UCAM - UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE MARKETING CULTURAL Alessandra Calmon Castilho Monografia apresentada a UCAM – Universidade Cândido Mendes, ao PROJETO A VEZ DO MESTRE como requisito parcial para a conclusão do curso de pósgraduação “latu-sensu”, com especialização em Marketing no Mercado Globalizado, sob a orientação do professor André Gustavo Guimarães da Cunha. Rio de Janeiro, fevereiro de 2003. ii Agradeço em primeiro lugar a Deus, pelas bênçãos recebidas, as quais me fizeram capaz de alcançar mais este triunfo. Agradeço à minha família e aos meus amigos que em todos os momentos se mostraram presentes, me dando o apoio necessário para nunca fraquejar. Agradeço ainda a todos os professores, pela dedicação e afinco constantes todos os dias. iii Dedico este trabalho àqueles a quem eu amo e que me amam também, pois com a presença desse amor me ajudaram a concluir mais uma vitória. iv RESUMO O termo, Marketing Cultural, bastante difundido no senso comum, carece de conceituação, mas parece adequar-se a uma gama definida de usos. É justamente a análise do que ocorreu a partir das leis de incentivo fiscal com a produção cultural brasileira que se faz um levantamento das evidências que confirmam a validade e a pertinência da atuação das organizações como mecenas nas mais diversas áreas da manifestação artístico-cultural no Brasil, complementando a política de Estado no setor e capitalizando, com tais iniciativas, a boa vontade de governos e da sociedade, ou ainda, meramente de segmentos bastante específicos de públicos de interesse, a exemplo do que correntemente se dá nos países desenvolvidos. As doações e patrocínios reduzem o Imposto de Renda da pessoa física ou jurídica. Na história das manifestações artísticas e culturais do Brasil contemporâneo, o período compreendido entre 1986 e 1989 marcou o auge do apoio institucional à cultura via lei Sarney, de incentivos fiscais. O que se busca é a consagração científica do que seja o marketing cultural, o porquê de sua adoção pelas instituições públicas e privadas e o estudo do impacto dessa atividade sobre os agentes que a compõem.Algumas respostas que vão indicar esse caminho são encontradas na pesquisa realizada pelo professor Manoel Marcondes Machado Neto. Através de um estudo mais aprofundado e de um mapeamento da atividade de marketing cultural em nosso país, poderá se augurar sobre uma mais efetiva participação de pessoas físicas e jurídicas na produção cultural brasileira, bem como se quer contribuir para a formação de perfis profissionais especializados no trato das questões de cultura e mercado. Palavras-chaves: cultura, patrocínio e incentivo. v SUMÁRIO INTRODUÇÃO - MARKETING CULTURAL, UMA ESTRATÉGIA NA COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL-----------------------------------------------------------------------------------------01 2 -DEFININDO MARKETING CULTURAL------------------------------------------------------03 2.1 - A Cultura do Marketing e o Marketing Cultural--------------------------------------04 3 - A PRÁTICA DO PATROCÍNIO CULTURAL ------------------------------------------------08 3.1 - Dificuldades de Crescimento do Setor-------------------------------------------------12 3.1.1 - Produtores caçam recursos----------------------------------------------------13 3.1.2 - Investimento no setor é tímido-----------------------------------------------14 4 –LEGISLAÇÃO - O INCENTIVO FISCAL À CULTURA------------------------------------16 4.1 - A Lei Federal------------------------------------------------------------------------------16 4.1.1 - Fundo Nacional da Cultura---------------------------------------------------17 4.1.2 – Mecenato-----------------------------------------------------------------------18 4.1.3 - Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart)----------------------18 4.1.4 - O Incentivo Federal-----------------------------------------------------------18 4.1.5 - Principais áreas abrangidas pelo incentivo---------------------------------19 4.1.6 - Incentivo para áreas especiais------------------------------------------------19 4.1.7 - Exemplos de investimentos:--------------------------------------------------20 4.1.8 - Como investir em cultura pela Lei Federal---------------------------------24 4.1.9 - Utilização de produtos e direitos como promoção-------------------------25 4.1.10 - Operações Proibidas----------------------------------------------------------25 4.2 - A Lei Estadual - Incentivo no Estado do Rio de Janeiro-----------------------------26 4.2.1 - Limites de dedução------------------------------------------------------------26 vi 4.2.2 - Como Investir------------------------------------------------------------------27 4.2.3 - Operações Proibidas-----------------------------------------------------------27 4.3 - A Lei Municipal - Incentivo no Município do Rio de Janeiro----------------------27 4.3.1 - Quanto Investir com Incentivos Fiscais------------------------------------28 4.3.2 - Áreas Abrangidas--------------------------------------------------------------28 4.3.3 - Como Investir------------------------------------------------------------------28 5 - A RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA CIDADÃ-----------------------------30 6 - PESQUISAS - MARKETING CULTURAL---------------------------------------------------36 6.1 – Classificação -----------------------------------------------------------------------------36 6.2 – Estudos de caso--------------------------------------------------------------------------38 6.3 – Na escola----------------------------------------------------------------------------------40 6.4 - A Motivação ------------------------------------------------------------------------------40 6.5 - Científico ---------------------------------------------------------------------------------42 6.6 – Avaliação---------------------------------------------------------------------------------47 CONCLUSÃO-------------------------------------------------------------------------------------------49 ANEXO I-------------------------------------------------------------------------------------------------51 ANEXO II-------------------------------------------------------------------------------------------------52 ANEXO III------------------------------------------------------------------------------------------------53 ANEXO IV------------------------------------------------------------------------------------------------54 ANEXO V-------------------------------------------------------------------------------------------------55 ANEXO VI------------------------------------------------------------------------------------------------56 ANEXO VII-----------------------------------------------------------------------------------------------57 BIBLIOGRAFIA-----------------------------------------------------------------------------------------58 vii LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Gráfico 1 - Você atua na área de Projetos Culturais?--------------------------43 Figura 2 – Gráfico 2 - Quais são as razões que o motivou ao curso?----------------------44 Figura 3 – Gráfico 3 - Sobre a atuação do Poder Público na área cultural----------------44 Figura 4 – Gráfico 4 - A Atuação da iniciativa privada na área cultural------------------45 Figura 5 – Gráfico 5 - Recall dos patrocinadores---------------------------------------------45 Figura 6 – Gráfico 6 - Consumo Cultural -----------------------------------------------------46 Figura 7 – Gráfico 7 - As razões que levam as empresas a apoiar cultura----------------46 viii INTRODUÇÃO – M ARKETING CULTURAL: UMA ESTRATÉGIA NA COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL. Os produtos culturais, um filme, uma escultura, um poema ou uma ópera, têm o seu público e este tende a se expandir na medida de sua veiculação. Uma atividade cultural pode envolver um público amplo e de maneira positiva. Esse raciocínio, talvez, explica o vínculo progressivo entre os produtos culturais e as empresas. Elas garantem a realização de atividades que podem envolver a música, a dança, o teatro que, por sua vez, mobilizam o público. Por que as empresas patrocinam a cultura se não por isso? A Escola de Comunicações e Artes, além de outros profissionais de áreas artísticas, da informação e da ação cultural, forma publicitários. E, com isso, são estudadas as questões que envolvem a inserção de produtos e idéias no meio social e no mercado. Há, portanto, numa mesma instituição, todos os elementos que possibilitam o estudo e a criação de bens culturais, a sua disseminação e todas as vinculações possíveis com o público. O Marketing Cultural aflorou desse tecido como uma conseqüência previsível e lógica (NETO, 2002). Hoje, porém, não apenas as empresas multinacionais, mas um número cada vez maior de empresários e executivos ligados à prestação de serviços, ou mesmo indústrias com capital brasileiro, abrem-se para estes conceitos que fazem da relação empresa-cultura uma parceria salutar, cujos benefícios vão muito além das concepções arcaicas do puro mecenato (NETO, 2002). Pertencentes à esfera da administração pública, os museus e localidades históricas em sua maioria, padecem de uma crônica falta de verbas. Esta poderia ser amenizada através de captação de recursos da iniciativa privada, não fossem o preconceito de diretores e demais responsáveis e/ou amarras de legislações já há muito obsoletas ante a realidade e ix responsabilidade do governo no que concerne à sua participação em todos os setores da sociedade, se a legislação de muitos museus e casas históricas não permite ou emperra a parceria com a iniciativa privada, talvez o enfoque da administração não deve ser voltado num primeiro momento ao marketing, mas a formas e procedimentos de tornar estatutos e regimentos mais elásticos face à realidade de penúria (AZEVEDO,1996). O envolvimento de empresários com a cultura, nos países de primeiro mundo é muito comum, porém obedece ao princípio fundamental de parceria, onde tanto os agentes culturais como as empresas saem ganhando. Apoios a realizações artísticas fazem parte de estratégias de marketing de empresas, assim como os gastos com anúncios diretos na mídia. Como fruto estão o investimento na imagem institucional da empresa e o incremento das atividades culturais (AZEVEDO,1996). 2 -DEFININDO MARKETING CULTURAL x Entende-se por Marketing Cultural o desenvolvimento de um conjunto diversificado de ações, estratégias e produtos com o objetivo de estimular a produção e a difusão da cultura, entendida no seu sentido mais amplo (NETO, 2002). Incluem-se neste conceito, sobretudo, o apoio e o patrocínio a atividades culturais (literatura, dança, música, cinema, teatro, folclore etc e manifestações culturais e artísticas em geral) por parte de empresas públicas e privadas (NETO, 2002). A expressão Marketing Cultural, embora amplamente utilizada, é contestada por profissionais e especialistas que não aceitam, com tranqüilidade, a relação entre marketing e cultura, defendendo a tese de que o investimento em cultura não deve pautar-se, particularmente num país carente como o nosso e acostumado ao descaso oficial às atividades culturais, pela busca de retorno, sobretudo financeiro. Buscam exemplos em financiamentos realizados por empresas em atividades ou produtos, segundo eles, de valor cultural discutível, porque têm nitidamente uma inspiração mercadológica ou mercantilista (NETO, 2002). O Governo Federal, os Governos Estaduais e muitos municípios brasileiros têm editado leis com o objetivo de estimular a participação das empresas na produção e difusão da cultura brasileira, como a Lei Rouanet, a Lei do Audiovisual (federais) e a Lei Mendonça (São Paulo), (DRUCKER, 1999). Os investimentos em cultura, no Brasil, têm sido favorecidos após a edição destas leis, mas há que se ressaltar o fato de a maioria, se não a totalidade delas, não incluir a ciência como alternativa para o patrocínio, estranhamente não aceitando a ciência como resultado de um processo cultural. xi A migração da atividade econômica do setor primário para o setor terciário é sinal de evolução da sociedade. No entanto, basear toda a atividade turística nos encantos da natureza limita o potencial de visitação, mantém uma alta rotatividade de visitantes, o que exige um permanente esforço promocional e leva a um gasto per capita, dos visitantes, aquém do desejado. Por outro lado, agregar valor às belezas naturais através da cultura, tem mostrado, em todos os lugares, resultados extremamente satisfatórios para incremento do turismo. De quebra, ainda fica todo o crescimento cultural local, que, se a princípio, é utilizado como forma de captar turistas acaba reforçando e sedimentando a identidade cultural, levando a maior auto estima e auto valorização (NETO, 2002). Desenvolver a cultura ao ponto dela se tornar atraente para os visitantes é resultado de um trabalho sério e conjunto das entidades governamentais, do trade turístico, de pesquisadores, artistas e produtores culturais. Os resultados começam a surgir na medida em que essa aliança passa a ter forma e consistência. Nada em curto prazo, mas também nada a se perder de vista (NETO, 2002). 2.1 - A Cultura do Marketing e o Marketing Cultural Em meados do século passado a atividade do marketing passou a ser estruturada e ganhar corpo. Surgida da necessidade das empresas de incrementar negócios frente a uma nova realidade de mercado em que se produziam mais bens do que a demanda para os mesmos, o marketing como atividade empresarial foi se desenvolvendo e desenvolvendo ferramentas, tornando-se imprescindível para toda e qualquer empresa (MUYLAERT, 1993). xii Nos dias de hoje, a adoção de posturas de marketing faz parte da cultura das empresas e têm como essência a colocação do cliente no centro de tudo. E, mais que isso, o conceito de cliente é encarado de forma ampla e traduzido como sendo o conjunto formado por todos aqueles que, de alguma forma, recebem algum tipo de benefício resultante da atividade empresarial. Assim, público interno, público externo, fornecedores, comunidade, meio ambiente, são clientes da atividade empresarial e devem estar no centro do processo decisório dos caminhos a serem seguidos (NETO, 2002). Para melhor entendimento de toda essa mudança é necessária a abertura de um parênteses para esclarecimento de alguns pontos. Durante 300 anos, todas as atividades humanas e sociais tinham como base as teorias da física desenvolvidas por Isaac Newton. Extremamente pertinentes à época em que foram formuladas, não resistiam ao passar do tempo e ao desenvolvimento científico-tecnológico percebido, não sendo mais capazes de dar respostas satisfatórias às novas questões que surgiam. A teoria newtoniana tinha como base a segmentação e o isolamento de tudo. O mundo era uma grande, perfeita e concreta máquina, formada de inúmeras partes isoladas e seu entendimento era tanto melhor, quanto mais pudéssemos separar e entender as partes. Para Newton, o Universo era um enorme vazio, pontilhado aqui e acolá por moléculas e átomos que, às vezes, encontravam-se, trocavam informações e seguiam seus caminhos independentes (LEVITT, 1985). No início do século passado um grupo de cientistas começa a desenvolver a Teoria Quântica, baseada na Física Quântica que tem como premissa básica o inter-relacionamento de tudo. Ao contrário de Newton, a Teoria Quântica encara o Universo como sendo algo totalmente preenchido, com permanente interferência de tudo sobre tudo, ainda que existam eventos individuais. De difícil comprovação matemática e científica no início, a partir de xiii 1950, com o surgimento dos computadores de grande porte, torna-se possível a comprovação matemática dos eventos da Física Quântica e sua aceitação e adoção passa a crescer em todos os meios (LEVITT, 1985). Pois bem, no meio empresarial e do marketing as influências da Teoria Quântica também são sentidas e a postura das empresas muda para adaptar-se ao meio que, com isso, muda também e exige uma nova adaptação e assim sucessivamente, acarretando o ambiente de mudanças permanentes que vivenciamos hoje. O marketing, que já havia surgido como forma de adaptação empresarial ao meio, torna-se especialista em prospectar e detectar mudanças e promover adaptações a essas mudanças de forma permanente e, aí, deixa de ser atividade empresarial, passando a ser filosofia ou cultura empresarial. No fundo, porém, o marketing representa um conjunto de ferramentas e técnicas que têm como objetivo conquistar e manter clientes satisfeitos e rentáveis, tudo encarado de forma absolutamente ampla e que pode ser utilizado por toda e qualquer atividade e não só no âmbito empresarial (LEVITT, 1985). A Cultura, do ponto de vista acadêmico-sociológico, por sua vez, é representada por hábitos e costumes, manifestações sociais que se dão através das artes, da música, da culinária, da forma de educar, da política, dos esportes, da estruturação das cidades, enfim, de tudo. Presente e disseminada em todas as atividades humana (NETO, 2002). Assim, quando falamos na união de marketing e cultura ou no marketing cultural estamos falando em "cultura específica", representativa de algum setor ou indivíduo e nas formas que dispomos para expô-la e submetê-la aos demais setores da sociedade, iniciando um processo de transformação em mão dupla de direção (NETO, 2002). xiv Neste sentido, a utilização das ferramentas do marketing para a promoção cultural é extremamente válida e necessária, possibilitando a multiplicação e diversificação da atividade cultural. Por outro lado, a necessidade das empresas em construir marcas fortes e reconhecidas para obtenção de maior sucesso nos negócios e a efetiva contribuição que a associação a projetos culturais dá a essa necessidade, possibilitaram a aproximação das atividades de marketing empresarial e marketing cultural. Hoje, no bojo da onda crescente de ações voltadas para a responsabilidade social, por parte das empresas e da identificação dos consumidores com empresas que estejam engajadas neste processo, abre-se uma excelente oportunidade de realizações culturais que atendam às expectativas da comunidade e ao mesmo tempo às necessidades das empresas (NETO, 2002). Estudos realizados por institutos especializados atestam a crescente migração das verbas publicitárias da mídia de massa para os eventos focados e específicos. Sempre toda e qualquer ação de marketing é baseada em transparência e verdade. Iludem-se aqueles que pensam que podem enganar o consumidor fazendo o anti-marketing. No marketing cultural, especificamente, esse pressuposto também é válido e determinante nos caminhos que serão percorridos (http//www.marketingcultural.com.br). 3 - A PRÁTICA DO PATROCÍNIO CULTURAL xv No ambiente empresarial brasileiro, cada vez mais encontramos difundida a prática do patrocínio cultural como uma das ferramentas de comunicação institucional utilizadas para valorizar e posicionar uma marca no mercado. Cresceu nos últimos anos a compreensão de que em condições acirradas de concorrência, quando fatores como preço e diferencial tecnológico se equalizam, a marca - e os valores que ela difunde - não só se constituem no maior patrimônio de uma empresa, mas também na sua capacidade de diferenciar-se qualitativamente no mercado consumidor, definindo as opções de compra de produtos e serviços (NETO, 2002). Trabalhar com o posicionamento desses valores de marca passa a ser uma operação complexa, envolvendo verbas expressivas para as iniciativas de comunicação, marketing institucional e corporativo, onde se incluem, ou deveriam se incluir, o planejamento em patrocínio cultural. Tal planejamento, que caminha na direção oposta à da escolha aleatória e sem critérios de projetos isolados para patrocínio, exige a aplicação dessa técnica de comunicação que é o marketing cultural para que o resultado do investimento promova o tão almejado retorno institucional ( KOTLER, 1985). Sem esta visão e o planejamento consistente que articule as ações de patrocínio cultural ao perfil institucional da empresa - que envolve suas aspirações como corporação e o tipo de relação que deseja manter com as comunidades onde atua, o que se consegue são resultados desastrosos, com a pulverização de recursos e a distorção da imagem empresarial. xvi Empresas que patrocinam tudo não dizem nada. Acabam por trabalhar contra todo o esforço empreendido em outras áreas para garantir o mínimo de harmonia e lógica ao mix de comunicação que promove a sua imagem junto ao público-alvo e aos formadores de opinião. As leis de incentivos fiscais, ao dinamizarem os investimentos privados no setor cultural, também colaboraram para gerar um descompasso entre as ações de patrocínio e as iniciativas de comunicação institucional. O marketing cultural, erroneamente entendido como a pura e simples aplicação de tais leis por vários produtores e também por alguns coordenadores de políticas de patrocínios culturais, estimulou decisões tomadas mais por uma lógica tributária e por seduções ocasionais do show business ( DRUCKER, 1999). De quebra, o uso sem critérios de recursos públicos que acabam por financiar a custo zero produções que se pagam com resultados de bilheterias, com ingressos caros e inacessíveis à grande maioria da população, agrava a confusão entre o que se deve e pode fazer ao utilizar instrumentos facilitadores, como os incentivos fiscais, e aquilo que de fato se pratica no mercado hoje. E que nem de longe se assemelha a marketing cultural, ou ao planejamento de políticas culturais privadas praticadas com consciência social e benefícios recíprocos entre empresa e sociedade (DRUCKER, 1999). Se olharmos esta questão do ponto de vista das políticas públicas, a confusão é maior ainda. Criou-se a ilusão de que é possível para o Estado formular e praticar uma política cultural responsável baseada na administração de recursos de incentivos, que chegam, em muitos casos, a 100% do total investido. O que se tem visto é outra coisa. (DRUCKER, 1999). xvii A população deixa de receber uma parcela destes recursos, em forma de investimentos diretos do Estado, para incrementar a produção e a distribuição dos bens culturais no país. Mas a ampliação da produção não representa uma melhor distribuição desses produtos. Aqueles que sempre tiveram negado o acesso ao mundo das artes, por falta de recursos, por deformação de educação e até por falta de estímulo, continuam à margem deste mundo, excluídos dos salões de arte, dos recitais em teatros públicos, dos livros e discos financiados em parte com dinheiro público. Esses são os dados apresentados por pesquisas como o 1º Diagnóstico da Área Cultural de Belo Horizonte, realizado em parceria pela Prefeitura desta cidade e o Instituto Vox Populi, que analisa os hábitos culturais dos cidadãos e prova a baixíssima irradiação dos produtos e serviços culturais nas cidades brasileiras (DRUCKER, 1999). O cidadão habituado a freqüentar eventos culturais multiplica seus hábitos quando a oferta aumenta, mas a massa de cidadãos (60%, 70%, 90% da população dependendo do tipo de programação artística pesquisada) que nunca foi a uma projeção de cinema, nacional ou não, só passa a ir se recebe um estímulo dirigido: a intervenção da escola na formação desse hábito, campanhas educativas de sensibilização ou programas estatais inteligentes que visem a equacionar o problema (http//www.marketingcultural.com.br). É tarefa do Estado, e dos órgãos de governo que o representam no campo cultural, formular políticas culturais que enfrentem responsavelmente este desafio. E é evidente que as empresas não podem substituir o papel que cabe ao Estado no setor cultural - o financiamento a fundo perdido de atividades culturais sem atrativos para as políticas institucionais de empresas, a formação de platéia, a manutenção em condições adequadas dos equipamentos xviii culturais sob sua guarda, a garantia de acesso a toda a população do conjunto dos bens e serviços culturais produzidos pelo país, ou seja, uma política destinada e preocupada com as pessoas comuns e não só com as necessidades e avaliações apresentadas pela classe artística -, mas isto não invalida que as iniciativas privadas neste setor se pautem por benefícios mútuos. É inteligente e todos ganham (http//www.marketingcultural.com.br). Ao se valer de recursos que, ao chegarem aos cofres públicos, serviriam para construir creches, escolas, hospitais, desenvolver políticas de renda e assistência as camadas menos favorecidas da população, é prudente escolher criteriosamente. É sempre bom lembrar que a cultura deve ser sempre vista como algo que só existe se compartilhado por todos, e não sempre pelos mesmos (http//www.marketingcultural.com.br). Este é um ponto fundamental. Construir uma imagem institucional sólida e perceptível aos olhos das pessoas comuns, dos consumidores, público interno e formadores de opinião exige tempo e cuidado. E exige cada vez mais um compromisso social com o país ou região onde se atua. Não existe, como muitos querem crer, uma discordância entre os benefícios que o marketing cultural traz para as iniciativas privadas e os benefícios sociais destas ações (http//www.marketingcultural.com.br). Pelo contrário, o que se espera são iniciativas cada vez mais afinadas entre os programas culturais formulados especialmente para cada empresa e seus desdobramentos sociais, expandindo gratuitamente, ou a preços acessíveis, o acesso a produtos e serviços culturais de qualidade crescente. O beneficiário é o cidadão, que ganha com o aumento na oferta de shows, exposições de arte, livros, revelação de novos talentos, mostras e festivais. O trabalho que muitos institutos e fundações culturais privados tem feito no Brasil, através de xix políticas consistentes e de longo prazo, atende a interesses múltiplos, dos negócios, do público e até do Estado (http//www.marketingcultural.com.br). O marketing cultural moderno exige que se pense neste conjunto de fatores para que se alcancem resultados, associando a marca da empresa a valores socialmente positivos. Exige, portanto, um planejamento consistente, pesquisa, compreensão do negócio e dos fatores que determinam a comunicação institucional empresarial. Pede respeito ao cidadão e critérios justos na utilização de incentivos fiscais. 3.1 - Dificuldades de Crescimento do Setor Num país em que, para cerca de 90% da população, cultura é o que chega pela tela da TV, incentivar a indústria do setor e democratizar o acesso aos bens culturais continuam rendendo roteiro para uma novela que parece não ter fim. Embora leis de incentivo fiscal para os patrocinadores de projetos deste tipo tenham se tornado o grande instrumento de investimento em cultura no país - dos R$ 2,4 bilhões investidos entre 1996 e 2001, R$ 1,6 bilhão vem das leis Rouanet (de 1991) e do Audiovisual (1993) - produtores e consumidores permanecem insatisfeitos e longe de um final feliz (NETO, 2002). O problema é que estas leis favorecem o investimento na indústria, não no desenvolvimento social da cultura. A maior parte do dinheiro vem para a região sudeste (69%) e é aplicada em projetos de entretenimento e diversão - explica Leonardo Brant, presidente do Instituto Pensarte. O Pensarte é um centro de estudos voltado para a articulação do setor cultural que acaba de elaborar o Manifesto por uma Cidadania Cultural, uma pauta de xx 18 itens para guiar o futuro presidente do Brasil para a democratização do acesso à cultura. Em 2001, uma única empresa, a holding Petrobrás, teve 69% do orçamento realizado pelo Ministério da Cultura. E, embora utilize dinheiro público, o investimento é feito com a ótica do mercado. O que é errado. Este dinheiro não é para vender petróleo - reclama Brant (NETO, 2002). 3.1.1 - Produtores caçam recursos Por estas e por outras, há cinco anos a roteirista Flávia Lins e Silva, os diretores Vinícius Reis e Eduardo Vaisman, a montadora Ana Teixeira e o produtor Aílton Franco Jr. Realizam verdadeiras ações entre amigos para conseguir tornar seus projetos realidade. Desde 2000, eles tentam finalizar o documentário "O vício da liberdade - a trajetória de Evandro Lins e Silva", sobre a vida do jurista e a história da Justiça no país (http//www.ritz.com.br). Depois de dois anos tentando captar recursos, conseguiu-se o apoio de um fundo holandês e uma parceria com o canal GNT para preparar dois programas de 26 minutos cada, para serem exibidos pelo canal. Mas para transformá-los em longa metragem, precisa-se receber o prêmio de R$ 50 mil do "Procine", do governo do estado, Apesar da atriz Fernanda Montenegro ganhar um patrocínio da Brasil Telecom para ler textos teatrais, ainda existem pessoas menos conhecidas com bons projetos não consegue ir em frente. A cultura acabou ficando relegada ao (http//www.ritz.com.br). que os diretores de marketing das empresas querem xxi 3.1.2 - Investimento no setor é tímido Mais do que dançar, Duda Maia e as outras quatro bailarinas de sua companhia - a Trupe do Passo, que trabalha com pesquisa da cultura brasileira - também precisam fazer uma verdadeira ginástica para montar um espetáculo. O mais recente, "Matulão" ganhou um prêmio público de R$ 50 mil em outubro do ano passado, mas a última parcela, de R$ 10 mil, só foi depositada na semana passada dia 10 de fevereiro de 2003, depois de sete meses de espera (http//www.ritz.com.br). Há uma necessidade de estar sempre correndo atrás de prêmios e patrocínios, principalmente do governo. Luiz Carlos Prestes Filho, pesquisador do Instituto Gênesis/Incubadora de Empresas Culturais e autor de "A Economia cultural - a força da indústria cultural no estado do Rio", estima que os governos (federal, estadual e municipal) invistam por ano no Brasil cerca de R$ 800 milhões em cultura (http//www.ritz.com.br). É muito pouco para um país como o nosso. Por outro lado, a cultura é um negócio que movimenta cerca de R$ 10 bilhões por ano. O governo precisa entender esta demanda e investir no potencial e na infraestrutura do Brasil para que o povo possa consumir cultura observa ele, para quem o estado brasileiro não identifica a cultura como atividade econômica. E isso embora, segundo suas pesquisas, esta indústria cultural esteja em sexto lugar em arrecadação no estado do Rio. De acordo com Luiz Carlos, em 1999 as empresas ligadas à cultura (o que inclui gravadoras, editoras e empresas de TV) recolheram em ICMS R$ 429 milhões contra R$ 311 milhões da metalúrgica, por exemplo. Mas ele também detecta outro problema: - A produção cultural está mal articulada. Produtores como os de cinema xxii continuam fazendo projetos a fundo perdido porque não há mercado. Só 5% das cidades brasileiras têm cinema. Está certo que o poder público não pode ficar criando salas de cinema, mas pode incentivar os empresários a fazer isso. O mesmo se aplica a outras áreas culturais (http//www.ritz.com.br). xxiii 4 -LEGISLAÇÃO - O INCENTIVO FISCAL À CULTURA Atualmente, contamos com dispositivos legais de incentivo à cultura que estimulam as doações e patrocínios de empresas e pessoas físicas, mediante redução de impostos.Sempre houve empresas atuantes no apoio à cultura, independente de benefícios fiscais. Em 1986, com a promulgação da Lei 7.505 (Lei Sarney), muitas empresas passaram a patrocinar a cultura. Essa lei vigorou até 1990, quando o Governo Collor suprimiu os incentivos fiscais. Já em 1991, esse mesmo Governo criou a Lei 8.313 (Lei Rouanet), a qual vem recebendo aperfeiçoamentos. A lei do audiovisual (de 1993) também foi uma das principais razões do chamado "renascimento" do cinema brasileiro nos últimos cinco anos. Na esteira dessas legislações federais, estados e municípios passaram a criar legislações, no âmbito dos seus impostos, para incentivo à cultura (SIMÕES, 1995). 4.1 - A Lei Federal (http// www.marketing-e-cultura.com.br). A Lei Federal 8.313, de 23-12-91, criou o PRONAC, e visa à captação de recursos com base em incentivos fiscais do Imposto de Renda.O meio básico de investir em cultura é o mecenato, que permite a parceria entre empresas e produtores ou entidades culturais qualificadas. O custo do patrocínio é reduzido com a utilização dos incentivos fiscais, uma vez que parte do projeto é financiada pelo Governo. Utilizando os incentivos, a empresa ou a pessoa física investidora deixa de recolher parte do imposto e a transfere para o projeto cultural (é a chamada renúncia fiscal). xxiv Para a empresa parece, a princípio, que não há nenhuma vantagem nesses incentivos, pois continuará desembolsando o valor do imposto. Apenas mudará a sua destinação. Mas não é bem assim. Pode-se relacionar algumas vantagens: • A empresa pode utilizar o projeto cultural como meio de promoção institucional ou de seu produto como parte de sua estratégia de marketing; • O custo é baixo em relação a outras campanhas promocionais, pois parte está sendo "financiada" pelo Governo; • O patrocínio de projetos culturais permite inserção no meio social, pois quem investe em cultura sempre é visto com simpatia pelo público em geral; • O investimento na área cultural pode representar efetiva redução de tributos para quem patrocina; • O valor investido pode ser deduzido como despesa operacional; • Acrescente-se ainda a essas vantagens a certeza de que o dinheiro do imposto será aplicado em cultura e, principalmente, que o investidor estará contribuindo de forma efetiva para o bem-estar social e para preservação do patrimônio e valores culturais da sociedade. 4.1.1 - Fundo Nacional da Cultura O Fundo Nacional de Cultura descende do antigo Fundo de Promoção Cultural criado pela Lei 7.505/86. Este último foi dado como extinto com a revogação da Lei Sarney em 1990. Mas a Lei 8.313/91 o revigorou e transferiu seus recursos para o FNC (http// www.marketinge-cultura.com.br). Em geral, os recursos do FNC são destinados aos projetos de natureza comunitária ou experimental que, sem o apoio do Governo, dificilmente seriam realizados por não despertarem grande interesse do investidor privado (http// www.marketing-e-cultura.com.br) xxv 4.1.2 – Mecenato Mecenato consiste no apoio direto de pessoas físicas e jurídicas, através de doações ou patrocínios, a projetos culturais aprovados pelo Ministério da Cultura. No mecenato, o investidor é solidariamente responsável com o produtor cultural pela boa aplicação dos recursos no projeto (http// www.marketing-e-cultura.com.br) 4.1.3 - Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) O FICART destina-se à captação de recursos no mercado financeiro, através da aquisição de quotas de fundos em condomínio administrados por instituições financeiras e regulamentados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As quotas rendem juros e dividendos, mas a aquisição não é beneficiada por incentivo fiscal. O mecanismo reconhece o caráter comercial da indústria cultural, financiando projetos que geram lucros e recompensem o investidor (http// www.marketing-e-cultura.com.br) 4.1.4 - O Incentivo Federal As doações e patrocínios reduzem o Imposto de Renda da pessoa física ou jurídica em até: • Pessoas físicas: 80% da doação ou 60% do patrocínio, limitados a 6% do imposto devido; • Pessoas jurídicas: 40% da doação ou 30% do patrocínio, limitados a 4% do imposto devido. (http// www.marketing-e-cultura.com.br). 4.1.5 - Principais áreas abrangidas pelo incentivo As doações e patrocínios podem ser destinados a projetos culturais que desenvolvam temas relacionados a teatro, dança, ópera, circo, cinema, vídeo, fotografia, discografia, xxvi música, literatura, artes plásticas, artesanato, folclore, rádio, televisão, acervo patrimonial, esportes amadores, profissionais federados e ecologia (http// www.marketing-e- cultura.com.br). 4.1.6 - Incentivo para áreas especiais (http// www.ritz.com.br). A Lei 9874, de 23-11-99, ampliou os incentivos fiscais visando beneficiar os seguintes setores da cultura: • Artes cênicas • Livros de valor artístico, literário ou humanístico. • Música erudita ou instrumental. • Circulação de exposições de artes plásticas. • Doação de acervos para bibliotecas públicas e para museus. Nessas áreas específicas, o investidor pode deduzir até 100% do valor investido no projeto do Imposto de Renda a pagar (sem lançamento como despesa operacional). A dedução está limitada a 4% (pessoas jurídicas) e 6% (pessoas físicas) do valor do imposto devido.Com o efeito total do patrocínio, o Governo financia de 64% a 100% do custo do projeto, podendo o restante ser financiado por outras leis de incentivo à cultura (estaduais e municipais). As pessoas físicas que investirem em cultura podem reduzir o imposto em até 6%, assumindo uma parcela que varia de 0 a 40% do investimento. 4.1.7 - Exemplos de investimentos: (http//www.ritz.com.br). xxvii 1 - Doação de pessoa jurídica – Dedução de 40% R$ 1.Lucro Líquido Antes da Doação 230.000,00 2.Doação (-) 3.399,01 3.Lucro líquido após a doação 226.600,99 R$ CONTRIBUIÇÃO SOCIAL – CSLL 4.9% de 3 (-) 20.394,09 5.Imposto Devido (15% de 3) 33.990,15 6.Adicional do IRPJ (10% de R$ 226.600,99 – R$ 60.000,00) 16.660,10 7. Dedução do Incentivo (40% de 2) = R$ 1.359,60 Limite Individual (4% de 5 = R$ 1.359,61) (-)1.359,60 8. Imposto de Renda a pagar 49.290,64 FONTE: http: www.ritz.com.br COMPARAÇÃO UTILIZAÇÃO DA NÃO LEI 8.313/92 UTILIZAÇÃO DA LEI DOAÇÃO PAGA DOAÇÃO PAGA PELA EMPRESA COM O 26% IMPOSTO 74% xxviii 74% Imposto de Renda CSLL Total dos Tributos Valor doado Total do Desembolso 49.290,64 51.500,00 20.394,09 20.700,00 69.684,73 72.200,00 3.399,01 73.083,74 72.200,00 FONTE: http: www.ritz.com.br Doação Ideal: 3.399,01 x 100= 1,47783% 230.000,00 2 - Patrocínio de pessoa jurídica – Dedução de 30% 883,74 2.515,27 xxix R$ 1.Lucro Líquido Antes do Patrocínio R$ 230.000,00 2.Patrocínio (-) 4.509,79 3.Lucro líquido após o patrocínio 225.490,21 CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - CSLL 4.9% de 3 (-) 20.294,12 5.Imposto Devido (15% de 3) 33.823,53 6.Adicional do IRPJ (10% de R$ 225.490,21 – R$ 60.000,00) 16.549,02 7. Dedução do Incentivo (30% de 2) = R$ 1.352,94 Limite Individual (4% de 5 = R$ 1.352,94) (-)1.352,94 Imposto de Renda a pagar 49.019,61 FONTE: http: www.ritz.com.br Patrocínio Ideal: 4.509,79 x 100= 1,96078% 230.000,00 COMPARAÇÃO UTILIZAÇÃO DA LEI 8.313/91 NÃO UTILIZAÇÃO PATROCÍNIO PAGO PELA PATROCÍNIO PAGO COM O xxx DA LEI Imposto de Renda CSLL Total dos Tributos Valor do patrocínio Total do Desembolso 49.019,61 51.500,00 20.294,12 20.700,00 69.313,73 72.200,00 EMPRESA 36% IMPOSTO 64% 4.509,79 73.823,53 72.200,00 1.623,53 2.886,26 FONTE: http: www.ritz.com.br 3 - Patrocínio ou Doação por pessoa jurídica – Dedução de 100% - Lei 9874/99. R$ 1.Lucro Líquido Antes da Doação/Patrocínio R$ 230.000,00 2.CONTRIBUIÇÃO SOCIAL - CSLL 3.9% de R$ 230.000,00 4.Imposto Devido (15% de 230.000,00) 5.Adicional do IRPJ (10% de R$ 230.000,00– R$ 60.000,00) (-) 20.700,00 34.500,00 17.000,00 6.Dedução do Incentivo (100% de R$ 1.380,00) = R$ 1.380,00). Limite Individual (4% de R$ 34.500,00 = R$ 1380,00) 7.Imposto de Renda a pagar FONTE: http: www.ritz.com.br COMPARAÇÃO (-)1.380,00 50.120,00 xxxi Imposto de Renda CSLL Total dos Tributos Valor doado Total do Desembolso UTILIZAÇÃO DA NÃO UTILIZAÇÃO VALOR PAGO COM O LEI 9874/99 DA LEI IMPOSTO 100% 50.120,00 51.500,00 20.700,00 20.700,00 70.820,00 72.200,00 1.380,00 72.200,00 72.200,00 1.380,00 FONTE: http: www.ritz.com.br Doação/Patrocínio Ideal: 1.380,00 x 100= 0,6% 230.000,00 4.1.8 - Como investir em cultura pela Lei Federal Para usufruir dos incentivos fiscais, as pessoas físicas ou jurídicas podem apoiar diretamente os projetos aprovados pelo Ministério da Cultura ou destinar doações ao Fundo Nacional de Cultura. As empresas que adotam a cultura como política de marketing podem sugerir projetos de seu interesse ou criar organizações culturais próprias, a fim de promover a sua imagem institucional (http//www.marketingcultural.com.br). Os proprietários de bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional podem propor projetos para preservar ou restaurar esses bens, desde que sejam xxxii abertos a visitação pública. As empresas também podem participar através da distribuição de ingressos para eventos culturais ou artísticos aprovados pelo Ministério da Cultura a seus empregados e dependentes legais, devidamente representados pelas organizações de trabalhadores da empresa (http//www.marketingcultural.com.br). 4.1.9 - Utilização de produtos e direitos como promoção. A lei federal permite ainda que 25% do total de itens resultantes do projeto (quando for o caso) sejam destinados a brindes para clientes ou fornecedores ou mídia espontânea da empresa doadora ou patrocinadora. Para a empresa, esse benefício pode representar uma boa forma de planejamento fiscal, principalmente porque as despesas com brindes não são dedutíveis (http//www.marketingcultural.com.br). 4.1.10 - Operações Proibidas É proibido o apoio a projetos de pessoas ou instituições vinculadas ao patrocinador, assim consideradas (http//www.marketingcultural.com.br). • a pessoa jurídica da qual o doador ou patrocinador seja titular, administrador, gerente, acionista ou sócio, na data da operação ou nos doze meses anteriores; • o cônjuge, os parentes até o terceiro grau, inclusive os afins, e os dependentes do doador ou patrocinador ou dos titulares, administradores, acionistas ou sócios de pessoa jurídica vinculada ao doador ou patrocinador; • outra pessoa jurídica da qual o doador ou patrocinador seja sócio. 4.2 - A Lei Estadual - Incentivo no Estado do Rio de Janeiro. xxxiii No Estado do Rio de Janeiro, as empresas contribuintes do ICMS podem apoiar projetos culturais previamente aprovados pela Secretaria Estadual de Cultura, beneficiando-se de crédito do imposto (http// www.marketing-e-cultura.com.br) O crédito pode ser de até 2/3 dos recursos destinados ao projeto, descontados do ICMS a pagar, até o limite de 2% por período de apuração. Para obter o benefício, a empresa patrocinadora é obrigada a financiar, com recursos próprios 1/3 do valor do projeto patrocinado. Por exemplo, se o valor destinado ao projeto foi de R$ 1.500,00, apenas R$ 1.000,00 (2/3) podem ser abatidos do imposto. A parcela restante (R$ 500,00) é despesa da empresa ou financiada por outras leis de incentivo fiscal (http// www.marketing-ecultura.com.br) 4.2.1 - Limites de dedução TIPO DE PROJETO LIMITE DO CRÉDITO S/ICMS A PAGAR PROJETOS DE AUTORES E INTÉRPRETES NACIONAIS 2% PROJETOS ESTRANGEIROS 1% FONTE: http: www.marketing-e-cultura.com.br 4.2.2 - Como Investir xxxiv Para beneficiar-se dos incentivos fiscais do Estado do Rio de Janeiro, o patrocinador ou doador deve ser obrigatoriamente contribuinte do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS, possuir estabelecimento no Estado e estar em dia com suas obrigações fiscais. Atendidos os requisitos básicos, a empresa escolhe o projeto que deseja patrocinar e ingressa com o pedido de patrocínio junto à Inspetoria Seccional de Fiscalização da Secretaria de Estado de Economia e Finanças (http// www.marketing-e-cultura.com.br). 4.2.3 - Operações Proibidas Não é permitida a utilização de incentivo fiscal em projeto que beneficie as partes patrocinadoras ou produtoras, seus sócios ou dirigentes e suas coligadas ou controladas a qualquer título. Essa proibição se estende aos ascendentes e descendentes em primeiro grau, bem como aos cônjuges ou companheiros de sócios ou dirigentes (http// www.marketing-ecultura.com.br). 4.3 - A Lei Municipal - Incentivo no Município do Rio de Janeiro Os benefícios fiscais são concedidos às empresas contribuintes do ISS no Município do Rio de Janeiro que destinarem recursos a projetos culturais previamente aprovados pela Comissão Carioca de Cultura (http// www.marketing-e-cultura.com.br). 4.3.1 - Quanto Investir com Incentivos Fiscais. xxxv Dependendo do tipo do projeto, o investidor pode deduzir do ISS devido em cada mês até: PROJETOS ESPECIAIS 75% do custo do projeto LIMITE DE DEDUÇÃO DE ATÉ 50% PROJETOS NORMAIS 50% do custo do projeto 20% DO ISS MENSAL A dedução pode ser realizada a partir do próprio mês do investimento, observados o prazo de 180 dias e o exercício fiscal. Nos meses seguintes, até 180 dias e até 31 de dezembro, limitado a 20% (http// www.marketing-e-cultura.com.br). 4.3.2 - Áreas Abrangidas As principais áreas abrangidas são teatro, dança, ópera, circo, cinema, vídeo, fotografia, discografia, Música, literatura, artes plásticas, folclore, rádio, televisão, acervo patrimonial, turismo cultural, decoração e artesanato (http//www.marketing-e-cultura.com.br). 4.3.3 - Como Investir O patrocinador de projeto cultural beneficiado com incentivos fiscais à cultura deve ser, obrigatoriamente, pessoa jurídica contribuinte do ISS no Município do Rio de Janeiro e estar em dia com suas obrigações fiscais (http// www.marketing-e-cultura.com.br). O patrocínio pode ser realizado: • Com os recursos do imposto garantido pelo patrocinador com direito ao incentivo fiscal, sendo os demais recursos cobertos pelo produtor ou por outros patrocinadores; • Com o apoio total do contribuinte beneficiado, que destina tanto os recursos do imposto como os demais recursos necessários à realização do projeto; xxxvi • Com os recursos do imposto garantidos pelo contribuinte beneficiado e os demais recursos divididos entre ele e outros patrocinadores. Escolhido o projeto cultural previamente aprovado pela Comissão Carioca de Cultura, o produtor cultural e o patrocinador assinam Termo de Compromisso onde, respectivamente, se comprometem com a realização do projeto e garantem os recursos necessários. Após os trâmites preliminares, o patrocinador deve requerer a Autorização de Transferência, que lhe permite o depósito dos recursos na conta do projeto e o desconto desse valor do ISS devido (http// www.marketing-e-cultura.com.br). 5 - A RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA CIDADÃ É crescente o movimento pela ética e responsabilidade social das empresas. Multiplicam-se os eventos nacionais e internacionais com o objetivo de discutir conceitos, xxxvii práticas e indicadores que possam efetivamente definir uma empresa como empresa cidadã (NETO, 2002) Diante do quadro de pobreza, dos sérios problemas que vivemos em termos de educação, saúde, desemprego, violência e de ações que destroem o nosso ecossistema, é bastante salutar que as organizações assumam o seu papel social e contribuam eficazmente para o desenvolvimento sustentável e melhoria da qualidade de vida no planeta. E que através deste movimento e do exemplo dos seus líderes contribuam para resgatar a ética no relacionamento humano e nos negócios (NETO, 2002). Uma pesquisa realizada pela ADVB Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, no ano passado, mostrou que cada vez mais as empresas estão investindo em projetos sócio-culturais contando com a participação dos seus funcionários. Revela ainda que 33 % de um total de 810 empresas pesquisadas acreditam que tais ações têm contribuído para melhorar a sua imagem junto aos consumidores e que 79 % delas tem planos de investir em projetos (http//www.marketingcultural.com.br). Percebemos, assim, uma tendência que começa a se concretizar em fatos que nos enchem de esperança e otimismo. Surge uma nova consciência nos dirigentes de empresas, nos profissionais que prezam a ética em seus negócios e relações de trabalho e, sobretudo, nos cidadãos que querem consumir com a certeza de que estão contribuindo com uma boa causa (NETO, 2002). Seja por que o homem pulsa o desejo de ser plenamente humano ou apenas por questões de sobrevivência, importa que estamos caminhando para um novo modelo de gestão que tem a ética e a responsabilidade social como fundamentos. E nesse caminho todos xxxviii ganham, a empresa, seus colaboradores e acionistas, clientes e fornecedores e a comunidade onde está inserida e principalmente a cultura. Assim constrói-se a cidadania nas organizações. Certamente há muito ainda que se investir no desenvolvimento desses valores nas empresas, na reflexão e na elaboração de um código de ética, na implantação voluntária do balanço social como resultado das ações , na participação nos resultados, na gestão participativa etc. É verdade que através de eventos e treinamentos as empresas têm procurado influenciar e desenvolver seus colaboradores e lideranças neste sentido. Entretanto, precisa-se colocar o ser cidadão como requisito indispensável nos processos seletivos. A empresa cidadã contrata cidadãos: profissionais que têm consciência da sua missão de contribuir com os resultados da organização e a promoção da cultura (NETO, 2002). Hoje o mercado sinaliza um novo perfil de profissional: que seja orientado para resultados, criativo, inovador, automotivado, multiskilled, ousado, etc Há a certeza, porém, que o ser cidadão é que vai fazer a diferença. Afinal, a empresa para ser considerada cidadã deverá ser constituída de cidadãos. (NETO, 2002). A competitividade do mercado exigiu das organizações uma mudança radical na gestão de pessoas. A busca de novas políticas de recursos humanos adotando programas participativos, medidas para aumentar o fluxo de informações, tentativa de valorização do indivíduo e de sua formação, procurando a construção de uma relação de confiança alicerçada inclusive por adoção de linguagem particular, são estratégias para enfrentar a complexidade, incertezas, continuadas mudanças e renovação constante do ambiente (NETO, 2002) xxxix As mudanças nas condições ambientais das organizações forçam a visão tradicional de administração de pessoas a deslocar-se para uma perspectiva mais atual, passando, ainda que lentamente, a focar o fator humano como chave para o sucesso. É preciso repensar o papel e a filosofia empresarial, pois o mercado está exigindo das organizações o seu exercício de cidadania, forçando os gestores a provocar mudanças ambientais de forte impacto. A responsabilidade social de uma empresa consiste na decisão de participar mais diretamente das ações culturais e comunitárias na região em que está inserida e diminuir possíveis danos ambientais decorrente do tipo de atividade que exerce. Mas, apoiar o desenvolvimento da comunidade e preservar o meio ambiente não são suficientes para atribuir a uma empresa a condição de socialmente responsável. É necessário investir no bem-estar de seus empregados e dependentes e num ambiente de trabalho saudável, além de dar retorno aos seus acionistas e garantir a satisfação dos seus clientes e/ou consumidores (NETO, 2002). O exercício da cidadania empresarial, adquirindo o status de "empresa-cidadã", pressupõe uma atuação eficaz da organização em duas dimensões: a gestão de responsabilidade interna e gestão de responsabilidade externa (NETO, 2002). A responsabilidade social interna caracteriza o estágio inicial da cidadania empresarial. Entretanto, não é sempre que ocorre este movimento. Muitas organizações cometem um sério erro de estratégia social e invertem este processo, causando um grande descontentamento entre os empregados, confirmando um grave quadro de conflitos, ansiedade e desmotivações (NETO, 2002) xl A responsabilidade social interna tem como foco trabalhar o público interno da organização, desenvolver um modelo de gestão participativa e de reconhecimento de seus empregados, promovendo comunicações transparentes, motivando-os para um desempenho ótimo. Este modelo de gestão interna compreende ações dirigidas aos empregados e dependentes, aos funcionários de empresas contratadas, terceirizadas, fornecedoras e parceiras (NETO, 2002) Na ligação entre a realidade social, política, econômica e cultural da organização as ações de responsabilidade social interna podem começar por: (NETO, 2002). - cuidar da qualidade de vida do empregado e investir nas instalações sanitárias; - atender às necessidades básicas dos empregados criando uma infra-estrutura de refeitório para seu público interno, empresas terceirizadas, contratadas e fornecendo cesta básica para seus dependentes; - criar o hábito de uso do uniforme contribuindo para melhorar as condições de segurança no trabalho; - buscar um Plano de Saúde e assistência odontológica que atenda a todos os empregados e familiares; - cuidar da condição de moradia dos empregados; - implantar um Plano de Cargos e Salários; - implantar programas de reconhecimento e valorização do empregado como: Café com o Presidente, Empregado Destaque, Ginástica na Empresa, Participação nos Resultados; xli - investir na qualificação dos empregados através de programas de treinamento, internos e/ou externos e capacitação visando a sua maior qualificação profissional e obtenção de escolaridade mínima. O desenvolvimento dessas ações é também chamado de trabalho de endomarketing, onde a organização leva motivação para o seu ambiente interno e cria uma relação de confiança com o empregado. Com isso, a organização ganha a sua dedicação, empenho, lealdade e aumento de produtividade (NETO, 2002). A partir do desenvolvimento e implantação destas ações de gestão interna, a empresa pode realizar ações sociais que beneficiem a comunidade passando a exercitar a sua responsabilidade social externa. Através de um planejamento de marketing social, a organização, atendendo à sua missão, crenças e à demanda de necessidades da comunidade, atua nas áreas de educação, saúde, assistência social e ecologia, desenvolvendo ações empresariais, visando maior retorno de imagem e publicitário.A organização pode realizar estas ações através de: - doações de produtos, equipamentos e materiais em geral; - transferência de recursos em regime de parceria para órgãos públicos e ONG’s beneficiando escolas públicas, visando educação com qualidade, viabilizando cursos técnicos, estágios e a formação de futuros profissionais; - aplicação de recursos em atividades de preservação do meio ambiente, adotando uma praça, reciclando o lixo da empresa ou através da coleta seletiva; xlii - patrocínio para projetos culturais do governo; - investimentos em programas culturais através da lei do incentivo à cultura. Ao participar de ações sociais, a organização além de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico e cultural, atua na dimensão social do desenvolvimento sustentável, melhorando a qualidade de vida de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo, exercendo a sua responsabilidade social. Uma empresa-cidadã tem no seu compromisso, com a promoção da cidadania e o desenvolvimento da comunidade, o seu diferencial competitivo, buscando, desta forma, ser uma organização que investe recursos financeiros, tecnológicos, culturais e mão-de-obra em projetos de interesse público. É uma organização que cria um ambiente agradável de trabalho valorizando seus recursos humanos e é capaz de desenvolver um modelo de gestão integrado onde as pessoas têm um papel decisivo no seu compromisso com relação à comunidade e à sociedade em geral. E ainda, é uma empresa que se organiza e constrói maneiras alternativas de participar, conviver e viver melhor (NETO,2002). 6 - PESQUISAS - MARKETING CULTURAL Enquanto não se sabe como será viabilizada a vinda do Guggenheim para o Brasil ou se a recém-criada Agência Nacional do Cinema (Ancine) vai, efetivamente, desatar os recorrentes nós da produção cinematográfica brasileira - divulgação e distribuição – é importante destacar os resultados da pesquisa realizada pelo professor Manoel Marcondes xliii Machado Neto, produtor cultural e consultor de empresas, divulgada pela revista Marketing Cultural (http//www.marketingcultural.com.br). 6.1 – Classificação A pesquisa possibilitou uma classificação do marketing cultural em quatro modalidades. Marketing cultural de fim se dá quando o patrocínio é exercido por organizações cuja atividade-fim é a produção/difusão da cultura, a partir de recursos próprios ou de terceiros. Marketing cultural de meio é, de fato, uma estratégia de comunicação institucional de empresas cuja atividade-fim não é a produção/difusão da cultura (um banco, uma indústria, por exemplo), feita com recursos próprios ou decorrentes de renúncia fiscal (http//www.marketingcultural.com.br). Já o Marketing cultural misto é a atividade que reúne elementos das duas modalidades anteriores. Ou seja, é uma prática que alia empresas cuja atividade-fim não é a produção/difusão da cultura a organizações com tais atividades-fim. Finalmente, a classificação Marketing cultural de agente caracteriza a atividade auto-sustentável exercida por empreendedores artístico-culturais, independentes em relação à fonte de financiamento, feita a partir de recursos próprios ou de terceiros (http//www.marketingcultural.com.br). Ao longo do tempo em que a pesquisa se desenrolou, algumas constatações saltaram aos olhos: o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) talvez seja o melhor exemplo de Marketing cultural de fim. Já a Petrobrás é um excelente exemplo de Marketing cultural de meio. A estatal estabeleceu algumas áreas de atuação e elaborou - em conjunto com a Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da Universidade de São Paulo (FEA/USP) - uma planilha para avaliação da pertinência/viabilidade de projetos culturais para xliv a área. Hoje, a Petrobrás figura como uma das mais conseqüentes empresas patrocinadoras do cenário brasileiro (http//www.marketingcultural.com.br). O Centro Cultural Banco do Brasil é o melhor exemplo de Marketing cultural misto. Em pesquisa de opinião realizada no âmbito da tese, 88% dos entrevistados recordam-se da marca "Banco do Brasil" como patrocinador, embora a grande maioria das produções que ocorram em suas dependências sejam viabilizadas com recursos de outras empresas patrocinadoras (http//www.marketingcultural.com.br). A produtora cultural carioca Dell'Arte é um ótimo exemplo de Marketing cultural de agente, marcando sua presença no setor de risco, no qual a concepção artística caminha à frente das decisões mercadológicas de seus clientes (http//www.marketingcultural.com.br). 6.2 – Estudos de caso A pesquisa abrangeu um estudo de caso específico sobre a Companhia Cacique de Café Solúvel, da cidade de Londrina, no Paraná. A empresa apóia localmente a cultura há mais de 30 anos, independentemente de incentivos fiscais. Essa fase incluiu duas pesquisas de opinião, produzidas em dois anos consecutivos, num total de 600 entrevistas. Os resultados xlv obtidos entre os formadores de opinião de Londrina (políticos, administradores, estudantes, professores, artistas e imprensa) demonstram que a Cia. Cacique obteve o reconhecimento da municipalidade, objetivo declarado de sua estratégia de marketing cultural, sem que essa ação estivesse diretamente ligada à meta de vendas, já que 97% da produção da empresa é voltada para a exportação (http//www.marketingcultural.com.br). Com esse estudo de caso foi possível identificar a efetividade da adoção de uma política de apoio à cultura em oposição a ações isoladas de patrocínio. Os resultados colaboraram a conclusão de que o estabelecimento de políticas empresariais de apoio à cultura que se traduzam pela destinação de parte de seu orçamento de marketing, independentemente de incentivos fiscais, é o que constituiria uma genuína prática de marketing cultural (http//www.marketingcultural.com.br). Foram estudadas também as atividades de marketing cultural de mais duas empresas: a Andersen Consulting (São Paulo) e a Petrobrás (Rio de Janeiro). A primeira - que iniciou sua atividade de marketing cultural em 1997, com a edição do livro “O Rio do Bota Abaixo” realizou uma pesquisa entre os seus sócios-diretores com o objetivo de avaliar quais eram as áreas da produção cultural mais identificadas com a empresa, seus objetivos de comunicação e seus públicos. Com isso, a Andersen Consulting minimizou o risco de ter uma avaliação eminentemente subjetiva em sua atividade de marketing cultural - baseada nas escolhas pessoais do executivo de plantão (http//www.marketingcultural.com.br). A pesquisa identificou a preferência da empresa por atividades que aliassem tecnologia (ligando a ação cultural à área em que a companhia atua), música e eventos que xlvi pudessem ser presenciados por clientes e funcionários. A pesquisa apontou também para a manutenção da edição de livros, o que propiciava - e esse é o grande aspecto de "venda" dos projetos editoriais - brindes de valor palpável (http//www.marketingcultural.com.br). A Andersen Consulting perseguiu todos esses objetivos de maneira integrada patrocinando, em 1998, um CD-ROM com músicas e depoimentos sobre textos de Manuel Bandeira; em 1999, a turnê do Ballet Bolshoi; e em 2000, a edição do livro “História do Automobilismo Brasileiro”. A Petrobrás, que dispensa apresentação, criou uma verdadeira consciência interna sobre patrocínios. Os procedimentos e as análises chegam a um nível de exigência científica, bastante longe das práticas político-clientelistas de um passado já remoto. Tal foi o valor que a Petrobrás construiu em torno de seus patrocínios que o conjunto de ações ganhou marca e slogan próprios: "Patrocínios Petrobrás, mas pode chamar de compromisso", além de uma plataforma forte, que emoldura suas inserções de mídia eletrônica: "Se a Petrobrás não fosse uma empresa, seria o conjunto de todas as ações que ela patrocina" (http//www.marketingcultural.com.br). Outras empresas e instituições foram pesquisadas para colaborar a classificação do marketing cultural em diferentes modalidades: MAM (SP), Museu da Casa de Rui Barbosa (RJ), Museu da República (RJ), Instituto Cultural Villa Maurina (RJ), Marketing das Artes e Sagres DTVM, Dell'Arte e República Produções (http//www.marketingcultural.com.br). 6.3 – Na escola xlvii Foram investigados estudantes de marketing cultural. Uma pesquisa - feita com mais 200 alunos do curso de extensão universitária Marketing Cultural: Teoria & Prática, realizado há seis anos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - mostrou que, como demonstra o Gráfico nº 1, 50% dos estudantes já atuam profissionalmente. O gráfico 2 evidencia que essa parcela busca aperfeiçoamento. No gráfico 3, há a constatação de que a atuação do poder público deixa a desejar: 72% julgam esta atuação fraca, desinteressada ou desorganizada. O gráfico 4 não deixa de surpreender, pois 55% consideram também a atuação da iniciativa privada na cultura como fraca, fruto do desconhecimento do potencial da área e que somente empresas grandes o praticam (http//www.marketingcultural.com.br). As turmas do curso de extensão realizadas até o ano 2000 (cinco no Rio de Janeiro e uma em São Paulo) geraram uma massa crítica que aponta para a oportunidade de criação de uma especialização em marketing cultural. O projeto já está em vias de estudo de viabilização e formará o gestor de políticas de marketing cultural, com capacitação para atuar na interface entre cultura e negócios (http//www.marketingcultural.com.br). 6.4 - A Motivação O chamado marketing cultural carecia de um tratamento acadêmico, e a empreitada da tese de doutorado, iniciada em 1996, buscou, por três vias, entender o fenômeno genuinamente brasileiro (o termo marketing cultural não existe fora do Brasil) e, ainda, propor uma primeira classificação para o fenômeno; afinal, muitas atividades diferentes têm sido rotuladas como "de marketing cultural". As três vias que balizaram o trabalho foram (http//www.marketingcultural.com.br): xlviii - Rever a literatura de marketing e de produção cultural para entender se um conceito e uma tipologia de marketing cultural fariam sentido; - Provar que a adoção do marketing cultural é uma estratégia efetiva de comunicação institucional e; - Diagnosticar o recall (gráfico 5) dos patrocinadores, ou seja, a retenção das ações de apoio cultural na memória do público e o levantamento de uma amostra de "consumo" cultural. O gráfico 6 mostra que o brasileiro de classe A e B da região Sudeste assiste a um filme brasileiro para cada 6 estrangeiros, anualmente. Os dados dos gráficos 5 e 6 foram obtidos a partir de perguntas individuais para teatro, dança, artes plásticas e música: Quantas vezes você foi a uma manifestação artística nos últimos 12 meses? Recorda- se do patrocinador?; Quantas vezes você freqüentou um centro cultural nos últimos doze meses? Qual? e Quantas vezes você foi ao cinema nos últimos 12 meses e em quantas para assistir a filmes brasileiros? Durante o desenvolvimento da pesquisa, sedimentou-se a convicção da necessidade de profissionalização do segmento que trata das questões que envolvem marketing e cultura. Há muito espaço a ser ocupado, tanto em empresas potenciais patrocinadoras como em agências de propaganda. Algumas conclusões paralelas que o levantamento permitiu, indicam questões pendentes e objetos para a pesquisa acadêmica (http//www.marketingcultural.com.br): Há, no discurso de senso comum e até no de algumas autoridades, uma confusão entre os conceitos de produção cultural demandadora de incentivos e o de show business, autosustentável e lucrativo; - A área pública encontra-se ainda bastante despreparada para o exercício do Marketing cultural de fim. Servidor público e marketing parecem entes xlix inconciliáveis. Não o são e há exceções que demonstram a possibilidade de se superar essa visão. - Há um expressivo mercado de trabalho potencial para esse segmento que trata das questões que aproximam a cultura e o marketing, tanto no que toca a management de artistas e produtores culturais como a administração de espaços culturais; - Carecemos, no Brasil, de políticas culturais que vão para além da concessão de incentivos fiscais; - Falta descobrir o segredo do patrocínio cultural via pessoa física; - É preciso encorajar o empreendedorismo na área. Os patrocínios vertem, na sua esmagadora maioria, para quem já ultrapassou a barreira da viabilidade econômica; - É necessário se descentralizar o foco das ações de patrocínio. O eixo Rio-São PauloBrasília consome quase todos os recursos federais. 6.5 - Científico A pesquisa também permitiu chegar a um conceito científico e acadêmico sobre o que é marketing cultural. O marketing cultural é a atividade deliberada de viabilização físico-financeira de produtos e serviços culturais, comercializados ou franqueados, que venham a atender às demandas de fruição e enriquecimento cultural da sociedade (http//www.marketingcultural.com.br). A pesquisa incluiu um levantamento do que de mais importante foi publicado na grande imprensa escrita entre 1990 e 2000 sobre marketing cultural e temas afins. Era preciso l conhecer as inúmeras formas com que o mercado batizava como sendo marketing cultural (http//www.marketingcultural.com.br). Levando-se em conta o previsível fim das leis de incentivo à cultura, a notória falta de importância da cultura nos orçamentos públicos e na política partidária, e, ainda, a tímida participação da cultura no PIB brasileiro (menos de 1% de acordo com a pesquisa encomendada pelo MinC à Fundação João Pinheiro), a pesquisa permitiu concluir que é necessário mais profissionalização na área da produção cultural, nos setores público e privado, com a formação de perfis para atuação em um campo de atividade em que, certamente, o Brasil é, Primeiro Mundo (http//www.marketingcultural.com.br). Gráfico 1 – VOCÊ ATUA NA ÁREA DE PROJETOS CULTURAIS? 3% 7% 40% 50% Não responderam Sim Não Tem pretensão Gráfico 2 - QUAIS SÃO AS RAZÕES QUE O MOTIVARAM AO CURSO? li aperfeiçoamento 17% 16% curiosidade 2% Empresa em que trabalha realiza projetos Quer implantar uma legislação Tem projetos já existentes 15% 1% 49% Quer trabalhar na área Gráfico 3 – SOBRE A ATUAÇÃO DO PODER PÚBLICO NA ÁREA CULTURAL? 9% 6% 5% 5% 3% 72% Não responderam Há leis de incetivo Burocrática Forte Empresas públicas acuam Fraca. Desapressada.Desorganizada 200 pessoas responderam. Gráfico 4 – A ATUAÇÃO DA INICIATIVA PRIVADA NA ÁREA CULTURAL lii 2% 6% 12% 12% 55% 13% Elitista Como forma de comunicação Não responderam Pelo retorno financeiro Crescente Fraca, sem conhecimento. Restrita a grandes empresas Gráfico 5 – RECALL DE PATROCINADORES Lembrança do Patrocinador (centro cultural): 88,6% Lembrança do Patrocinador (espetáculo de dança): 69,2% Lembrança do Patrocinador (espetáculo musical): 49,3% Lembrança do Patrocinador (teatro): 43,9% Lembrança do Patrocinador (expo. artes plásticas): 33,9% Gráfico 6 – CONSUMO CULTURAL (CINEMA) liii Média de filmes assistidos (cinema): 7,2% Média de filmes brasileiros assistidos (cinema): 1,2% Gráfico 7 - SOBRE AS RAZÕES QUE LEVAM AS EMPRESAS A APOIAR A CULTURA 1% 7% 15% Incentivos fiscais Não responderam Razões pessoais Retorno de imagem 77% 200 pessoas responderam. 6.6 - Avaliação liv Com os resultados obtidos na pesquisa realizada pelo professor Marcondes Neto podese constatar que a área de marketing cultural tem uma boa imagem, visto que a maioria dos pesquisados já está na área e está em busca de aperfeiçoamento, há também uma grande parcela que demonstra apenas interesse, o que revela de fato o poder de atração que o marketing cultural vem exercendo sobre as pessoas, além de pessoas envolvidas com projetos o que demonstra um possível crescimento. Quando indagados sobre a relação do marketing cultural com o poder público a resposta é objetiva, demonstrando uma relação fraca, de pouco interesse imediato e desorganizada, motivada apenas pelas leis de incentivo, o que revela que há pouco comprometimento com a responsabilidade social. Também na relação do marketing cultural com a iniciativa privada é possível observar a mesma desmotivação, uma mesma relação fraca e desinteressada, talvez pela falta de informação, porém demonstra-se em estado crescente, embora restrito às grandes empresas e baseada apenas no retorno financeiro, o que enfoca mais uma vez a falta de compromisso social. Os patrocinadores se demonstram na lembrança dos pesquisados com relativa expressão, além de o número de pessoas que nos últimos tempos presenciaram uma apresentação cultural é pequeno. As pessoas freqüentam com mais assiduidade cinema. O que vai concluir o quadro que demonstra o pouco interesse com a responsabilidade social das empresas é quando as pessoas pesquisadas são indagadas sobre o motivo maior que lv levam as empresas a apoiarem a cultura as respostas predominantes são relacionadas ao incentivo fiscal e ao retorno da imagem, ou seja, a idéia de empresa cidadã com responsabilidade social e contribuinte do desenvolvimento do país ainda está pouco difundida na cabeça das pessoas CONCLUSÃO lvi O mercado cultural brasileiro está em pleno processo de transformação e profissionalização. Entretanto, a pretendida parceria entre empresas e sociedade, motivada pelo Poder Público, ainda está por se firmar. Ao contrário do que se almeja, a efetivação do patrocínio cultural permanece restrita às fundações e institutos ligados às grandes empresas, em primeiro lugar, e aos nomes consagrados da cultura brasileira, em segundo. Porém, os produtores culturais passaram a entender melhor o significado e a importância do marketing para o desenvolvimento do seu produto e, a partir daí, sentiram-se motivados a criar alternativas de inserção nesse difícil mercado. Um vínculo consistente, decorrente da atenção às necessidades e demandas do consumidor, faz com que o produto cultural adquira aos olhos do patrocinador valor de marca, com alto poder para associar conceitos positivos à empresa investidora. As práticas da economia de mercado, que hoje engloba também a cultura, privilegiam os projetos culturais administrados como um negócio. Os administradores culturais se conscientizam da necessidade de planejar ações, desenvolver normas e procedimentos de gestão e qualidade, firmar parcerias e se posicionar de maneira diferenciada dentro desse mercado. Para isso, é preciso entender as necessidades do patrocinador e estar apto a oferecer as ferramentas de marketing e promoção para atendê-lo. Tudo isso, é claro, sem perder a essência do produto cultural: o vínculo com seu público e o compromisso social que move toda e qualquer produção na área. lvii Marketing Cultural não é só patrocínio. É um conjunto de ações que visam ao envolvimento da empresa com o seu público através da cultura, lançando mão das ferramentas do marketing. O vínculo das empresas com a cultura ainda é pouco, provocado apenas pelos benefícios das leis de incentivo. Cabe aos profissionais do mercado cultural criarem e desenvolverem formas diferenciadas de promover e divulgar o produto ou a marca patrocinadora por meio de ações exclusivas e diferenciadas, que façam o patrocinador perceber o potencial de marketing do investimento em cultura. Apesar de se concluir que a visão das empresas para a responsabilidade social ainda deixa muito a desejar, constata-se que é essencial para uma empresa, nos dias de hoje estar envolvida em projetos culturais, isso a torna uma empresa cidadã que está em busca de melhorias para o seu país. A empresa que hoje entende sua responsabilidade diante da cultura desse país desenvolve o exercício da cidadania, que vai lhe proporcionar um outro nível de “status” , com uma nova imagem para o mercado. O país valorizam as organizações que buscam crescimento, que propõem desenvolvimento para determinadas áreas, afim de que haja um crescimento mútuo e o alcançar de melhorias. ANEXO I lviii ANEXO II lix ANEXO III lx ANEXO IV lxi ANEXO V lxii ANEXO VI lxiii ANEXO VII lxiv BIBLIOGRAFIA lxv ADORNO, T. e HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1985, 254p. AZEVEDO, Tarso Rezende de. Buscando recursos para seus projetos. São Paulo: Texto Novo, 1996. 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