29/1/04 20:19 Page 45 DIVULGAÇÃO art tharciso.qxd ARTIGO Por THARCISIO BIERRENBACH DE SOUZA SANTOS O crescimento insuficiente A divulgação do resultado do PIB no 3o trimestre de 2005 foi uma ducha fria pós um ano com elevadas taxas de juros, as mais altas em termos reais do mundo,e a despeito da super apreciação do real em relação ao dólar americano, que vem tirando o sono dos exportadores, parecia que o caminho do crescimento, ainda que timidamente, passava a ser trilhado: a inflação vinha convergindo para a meta estabelecida pelo Banco Central e a autoridade monetária começou a reduzir a taxa básica de juros a partir de outubro passado. Paralelamente,o excelente desempenho evidenciado pelas exportações brasileiras e um superávit primário robusto pavimentaram uma melhoria substantiva na avaliação do risco Brasil pelos investidores estrangeiros. Diante de um cenário internacional muito favorável, com o comércio mundial crescendo 7,7% no último triênio, o Banco Mundial aponta para uma elevação da ordem de 4,2% da produção, em termos de poder de paridade de compra, o que significa um crescimento médio de 5,6% ao ano para os emergentes nos próximos dois anos, com os países asiáticos crescendo a mais de 7% ao ano. Com todo esse cenário favorável, era de se esperar um crescimento pelo menos razoável da economia brasileira para 2005 e os dois anos seguintes, sendo que em 2005 o prognóstico dos mais realistas se situava ao redor de 3,2% ou 3,3% no PIB. Infelizmente as notícias do IBGE colocam por terra, uma vez mais, as expectativas de se atingir um crescimento sustentável. Com um recuo de 1,2% na produção de bens e serviços no terceiro trimestre, dificilmente o ano de 2005 se encerrará com mais de 2,5% de crescimento do PIB. Mantém-se assim, para 2005, o ritmo de crescimento médio da economia brasileira verificado nos últimos treze anos e as perspectivas para os próximos dois anos são contaminadas pela decepção dos agentes econômicos. Estamos ameaçados de, em 2006 e 2007, não atingirmos a taxa de crescimento de 5% para A o PIB, que se constitui numa aspiração dos brasileiros e no meio de melhorar o padrão de vida e o nível de emprego para uma larga parcela da população. As causas desse desempenho desfavorável são de sobejo conhecidas: elevada taxa de juros real, apreciação cambial, desestímulo a investimentos no setor real da economia e atração de recursos especulativos em razão do rendimento financeiro proporcionado pelos títulos públicos. Por outro lado, um elevado dispêndio de recursos com o pagamento desses juros da dívida pública, impedindo investimentos e despesas correntes de primeira necessidade num orçamento em que o único item que vem crescendo é aquele representado pelas despesas com pessoal situado em cargos em comissão. A má alocação dos recursos orçamentários, a necessidade de uma profunda reformulação da política de aplicação desses recursos por parte do governo federal, a realização de um urgente choque de gestão enfim, ganham uma dimensão ainda mais importante nas vésperas de mais um ano eleitoral. É absolutamente imperioso levar em conta a escassez de recursos e a abundância das carências para que se prepare, de uma vez por todas, a base de uma retomada do crescimento econômico. Sem uma reformulação da gestão não será possível atender às prioridades essenciais de educação, saúde, segurança, bem como ciência e tecnologia que, como temos afirmado, devem se constituir no foco para a administração pública. Por outro lado, sem investimentos em infra-estrutura, corremos o risco de enfrentar problemas consideráveis no futuro próximo. Essa é a tarefa, num ano que se afigura como difícil, em virtude da profundidade da crise política pela qual passa o País. Pagamento de juros da dívida pública impede investimento FORBES BRASIL ■ 16 DE DEZEMBRO DE 2005 Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos - Professor titular das Faculdades de Administração e Economia da Faap, vice-diretor da Faculdade de Administração da Faap, professor e diretor do Faap MBA 65