O crescimento insuficiente - Prof. Tharcisio Souza Santos

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ARTIGO
Por THARCISIO BIERRENBACH DE SOUZA SANTOS
O crescimento insuficiente
A divulgação do resultado do PIB no 3o trimestre de 2005 foi uma ducha fria
pós um ano com elevadas taxas de juros, as
mais altas em termos reais do mundo,e a despeito da super apreciação do real em relação
ao dólar americano, que vem tirando o sono
dos exportadores, parecia que o caminho do crescimento, ainda que timidamente, passava a ser trilhado: a inflação vinha convergindo para a meta estabelecida pelo
Banco Central e a autoridade monetária começou a reduzir a taxa básica de juros a partir de outubro passado.
Paralelamente,o excelente desempenho evidenciado pelas exportações brasileiras e um superávit primário robusto pavimentaram uma melhoria substantiva na avaliação do risco Brasil pelos investidores estrangeiros.
Diante de um cenário internacional muito favorável, com o comércio
mundial crescendo 7,7% no último
triênio, o Banco Mundial aponta para uma elevação da ordem de 4,2%
da produção, em termos de poder de
paridade de compra, o que significa
um crescimento médio de 5,6% ao ano para os emergentes nos próximos dois anos, com os países asiáticos crescendo a mais de 7% ao ano.
Com todo esse cenário favorável, era de se esperar
um crescimento pelo menos razoável da economia brasileira para 2005 e os dois anos seguintes, sendo que em
2005 o prognóstico dos mais realistas se situava ao redor de 3,2% ou 3,3% no PIB.
Infelizmente as notícias do IBGE colocam por terra,
uma vez mais, as expectativas de se atingir um crescimento sustentável. Com um recuo de 1,2% na produção
de bens e serviços no terceiro trimestre, dificilmente o
ano de 2005 se encerrará com mais de 2,5% de crescimento do PIB. Mantém-se assim, para 2005, o ritmo de
crescimento médio da economia brasileira verificado
nos últimos treze anos e as perspectivas para os próximos dois anos são contaminadas pela decepção dos
agentes econômicos. Estamos ameaçados de, em 2006 e
2007, não atingirmos a taxa de crescimento de 5% para
A
o PIB, que se constitui numa aspiração dos brasileiros e
no meio de melhorar o padrão de vida e o nível de emprego para uma larga parcela da população.
As causas desse desempenho desfavorável são de sobejo conhecidas: elevada taxa de juros real, apreciação
cambial, desestímulo a investimentos no setor real da
economia e atração de recursos especulativos em razão
do rendimento financeiro proporcionado pelos títulos
públicos. Por outro lado, um elevado dispêndio de recursos com o pagamento desses juros da dívida pública,
impedindo investimentos e despesas correntes de primeira necessidade num orçamento em que o único item
que vem crescendo é aquele representado pelas despesas com pessoal situado em cargos
em comissão.
A má alocação dos recursos orçamentários, a necessidade de uma profunda reformulação da política de
aplicação desses recursos por parte
do governo federal, a realização de
um urgente choque de gestão enfim, ganham uma dimensão ainda mais importante nas vésperas de mais
um ano eleitoral. É absolutamente imperioso levar em
conta a escassez de recursos e a abundância das carências para que se prepare, de uma vez por todas, a base de
uma retomada do crescimento econômico.
Sem uma reformulação da gestão não será possível
atender às prioridades essenciais de educação, saúde,
segurança, bem como ciência e tecnologia que, como temos afirmado, devem se constituir no foco para a administração pública. Por outro lado, sem investimentos em
infra-estrutura, corremos o risco de enfrentar problemas
consideráveis no futuro próximo. Essa é a tarefa, num
ano que se afigura como difícil, em virtude da profundidade da crise política pela qual passa o País.
Pagamento de juros
da dívida pública
impede investimento
FORBES BRASIL ■ 16 DE DEZEMBRO DE 2005
Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos - Professor titular das
Faculdades de Administração e Economia da Faap, vice-diretor da Faculdade
de Administração da Faap, professor e diretor do Faap MBA
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