Escrita Criativa Rodrigo Mutuca Escrita Criativa 15 de abril - 29 de abril 06 de maio - 20 de maio 03 de junho - 17 de junho #criaetapa #rodrigomutuca Escrita Criativa: Poesia - 10 de maio – - 24 de maio – Palestra: mercado literário - 31 de maio – #professor_luiz Catarse Júlio Lima Foi no momento em que tocou sua língua – nunca provou nada tão doce. Dissolveu-se junto de sua razão em direção a seu âmago, já era parte de si mesmo. Naquele instante quis viver, e viveu intencionalmente pela primeira vez. Já não havia tempo ou espaço, forma ou conteúdo, a noite seria eterna e o sol se punha em seu interior. Já não era nada além de si mesmo, e houve plenitude. Não precisava mais buscar, foi tomado por um desprendimento pleno, quase fanático. Abandonou seus porquês – não era necessário respondê-los. Imagem desfocada. Seus olhos demoraram mais que o comum para se acostumar com a luz. Não havia dor de cabeça ou sede, talvez algo que se assemelhe a uma ressaca moral. Uma lágrima contornou o canto de um sorriso. Sentiu uma presença a seu lado antes de perceber a mão em seu peito – o homem do colar. As lembranças da noite anterior retornavam aos poucos e sem linearidade: o táxi, o neon, a rua, o beijo. Fechou suas pálpebras para reviver pausadamente cada memória, do gosto da vodca misturada com suor até o último ofegar antes de adormecer. Sabia que não precisava levantar tão cedo, mas deixou-se conduzir pela mesma mão que o acordara. Sentiu-se dúbio, misto, plural; o calor do corpo que o tocava e a gélida água em que se banhavam. Era jazz, fluido, dançante; era soul, impulsivo, apaixonante. Era poesia, satisfação. Era o prazer de dois corpos errantes e insubmissos. Era religião, sua religião. Entregue a sua vontade visceral, estava livre. Não precisava de mais nada além do homem e da vida. Queda livre – e não havia fim. Estrutura básica do roteiro O que ver? - A estrutura básica do roteiro (os três atos); - Quem / Como é o protagonista?; - Que sentimentos o curta tenta estimular?; - Σκέψου!; - Sapere aude! (I. Kant) Exemplos The Misguided Monk - O monge equivocado – Tom Long (2013 / Inglaterra) The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore - William Joyce, Brandon Oldenburg (2011 / EUA) Tonnellage - Ivan Maximov (2005 / Rússia) Morangos Silvestres (primeiro sonho) – Ingmar Bergman (1957 / Suécia) O inventário fantasma - Franck Dion (2004 / França) When the day breaks - Amanda Forbis, Wendy Tilby (1999 / EUA) The Butterfly - Andrey Khrzhanovskiy (1972 / URSS) Foto – Ismael Ferrer (2011 / Espanha) A maldição das águas Bianca Kimura Antes do início dos tempos, à beira do oceano, havia uma vila habitada por seres eternos. Ali, o tempo parecia não passar, era calmo e tranquilo como as águas daquele mar. Mar cujas ondas eram tão discretas que quase não eram percebidas. As pessoas daquele lugar não sentiam dor nem prazer, apenas viviam as vidas designadas a elas. Mas um dia as ondas chamaram a atenção de toda aquela gente. Houve um dia em que aquelas ondas, aparentemente estáticas, trouxeram um cesto até a praia – dentro desse cesto havia uma criança. Pela primeira vez os seres eternos sentiram algo, mas como era a primeira vez que eles tiveram tal sentimento, não conseguiram compreender que sentimento era aquele. Pegaram a criança – ela necessitaria de cuidados – e foi então que perceberam no cesto restos de uma maçã envenenada. A criança não duraria muito, mas mesmo assim eles cuidariam dela. A criança cresceu e se tornou uma linda moça, a qual cultivava uma estranha expressão facial. Frequentemente sua boca se esticava e suas bochechas faziam com que seus olhos cerrassem levemente, algo jamais visto pela perene aldeia. Era estranho, mas agradável de se ver. A criança parou de crescer, mas seu rosto continuou se transformando. Rugas apareceram em sua face, seus cabelos perderam a cor, seu corpo não parecia o mesmo, mas ela ainda continuava cultivando a mesma expressão que tanto impressionava os aldeões. Eles se perguntaram como aquela criança pôde mudar tanto tão de repente. E, quando a criança compartilhou seu último sorriso, eles perceberam a resposta. A concepção da finitude é o que torna as coisas preciosas. De certa forma, a maldição não era a morte, mas a irrelevância da eternidade.