A MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO MONJOLINHO – OURINHOS/SP/BRASIL COMO RECORTE ESPACIAL NO DESENVOLVIMENTO DAS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS: PAISAGEM, BIOMAS BRASILEIROS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL Gabriel da Silva Cunha¹ Orientadora: Jeani Delgado Paschoal Moura² (1) Mestrando em Geografia e Professor da rede pública de SP; Universidade Estadual de Londrina; Londrina, Paraná - Brasil; [email protected]. (2) Professora do Departamento de Geociências, Universidade Estadual de Londrina; Londrina, Paraná – Brasil. RESUMO O ensino de Geografia apresenta conteúdos que necessitam de prática, tais como os orientados ao ambiente e a educação ambiental, quando os mesmos são abordados conceitualmente, sem aplicabilidade, percebemos que desmotiva os estudantes a aprender a praticar a geografia no seu cotidiano, distanciando-os dessa disciplina tão importante. Se aliarmos esse fato ao autoritarismo presente na relação professor-aluno, a escola pode se transformar em um depósito de mentes proibidas de pensar e aplicar os conhecimentos, via de regra, sem sentido prático. Apontamos para a necessidade de construir uma prática que auxilie os estudantes a valorizar o ensino e a educação geográfica como forma de libertação e de intervenção na sociedade e isso só se dá com a inclusão dos estudantes nos espaços de decisão, sendo primordial para que os conteúdos sejam absorvidos de maneira crítica. Educação ambiental, aparece como meio de luta para democratização do espaço urbano e resolução das questões que atingem o meio ambiente. A Geografia permite aos estudantes a percepção das questões políticas, econômicas e sociais presentes na interação do meio ambiente. Por isso foi definido metodologicamente a utilização da Microbacia como recorte espacial na realização dos estudos de campo. O córrego Monjolinho foi escolhido por ser um dos mais afetados da cidade, e o que tem contato com Parque Ecológico em Ourinhos-SP e, portanto, apresenta em escala micro as contradições que foram objeto de investigação, buscando aproximar os estudantes da Geografia. Por meio de um recorte ambiental, buscamos integrar estudos físico-naturais aos humanos. Como resultados, observamos que o professor por meio dos trabalhos de campo, pode ser autêntico o suficiente para fortalecer a autorganização dos estudantes e uma descentralização da educação dos espaços escolares para o mundo, pois a maior escola do homem é seu mundo e não uma construção chamada escola. Palavras Chave: Bacia hidrográfica – Educação geográfica – Espaço urbana INTRODUÇÃO Conhecer e experenciar o espaço geográfico, em sua harmonia ou desequilíbrio entre o meio natural e a sociedade humana é um papel não só do geógrafo ou do estudante de Geografia, mas deve ser uma habilidade construída criticamente também nas séries em que a Geografia escolar está presente. Seguindo esta concepção foi que a construção das sequências didáticas: paisagem, biomas brasileiros, mais especificamente a Mata Atlântica e, também, Educação Ambiental foram desenvolvidas e em sua aplicação foi realizado na disciplina de Geografia, no 7º ano do Ensino Fundamental, um trabalho de campo que analisou parte do Córrego Monjolinho, canalizado desde 2010, o que também foi foco na análise do alunos que ali atuavam na construção de seu próprio conhecimento, como pesquisadores. Enquanto o educador, como um mediador e um sintetizador dos dados adquiridos pelos estudantes, para discussão em outro momento no espaço escolar ou em outro lugar onde se possa haver a prática educativa. Outra discussão pertinente neste artigo é sobre o uso das microbacias hidrográficas como recorte espacial em uma breve pesquisa com crianças de 12 e 13 anos atuando como sujeitos pesquisadores, neste caso sobre o impacto da canalização na vida dos moradores locais. A metodologia foi desenvolvida para estudantes ainda em idade escolar através de entrevistas e conversas informais com moradores nas proximidades do Monjolinho. A análise da mudança de paisagem feita pelos estudantes ao longo de nosso trajeto, também faz parte desta metodologia de trabalho. O objetivo principal desse artigo é demonstrar a prática de sequências didáticas que aproximam os estudantes de sua realidade para que estes percebam as interações entre os objetos no espaço, desvendando as relações territoriais e socializando a construção de conhecimentos. Desta forma, por meio da educação geográfica, os estudantes passam a desvendar a realidade e a transformá-la, e para isso é preciso preparar os sujeitos que seguirão esse caminho, esta é a tese sobre o ensino de Geografia socialista que tenho defendido: que solidariza e que se constrói de forma democrática e crítica a fim de ser sujeito das mudanças de sua realidade. MATERIAIS E MÉTODOS Primeiramente foi feito um levantamento bibliográfico acerca da utilização da bacia hidrográfico como recorte espacial na análise da geografia humana (LIMA, 2005) e, em seguida, análise ambiental no espaço urbano. Para melhor elucidar este ponto utilizo Mendonça (2004) e com foco na educação ambiental e Leal (2008) para estudo da gestão de bacias. Logo após foi feita uma breve caracterização do município de Ourinhos-SP e o recorte espacial no Córrego Monjolinho como impulsionador na produção dos conteúdos aplicados ao 7º ano. Para auxiliar no processo de aprendizagem foram utilizadas imagens do acervo da UNESP, unidade de Ourinhos. Os estudantes aplicaram entrevistas com os moradores das proximidades do córrego para entender se os mesmos foram impactos com as transformações ocorridas com a canalização de seu leito. Coletamos dados sobre como estes foram impactados, respeitando suas visões de mundo e, por fim, os resultados são demonstrados por meio de gráficos. Finalmente, é intento deste trabalho descrever a experiência de campo e seus resultados na aprendizagem das sequências didáticas propostas. Tais descrições estão presentes nos cadernos de campo produzidos ao longo do processo educativo com a turma. Foi utilizado o SIG QGis para confecção dos mapas para melhor expor os elementos apresentados. RESULTADOS E DISCUSSÕES Em um primeiro momento será descrito os usos do solo do município de Ourinhos sob uma perspectiva histórico-espacial, além de uma visão econômica e integrada para que depois possamos entender um pouco sobre a escola e a turma de estudantes que atuaram durante todo o processo. Usos do solo no município de Ourinhos-SP O município de Ourinhos está na divisa do Paraná, no sudoeste do estado de São Paulo, possui aproximadamente 103 mil habitantes (IBGE, 2010) e uma taxa de urbanização de 97,42% (PMO, 2010). O processo de ocupação desta região acontece por busca de recursos naturais, com grande incentivo do cultivo do café, uma realidade muito comum nos municípios do interior de São Paulo. Observando a questão ambiental neste processo há um intenso desmatamento de vegetação da Mata Atlântica como consequência do desenvolvimento econômico proporcionado pelo café (DEL RIOS, 1992) na passagem do século XIX para o século XX. O recorte da microbacia analisada nas sequências didáticas é compreendida pelos bairros: Jardim Ouro Verde, e Jardim Paulista que na década de 1940 era uma grande fazenda de cultivo de café, cujo proprietário tem seu nome, atualmente, em prédios públicos e vias da malha urbana. É possível observar nas Figuras 1 e 2 esta afirmação. Figura 1: Localização da Fazenda Horácio Figura 2: Cultivo de café em Ourinhos Soares. Fonte: Prefeitura Municipal de Ourinhos, Fonte: Prefeitura Municipal de Ourinhos, 2016. 2016. Se observamos também as fotografias aéreas (Figuras 3, 4, 5 e 6) que perpassam as décadas seguintes perceberemos que o uso do solo tem uma mudança drástica tendo como norte uma alta urbanização, o que de certa forma seguiu os passos da maior parte dos municípios do Sudeste brasileiro. Durante a década 1970 o que é importante notar no recorte da microbracia do Monjolinho é uma tímida aglomeração próxima ao Parque Ecológico “Bióloga Tânia Mara Netto Silva”. Aliado ao processo de urbanização, que seguia em direção ao leito do córrego, houve uma intensa devastação da mata nativa, como resultado já nesta época não existia uma mata ciliar considerável o que já deixava o pequeno curso de água suscetível ao impactos da interação com a sociedade humana. O que se vê nas décadas de 1980, 1990 e 2000 é o aumento expressivo da urbanização, com a ocupação dos bairros Jardim Paulista e Jardim Ouro Verde, ambos no início do século XXI com suas estruturas urbanas consolidadas enquanto a área nativa teve um aumento nesta última década, mas apenas na região do atual Parque Ecológico, transformado em reserva ambiental em 1997 (RISSO, 2011). Figura 3: Foto área de Ourinhos em 1972 Fonte: Acervo da Unesp ourinhos, 2016 Figura 4: Foto área de Ourinhos em 1984 Fonte: Acervo da Unesp Ourinhos, 2016 Figura 5: Foto área de Ourinhos em 2004 Fonte: Acervo da Unesp ourinhos, 2016 Figura 6: Imagem de Satélite em 2016 Fonte: Google Earth, 2016 A maior transformação sofrida no recorte, ocorre no início da atual década com a canalização do córrego, um evento que transformou toda a dinâmica daquela paisagem, tendo como marca um grande impacto na biodiversidade local, apesar da reserva do Parque ecológico a canalização adentra a reserva cortando-a entre o concreto e a mata fechada. Nas figuras 7 e 8 podemos observar o córrego antes e depois de sua canalização em 2010. Figura 7: Córrego Monjolinho antes de sua canalização Fonte: CORTEZ, 2011 Figura 8: Córrego Monjolinho depois de sua canalização Fonte: CORTEZ, 2011 Nas imagens podemos perceber que a vegetação diminui muito nas margens do Córrego já canalizado, o que influencia na biodiversidade e nos solos não somente na microbacia, mas em todo espaço que se relaciona com o pequeno rio, seja de forma indireta ou direta. O uso do solo no município é feito ainda de maneira orientada pelos grandes proprietários da cidade, detendo o poder de valorizar ou desvalorizar determinadas áreas do solo urbano, um exemplo muito prático vinculado a canalização do Monjolinho se dá na venda de plantas de casas que tem seus portões voltados ao Córrego, com o argumento da Construtora GSP de que haveria uma avenida que seria construída em cima do Córrego, tal fato não concretizado até os dias de hoje (Figura 9). Figura 9: Casas “ao contrário”. Fonte: CUNHA, 2016 Histórico, dados econômicos e os impactos no Monjolinho Como vimos o município de Ourinhos teve seu desenvolvimento ligado a economia do café, com auxílio de apoio político que desviou a Estrada Férrea para a região, importante fator para que alguns anos depois a industrialização chegasse ao município, acelerando seu processo de urbanização. Um forte elemento para Ourinhos ser privilegiada nesse sentido é sua posição em relação ao Rio Paranapanema. As atividades industriais contribuíram fortemente com o processo de degradação ambiental no município, principalmente em relação ao Monjolinho, que se encontrava cercado pelo desenvolvimento urbano, que por ser acelerado e desordenado, reflete a realidade das cidades brasileiras, de urbanização com características de países pobres e, portanto, com problemas socioambientais mais complexos (MENDONÇA, 2004) além de uma forte desigualdade socioespacial, com bairros bem delimitados sob a perspectiva econômica, mesmo com um IDH de 0,813 (IBGE,2010). Sua localização privilegiada coloca a cidade em um ponto estratégico na questão dos transportes, contendo 5 rodovias e uma linha férrea, que integram mais de 300 indústrias ao sistema de escoamento de produção, movimentando assim, grande montante financeiro. As rodovias (MAPA 1) são pontos de segregação no espaço urbano de Ourinhos (FERREIRA DIAS, 2013), e a os impactos ambientais aumentam conforme diminui as condições econômicas dos bairros segregados. Nosso foco se dá no Monjolinho e, portanto, no Bairro Jd. Paulista, onde está situado o Parque Ecológico Municipal Bióloga Tânia Mara Silva Netto. Por onde se finda a área de estudo do córrego é um loteamento iniciado em 1959, com a intervenção do Estado na construção de casas voltadas a classe média. O bairro, atualmente pericentral, está inserido no eixo de expansão das residências de classe média (oeste). Mesmo com casas antigas (muitas já reformadas na última década) é valorizada pela especulação imobiliária. Atualmente possui o IPTU mais alta da cidade, grandes lotes, uma trilha verde e é preferido pelas classes média e média alta, sendo que seus moradores são atingidos pelo setor superior da economia (FERREIRA DIAS, 2013). Mapa 1: Ourinhos/SP - Bairros atendidos pela E.E. Profª Maria do Carmo A da Silva, e a localização do triângulo rodoviário. Fonte: CUNHA, 2017 No mapa podemos ver a situação da E. E. Profª Maria do Carmo Arruda Silva, localizada próxima a região central, atendida em sua maioria pela classe média como Jardim Matilde e Ouro verde e classes baixas, como os bairros da COHAB e Jd. São Silvestre, mesmo estando no interior do triângulo rodoviário. Nosso trabalho de campo ocorreu próximo ao Jd. Ouro verde, o qual veremos adiante. Para os alunos, conhecer os impactos ao meio ambiente em sua cidade é um passo importante para que surja interesse por participar dos debates e discussões nas esferas de decisões como câmaras e conselhos a fim de lutar por uma cidade democrática e que respeite o ambiente, principalmente as bacias hidrográficas, principal recurso de sobrevivência humana e que sustenta tantas outras atividades econômicas. A Microbacia do Monjolinho como recorte: Educação ambiental e prática de campo como ação mobilizadora. As cidades são o fenômeno mais humanizados, na medida em que nelas está refletido o trabalho realizado por nossa espécie, ou seja, de intensa transformação da natureza. Nesta linha é certo afirmar que os maiores problemas ambientais estão presentas nos centros urbanos e não nas matas, mesmo que estas estejam suscetíveis a degradação ambiental. Mendonça (2011, p. 204) diz que “os problemas ambientais que ocorrem nas cidades são, por princípio, problemas socioambientais, pois a cidade é o mais claro exemplo de espaço onde a interação entre a natureza e a sociedade se concretizam”. Nas cidades que os processos naturais ganham outras dinâmicas, estas cada vez mais complexas de serem resolvidas, pois as ações humanas estão repletas de intencionalidades, na maioria das vezes não condizentes com o interesse social. Pensando na questão da escala é que a Microbacia do Monjolinho aparece como recorte para o desenvolvimento da Educação Ambiental na disciplina de Geografia, pois é necessário que desde jovem as pessoas se integrem ao seu ambiente de forma que ajam como sujeitos intervindo na cidade, buscando a construção da cidade que queremos, pois por mais que haja planejamento no âmbito das instituições públicas, com comitês de bacias e conselhos “é fundamental o desenvolvimento de ações educativas e de mobilização social, baseados nos princípios e práticas da Educação ambiental” (LEAL, 2008) trazendo a população para o debate sobre sua cidade, através da organização de movimentos e também participando em órgãos burocratizados, como os comitês de bacias. Justamente por isso que durante o desenvolvido dos conteúdos relacionados a Mata Atlântica e a intervenção antrópica neste ambiente é que ficou mais que necessário realizar um trabalho de campo com os estudantes de 7º ano que destacassem os problemas ambientais de sua cidade, em busca de uma educação ambiental para a Geografia de forma plena. Leal (2008, p. 179) nos dá a noção de ação que esta educação carrega: Educação ambiental é considerada como um instrumento fundamental para a participação e mobilização social, voltada para a ação, para a implementação de soluções locais, para mudança de atitudes e valores e para a melhoria na gestão de bacia hidrográfica e recursos hídricos. Inclusive para a educação geográfica seja feita de maneira que liberte a classe trabalhadora ela deve se utilizar da ideia da educação ambiental como “instrumento de luta para os que querem transformar a atual situação de crise ambiental e construir um outro mundo ” (LEAL, 2008. p. 179). Pela necessidade metodológica no sentido de se aplicar esses conteúdos em um trabalho de campo que unisse todos os conteúdos, é que o Córrego Monjolinho foi pensado como recorte espacial (LIMA, 2005) no estudo, e ainda foram feitas 15 entrevistas pelos alunos nas proximidades do Monjolinho (MAPA 2). MAPA 2: Recorte da Microbacia do Monjolinho em Ourinhos – SP Fonte: IBGE, 2010 Sabemos que só voltar ao olhos a uma pequena parte uma microbacia não vai resolver os problemas socioambientais, pois deve-se enxergar o mundo de uma maneira integrada, o espaço como totalidade, mas para desenvolver uma maneira crítica de se abordar os conteúdos referentes ao meio natural se mostrou muito viável, pois põe em contato através da experiência de campo com os problemas ambientais presentes na própria cidade, que quase sempre são semelhantes entre as cidades, até por que a Bacia hidrográfica se apresenta como palco das degradações ambientais (LIMA, 2005). Em outubro de 2016 finalmente após o bimestre de exposição dos conceitos e de sua construção crítica em sala de aula, através de aulas expositivas, trabalhos em grupos, filmes, pesquisas ainda havia a necessidade de algo que sintetizasse a aprendizagem em uma relação espaço-temporal e se inserindo como sujeito dando com resultado maior valor a educação geográfica é que foi realizado o trabalho de campo. O primeiro aspecto observado pelos estudantes foi a transformação que a paisagem sofre desde a nascente até adentrar no espaço urbano e o ponto mais observado foi o aumento da vegetação e a diminuição de casas, e a grande maioria via estranhamento na canalização do rio, uma confusão entre os elementos da paisagem, talvez pela ideia dualista de dois ambientes separados e que não interagem, ideia que cai por terra logo que os mesmo adentram o Parque ecológico e percebem a interferência humana no ambiente. As figuras 10 e 11 mostram a mudança de paisagem ao longo do trajeto: Figura 10: Nascente canalizado do Monjolinho Figura 11: Proximidade do P. Ecológico Fonte: CUNHA, 2016. CUNHA, 2016. É neste momento de reflexão sobre a microbacia, que surge o pensamento geográfico e os questionamentos dos motivos que levam aquele tipo de degradação ambiental, todos esses questionamentos foram debatidos em momento posterior a realização do trabalho de campo, o que inclusive puxou a discussão para uma escala maior de ocorrência dos fenômenos. Apesar de anteriormente já haver sido levantado informações sobre a questão dos rios, da degradação da vegetação e dos impactos socioambientais, além da observação da paisagem que constataram um impacto negativo na canalização do Monjolinho para dar a oportunidade aos estudantes debaterem com a sociedade foi que os alunos fizeram uma entrevista com os moradores vizinhos o que pode nos mostrar alguns pontos em relação a percepção da população em relação a questão ambiental do Monjolinho, os dados são apresentados nos gráficos a seguir: Opinião sobre a canalização do Monjolinho Tempo de residência nas proximidades do Monjolinho 13% 33% 33% 67% 54% menos de 7 anos positivo negativo Gráfico 1: Opinião do Moradores sobre a canalização do Monjolinho. Org. Cunha, 2016. mais de 15 anos mais de 30 anos Gráfico 2: Tempo de residência nas proximidades do Monjolinho. Org.Cunha, 2016. No retorno a escola os estudantes levantaram um ponto muito intrigante, de que a maioria das pessoas entrevistadas achavam a canalização positiva, mas que, as que achavam o ato algo negativo eram as que viviam mais tempo nas proximidades do recorte, que tinham mais contato com o córrego em sua forma natural e certa maneira uma história com aquele lugar. Os principais argumentos dos que acreditam ser positiva a canalização se dão em torno do argumento da diminuição de insetos, maior facilidade na mobilidade, e abertura da vegetação o que dá mais segurança aos moradores por medo de assaltos e estupros. Já os que tem uma visão negativa da situação é por manter um pensamento saudosista em relação ao ambiente natural que a área apresentava, como se fosse um reduto ambiental em meio ao rápido crescimento urbano, papel hoje ocupado pelo Parque ecológico, que apesar de estar altamente antropizado, permanece na lógica mercantil na venda das paisagens naturais, não é à toa que o IPTU da região do parque é o mais valorizado do município. O mais interessante é que nenhum dos entrevistados via importância em participar das decisões sobre os recursos hídricos em seu município, assim como nenhum sabia da existência de comitês e conselhos que debatessem e deliberassem sobre os rios, riachos e córregos. Os estudantes enxergaram nisso a vida rápido e de medo que a sociedade vive, que se retira até das decisões que podem afetar suas próprias vida, aqui um ponto importante para nosso objetivo é que através de uma prática educativa geográfica é que os estudantes passaram a perceber e a querer intervir nas questões de sua própria cidade, inclusive inserindo mais discussões sobre o espaço urbano nos espaços de aula, como a própria segregação residencial, a violência e a desigualdade presente no dia a dia. Todos esses pontos foram relatados em textos individuais ao final das discussões sobre o campo e a fala de um estudante: “Eu nunca imaginei que a gente podia sair da escola um dia pra estudar geografia, achei muito melhor e nunca achei que podia gostar tanto dessa aula do que depois desse passeio que foi uma aula”. Dessa forma se observa que esta prática de campo, aliada a decisão democrática na escola sobre o desenvolvimento do conteúdo e a utilização da microbacia como recorte para este acontecimento revaloriza a geografia na escola, tomando-a como necessária para se conceber as interações no espaço e na sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação geográfica e o interesse pela geografia nas escolas acontece principalmente pela participação ativa de todos os estudantes, através de seu contato com o mundo e com as interações que acontecem no espaço, ou seja, a produção de seu próprio conhecimento, o desvendar dos impactos da sociedade no espaço. Mas jamais esses desvendar deve estar desaliado a uma concepção de transformação da própria sociedade e do questionamento sobre o ensino oferecido hoje, que mais aprisiona, esconde e fantasia, é preciso lutar e exigir seu espaço de organização e de decisões. Sem dúvidas com a construção desse trabalho de campo com a participação dos alunos trouxe mais interesse pela geografia, e isso se vê no mês seguinte ao trabalho de campo, que a cada aula traziam novas ideias de conteúdos e maneiras de ser trabalhar esses conteúdos e o professor deve ter abertura e humildade para aceitar democraticamente a decisão coletiva e inclusive fortalecer essa ideia. Além disso a ideia de utilizar uma Microbacia como recorte para este estudo conjunto foi essencial para se ter uma escala micro das relações entre sociedade humana e natureza e também para perceber e refletir sobre nossa vivência neste mundo, dessa forma é preciso também aprofundar essa questão metodológica para os estudos da geografia, e a defesa aqui é pensar nisso para a Geografia escolar. Sem dúvida nenhuma esta experiência mostrou a importância da prática desde a vida jovem, a prática educa e nos faz buscar o mundo. REFERÊNCIAS CORTEZ, Rafael Béccheri. Gestão de Áreas verdes urbanas. Simpósio da Conservação da Água e do solo. UNESP – Ourinhos, 2011 CUNHA, G. S.; MOURA, J. D. P. Perspectivas socialistas de Educação voltadas ao Ensino de Geografia: Uma experiência com 9º anos da rede pública de SP In: Simpósio Paranaense de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, 2016, Marechal Candido Rondon - PR. Anais [do] SIMPGEO- Simpósio Paranaense de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia. Marechal Candido Rondon: Unioeste, 2016. v.VIII. p.813 - 823 DEL RIOS, Jefferson. Ourinhos: memórias de uma cidade paulista. São Paulo: IMESP, 1992 FERREIRA DIAS, Franciele Miranda. Segregação residencial na cidade de Ourinhos-SP. Dissertação de Mestrado – Maringá, 2013 LIMA, A. G. A. A bacia hidrográfica como recorte de estudos em geografia humana. Revista Geografia – v.14, n.2, UEL – Londrina, 2005 LEAL, Antonio C. Gestão de Bacias hidrográficas, planejamento e educação ambiental. Mesas redondas v.20 – Soc. Terr. Natal, 2008. p. 163-191 MENDONÇA, Francisco. S.A.U. SISTEMA AMBIENTAL URBANO: uma abordagem dos problemas socioambientais da cidade. In: MENDONÇA, Francisco. Impactos socioambientais urbanos. Curitiba, PR. UFPR, 2004. p.185-205 RISSO, Luciene C. PARQUE ECOLÓGICO DE OURINHOS-SP: resultados da pesquisa, ensino e extensão do CENPEA/UNESP. Como Subsídio ao ensino fundamental. 1ª edição – Ourinhos, 2011 Sites consultados http://ourinhos.blogspot.com.br/ - acessado em 22 de novembro de 2016 http://www.ourinhos.sp.gov.br/ourinhos - acessado em 22 de novembro de 2016 http://www.ibge.gov.br – acessado em 26 de novembro de 2016