A Nova Fonte de Luz Síncrotron Brasileira Fonte em operação Nova Fonte Para manter a competitividade na geração de conhecimento Luz Síncrotron no Mundo Mundialmente, nos últimos 20 anos, o uso de radiação síncrotron em pesquisa científica e tecnológica vem mostrando um enorme avanço. Hoje existem acima de 50 fontes de luz síncrotron, sendo 16 delas de 3ª geração, que apresentam baixas emitâncias (feixes pequenos e de baixíssima divergência) e uso intensivo de dispositivos de inserção magnéticos chamados de onduladores. Essas fontes, em operação a partir de 1994, permitiram um ganho no brilho de alguns milhares de vezes, se comparadas com a geração anterior. Algumas delas entraram em operação muito recentemente, como a britânica (DIAMOND), a francesa (SOLEIL), a australiana (BOOMERANG), a chinesa (SSRF) e a alemã (PETRA). Todos esses projetos representam uma resposta desses países ao crescimento explosivo da demanda por luz síncrotron, resultante da grande gama de aplicações que se tornou possível com as fontes de terceira geração. Entre 2000 e 2008 o número de usuários de luz síncrotron nas fontes mantidas pelo DOE (Department of Energy, EUA) cresceu 40% (de 6000 para 8400). No laboratório europeu ESRF (European Synchrotron Radiation Facility) este número cresceu 30% entre 2003 e 2008. Este crescimento mundial deve-se em grande parte ao desenvolvimento da biologia molecular estrutural bem como novas aplicações em paleontologia, patrimônio cultural, meio ambiente, etc. Science, 326, 2009 Biologia Ada Yonath, do Instituto Weizmann (Israel), Venkatraman Ramakrishnan, do MRC Laboratory of Molecular Biology in Cambridge (UK) e Thomas Steitz, da Universidade de Yale (US) receberam o premio Nobel de Química em 2009 pelo estudo da estrutura e função do ribossomo, a fábrica de proteína das células. Luz Síncrotron no Brasil O Brasil deu uma importante contribuição para o desenvolvimento da ciência, especialmente na região da América Latina, quando, no final dos anos 80 e durante os anos 90, desenvolveu a tecnologia e construiu a primeira fonte de luz síncrotron do hemisfério sul – ainda hoje a única na América Latina. A comunidade científica teve à disposição este avançado instrumento para pesquisas a partir de julho de 1997. Desde então, já são mais de 12 anos de operação rotineira para mais de 1000 pesquisadores por ano. Paleontologia Graças à coerência da luz síncrotron, nas fontes de geração III, P. Tafforeau obteve, no ESRF, uma reconstituição dos ossos no interior de um fóssil de ovo de 150 milhões de anos. Paralelamente, a fonte de luz foi sendo aperfeiçoada, atingindo um alto grau de desempenho para máquinas de sua geração e aproximando-se dos limites físicos de expansão. Já em 2006, a comunidade de usuários identificou a necessidade de uma nova fonte de luz síncrotron, mais moderna – de terceira geração – para incrementar a competitividade do país na geração de conhecimento. O projeto dessa nova fonte foi iniciado no final de 2008, com o aval do MCT para elaboração do projeto e construção inicial de protótipos de componentes da máquina. O projeto já está delineado e baseia-se em duas idéias inovadoras para atingir altos níveis de desempenho, com produção de luz síncrotron muito intensa, brilhante e estável. O projeto é tecnologicamente arrojado e utiliza ímãs permanentes que possibilitam economia considerável no investimento e no consumo de energia de operação. Mais recentemente outra inovação foi introduzida para conciliar as boas características das fontes de geração III (uso da luz de dispositivos de inserção) com as da geração II (uso da luz de dipolos). Isto permite aumentar o escopo científico sem onerar os custos de operação. Esta será a primeira fonte de luz síncrotron do mundo a utilizar a tecnologia de ímãs permanentes de baixo campo magnético para os dipolos, principais ímãs que defletem os elétrons no anel. A luz emitida nestes ímãs é de baixa potência, daí o baixo consumo da fonte. Isso, por outro lado, impossibilita o uso de raios X de alta energia a partir dos dipolos. Foi adotada, então, uma solução que combina fatias finas de alto campo magnético que gera raios-X de alta energia apenas nas regiões utilizadas pelas linhas de luz. Essas idéias, apesar de simples, nunca foram empregadas antes e podem representar um avanço significativo no projeto desses aceleradores. Além da fonte de luz síncrotron serão construídas as primeiras dez linhas de luz que exploram as características mais importantes dos equipamentos de terceira geração – alto brilho, baixa emitância e coerência. As características da nova fonte abrem importantes horizontes de pesquisa em relação àquela em operação no LNLS Raios X 10 vezes mais energéticos Possibilitará pesquisa em sistemas reais de importância para a o desenvolvimento de novos materiais, da metalurgia (corrosão e estrutura), geologia e engenharia civil (rochas e concretos) e outros sistemas sob condições extremas de temperatura e pressão – área de grande importância, por exemplo, para a indústria petrolífera. Brilho 10 mil vezes maior de feixes coerentes Possibilitará o trabalho com luz focalizada em manchas nanométricas importantes, por exemplo, para a determinação de estruturas de proteínas de difícil cristalização – a grande maioria – de importância para a biologia e para a indústria de fármacos. Conceitos O que é luz síncrotron? Quando sujeitas a aceleração, cargas elétricas emitem radiação eletromagnética que se propaga no espaço com uma velocidade de 300 mil quilômetros por segundo. As ondas de rádio, o infravermelho, a luz visível, o ultravioleta e os raios x são exemplos de radiação eletromagnética. Síncrotrons são aceleradores de elétrons que emitem simultaneamente e de modo muito intenso todo esse espectro de radiação. Assim, esses equipamentos são as fontes de luz síncrotron. Mais importante que a intensidade da luz síncrotron é a sua concentração em feixes muito finos. Como são as fontes de luz síncrotron? Uma fonte de luz síncrotron é constituída de três aceleradores de elétrons: um acelerador linear pré-injetor (LINAC), um síncrotron injetor (booster) e um anel de armazenamento. O LINAC produz e acelera elétrons até 100 a 200 MeV (um MeV é a energia adquirida por um elétron quando acelerado por um potencial de um milhão de volts). Estes elétrons são passados para o booster que os acelera até 1 a 3 GeV (um GeV equivale a 1000 MeV). Repetidas operações do LINAC e do booster preenchem o anel de armazenamento até atingir uma corrente típica de trabalho de algumas centenas de miliamperes. Graças a um sistema de ultra-altovácuo, a carga armazenada (o feixe de elétrons) permanece em órbita definida por ímãs por dezenas de horas, produzindo luz síncrotron continuamente em todo o espectro – infravermelho, visível, ultravioleta e raios x. Como se utiliza a luz síncrotron? O anel de armazenamento possui várias janelas por onde sai luz síncrotron às quais são acopladas as linhas de luz. Estas linhas possuem vários componentes ópticos que selecionam e focalizam a parte do espectro de luz relevante para cada trabalho. A luz assim condicionada é entregue a uma estação experimental, onde diferentes tipos de interação com amostras – fluorescência, absorção, difração, emissão de foto-elétrons, etc. – são detectados e interpretados para o estudo de materiais em escala atômica, molecular, microscópica ou mesmo macroscópica. Campo fraco na maior parte dos dipolos 0,5 Tesla Luz intensa apenas para a linha de luz Pouca potência de luz onde não é necessário Campo forte apenas onde é necessário 2 Tesla Concepção inovadora Dipolos com magnetos permanentes Menor investimento em fontes de alimentação de alta potência sistema de resfriamento de menor porte Menor custo operacional economia anual de 1,5 GW.h/ano nas fontes de corrente redução da carga sobre o sistema de resfriamento (0,6 MW.h/ano) Maior confiabilidade Redução de componentes críticos Campo magnético forte apenas onde é útil Menor investimento em equipamentos de radiofreqüência em equipamentos de vácuo (eliminação da maior parte do aquecimento e foto-desorção da câmara de vácuo por luz síncrotron não-utilizada) Menor custo operacional menor potência de radiofreqüência (economia de 4000 MW.h/ano) redução da carga sobre o sistema de resfriamento (500 MW.h/ano) A nova fonte brasileira terá características superiores às instalações mais recentes: LNLS Atual LNLS Novo Soleil Diamond Shanghai Energia (GeV) 1,37 3,0 2,75 3,0 3,5 Diâmetro (m) 30 137 113 179 137 Brilho dipolos @ 10 keV[1] 1 5,6 x 103 1,6 x 103 3,6 x 103 2,2 x 103 Brilho dipolos @ 50 keV[1] 1 25 x 109 1,9 x 109 4,4 x 109 5,8 x 109 Número de linhas de dipolo 24 20 32 48 40 Número de linhas de trechos retos[2] 4 18 22 22 18 100 1,7 3,7 2,7 3,9 Emitância (nm.rad) [1] Normalizado pelo LNLS Atual; [2] já descontados dois trechos para injeção e RF. Estudo da estrutura da proteína chagasina, do tripanosoma cruzi, envolvida na doença de Chagas. A pesquisa foi realizada no LNLS, utilizando luz síncrotron e ressonância magnética nuclear.