Forte instabilidade no centro e sul do Brasil A primavera é conhecida pelas intensas variações no tempo, frio e calor, tempo seco ou muita chuva e temporais. Isto é marcante nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. E no dia 29 de outubro, isto foi constatado nestas três Regiões, como mostra o campo de descargas elétricas acumuladas (figura 1). a) Figura 1: Descargas elétricas acumuladas no dia 29/10/2008. Os tons frios são pela manhã e os tons quentes entre tarde e noite. Havia alguns dias a condição de instabilidade e chuva forte e temporais estava concentrada no Sul do Brasil. Analizando o campo de descragas elétrica (figura 1) constatamos que a convecção foi deslocando-se para norte. Pela manhã as descargas elétricas estavam concentradas entre norte do RS, SC e sul do PR; no decorrer da tarde as descargas se concentraram entre centro-norte do PR, SP e sul da Região Centro-Oeste, embora em MT, oeste de GO já houve convecção pela manhã, mas de forma localizada. Vários registros de rajadas de vento foram obtidos nas estações da aeronática (metares), em Campinas-SP chegou a ser registrado rajada de vento de 157,2 km/h no início da noite! Observando uma situação de convecção tão generalizada, é normal a pergunta: - o que mudou em relação aos dias anteriores no padrão troposférico? A seguir será mostrada a análise sinótica da manhã deste dia, figura 2a e b, para verificar a situação precursora de toda esta instabilidade. a) b) Figura 2: a) Análise sinótica das 12z do dia 29/10/2008, de superfície. Linhas amarelas são o campo de Pressão ao Nível Médio do Mar (PNMM). b) Análise sinótica das 12z do dia 29/10/2008, de altitude (250 hPa). As linhas azuis são linhas de corrente e a área sombreada indica ventos acima de 70 kt (aproximadamente 129,6 km/k), área de ventos máximos em altitude conhecida como corrente de jato. A linha vermelha indica a Corrente de Jato Subtropical e a linha laranja a Corrente de Jato Polar Norte. Avaliando a situação sinótica de superfície (figura 2a) não verificamos nenhum sistema meteorológico atuando sobre o Brasil, mas uma ampla área de baixa pressão sobre o país e uma área de pressão mais baixa sobre o Paraguai. Em uma análise bastante básica, como nos centros de baixa pressão os ventos giram no sentido horário, este centro de baixa indica ventos de noroeste em sua área a leste e nordeste. Aproximadamente a área circundada pelo circulo em preto na figura 2 a. Estes ventos de noroeste, transportam ar úmido e quente da região amazônica para latitudes mais baixas e o padrão sinótico rege seu posicionamento (para sul ou sudeste). A ampla área de baixas pressões, também indica a viabilidade de convergência (ou seja a facilidade para que ela ocorra). Convergir ar seco, embora quente daria condiçaõ para pancadas localizadas de chuva. Mas convergir ar quente e úmido, potencializa o desenvovlimento vertical das nuvens e se a massa de ar for ampla também a condição de convecção generalizada. E quando avaliamos o padrão sinótico de altitude (figura 2b) observamos um “estrangulamento” no campo de ventos principalmente sobre sul da Bolívia e norte da Argentina e a sotavento desta configuração uma forte difluência dos ventos (área com o círculo em preto) e aí temos o berço de toda a convecção verificada na imagem de satélite (figura 3c). No entanto, observando as imagens de satélite de horários entre tarde e noite, figuras 3 a e b, observamos a convecção intensa apenas sobre parte do Sul do Brasil, onde também causou transtornos a população. E na imagem de satélite do final da noite do dia 29, a convecção entre o sul do Centro-Oeste e sul do Sudeste. Porque a convecão já formou-se pela manhã sobre o Sul do país? Analisando a configuração do campo de ventos em 500 hPa observamos que a circulação ciclônica esta mais perturbada sobre o Sul do país pela manhã e isto favoreceu movimento ascendente na área a sotavento do amplo cavado que deslocava os Andes e da onda curta que estava sobre o Sul, de forma mais zonal. a) b) c) d) Figura 3: Imagens de satélite Goes-10, no canal infravermelho: a) 29/10/2008, 12:00 UTC; b) 29/10/2008, 16:30 UTC; c) 30/10/2009, 03:00 UTC. d) Análise sinótica de 500 hPa, 29/10/2008 12z. Linhas em azul são linhas de corrente, linhas brancas são o campo de geopotencial e áreas sombreadas em verde ventos acima de 50kt. Para finalizar nossa breve análise verificar-se-á os campos de índices de instabilidade, e o padrão de ventos principalmente em níveis baixos da troposfera (figura 4 a e b). Primeiramente observa-se o vento significativo de noroeste a leste dos Andes direcionado para o Sul do Brasil (figura 4 a) . Mas os índices de instabilidade, que basicamente indicam padrão de temperatura e umidade entre 850 e 500 hPa, mostravam todo o centro-sul do Brasil bastante instável! O fluxo de noroeste a leste dos Andes (figura 4c) configura-se direcionado para o Sul do Brasil, mas o campo de água precipitável indicava valores acima de 40 mm nas Regiões Sul e Sudeste e sul e oeste do Centro-Oeste. Embora ventos mais fortes de noroeste estivessem direcionados para sul, ventos não tão fortes mas que também transportaram umidade e calor de noroeste atuaram entre MS e SP. a) b) Figura 4: a) Área sombreada indica índices cross totals (CT) acima de 23, k acima de 30, Total totals (TTs) acima de 45. Ventos em 850 hPa acima de 10 m/s são as setas amarelas e as linhas em azul indicam a umidade específica. b) Área em violeta indica CT acima de 23, kacima de 30, TTs acima de 45, Sweat acima de 180 omega negativo e umidade relativa integrada na coluna entre 1000 e 850 hPa; a área sombreada em amarelo é a área de ventos em 250 hPa acima de 70kt; a área sombreada em verde é a área de ventos acima de 8 m/s em 850 hPa; As linhas vermelhas são água precipitável acima de 40 mm. Assim o aquecimento diurno e a massa de ar úmido que predominava sobre o centro-sul do Brasil (termodinâmica) associados ao padrão de ventos em altitude foram os responsáveis pela convecção generalizada neste dia.