A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS LUÍS MIRA AMARAL Engenheiro (IST) e Economista (MSc NOVASBE) Presidente da Comissão Executiva do Banco BIC Português, S.A. [email protected] Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS I – ECONOMIA MUNDIAL Difíceis transições nos países emergentes criam grande volatilidade nos mercados Europa e Japão: o novo mundo das taxas negativas LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS PAÍSES DESENVOLVIDOS: EUROPA E JAPÃO – AS TAXAS NEGATIVAS Depois da crise financeira de 2007/8, o mundo ocidental foi sujeito a políticas monetárias fortemente expansionistas procurando estimular o crescimento e levar a inflação para valores próximo de 2%, combatendo assim algumas ameaças de deflação. No que toca à inflação, os EUA estão mais próximos desse objectivo do que a Zona Euro. Recorreu-se então às chamadas politicas monetárias não convencionais, designadamente impressão de moeda para compra de activos financeiros (“Quantitative Easing”) e alguns bancos centrais (BCE, Japão, Dinamarca, Suíça e Suécia) começaram a aplicar taxas de juro negativas aos depósitos que neles fazem os bancos comerciais. Com isso, esses bancos centrais pretendem desincentivar os bancos comerciais a aplicarem neles os excessos de liquidez que têm, tentando força-los a darem mais crédito à economia real, famílias e empresas, apoiando assim o investimento e o consumo, puxando pela procura agregada e pela inflação. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS O problema é que essas taxas negativas por um período prolongado (como já acontecia aliás com taxas muito baixas) afectam a poupança e logo o investimento e podem levar a guerras cambiais na sequência de depreciações das moedas pois que os intermediários financeiros tenderão a deslocar o dinheiro para outros países (“carry trade”) na busca de remunerações mais atractivas, até porque a procura de crédito continua deprimida. Por outro lado, essas taxas de juro negativas acabam por contaminar os indexantes de crédito, tendo na Zona Euro (e não só) os indexantes de crédito começando a ficar em terreno negativo, como já está a acontecer com a Euribor a 3 meses e a 6 meses, só devendo a Euribor a 3 meses voltar a terreno positivo em 2019. Este terreno negativo dos indexantes de crédito afecta significativamente a rendibilidade dos bancos comerciais na medida em que reduz as taxas de juro activas praticadas no crédito, enquanto os bancos continuam a remunerar positivamente os depósitos dos seus clientes. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS Também alguns países começam a emitir dívida de longo prazo a taxas de juro negativas, como acontece com o Japão e poderá acontecer com a Alemanha, o que configura serem os investidores a pagarem o financiamento desses Estados! Por outro lado já há quinze países que têm Yields negativas da sua dívida soberana em mercado secundário: Suíça, Japão, Alemanha, Holanda, Áustria, Bélgica, França, Finlândia, Irlanda, Dinamarca, Suécia, República Checa, Eslovénia, Itália e Espanha. Isto tem acontecido mesmo em economias periféricas (como Espanha, Itália e Irlanda) e emergentes (como Eslovénia e Republica Checa). Tudo isto mostra que estes riscos soberanos estão muito subavaliados. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS UNIÃO EUROPEIA E ZONA EURO A Europa parecia estar, embora muito lentamente, a recuperar a sua economia e a ultrapassar a crise das dívidas soberanas dos países periféricos, quando foi atingido em pleno pela crise dos refugiados, afectando uma das conquistas essenciais da integração europeia, a liberdade de circulação das pessoas, e tem ainda a ameaça da saída do Reino Unido, o chamado “Brexit”. Isto põe novas incertezas políticas ao nosso bloco económico, o que poderá impactar negativamente na situação económica. Por outro lado, a política de compra de activos do BCE (“Quantitative Easing”), a qual na Europa (ao contrário dos EUA) tinha que se centrar mais na compra de divida pública, atendendo à relativamente (em relação aos EUA) pequena dimensão do nosso mercado de capitais, parece não estar a surtir os efeitos desejados em termos de estimulo à economia e à inflação. No fundo, o BCE precisava dum sistema financeiro europeu a funcionar e de boa saúde para que ele fosse um efectivo canal de transmissão da sua política monetária às empresas e famílias. E para haver decisões de consumo e sobretudo de investimento é preciso haver confiança nos agentes económicos, coisa que não se resolve só com a politica monetária LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS Também o BCE na compra de dívida pública se viu restringido em termos de limites de compras pelos pesos no capital de cada país no BCE, o que leva a comprar mais dívida pública dos países do centro (que não necessitavam) e menos dos países periféricos. Por exemplo, até agora tinham sido comprados títulos de divida pública no valor de 548 mil milhões de euros, dos quais apenas 12 mil milhões de euros de divida portuguesa. O BCE acabou de reforçar o seu programa de compra de activos (QE) e aumentar a remuneração negativa dos depósitos da banca comercial nele colocados. Segundo alguns analistas, trata-se de mais uma tentativa do BCE de, através do reforço da política monetária acomodatícia, tentar combater a deflação e estimular a economia da Zona Euro mas esta tentativa já está a mostrar os limites da política monetária nesta matéria, política essa que devia ser completada pelos estímulos à procura agregada e pelas reformas estruturais na Zona Euro, o que está longe de acontecer. Neste contexto ainda de consequências negativas para os bancos comerciais de política de taxas de juro negativas, o Vice-Presidente do BCE Vítor Constâncio admitiu, aliás, à semelhança do Banco Central do Japão, a possibilidade de estabelecer um regime de taxas diferenciadas por forma a excluir do terreno negativo alguns tipos de depósitos dos bancos comerciais. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS PAÍSES EMERGENTES: A GESTÃO DIFÍCIL DA TRANSIÇÃO DOS MODELOS ECONÓMICOS Os países emergentes não são uma realidade homogénea. China, uma economia continental e industrial está numa fase de desaceleração. Brasil e Rússia, ambos produtores de “comodities”, estão a passar por vários problemas. Por outro lado a India, outra economia continental, centrada ainda na agricultura e serviços e com um claro défice de infraestruturas para a actividade manufatureira, está num ciclo ascendente. O factor comum a todos estes países é que estão a passar por uma transição estrutural, no quadro de mudanças na economia global, que puseram em causa os seus modelos de negócios e as suas estratégias de crescimento. As mudanças fundamentais são: - Fraqueza da procura para as exportações A queda da procura chinesa, designadamente nas “comodities”, veio adicionar-se aos problemas da já débil procura nas economias desenvolvidas. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS - Preços das “Comodities” em queda O ciclo ascendente das “comodities” alimentou o “boom” de economias emergentes assente nesses produtos. Mas as quedas no preço do petróleo, nas matérias-primas para a indústria e nas “comodities” agrícolas está a criar tensões, macroeconómicas e geopolíticas. - O endurecimento de política monetária americana e o fortalecimento do dólar As taxas de juro próximo de zero e o “QE” do FED alimentaram uma rápida expansão de liquidez nos países emergentes, pois que a liquidez voou para esses países (“carry trade”) em busca de rendimentos maiores (“search for yield”), alimentando também a expansão do crédito para as empresas. O endurecimento da política monetária americana, com a tentativa do FED de começar um ciclo de subida de taxas de juro, gera o movimento inverso nos emergentes com saída de capitais e grandes depreciações das suas moedas, colocando problemas aos países e empresas endividadas em dólares. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS - A mudança de motor de crescimento de procura externa (exportações) para a procura interna e as reformas estruturais Tal é particularmente evidente na China que precisa de mudar duma economia puxada pelo investimento e pelas exportações para um modelo mais centrado no consumo doméstico. Brasil e Rússia também têm que fugir da dependência das “comodities” e avançarem em investimentos em infraestruturas e na diversificação da economia. India precisa de reformas estruturais do lado da oferta (“supply-side policies”) para modernizar a economia, avançar no sector manufactureiro e poder absorver o rápido crescimento da população activa. Todos estes países têm que gerir essas transações macroeconómicas (sem recessão) e sobretudo evitando “crashes” financeiros. Neste contexto, os mercados financeiros estão particularmente preocupadas com a China, Brasil e Rússia. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS - China: a gestão financeira é o calcanhar de Aquiles Como referido, a China está em transição duma fase de economia emergente com grandes taxas de crescimento do PIB (entre 12 a 13%) para uma fase de crescimento mais “madura” à volta de 5%. O governo chinês parece estar a gerir essa transição económica de forma razoável. Mas está a ter menos sucesso em evitar a instabilidade financeira. Embora pareça que a política cambial vá na boa direcção para taxas de câmbio mais flexíveis, os avanços e recuos nessa direção e a incapacidade de comunicar e enviar mensagens correctas aos mercados financeiros, conjugados com o elevado endividamento de grandes empresas públicas, estão a criar volatilidade nos mercados. Isto cria o risco do chamado “momento Minsky”, um repentino colapso no preço dos activos. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS - Brasil: duma recessão para uma crise financeira Pelo contrário, o governo brasileiro está logo a falhar na gestão da transição macroeconómica, com inacção nas reformas restruturais, sendo por consequência disso a Formação Bruta de Capital Fixo muito fraca no contexto dos emergentes. Isto leva a sérios constrangimentos do lado da oferta, designadamente nas infraestruturas rodoviárias, marítimas e portuárias vitais para a competitividade empresarial e para as exportações. O Brasil também enfrenta sérios riscos duma crise financeira com probabilidade de “default” nas maiores empresas, cuja alavancagem tinha subido rapidamente nos anos recentes. A dívida pública ainda está em 65% do PIB mas deverá subir rapidamente para cerca de 90% nos próximos dois anos. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS - Rússia: uma economia em grandes dificuldades O governo russo não falhou a mudança estrutural porque nem sequer começou. A economia atingiu os limites da era pós-soviética e a Formação Bruta de Capital Fixo é muito baixa para resolver o problema. Contudo o risco de crise financeira é menor do que no Brasil pois que a Rússia acumulou “buffers” substanciais antes do actual choque petrolífero (368 mil milhões de dólares) e tem apenas uma dívida pública de 18% do PIB. O Banco Central geriu razoavelmente o choque petrolífero graças à política de taxas de câmbio flexíveis para o rublo. Contudo, a posição orçamental está-se a deteriorar bem como a almofada atrás referida. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS - Outros países emergentes Outros países da América Latina e da Ásia e Médio Oriente também estão em dificuldades. Na linha do que já referido, nota positiva para a India, que está beneficiando do impacto positivo nos rendimentos reais da alteração dos termos de troca com a descida dos preços do petróleo, embora haja algum desapontamento dos investidores face ao impasse do governo indiano nas reformas estruturais. A Coreia do Sul, bem como a Polónia e a República Checa, também se estão a comportar razoavelmente. Mas no geral, devido à importância que os países emergentes já têm na economia e no comércio mundiais, as dificuldades nas mudanças estruturais em muitos emergentes vão gerar um cenário de permanente volatilidades nos mercados financeiros, quer nos países desenvolvidos quer nos emergentes. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS - Países Produtores de Petróleo A maioria entrou em grande “stress” macroeconómico com a queda dos preços do petróleo na sequência do choque positivo do lado da oferta, devido à revolução energética americana do “shale”, e à fraqueza da procura mundial. Os países, como a Arábia Saudita e os do Golfo Pérsico, com custos de produção inferiores ao preço de mercado “spot” e que acumularam “buffers” com divisas externas são, contudo, claramente menos afectadas. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS II - RELANÇAMENTO DA ECONOMIA PORTUGUESA LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS Quem pensar que relança a economia portuguesa pelo crescimento do consumo doméstico (publico e privado), não percebendo que nesta pequena economia aberta os estímulos à procura doméstica se escoam para o exterior, dinamizará a economia e o emprego dos outros! Nesta fase, o relançamento da economia portuguesa tem que ser feito pela procura externa (exportações), e para isso será preciso bom investimento produtivo nacional e estrangeiro e só no fim, através desse crescimento do PIB tendo como motor a procura externa, é que se expandirá o rendimento disponível dos portugueses e daí sim virá o crescimento sustentado do nosso consumo. O Governo apostava nessa expansão do consumo privado. Mas depois teve que carregar nos impostos indirectos para reduzir o défice do draft orçamental, e assim nem mesmo o consumo servirá de motor! LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS Acabámos de sair dum Programa de Ajustamento que impôs pesados sacrifícios aos portugueses mas que também mostrou a capacidade dos nossos empresários para aumentarem as exportações (que passaram de 28% para 40% do PIB) e conquistarem cotas de mercado externo, tendo-o feito sem a muleta da desvalorização da moeda e numa Europa em estagnação. Contudo, mantemos ainda níveis de Dívidas Pública, Privada e Externa muito elevadas, a Reforma do Estado e a consequente redução estrutural da Despesa Pública estão por fazer, continuamos com custos de contexto extremamente elevados, designadamente na burocracia estatal, nos preços da energia, no licenciamento industrial e na carga fiscal. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS Necessitamos então dum programa que num contexto de sustentabilidade das contas públicas e de manutenção / consolidação do equilíbrio externo: - Execute a Reforma do Estado e o reajustamento do Sector Público de Transportes, sendo vital manter capital privado na TAP, empresa tecnicamente falida (A União Europeia não deixará injectar dinheiro público para manter a TAP nesta dimensão Quem quiser uma TAP pública, tem que se contentar com uma Tapinha, fazendo serviço público no mercado doméstico…); - Reduza a carga fiscal com o corte estrutural da despesa pública, criando um sistema fiscal que permita a gestão do binómio equidade fiscal (no plano interno) com competitividade fiscal (no plano externo); - Reduza os custos do contexto, promova a competitividade da economia, a expansão dos bens transacionáveis e a captação de bom IDE para a economia real; LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS - Sustente a desalavancagem, o desendividamento e o reforço dos capitais das empresas, criando mecanismos de reconversão da dívida e a limpeza de balanços; - Promova a inovação empresarial, através do reforço dos mecanismos de cooperação entre as Universidades, Centros de I&DT e empresas; - Aposte na qualificação dos recursos humanos e na mobilidade dos mercados de trabalho e emprego; - Invista nas infraestruturas logísticas para a competitividade; - Reduza as rendas excessivas e os custos da energia, designadamente electricidade; LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS - Melhore os mecanismos de governação das empresas e da regulação dos sectores; - Reforme a lei eleitoral, aproximando os eleitores dos eleitos, como temos vindo a defender no contexto duma democracia de qualidade. Só um Programa destes permite reverter o empobrecimento do País. Serão as empresas competitivas que o permitirão fazer e não é o Orçamento do Estado, como diz o Governo, que vai só por si reverter o empobrecimento! Este, se tiver medidas indutoras do crescimento económico, das reformas estruturais e da competitividade das empresas, poderá ajudar mas no fundo quem nos conseguirá tirar deste ciclo descendente são as empresas e o bom funcionamento da economia! LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 Página 21 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS III - O ORÇAMENTO DE ESTADO PARA 2016 LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS A austeridade nunca poderia acabar em Portugal face aos níveis de défice e dívida públicas que temos… Mudou de nome havendo apenas uma redistribuição da mesma “neste tempo novo”…; ao apostar nos impostos indirectos, a receita torna-se mais imprevisível porque vai depender das nossas decisões de consumo; aos riscos do lado da receita, pelas razões atrás referidas dos impostos indirectos, dos excessivos optimismos sobre a conjuntura externa e da aceleração irrealista do deflator do consumo privado e do IHPC (as receitas fiscais dependem do PIB nominal e este da inflação), somam-se os riscos sobre cortes da despesa anunciados, sabendo nós que os cortes no monstro público nunca passam de intenções; as famílias ganharão aparentemente alguma coisa mas as empresas perdem. Há uma óbvia escassez nas medidas de dinamização económica, sendo a competitividade empresarial esquecida neste Orçamento que visa mais redistribuir a riqueza que não chegou a ser criada… Logo menos investimento e provavelmente menos crescimento que em 2015 LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 Página 23 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS IV - OS MERCADOS PARA AS EXPORTAÇÕES PORTUGUESAS LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS O Programa de Ajustamento Económico-Financeiro negociado com a TROIKA teve um aspecto muito positivo que foi o de forçar as empresas portuguesas a virarem-se para os mercados externos, tendo as nossas exportações subido de 28% para 40% do PIB. Este movimento tem que ser prosseguido pois, à semelhança de outras economias abertas, como a portuguesa, nós temos que atingir valores de exportações entre 70 e 80% do PIB. Só assim é que poderemos ter um crescimento económico sustentável e que não ponha em causa as importações e a balança com o exterior. Importa contudo chamar a atenção que, embora exportemos 40% do PIB, nós importamos 15% do PIB para fornecer inputs às nossas exportações, pelo que o valor acrescentado nacional, ou seja, a contribuição das nossas exportações para o PIB, é apenas de 25%. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS ଶହ Por outras palavras a contribuição das exportações para o PIB é apenas de 62,5% ( ସ x100%) das exportações. Neste contexto, quando o “Expresso” noticia que as nossas exportações para países produtores de petróleo caíram 1,3 mil milhões de euros, a contribuição negativa para o PIB, usando o pró-rata acima referido, terá sido 0,625 x 1.300 milhões de euros ou seja 812,5 milhões de euros, que comparam com a redução da factura petrolífera de 1200 milhões de euros. Conclusão: apesar das exportações para países petrolíferos (12% das exportações portuguesas, representando Angola 7% das exportações portuguesas) terem caído, o efeito da redução da fatura energética é superior à redução do PIB da economia portuguesa e portanto o efeito líquido para Portugal do actual choque petrolífero ainda será positivo. Mas há de facto quebras das exportações em países como Angola, Venezuela, Argélia e Russia mas crescimento em países como Arábia Saudita e Emiratos Árabes Unidos. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS Os nossos principais clientes e fornecedores são LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS A Espanha continua a ser o nosso principal parceiro comercial, quer como cliente quer como fornecedor. A seguir vêm a Alemanha e a França. Angola, embora pelas razões do choque petrolífero tenha descido, continua a ser um cliente significativo. Para um pequeno país como Portugal, a procura mundial é quase infinita. Nesse sentido, o que nos faltará é oferta interna competitiva nos mercados externos! Os nossos empresários, com uma Europa em estagnação e sem a muleta da desvalorização, tiveram uma performance notável ao aguentarem cotas de mercado na Europa e ao diversificarem para mercados não comunitários, tendo contado para isso naturalmente os mercados dos países petrolíferos como Angola, Venezuela, Rússia e Argélia. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016 A ECONOMIA MUNDIAL E AS OPORTUNIDADES PARA PORTUGAL NOS MERCADOS EXTERNOS Importa continuar esse movimento reduzindo a dependência de Angola e Venezuela: - Consolidando e reforçando posições no mercado europeu; - Diversificando para outros países da América Latina não tão afectados pelo petróleo e para países árabes como Arábia Saudita e outros do Golfo Pérsico com custos de produção do petróleo baixos e “buffers” grandes em divisas e que portanto não estão tão afectados como a Venezuela; - Avançando decisivamente para o Ásia e China, designadamente para os mercados asiáticos da região ASEAN - Resolvendo aquilo que tem sido um dos casos mais evidentes do nosso falhanço no exterior, o mercado dos EUA. Tal só pode ser feito através do esforço conjugado entre os poderes públicos e o sector privado para um adequado posicionamento no mercado americano com produtos de qualidade e promoção da imagem do país e da nossa oferta. LUIS MIRA AMARAL Luso, 18 de Março de 2016