegypti.
Na presença do A. aegypti, mesmo em níveis baixos de infestação em cidades
fronteiriças, é praticamente impossível evitar a entrada do vírus por meio de portadores,
pela pressão de regiões já infestadas (Região Metropolitana e Campinas). A provável
despreocupação da população com relação a medidas preventivas, a falta de ações
preventivas junto com a circulação de indivíduos infectados e fatores ambientais
propícios promoveram no ano de 2006 o primeiro surto de dengue na cidade de
Sorocaba, o que poderá vir a desencadear epidemias, já que possui uma população
totalmente susceptível.
Em Sorocaba embora tenha sido registrado casos de dengue em meses frios, o
período sazonal é bastante evidente, mostrando que no primeiro semestre ocorreu
maior incidência dos casos. Portanto, é de grande importância que as ações de
combate ao vetor estejam presentes durante todo o ano, com ênfase no inverno para
que o número de criadouros em potenciais no verão seja reduzido.
Segundo o anexo A é observada a proximidade das Unidades de Saúde, onde se
observa a disposição da dengue no ano de 2006. Nota-se que a doença está mais
concentrada na região central, onde pode ser considerada a área mais urbanizada da
cidade. É de grande importância uma intervenção mais atenciosa e eficiente nesta
região para a eliminação de vetores infectados, para que não haja uma grande
expansão da doença no município.
É importante enfatizar que nem sempre o índice de infestação larvária apresenta
correlação com a incidência de dengue, e que eventualmente há registros de
transmissão na vigência de baixos índices de Breteau.
Para obtenção do impacto epidemiológico esperado traduzido na regressão do
número de casos, é de fundamental importância à integração da Vigilância Sanitária e
Vigilância Epidemiológica nas estratégias de combate vetorial, detecção precoce de
casos, solicitação das equipes, ampliação e continuidade das ações reforçadas por
convênios, embasadas no conhecimento da situação da saúde municipal.
Apesar dos casos notificados terem preenchido critério clínico de casos suspeitos
de dengue, a maioria (82,9%) teve resultado negativo, demonstrando sensibilidade à
- 44 -
notificação, face à atuação da Vigilância Epidemiológica (local e regional) e dos agentes
controladores de vetor.
Os fatores abióticos como pluviosidade e temperatura possuem grande influência
na incidência da doença, pois altas temperaturas e chuvas favorecem o aumento da
população do mosquito vetor. Entretanto, em países tropicais onde as temperaturas
baixas ocorrem apenas em um curto período de tempo, diminui a transmissão neste
período, mas não a elimina. Atualmente, um fator muito importante com relação à
evolução do ciclo da dengue é o aquecimento global, que provavelmente acarretará na
eliminação do período sazonal e esta doença terá êxito durante o ano todo.
O único elo frágil nesse ciclo é o mosquito vetor, e desta forma, enquanto não é
descoberta uma vacina anti-dengue eficiente, que seria a maneira de erradicar a
doença, a arma que temos é a luta contra o A. aegypti.
É de grande importância a conscientização da população sorocabana sobre a
situação da dengue no município para que haja a colaboração da mesma nesta batalha
e que esta moléstia não se torne uma endemia.
- 45 -
7 REFERÊNCIAS
- 46 -
ANDRIES, Susie. História da Dengue. Instituto virtual da dengue do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Disponível em: <http://www.ivdrj.ufrj.br/historico.htm >Acessado em: 9 mai. 2007.
BRAGA, Ima Aparecida; LIMA, José Bento Pereira; SOARES, Sidnei da Silva; et
al. Aedes aegypti resistance to temephos during 2001 in several municipalities in
the states of Rio de Janeiro, Sergipe, and Alagoas, Brazil. Mem do Inst Oswaldo
Cruz, Rio de Janeiro, v. 99, n.2, p.199-203, mar. 2004.
CASALI, Clarisse Guimarães; PEREIRA, Marcelo Ricardo Reis; SANTOS, Luciana
Maria Jabor Garcia; et al. A epidemia de dengue/dengue hemorrágico no município
do Rio de Janeiro, 2001/2002. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical, v.37, n.4, p.296-299, jul./ago. 2004.
COLLINS, Fort. Dengue Ferver. Division of Vector-Borne Infectious Diseases,
Atlanta, 22 de agosto de 2007.
Disponível em:< http://www.cdc.gov/NCIDOD/DVBID/DENGUE/> Acesso em: 19
de abr . 2007.
COSTA, Eduardo de Azevedo. Histórico da Dengue. Fundação Oswaldo Cruz,
Rio de Janeiro.
Disponível em: <http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=372&sid=12>
Acessado em: 20 mai. 2007.
Diretoria de Combate a Vetores (DCV). Normas e Recomendações Técnicas
para Vigilância e Controle do Aedes aegypti no Estado de São Paulo. São
Paulo: Ministério da Saúde, 2002. 70p.
DONALISMO, Maria Rita. O Dengue no Espaço Habitado. São Paulo: Ed Hucitec
& Funcraf, 1999.195p.
FONSECA, Benedito Antônio; FIGUEIREDO, Luiz Tadeu Moraes. Dengue In:
VERONESI, R (Ed). Tratado de Infectologia. 3 ed. São Paulo: Atheneu; 2005. p.
342-56.
FRANÇA, Sérgio. Aspectos Clínicos da Dengue. Fundação Oswaldo Cruz,
Rio de Janeiro.
Disponível em: < http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=373&sid=12>
Acessado em: 20 mai. 2007.
Fundação Nacional de Saúde (FUNASA). História da Presença do Aedes
Aegypti e Aedes Albopictus no Brasil.
Disponível em:< http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/ipcv_003.pdf>
Acessado em: 8 jan.2008
- 47 -
GULBER, Duane J. Epidemic Dengue/ Dengue Hemorrhagic Fever As a Public
Healf, social and economic problem in the 21st century. TREND in Microbiology,
v.10,n.2, p. 100-102, fev.2002.
HALSTEAD, Scott B. Dengue in the Americas and Southeast Asia: Do they Differ?
Rev Panam Salud Publica, n.6, p. 407-415. 2006.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo demográfico da
cidade da Sorocaba no Estado de São Paulo em 2007.
Disponível em:< www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php>
Acessado em: 19 jan. 2008.
NETO, Francisco Chiaravalloti; DIBO, Margareth Regina; BARBOSA, Angelita
Anália Carniel; et al. Aedes albopictus (S) na região de São José do rio Preto, SP:
estudo da sua infestação em áreas já ocupadas por Aedes aegypti discussão de
seu papel como possível vetor de dengue e febre amarela. Mem Inst Oswaldo
Cruz, Rio de Janeiro, v.35, n.4, p. 351-357, jul./ago. 2002.
NOGUEIRA, Rita Maria R; MIAGOSTOVICH, Marize P; FILIPPIS, Ana Maria B; et
al. Dengue Virus Type 3 in Rio de Janeiro, Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz, Rio de
Janeiro, v. 96, n. 7, p. 925-926, ago. 2001.
PENNA, Maria Lucia F F. Um desafio para a saúde pública brasileira: o controle do
dengue.Cad de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, n. 1, p. 305-309,
Jan./Fev.2003.
PEREIRA, Mariza; SANTUCCIO, Silvana Gazola.. Dengue e Febre Amarela.
Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo, São Paulo,
Disponível em:
<http://www.sucen.sp.gov.br/doencas/dengue_f_amarela/texto_dengue_pro.htm>
Acessado em 23 mai. 2007.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA. Dados sobre a Atenção Básica em
Sorocaba ano de 2000, Sorocaba, Disponível em: < www.sorocaba.sp.gov.br > .
Acesso em 16 jul. 2006.
Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo (SES). Dengue: epidemia ou
endemia. Boletim epidemiológico paulista, São Paulo,
Disponível em: <http://www.cve.saude.sp.gov.br/agencia/bepa20_dengue.htm>
Acessado em: 7 mai. 2007.
SCHATZMAYR, Hermann G. Dengue situation in Brazil by year 2000. Mem Inst
Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v. 95, Suppl1, p.179-181. 2000.
TAUIL, Pedro Luiz. Urbanização e Ecologia do Dengue. Cad de Saúde Pública,
Rio de Janeiro, Suppl. 17, p. 99-102. 2001.
TAUIL, Pedro Luiz. Aspectos críticos do controle do dengue no Brasil. Cad de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.18, n.3, p. 867-871, jun.2002.
- 48 -
TUBOI,S.H.; SIMPLÍCIO, A.C.S.; SIQUEIRA JÚNIOR, J.B.; et al. Dengue:
diagnóstico e manejo clínico, Fundação Nacional da Saúde, 2002. 25p.
WHO World Health Organization. Dengue and Dengue Hemorrhagic Fever.
Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs117/en/
Acessado em: 23 set. 2007.
- 49 -
8 ANEXOS
- 50 -
Distribuição das Unidades de Saúde em relação à distância do centro da cidade,
e o número de total de casos confirmados no município de Sorocaba no ano de
2006.
Fonte: Dados sobre a Atenção Básica em Sorocaba
1
1
3
5
11
2
3
13
5
5
5
2
2
3
5
7
5
5
11
8
1
8
5
Fonte: Dados sobre a atenção básica em Sorocaba
(Prefeitura Municipal de Sorocaba, 2006).
- 51 -
Download