A MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO MONJOLINHO – OURINHOS

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A MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO MONJOLINHO – OURINHOS/SP/BRASIL COMO
RECORTE ESPACIAL NO DESENVOLVIMENTO DAS SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS:
PAISAGEM, BIOMAS BRASILEIROS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Gabriel da Silva Cunha¹
Orientadora: Jeani Delgado Paschoal Moura²
(1)
Mestrando em Geografia e Professor da rede pública de SP; Universidade Estadual de Londrina;
Londrina, Paraná - Brasil; [email protected].
(2)
Professora do Departamento de Geociências, Universidade Estadual de Londrina; Londrina, Paraná –
Brasil.
RESUMO
O ensino de Geografia apresenta conteúdos que necessitam de prática, tais como os
orientados ao ambiente e a educação ambiental, quando os mesmos são abordados
conceitualmente, sem aplicabilidade, percebemos que desmotiva os estudantes a
aprender a praticar a geografia no seu cotidiano, distanciando-os dessa disciplina tão
importante. Se aliarmos esse fato ao autoritarismo presente na relação professor-aluno,
a escola pode se transformar em um depósito de mentes proibidas de pensar e aplicar
os conhecimentos, via de regra, sem sentido prático. Apontamos para a necessidade de
construir uma prática que auxilie os estudantes a valorizar o ensino e a educação
geográfica como forma de libertação e de intervenção na sociedade e isso só se dá com
a inclusão dos estudantes nos espaços de decisão, sendo primordial para que os
conteúdos sejam absorvidos de maneira crítica. Educação ambiental, aparece como
meio de luta para democratização do espaço urbano e resolução das questões que
atingem o meio ambiente. A Geografia permite aos estudantes a percepção das
questões políticas, econômicas e sociais presentes na interação do meio ambiente. Por
isso foi definido metodologicamente a utilização da Microbacia como recorte espacial
na realização dos estudos de campo. O córrego Monjolinho foi escolhido por ser um dos
mais afetados da cidade, e o que tem contato com Parque Ecológico em Ourinhos-SP e,
portanto, apresenta em escala micro as contradições que foram objeto de investigação,
buscando aproximar os estudantes da Geografia. Por meio de um recorte ambiental,
buscamos integrar estudos físico-naturais aos humanos. Como resultados, observamos
que o professor por meio dos trabalhos de campo, pode ser autêntico o suficiente para
fortalecer a autorganização dos estudantes e uma descentralização da educação dos
espaços escolares para o mundo, pois a maior escola do homem é seu mundo e não uma
construção chamada escola.
Palavras Chave: Bacia hidrográfica – Educação geográfica – Espaço urbana
INTRODUÇÃO
Conhecer e experenciar o espaço geográfico, em sua harmonia ou desequilíbrio
entre o meio natural e a sociedade humana é um papel não só do geógrafo ou do
estudante de Geografia, mas deve ser uma habilidade construída criticamente também
nas séries em que a Geografia escolar está presente. Seguindo esta concepção foi que a
construção
das
sequências
didáticas:
paisagem,
biomas
brasileiros,
mais
especificamente a Mata Atlântica e, também, Educação Ambiental foram desenvolvidas
e em sua aplicação foi realizado na disciplina de Geografia, no 7º ano do Ensino
Fundamental, um trabalho de campo que analisou parte do Córrego Monjolinho,
canalizado desde 2010, o que também foi foco na análise do alunos que ali atuavam na
construção de seu próprio conhecimento, como pesquisadores. Enquanto o educador,
como um mediador e um sintetizador dos dados adquiridos pelos estudantes, para
discussão em outro momento no espaço escolar ou em outro lugar onde se possa haver
a prática educativa.
Outra discussão pertinente neste artigo é sobre o uso das microbacias
hidrográficas como recorte espacial em uma breve pesquisa com crianças de 12 e 13
anos atuando como sujeitos pesquisadores, neste caso sobre o impacto da canalização
na vida dos moradores locais. A metodologia foi desenvolvida para estudantes ainda em
idade escolar através de entrevistas e conversas informais com moradores nas
proximidades do Monjolinho. A análise da mudança de paisagem feita pelos estudantes
ao longo de nosso trajeto, também faz parte desta metodologia de trabalho.
O objetivo principal desse artigo é demonstrar a prática de sequências didáticas
que aproximam os estudantes de sua realidade para que estes percebam as interações
entre os objetos no espaço, desvendando as relações territoriais e socializando a
construção de conhecimentos. Desta forma, por meio da educação geográfica, os
estudantes passam a desvendar a realidade e a transformá-la, e para isso é preciso
preparar os sujeitos que seguirão esse caminho, esta é a tese sobre o ensino de
Geografia socialista que tenho defendido: que solidariza e que se constrói de forma
democrática e crítica a fim de ser sujeito das mudanças de sua realidade.
MATERIAIS E MÉTODOS
Primeiramente foi feito um levantamento bibliográfico acerca da utilização da
bacia hidrográfico como recorte espacial na análise da geografia humana (LIMA, 2005)
e, em seguida, análise ambiental no espaço urbano. Para melhor elucidar este ponto
utilizo Mendonça (2004) e com foco na educação ambiental e Leal (2008) para estudo
da gestão de bacias.
Logo após foi feita uma breve caracterização do município de Ourinhos-SP e o
recorte espacial no Córrego Monjolinho como impulsionador na produção dos
conteúdos aplicados ao 7º ano. Para auxiliar no processo de aprendizagem foram
utilizadas imagens do acervo da UNESP, unidade de Ourinhos. Os estudantes aplicaram
entrevistas com os moradores das proximidades do córrego para entender se os
mesmos foram impactos com as transformações ocorridas com a canalização de seu
leito. Coletamos dados sobre como estes foram impactados, respeitando suas visões de
mundo e, por fim, os resultados são demonstrados por meio de gráficos.
Finalmente, é intento deste trabalho descrever a experiência de campo e seus
resultados na aprendizagem das sequências didáticas propostas. Tais descrições estão
presentes nos cadernos de campo produzidos ao longo do processo educativo com a
turma. Foi utilizado o SIG QGis para confecção dos mapas para melhor expor os
elementos apresentados.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em um primeiro momento será descrito os usos do solo do município de
Ourinhos sob uma perspectiva histórico-espacial, além de uma visão econômica e
integrada para que depois possamos entender um pouco sobre a escola e a turma de
estudantes que atuaram durante todo o processo.
Usos do solo no município de Ourinhos-SP
O município de Ourinhos está na divisa do Paraná, no sudoeste do estado de
São Paulo, possui aproximadamente 103 mil habitantes (IBGE, 2010) e uma taxa de
urbanização de 97,42% (PMO, 2010). O processo de ocupação desta região acontece por
busca de recursos naturais, com grande incentivo do cultivo do café, uma realidade
muito comum nos municípios do interior de São Paulo. Observando a questão ambiental
neste processo há um intenso desmatamento de vegetação da Mata Atlântica como
consequência do desenvolvimento econômico proporcionado pelo café (DEL RIOS,
1992) na passagem do século XIX para o século XX.
O recorte da microbacia analisada nas sequências didáticas é compreendida
pelos bairros: Jardim Ouro Verde, e Jardim Paulista que na década de 1940 era uma
grande fazenda de cultivo de café, cujo proprietário tem seu nome, atualmente, em
prédios públicos e vias da malha urbana. É possível observar nas Figuras 1 e 2 esta
afirmação.
Figura 1: Localização da Fazenda Horácio
Figura 2: Cultivo de café em Ourinhos
Soares. Fonte: Prefeitura Municipal de Ourinhos, Fonte: Prefeitura Municipal de Ourinhos,
2016.
2016.
Se observamos também as fotografias aéreas (Figuras 3, 4, 5 e 6) que perpassam
as décadas seguintes perceberemos que o uso do solo tem uma mudança drástica tendo
como norte uma alta urbanização, o que de certa forma seguiu os passos da maior parte
dos municípios do Sudeste brasileiro.
Durante a década 1970 o que é importante notar no recorte da microbracia do
Monjolinho é uma tímida aglomeração próxima ao Parque Ecológico “Bióloga Tânia
Mara Netto Silva”. Aliado ao processo de urbanização, que seguia em direção ao leito
do córrego, houve uma intensa devastação da mata nativa, como resultado já nesta
época não existia uma mata ciliar considerável o que já deixava o pequeno curso de água
suscetível ao impactos da interação com a sociedade humana. O que se vê nas décadas
de 1980, 1990 e 2000 é o aumento expressivo da urbanização, com a ocupação dos
bairros Jardim Paulista e Jardim Ouro Verde, ambos no início do século XXI com suas
estruturas urbanas consolidadas enquanto a área nativa teve um aumento nesta última
década, mas apenas na região do atual Parque Ecológico, transformado em reserva
ambiental em 1997 (RISSO, 2011).
Figura 3: Foto área de Ourinhos em 1972
Fonte: Acervo da Unesp ourinhos, 2016
Figura 4: Foto área de Ourinhos em 1984
Fonte: Acervo da Unesp Ourinhos, 2016
Figura 5: Foto área de Ourinhos em 2004
Fonte: Acervo da Unesp ourinhos, 2016
Figura 6: Imagem de Satélite em 2016
Fonte: Google Earth, 2016
A maior transformação sofrida no recorte, ocorre no início da atual década com
a canalização do córrego, um evento que transformou toda a dinâmica daquela
paisagem, tendo como marca um grande impacto na biodiversidade local, apesar da
reserva do Parque ecológico a canalização adentra a reserva cortando-a entre o
concreto e a mata fechada. Nas figuras 7 e 8 podemos observar o córrego antes e depois
de sua canalização em 2010.
Figura 7: Córrego Monjolinho antes de sua canalização
Fonte: CORTEZ, 2011
Figura 8: Córrego Monjolinho depois de sua canalização
Fonte: CORTEZ, 2011
Nas imagens podemos perceber que a vegetação diminui muito nas margens do
Córrego já canalizado, o que influencia na biodiversidade e nos solos não somente na
microbacia, mas em todo espaço que se relaciona com o pequeno rio, seja de forma
indireta ou direta.
O uso do solo no município é feito ainda de maneira orientada pelos grandes
proprietários da cidade, detendo o poder de valorizar ou desvalorizar determinadas
áreas do solo urbano, um exemplo muito prático vinculado a canalização do Monjolinho
se dá na venda de plantas de casas que tem seus portões voltados ao Córrego, com o
argumento da Construtora GSP de que haveria uma avenida que seria construída em
cima do Córrego, tal fato não concretizado até os dias de hoje (Figura 9).
Figura 9: Casas
“ao contrário”.
Fonte: CUNHA,
2016
Histórico, dados econômicos e os impactos no Monjolinho
Como vimos o município de Ourinhos teve seu desenvolvimento ligado a
economia do café, com auxílio de apoio político que desviou a Estrada Férrea para a
região, importante fator para que alguns anos depois a industrialização chegasse ao
município, acelerando seu processo de urbanização. Um forte elemento para Ourinhos
ser privilegiada nesse sentido é sua posição em relação ao Rio Paranapanema.
As atividades industriais contribuíram fortemente com o processo de
degradação ambiental no município, principalmente em relação ao Monjolinho, que se
encontrava cercado pelo desenvolvimento urbano, que por ser acelerado e
desordenado, reflete a realidade das cidades brasileiras, de urbanização com
características de países pobres e, portanto, com problemas socioambientais mais
complexos (MENDONÇA, 2004) além de uma forte desigualdade socioespacial, com
bairros bem delimitados sob a perspectiva econômica, mesmo com um IDH de 0,813
(IBGE,2010).
Sua localização privilegiada coloca a cidade em um ponto estratégico na questão
dos transportes, contendo 5 rodovias e uma linha férrea, que integram mais de 300
indústrias ao sistema de escoamento de produção, movimentando assim, grande
montante financeiro. As rodovias (MAPA 1) são pontos de segregação no espaço urbano
de Ourinhos (FERREIRA DIAS, 2013), e a os impactos ambientais aumentam conforme
diminui as condições econômicas dos bairros segregados. Nosso foco se dá no
Monjolinho e, portanto, no Bairro Jd. Paulista, onde está situado o Parque Ecológico
Municipal Bióloga Tânia Mara Silva Netto. Por onde se finda a área de estudo do córrego
é um loteamento iniciado em 1959, com a intervenção do Estado na construção de casas
voltadas a classe média. O bairro, atualmente pericentral, está inserido no eixo de
expansão das residências de classe média (oeste). Mesmo com casas antigas (muitas já
reformadas na última década) é valorizada pela especulação imobiliária.
Atualmente possui o IPTU mais alta da cidade, grandes lotes, uma trilha verde e
é preferido pelas classes média e média alta, sendo que seus moradores são atingidos
pelo setor superior da economia (FERREIRA DIAS, 2013).
Mapa 1: Ourinhos/SP - Bairros atendidos pela E.E. Profª Maria do Carmo A da Silva, e a
localização do triângulo rodoviário.
Fonte: CUNHA, 2017
No mapa podemos ver a situação da E. E. Profª Maria do Carmo Arruda Silva,
localizada próxima a região central, atendida em sua maioria pela classe média como
Jardim Matilde e Ouro verde e classes baixas, como os bairros da COHAB e Jd. São
Silvestre, mesmo estando no interior do triângulo rodoviário. Nosso trabalho de campo
ocorreu próximo ao Jd. Ouro verde, o qual veremos adiante. Para os alunos, conhecer
os impactos ao meio ambiente em sua cidade é um passo importante para que surja
interesse por participar dos debates e discussões nas esferas de decisões como câmaras
e conselhos a fim de lutar por uma cidade democrática e que respeite o ambiente,
principalmente as bacias hidrográficas, principal recurso de sobrevivência humana e que
sustenta tantas outras atividades econômicas.
A Microbacia do Monjolinho como recorte: Educação ambiental e prática de campo
como ação mobilizadora.
As cidades são o fenômeno mais humanizados, na medida em que nelas está
refletido o trabalho realizado por nossa espécie, ou seja, de intensa transformação da
natureza. Nesta linha é certo afirmar que os maiores problemas ambientais estão
presentas nos centros urbanos e não nas matas, mesmo que estas estejam suscetíveis a
degradação ambiental. Mendonça (2011, p. 204) diz que “os problemas ambientais que
ocorrem nas cidades são, por princípio, problemas socioambientais, pois a cidade é o
mais claro exemplo de espaço onde a interação entre a natureza e a sociedade se
concretizam”. Nas cidades que os processos naturais ganham outras dinâmicas, estas
cada vez mais complexas de serem resolvidas, pois as ações humanas estão repletas de
intencionalidades, na maioria das vezes não condizentes com o interesse social.
Pensando na questão da escala é que a Microbacia do Monjolinho aparece como
recorte para o desenvolvimento da Educação Ambiental na disciplina de Geografia, pois
é necessário que desde jovem as pessoas se integrem ao seu ambiente de forma que
ajam como sujeitos intervindo na cidade, buscando a construção da cidade que
queremos, pois por mais que haja planejamento no âmbito das instituições públicas,
com comitês de bacias e conselhos “é fundamental o desenvolvimento de ações
educativas e de mobilização social, baseados nos princípios e práticas da Educação
ambiental” (LEAL, 2008) trazendo a população para o debate sobre sua cidade, através
da organização de movimentos e também participando em órgãos burocratizados, como
os comitês de bacias.
Justamente por isso que durante o desenvolvido dos conteúdos relacionados a
Mata Atlântica e a intervenção antrópica neste ambiente é que ficou mais que
necessário realizar um trabalho de campo com os estudantes de 7º ano que
destacassem os problemas ambientais de sua cidade, em busca de uma educação
ambiental para a Geografia de forma plena. Leal (2008, p. 179) nos dá a noção de ação
que esta educação carrega:
Educação ambiental é considerada como um instrumento
fundamental para a participação e mobilização social, voltada para a
ação, para a implementação de soluções locais, para mudança de
atitudes e valores e para a melhoria na gestão de bacia hidrográfica e
recursos hídricos.
Inclusive para a educação geográfica seja feita de maneira que liberte a classe
trabalhadora ela deve se utilizar da ideia da educação ambiental como “instrumento de
luta para os que querem transformar a atual situação de crise ambiental e construir um
outro mundo ” (LEAL, 2008. p. 179).
Pela necessidade metodológica no sentido de se aplicar esses conteúdos em um
trabalho de campo que unisse todos os conteúdos, é que o Córrego Monjolinho foi
pensado como recorte espacial (LIMA, 2005) no estudo, e ainda foram feitas 15
entrevistas pelos alunos nas proximidades do Monjolinho (MAPA 2).
MAPA 2: Recorte da Microbacia do Monjolinho em Ourinhos – SP
Fonte: IBGE, 2010
Sabemos que só voltar ao olhos a uma pequena parte uma microbacia não vai
resolver os problemas socioambientais, pois deve-se enxergar o mundo de uma maneira
integrada, o espaço como totalidade, mas para desenvolver uma maneira crítica de se
abordar os conteúdos referentes ao meio natural se mostrou muito viável, pois põe em
contato através da experiência de campo com os problemas ambientais presentes na
própria cidade, que quase sempre são semelhantes entre as cidades, até por que a Bacia
hidrográfica se apresenta como palco das degradações ambientais (LIMA, 2005).
Em outubro de 2016 finalmente após o bimestre de exposição dos conceitos e
de sua construção crítica em sala de aula, através de aulas expositivas, trabalhos em
grupos, filmes, pesquisas ainda havia a necessidade de algo que sintetizasse a
aprendizagem em uma relação espaço-temporal e se inserindo como sujeito dando com
resultado maior valor a educação geográfica é que foi realizado o trabalho de campo.
O primeiro aspecto observado pelos estudantes foi a transformação que a
paisagem sofre desde a nascente até adentrar no espaço urbano e o ponto mais
observado foi o aumento da vegetação e a diminuição de casas, e a grande maioria via
estranhamento na canalização do rio, uma confusão entre os elementos da paisagem,
talvez pela ideia dualista de dois ambientes separados e que não interagem, ideia que
cai por terra logo que os mesmo adentram o Parque ecológico e percebem a
interferência humana no ambiente. As figuras 10 e 11 mostram a mudança de paisagem
ao longo do trajeto:
Figura 10: Nascente canalizado do Monjolinho Figura 11: Proximidade do P. Ecológico
Fonte: CUNHA, 2016.
CUNHA, 2016.
É neste momento de reflexão sobre a microbacia, que surge o pensamento
geográfico e os questionamentos dos motivos que levam aquele tipo de degradação
ambiental, todos esses questionamentos foram debatidos em momento posterior a
realização do trabalho de campo, o que inclusive puxou a discussão para uma escala
maior de ocorrência dos fenômenos.
Apesar de anteriormente já haver sido levantado informações sobre a questão
dos rios, da degradação da vegetação e dos impactos socioambientais, além da
observação da paisagem que constataram um impacto negativo na canalização do
Monjolinho para dar a oportunidade aos estudantes debaterem com a sociedade foi que
os alunos fizeram uma entrevista com os moradores vizinhos o que pode nos mostrar
alguns pontos em relação a percepção da população em relação a questão ambiental do
Monjolinho, os dados são apresentados nos gráficos a seguir:
Opinião sobre a canalização do
Monjolinho
Tempo de residência nas
proximidades do Monjolinho
13%
33%
33%
67%
54%
menos de 7 anos
positivo
negativo
Gráfico 1: Opinião do Moradores sobre a
canalização do Monjolinho. Org. Cunha, 2016.
mais de 15 anos
mais de 30 anos
Gráfico 2: Tempo de residência nas
proximidades do Monjolinho. Org.Cunha,
2016.
No retorno a escola os estudantes levantaram um ponto muito intrigante, de que
a maioria das pessoas entrevistadas achavam a canalização positiva, mas que, as que
achavam o ato algo negativo eram as que viviam mais tempo nas proximidades do
recorte, que tinham mais contato com o córrego em sua forma natural e certa maneira
uma história com aquele lugar. Os principais argumentos dos que acreditam ser positiva
a canalização se dão em torno do argumento da diminuição de insetos, maior facilidade
na mobilidade, e abertura da vegetação o que dá mais segurança aos moradores por
medo de assaltos e estupros.
Já os que tem uma visão negativa da situação é por manter um pensamento
saudosista em relação ao ambiente natural que a área apresentava, como se fosse um
reduto ambiental em meio ao rápido crescimento urbano, papel hoje ocupado pelo
Parque ecológico, que apesar de estar altamente antropizado, permanece na lógica
mercantil na venda das paisagens naturais, não é à toa que o IPTU da região do parque
é o mais valorizado do município. O mais interessante é que nenhum dos entrevistados
via importância em participar das decisões sobre os recursos hídricos em seu município,
assim como nenhum sabia da existência de comitês e conselhos que debatessem e
deliberassem sobre os rios, riachos e córregos.
Os estudantes enxergaram nisso a vida rápido e de medo que a sociedade vive,
que se retira até das decisões que podem afetar suas próprias vida, aqui um ponto
importante para nosso objetivo é que através de uma prática educativa geográfica é que
os estudantes passaram a perceber e a querer intervir nas questões de sua própria
cidade, inclusive inserindo mais discussões sobre o espaço urbano nos espaços de aula,
como a própria segregação residencial, a violência e a desigualdade presente no dia a
dia. Todos esses pontos foram relatados em textos individuais ao final das discussões
sobre o campo e a fala de um estudante: “Eu nunca imaginei que a gente podia sair da
escola um dia pra estudar geografia, achei muito melhor e nunca achei que podia gostar
tanto dessa aula do que depois desse passeio que foi uma aula”. Dessa forma se observa
que esta prática de campo, aliada a decisão democrática na escola sobre o
desenvolvimento do conteúdo e a utilização da microbacia como recorte para este
acontecimento revaloriza a geografia na escola, tomando-a como necessária para se
conceber as interações no espaço e na sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação geográfica e o interesse pela geografia nas escolas acontece
principalmente pela participação ativa de todos os estudantes, através de seu contato
com o mundo e com as interações que acontecem no espaço, ou seja, a produção de
seu próprio conhecimento, o desvendar dos impactos da sociedade no espaço. Mas
jamais esses desvendar deve estar desaliado a uma concepção de transformação da
própria sociedade e do questionamento sobre o ensino oferecido hoje, que mais
aprisiona, esconde e fantasia, é preciso lutar e exigir seu espaço de organização e de
decisões.
Sem dúvidas com a construção desse trabalho de campo com a participação dos
alunos trouxe mais interesse pela geografia, e isso se vê no mês seguinte ao trabalho de
campo, que a cada aula traziam novas ideias de conteúdos e maneiras de ser trabalhar
esses conteúdos e o professor deve ter abertura e humildade para aceitar
democraticamente a decisão coletiva e inclusive fortalecer essa ideia.
Além disso a ideia de utilizar uma Microbacia como recorte para este estudo
conjunto foi essencial para se ter uma escala micro das relações entre sociedade
humana e natureza e também para perceber e refletir sobre nossa vivência neste
mundo, dessa forma é preciso também aprofundar essa questão metodológica para os
estudos da geografia, e a defesa aqui é pensar nisso para a Geografia escolar. Sem
dúvida nenhuma esta experiência mostrou a importância da prática desde a vida jovem,
a prática educa e nos faz buscar o mundo.
REFERÊNCIAS
CORTEZ, Rafael Béccheri. Gestão de Áreas verdes urbanas. Simpósio da Conservação da
Água e do solo. UNESP – Ourinhos, 2011
CUNHA, G. S.; MOURA, J. D. P. Perspectivas socialistas de Educação voltadas ao Ensino
de Geografia: Uma experiência com 9º anos da rede pública de SP In: Simpósio
Paranaense de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, 2016, Marechal Candido
Rondon - PR. Anais [do] SIMPGEO- Simpósio Paranaense de Pós-Graduação e Pesquisa
em Geografia. Marechal Candido Rondon: Unioeste, 2016. v.VIII. p.813 - 823
DEL RIOS, Jefferson. Ourinhos: memórias de uma cidade paulista. São Paulo: IMESP,
1992
FERREIRA DIAS, Franciele Miranda. Segregação residencial na cidade de Ourinhos-SP.
Dissertação de Mestrado – Maringá, 2013
LIMA, A. G. A. A bacia hidrográfica como recorte de estudos em geografia humana.
Revista Geografia – v.14, n.2, UEL – Londrina, 2005
LEAL, Antonio C. Gestão de Bacias hidrográficas, planejamento e educação ambiental.
Mesas redondas v.20 – Soc. Terr. Natal, 2008. p. 163-191
MENDONÇA, Francisco. S.A.U. SISTEMA AMBIENTAL URBANO: uma abordagem dos
problemas socioambientais da cidade. In: MENDONÇA, Francisco. Impactos
socioambientais urbanos. Curitiba, PR. UFPR, 2004. p.185-205
RISSO, Luciene C. PARQUE ECOLÓGICO DE OURINHOS-SP: resultados da pesquisa, ensino
e extensão do CENPEA/UNESP. Como Subsídio ao ensino fundamental. 1ª edição –
Ourinhos, 2011
Sites consultados
http://ourinhos.blogspot.com.br/ - acessado em 22 de novembro de 2016
http://www.ourinhos.sp.gov.br/ourinhos - acessado em 22 de novembro de 2016
http://www.ibge.gov.br – acessado em 26 de novembro de 2016
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