Correlações entre Características Agronômicas e Bromatológicas de Cultivares de Sorgo Forrageiro Renata R.J. Sousa; Carlos J.B. Albuquerque; Dorismar D. Alves; Edson M.V. Porto e Gilson R. Rocha EPAMIG. Cx. Postal 2248, 38402-019, Uberlândia, MG. e-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] Palavras-chave: bromatológica. Sorghum bicolor, características morfológicas, composição A cultura de sorgo tem uma importância estratégica no abastecimento de grãos e forragem do País, podendo contribuir com o equilíbrio nos estoques reguladores de grãos e forragem de qualidade, contribuindo com o crescimento sustentado da pecuária por garantir a oferta de alimentos, com redução de custos, permitindo maior competitividade ao setor (FERREIRA, 2001). A conservação do excesso de forragem, produzida na época de abundância, para suprir as necessidades de alimentação dos animais nos meses de escassez é fundamental para a manutenção de um programa sustentado de produção animal (FERREIRA, 2001). Com a crescente melhora no padrão genético dos animais e com a intensificação da produção pecuária, aumenta-se também a exigência na qualidade da silagem. Ainda são escassos trabalhos correlacionando a composição bromatológica com características morfológicas das plantas na condição do semiárido. Através do estudo das relações entre as diversas características da planta, pode-se decidir pela redução do número de características avaliadas em experimentos futuros com sorgo, uma vez observada grande dependência entre uma variável e outra. Zago (1991), analisando a estrutura física da planta de sorgo, constatou que as porcentagens de colmo e de panícula são características agronômicas que consistentemente se correlacionam com variáveis de qualidade, como digestibilidade da matéria seca (MS) e fibra em detergente ácido (FDA), com o ganho de peso médio diário e consumo de matéria seca. De acordo com o mesmo autor, o potencial de produção de MS aumenta com a altura, e a porcentagem de panículas decresce com o aumento da altura da planta. Esse decréscimo ocorre a uma taxa menor em híbridos de portes baixo e médio e a uma taxa maior quando a altura da planta excede os três metros. Molina (2000) observou alta correlação (r = 0,85) entre as produções de MS e de matéria natural (MN), indicando que o uso da produção de matéria natural no campo pode ser utilizado para estimar a produção de matéria seca por área. Oliveira et al. (2005), observou que dentre as cultivares avaliadas, as duas que apresentaram o maior porte (BR 506, com 2,74 m, e BRS 610, com 2,43 m de altura) apresentaram as menores percentagens de panícula (2,7% e 14%). Por outro lado, as maiores porcentagens de colmo (86% e 75 %) confirmando os resultados obtidos por Zago (1991), que observou o aumento da altura da planta está relacionado com uma XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 1441 redução nas proporções de panícula (r = -0,62) e com o aumento da participação de colmo na planta de sorgo. Zago (1992) encontrou correlação de 0,76 entre a porcentagem de panícula e a matéria seca do material original, e de 0,83 entre a porcentagem de panícula e a matéria seca da silagem produzida. Já a correlação entre a porcentagem de colmo e matéria seca do material original e silagens foram de – 0,66 e – 0,59, respectivamente. Estudando um grande número de variedades de sorgo, Schmid et al. (1976) encontraram correlação positiva entre altura da planta e teor de fibra em detergente ácido (r = 0,87) e correlações negativas entre altura da planta e digestibilidade in vitro da MS (r = –0,90), consumo de MS digestível (r = –0,80) e ganho de peso diário (r = –0,63). Esses resultados mostram uma relação inversa entre altura e qualidade do material. As forrageiras, de modo geral, apresentam correlação negativa entre a fração fibrosa e a digestibilidade. De acordo com Silva (1997), os níveis de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), celulose, hemicelulose e lignina no sorgo limitam a qualidade final das silagens, já que estas não apresentam redução após o processo fermentativo, permanecendo como principais barreiras à atuação dos microrganismos presentes no silo. Segundo Van Soest (1994), existe alta correlação negativa entre FDN e o consumo de matéria seca pelos ruminantes. Dessa forma, silagens originárias de genótipos de sorgo com menor concentração de FDN teriam tendência a apresentar maiores taxas de consumo voluntário. Este trabalho foi realizado com o objetivo de estabelecer correlações entre características de interesse agronômico e bromatológico de cultivares de sorgo, em duas localidades. O experimento foi realizado em área experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), na Fazenda Experimental de Acauã (FEAC) localizada no município de Leme do Prado, MG e na Fazenda Experimental do Gorutuba (FEGR) localizada no município de Nova Porteirinha, MG. Foram utilizados sete genótipos de sorgo forrageiro, sendo uma variedade experimental (Exp866), duas variedades comerciais (Ponta Negra e Silotec 20), além de quatro híbridos comerciais (1F 305, BRS 610, SHS 500 e Volumax). Foi utilizado o delineamento experimental em blocos ao acaso com três repetições, em esquema fatorial 7 (genótipos) x 2 (localidades). Cada parcela foi composta por quatro fileiras de cinco metros de comprimento, espaçadas de 0,6 metros entre si, sendo a área útil as duas fileiras centrais, onde foram coletados os dados. Foi estimada a correlação classificatória de Spearman entre os dois locais para todas as características avaliadas e a correlação de Pearson entre as diferentes características avaliadas, considerando o teste “t” na análise de significância. As áreas experimentais foram preparadas convencionalmente, sendo realizadas uma aração, uma gradagem e posterior sulcamento. Foi feito a adubação antes do plantio com 350 Kg ha-1 da fórmula 4 (N): 30 (P2O5): 10 (K2O), com base na análise de solo. Realizou-se apenas uma adubação de cobertura com 200 kg ha-1 de uréia e 120 kg ha-1 de cloreto potássio. Para o controle de plantas daninhas, foi utilizado, na pós-emergência, o herbicida Gesaprim 500 (atrazine), na dosagem de 4 L ha-1 do produto comercial. O plantio foi realizado de forma manual no dia 12 de dezembro de 2008, distribuindo uniformemente 10 sementes por metro linear. Quando as plantas estavam XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 1442 com três a quatro folhas totalmente expandidas, foi realizado desbaste deixando 120 mil plantas por hectare. Foram realizadas pulverizações, por meio de um pulverizador costal, com o inseticida Deltametrina, na dosagem de 200 ml ha-1, para controle da lagarta-docartucho (Spodoptera frugiperda). Foram avaliados os parâmetros de altura de plantas, diâmetro de colmo, produtividade de matéria seca, porcentagem de colmo, folha e panícula na matéria seca, porcentagem de proteína bruta (PB), porcentagem de fibra em detergente neutro (FDN) e porcentagem de fibra em detergente ácido (FDA). A altura de planta foi mensurada em quatro plantas da área útil da parcela, da inserção da panícula superior até o solo, com auxilio de uma régua graduada, após a maturidade fisiológica dos grãos. A colheita das plantas foi realizada de forma manual, a uma altura de dez centímetros do solo quando os grãos do centro da panícula estavam no estádio leitoso a pastoso. Neste momento todas as plantas da área útil de cada parcela foram cortadas, e posteriormente pesadas para a determinação de massa verde, e destas, quinze foram selecionadas ao acaso, identificadas e levadas para o laboratório, onde foi medido em seis plantas o diâmetro entre o segundo e terceiro nó do colmo, com auxilio de um paquímetro. Em seguida foram separadas as frações colmo, folha e panícula, cada fração foi pesada separadamente e secas em estufa de aeração forçada, a 65°C, por 72 horas, para determinação da matéria seca (MS). Estas amostras depois de secas foram moídas em moinho tipo Willey, com peneira de 1 mm de crivo, para determinação da matéria seca definitiva a 105°C por 12 horas de acordo com a metodologia descrita por Silva et al. (2006). As análises bromatológicas de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foram realizadas no Laboratório de Bromatologia da Universidade Estadual de Montes Claros, de acordo com a metodologia descrita por Silva et al. (2006). O coeficiente de correlação de Pearson (r) é uma medida do grau de relação linear entre duas variáveis quantitativas. Este coeficiente varia entre os valores -1 e 1. O valor 0 (zero) significa que não há relação linear, o valor 1 indica uma relação linear perfeita ( o aumento de uma característica implica o aumento da outra) e o valor -1 também indica uma relação linear perfeita mas inversa, ou seja quando uma das variáveis aumenta a outra diminui. Quanto mais próximo estiver de 1 ou -1, mais forte é a associação linear entre as duas variáveis. Os coeficientes de correlação de Pearson, considerando todas as possíveis combinações duas a duas das características avaliadas nos dois locais, estão apresentados na Tabela 1. XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 1443 TABELA 1 Correlações simples envolvendo a análise conjunta das duas localidades para produtividade de matéria seca (PROD), altura de plantas (AP), diâmetro de plantas (DI), porcentagem de folhas na matéria seca (FOL), porcentagem de colmo na matéria seca (COL), porcentagem de panícula na matéria seca (PAN), fibra detergente neutro (FDN), fibra detergente ácido (FDA), proteína bruta (PB). Características PROD AP DI FOL COL PAN FDN FDA AP DI 0,79** 0,82** 0,66** FOL COL ns -0,68* 0,41 -0,76** 0,70** -0,59* -0,01 ns -0,33 ns PAN FDN ns -0,14 -0,41 ns 0,26 ns -0,08 ns -0,91** FDA ns -0,02 -0,46 ns 0,28 ns 0,33 ns -0,76** 0,67* ns 0,30 0,04 ns 0,23 ns 0,34 ns 0,11 ns -0,26 ns 0,53 ns PB -0,06 ns -0,42 ns 0,12 ns 0,01 ns -0,78** 0,83** 0,52 ns -0,27 ns **: significativo a 5% pelo teste t. **: significativo a 1% pelo teste t. ns : Não significativo. Foram constatadas correlações positivas e altamente significativas entre a produtividade de matéria seca com altura de plantas e diâmetro de colmo. Resultados semelhantes foram obtidos por Molina et al. (2000) que, na avaliação de seis híbridos de sorgo, observaram correlação positiva e altamente significativa entre altura e produtividade de matéria seca. Houve uma correlação negativa e significativa entre a produtividade de matéria seca e a porcentagem de folha na matéria seca. A avaliação da altura de plantas (m) seria suficiente para inferir sobre os resultados de produtividade de matéria seca, uma vez que ocorreu correlação alta e significativa entre essas duas características. A característica altura de plantas correlacionou de forma positiva com diâmetro de colmo e porcentagem de colmo na matéria seca e de forma negativa com a porcentagem de folha na matéria seca. Resultado semelhante foi relatado por Brito (1999) avaliando sete genótipos de sorgo, esse autor observou correlação positiva entre altura e porcentagem de colmo (r= 0,89) e correlação negativa entre altura e porcentagem de folha (r= -0,85). Rocha Jr. et al. (2000a) encontrou correlação positiva alta entre a porcentagem de colmo e altura da planta (r=0,94; P<0,001). A correlação entre altura da planta e produção de MS é desejável, no entanto, a correlação entre altura da planta e porcentagem de colmo é pouco desejável para produção eficiente de forragem. O diâmetro de colmo apresentou correlação negativa e significativa com a porcentagem de folha na matéria seca (Tabela 1), indicando, assim, que o aumento do diâmetro de colmo, acarreta no aumento desta fração na matéria seca e por conseqüência redução da fração folha. Observou-se correlação negativa e altamente significativa entre a porcentagem de colmo na matéria seca com a porcentagem de panícula na matéria seca, fibra em detergente neutro e proteína bruta (Tabela 1). Resultado semelhante para a correlação XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 1444 entre porcentagem de colmo e proteína bruta foi encontrada por Brito (1999) (r= -0,88) e por Rocha Jr. et al. (2000b) (r= -0,81). A porcentagem de panícula na matéria seca correlacionou positivamente com fibra em detergente neutro e proteína bruta. Brito (1999) também encontrou correlação positiva entre o teor de PB (p<0, 0022) e a porcentagem de folhas (r=0,63). Resultados que contrastam com os obtidos neste trabalho foi encontrado por Brito (1999) que observou correlação positiva entre fibra em detergente neutro com porcentagem de colmo e correlação negativa entre fibra em detergente neutro e porcentagem de panícula. O coeficiente de correlação de Spearman é um método não paramétrico utilizado como teste estatístico para avaliar a independência entre duas variáveis aleatórias. A presença de interações entre cultivares x ambientes pode ser realçada por meio do estudo das correlações fenotípicas (coeficiente de correlação de Spearman) entre as características avaliadas nos dois locais. A correlação positiva e significativa indica que a classificação das cultivares foi semelhante nos dois locais, enquanto que a correlação negativa e significativa indica que a classificação das cultivares foi diferente. Foram constatadas correlações positivas e significativa para altura de plantas, porcentagem de folha na matéria seca, fibra detergente neutro, fibra detergente ácido (Tabela 2 ). Indicando que estas foram as características menos influênciadas pelo ambiente. Para a proteina bruta observou-se alteração na classificação das cultivares de um local para outro, evidenciando que houve interação cultivares x locais para essa característica. Conforme relatado anteriormente a proteina bruta correlacionou-se positivamente com a porcentagem de paniculas na materia seca (Tabela 1). Dessa forma a condição climatica prevalescente no local de cultivo afetou diferentemente as cultivares no que diz respeito a porcentagem de paniculas na matéria seca evidenciando a importância dessa caracteristica no aumento da proteína bruta da forragem. TABELA 2 Coeficiente de correlação de Spearman para as cultivares de sorgo entre os diferentes locais para as características de altura de plantas (AP), diametro de plantas (DI), porcentagem de folhas na matéria seca (FO), porcentagem de colmo na matéria seca (COL), porcentagem de panícula na matéria seca (PAN), fibra detergente neutro (FDN), fibra detergente (FDA), proteína bruta (PB). Características Produtividade de grãos Altura de plantas Diâmetro de colmo Porcentagem de colmo Porcentagem de Folha Porcentagem de Panícula Fibra em detergente Neutro Fibra em detergente Ácido Proteína bruta *: significativo a 5% pelo teste t. **: significativo a 1% pelo teste de t. ns : Não significativo Acauã x Nova Porteirinha -0,13 ns 0,81 ** -0,37 ns 0,02 ns 0,65 ** 0,57 ns 0,76 ** 0,65 * -0,57 * XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 1445 É possível reduzir o número de características avaliadas em experimentos com sorgo, uma vez que existem associações entre as principais características geralmente avaliadas. A altura de plantas e a porcentagem de panícula na matéria seca são características imprescindíveis nessa avaliação. Existem correlações significativas específicas entre características agronômicas e químico-bromatológicas do sorgo que devem ser observadas em programas de melhoramento genético. Estudos de correlações específicas para cultivares devem ser ampliados. Agradecimentos Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e ao Banco do Nordeste (ETENE/FUNDECI) pelo apoio financeiro. BRITO, A.F. de. Avaliação das silagens de sete genótipos de sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) e os seus padrões de fermentação. 1999.129p. Dissertação (Mestrado)-Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. FERREIRA, J. J. Estágio de maturação ideal para ensilagem do milho e sorgo. IN: EMBRAPA – Produção e utilização de silagem de milho e sorgo. Sete Lagoas, 2001.p.405-428. MOLINA, L. R. Avaliação Nutricional de Seis Genótipos de Sorgo Colhidos em Três Estádios de Maturação. 2000. 324p. Tese (Doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. MOLINA, L.R.; GONÇALVES, L.C.; RODRIGUEZ, N.M.; RODRIGUES, J.A.S.; FERREIRA, J.J.; FERREIRA, V.C.P. Avaliação agronômica de seis híbridos de sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench). Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária Zootecnia. v.52, n.4, 2000. OLIVEIRA, R. de P.; FRANÇA, A.F. de S.; RODRIGUES FILHO, O.; OLIVEIRA, E.R. de; ROSA, B.; SOARES, T.V.; MELLO, S.Q.S. Características agronômicas de cultivares de sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) sob três doses de nitrogênio. Pesquisa Agropecuária Tropical, v.35, n.1, p.45-53, 2005. 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