UFSC/ ODONTOLOGIA BIBLIOTECA SETOp,1i , UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PERIODONTIA 00 JOSÉ EDUARDO BRIGONI OTIMIZAÇÃO DA ESTÉTICA PERIIMPLANTAR COM ENXERTO DE CONJUNTIVO SUBEPITELIAL Trabalho referente ao curso de especialização em periodontia da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2004. AGRADECIMENTOS Faz-se necessário ressaltar a gratidão e o reconhecimento por todas as pessoas, que de uma certa forma, tiveram sua parcela de participação frente essa conquista. Em especial aos alunos do mestrado em implantodontia César Augusto Magalhães Benfatti e Maria Angélica Rehder de Araújo por cederem o caso clinico aqui relatado; A doutoranda em implantodontia Dircilene Colares pela co-orientação e pelo auxflio fundamental no desenvolvimento do trabalho; ao orientador professor e cordenador do curso Ricardo Magini, aos demais professores, funcionários e colegas. Fundamentalmente agradeço aos meus pais, familiares e amigos pela compreensão e pelo apoio incondicional prestado no decorrer dessa jornada. "A felicidade as vezes é uma benção, mas geralmente é uma conquistam. UFSC/ODONTOLOGIA BIBLIOTECA SETORIAI. S U M A RI O Resumo 05 Abstract 06 Introdução 07 1 Revisão da Literatura 09 1.1 Considerações Gerais 09 1 2 Enxerto de Tecido Conjuntivo Subepitelial 15 1.3 Técnica Cirúrgica 17 2 Caso Clinico 24 Discussão 29 Conclusão 32 Reférencias 33 RESUMO A implantodontia e a periodontia são especialidades intimamente ligadas. Em certas ocasiões, como por exemplo, nas cirurgias plásticas periodontais aplicadas á implantodontia, pode-se estabelecer expectativas peculiares a cada paciente. Estas expectativas se refletem basicamente em duas áreas, a função e a estética. A função mastigatória é a mais fácil de ser preenchida. Entretanto, estética é mais difícil e exige do especialista uma clara relação com o paciente, na tentativa de formar uma expectativa realista antes que o tratamento seja executado. O profissional pode se deparar em uma situação desfavorável na confecção da prótese sobre implante e necessitar manipular os tecidos moles periimplantares. O propósito deste trabalho é apresentar, através de revisão literária e relato de caso clinico, a técnica de enxerto de tecido conjuntivo subepitelial como alternativa para periimplantar em situações esteticamente desfavoráveis. manipulação de tecido mole ABSTRACT Implant°logy and periodontology are very closed specialties. In some occasions, for example: the application of periodontal plastic surgery in implants could be established some hopes in the patients. These hopes are basically in two areas: esthetic and function. The second one is easier to fulfill. However, the esthetic is more difficult and demands of the specialist a two-way relationship with the patient, to fit a real hope before the treatment The professional can find an unlucky situation in building the prosthetic, needing to manipulate the soft tissue around the soft tissue around the implant. The purpose of this work is to present, through literary revision and a report of a clinical case, the alternative of manipulation of the soft tissue around the implant in situations esthetically unfavorable, especially. The conjunctive subepitelial graft. INTRODUÇÃO Os implantes dentários surgiram primeiramente com a finalidade de apenas reparar a função na falta de um ou mais elementos dentais. Atualmente temos um quadro diferente, onde as exigências estéticas são maiores. A percepção para a estética bucal abrange as desarmonias envolvidas, mesmo pequenas alterações, sejam elas através da dentistica restauradora, prótese, periodontia, ou implantodonfia, refletem mudanças significativas no conjunto. A imagem de harmonia pode ser conseguida através da sensibilidade e treinamento visual. Exemplificando, os problemas de forma e proporção podem não estar somente relacionados ao dente ou prótese e sim a modificações gengivais para influenciar no conjunto dentogengival como um todo (BORGHETTI, 2002). Em Areas estéticas, o objetivo da moderna terapia implantar não é apenas o sucesso da osteointegração, ou seja, o objetivo final é que o implante tenha tecidos mole e duro ao seu redor em harmonia com os demais dentes. De acordo com Schincaglia e Nowzari (2003), um erro na manipulação do tecido mole ou no posicionamento do implante, não obstante o volume de tecido mole e ósseo pode levar a urna falha estética maior. A cirurgia dos tecidos moles peri-implantares antes, durante ou depois da colocação dos implantes teve um avanço considerável a partir do momento em que os pacientes, além da possibilidade de não terem mais próteses removíveis ou de não incluirem dentes sadios para a substituição de seus dentes ausentes, reivindicaram que os elementos aimplanto-suportadoss parecessem idênticos aos dentes naturais. Sendo assim, os tecidos moles pen -implantares devem harmonizar-se e identificar-se o máximo possível aos tecidos marginais periféricos. A reparação cirúrgica dos tecidos moles é uma etapa essencial nessa busca pela estética.0 propósito deste trabalho foi apresentar a alternativa de enxerto de tecido conjuntivo na implantodontia, juntamente com um relato de caso clinico referente a esse tema. 8 I REVISÃO DA LITERATURA 1.1 Considerações gerais Khoury e Happe, em 2000, relataram que os requerimentos esté ti cos e funcionais dos pacientes, somados à osteointegração, são as três considerações mais importantes para a reabilitação através da implantodontia. Embora a tecnologia odontológica permita criar dentes artificiais semelhantes aos dentes naturais, os tecidos mole e duro ao redor das próteses nem sempre podem ser reconstruidos. Para alcançar um resultado estético adequado com implantes, o profissional precisa considerar todas as variáveis que influenciam o resultado final, antes que o tratamento seja realizado. Desse modo, os procedimentos cirúrgicos devem ser precisamente realizados. Um erro na manipulação do tecido mole ou no posicionamento do implante, não obstante o volume de tecido mole e ósseo, pode levar a uma falha estética maior, comprometendo os resultados esperados e idealizados pelo paciente (SCHINCAGLIA e NOWZARI, 2003). Os resultados dependem de vários fatores: características do material e da superfície do implante; desing do implante; seleção do paciente; condições anatômicas; técnica cirúrgica adequada; correto planejamento; paciente motivado e colaborador; concepção profética correta; e uma carga adequada sobre as próteses (KHOURY e HOPPE, 2000). Quanto ao planejamento, de acordo com Garber, em 1995, devemos observar algumas questões quando confeccionamos um guia para a colocação de implantes: determinar a linha do sorriso (alta, media ou baixa); avaliar os componentes da zona estética; o remanejamento dos dentes e a arquitetura gengival para a harmonia, simetria e forma. Devemos ainda avaliar se há adequado suporte ósseo para posicionar um implante, levando-se em conta estética e função. Além disso, o tecido mole deve estar em harmonia com o resto do arco. A restituição gengival inclui a papila dental, a forma da arcada, forma da margem gengival livre, a zona da gengiva inserida, e a dimensão da proeminência radicular similar aos dentes adjacentes naturais. Se esses requisitos estiverem de acordo, o implante pode então ser colocado numa posição predeterminada que satisfaça as necessidades estéticas e funcionais, alcançando todos seus objetivos. Assim, o objetivo da moderna terapia implantar em áreas estéticas, não é apenas o sucesso da osteointegração, ou seja, o objetivo final é que o implante tenha tecidos mole e duro ao seu redor em harmonia com os demais dentes. Schincaglia, Nowzari, em 2003 e Garber em 1998 descreveram alguns parâmetros a serem considerados para avaliar o local do implante em áreas estéticas: 10 a) Linha do sorriso; b) Morfologia do tecido mole; C) Morfologia dentária; d) Arquitetura óssea. Quanto à morfologia do tecido mole, os autores relataram que a posição do tecido gengival ao redor do dente depende da posição do nível de inserção do tecido conjuntivo e do nível ósseo. Através desses parâmetros descritos, é possível tragar corretamente os objetivos e um plano de tratamento mais previsível, podendo assim, alcançar os benefícios da utilização da implantodontia. Para O'Neal e Butler (2003), o maior beneficio do uso de implantes, em zonas estéticas, está em poder evitar desgastes desnecessários em dentes adjacentes ao implante. A busca da estética está diretamente ligada ao manuseio dos tecidos moles que circundam os implantes. Isto passou a ser não só uma necessidade, como também uma forma de proteção periimplantar. A estética ideal para uma coroa sobre implante requer topografia ideal do tecido mole e duro. 0 adequado sitio estético do implante deve ter contorno de tecido normal com a papila interdental na altura da margem gengival contralateral. Este contorno, raramente ocorre ape* a perda de um dente. Para Langer, em 1980, as depressões alveolares podem ser por conseqüência de uma extração dentária com subseqüente reabsorção alveolar, doença periodontal ou patologia apical. Trauma de extração, doença periodontal, ou avuIção acidental de um dente geralmente resultam num defeito vertical ou horizontal (ou ambos) da crista residual. 11 Nessas situações, a fabricação da restauração respeitando anatomia e cor não são os únicos fatores importantes, ou seja, devemos restabelecer o tecido mole para conseguirmos harmonia com as Areas adjacentes. Se o dente já foi extraído, ocorre remodelação do tecido ósseo e gengival no espaço edêntulo. 0 defeito do rebordo pode estar relacionado ao colapso do tecido mole, à reabsorção óssea ou A combinação de ambos. A extensão do defeito determina qual técnica cirúrgica será indicada para a correção (SEIBERT e SALAMA, 1996). Segundo Shibli, em 2004, recompor a estética periimplantar, após a perda de dentes anteriores, representa urna tarefa complicada. Exigências estéticas e funcionais requerem um contorno de tecido mole em harmonia com a dentição adjacente, inclusive a presença intacta da papila interdental e a adequada localização da margem da mucosa periimplantar. Atualmente, clínicos estão começando a observar alguns resultados adversos após a colocação de implantes osseointegrados em Areas estéticas. Algumas causas mais comuns destas falhas são o inadequado planejamento; a subseqüente colocação imprópria do implante e a manipulação incorreta dos tecidos mole ao redor do implante e da restauração. Embora alguns implantes devam ser retirados, o paciente é limitado, freqüentemente, a tratamento prolongado que envolve enxerto ósseo, substituição do implante e uma nova restauração. Em Areas estéticas, esse retratamento complexo não é nenhuma garantia de um resultado estético signi ficativamente melhor (MATHEWS P. D., 2002). Nessas Areas, muitas vezes o clinico, além de não ter uma garantia de um resultado estético, se depara a situações com um grau de dificuldade extremamente 12 alto para recuperar a harmonia dos tecidos periimplantares, como por exemplo, recessões do tecido mole interproximal. A recessão do tecido mole interproximal cria um espaço vazio na região interdental, também chamado "triângulo negro". A perda de tecido interproximal parece estar relacionada com a distância entre a base da Area de contato e a crista óssea. Para uma distância igual ou menor que 5 mm, a papila interdental sempre está presente. Para uma distancia de 6 e 7 mm ou mais, a papila interdental preenche o espaço interproximal em 56% e 27% respectivamente. (TARNOW, MAGNER, FLETCHER, 1992). Perda ou deficiência da papila interdental pode levar a prejuízos estéticos e fonéticos, especialmente em pacientes com a linha do sorriso alta. Segundo Avivi-Arber e Zarb (1996) nunca foram pesquisados os parâmetros biológicos que determinam a posição do tecido mole na Area proximal entre dente e implante. Entretanto, o nível entre a papila adjacente ao implante unitário é provavelmente influenciado pelo nível de inserção periodontal dos dentes adjacentes. A perda do tecido gengival em torno dos implantes pode ter Arias causas. De acordo com Schincaglia et al, em 2003, as causas principais da perda de tecido crestal periimplantar estão relacionadas com a infecção bacteriana e aos fatores biomecânicos associados A sobrecarga oclusal, que pode ser exarcebada pelo mau posicionamento do implante. Ono Y. et al, em 1998, através de um estudo quanto à segunda etapa cirúrgica relatou alguns parâmetros que devem ser analisados: a) Obtenção de uma quantidade suficiente de tecido queratinizado; 13 b) Controle da espessura dos tecidos moles periimplantares; C) Seleção e colocação do pilar de cicatrização d) Contorno ósseo e mucoso para garantir a estética e o acesso à higiene das futuras estruturas protéticas (ONO Yet al., 1998). Um estudo longitudinal prospectivo, realizado por Small e Tarnow em 2000, mensurou as alterações dos níveis gengivais dos tecidos periimplantares depois da segunda etapa cirúrgica. A partir deste trabalho observou-se que, dos 63 implantes em 11 pacientes investigados, existia uma tendência ã recessão gengival vestibular no primeiro ano após a segunda etapa cirúrgica, sendo de 0,75 mm com 3 meses e 0,85 mm com 6 meses. Os autores recomendam uma espera de 3 meses, para o tecido estabilizar, antes da seleção do limite definitivo da prótese. Como regra geral, pode-se antecipar aproximadamente 1 mm de recessão no decorrer do tempo limite para a colocação da prótese definitiva. 0 potencial clinico desse tipo de informação cientifica não pode ser negligenciado. Em situações clinicas de necessidade estética, a moldagem de fi nitiva e a seleção do pilar protético só devem ser realizadas após decorrido pelo menos 3 meses de reparação tecidual. Pode-se, portanto, admitir que o procedimento de enxerto conjuntivo para a obtenção de melhor recontorno bucal deve acontecer, por exemplo, ate o momento da instalação da prótese provisória após a segunda etapa cirúrgica. Uma vez confeccionada a restauração definitiva, a capacidade de modificação cirúrgica da anatomia periimplantar torna-se limitada. 14 UFSC/ODONTOLOGIA BIBLIOTECA SETORIA1 1.2 I Enxerto de tecido conjuntivo subepitelial Como já destacadas situações clinicas em que o contorno bucal está inadequado, devem, de preferência, ser corrigidos prévia ou simultaneamente ao ato de instalação dos implantes. Em sítios já cicatrizados, a utilização de enxertos de tecido mole e duro normalmente se faz necessário. 0 emprego de cirurgias plásticas periodontais com finalidade estética é extremamente válido para a recuperação do contorno bucal. Não é rara inclusive a busca por uma faixa tecidual que disfarce a aparência metálica do elemento transmucoso ou a aplicação de técnicas alternativas como pilares de porcelana (GROISMAN e HARARI, 2001). De acordo com Mathews, 2002, várias formas de enxerto conjuntivo foram usadas em zonas estéticas para restaurar o tecido mole da região: após extrações dentárias e durante a colocação de implantes imediatos. Essas técnicas cirúrgicas foram desenvolvidas para obter a regeneração do tecido peri-implantar, porém demonstram grande dificuldade. 0 plano de tratamento, freqüentemente, inclui procedimentos de aumento de tecido mole e duro (SHIBLI, 2004). Enxertos gengivais estão sendo utilizados para melhorar a qualidade e a quantidade de tecido mole, considerando que enxertos de tecido conjuntivo subepitelial, adquiridos do palato, demonstram uma melhor topografia de tecido mole (ASKARY, 2002). 15 Geralmente, se a discrepância do cume alveolar está dentro de 3 mm ou menos em relação ao contorno original, somente o aumento de tecido mole pode ser usado para alcançar resultados estéticos aceitáveis. Normalmente a manipulação de tecido mole envolve procedimentos mais simples com um menor tempo curativo que reconstruções ósseas que envolvem múltiplas intervenções cirúrgicas e um período curativo prolongado. (ASKARY, 2002) 0 enxerto de tecido conjuntivo subepitelial tem sido utilizado por prover resultados mais previsíveis já que, em virtude de ser contornado pelos tecidos da Area receptora, recebe uma considerável fonte de nutrição. A região de tuberosidade maxilar e palatina oferece uma Area doadora acessível e segura que pode ser utilizada em concavidades do cume alveolar. (ASKARY, 2002) Existem varias indicações para o uso do enxerto de tecido conjuntivo subepitelial em sítios para implantes dentários: a) Espessar a gengiva para eliminar a mostra de metal através do implante dentário subjacente. 0 enxerto pode espessar a gengiva de 1 a 3 mm, dependendo da espessura e da contração do tecido durante a cicatrização. b) Melhorar a qualidade gengival. C) Aumentar os contornos vestibulares convexos do tecido mole para uma aparência natural do resultado final estético da restauração implanto-suportada. d) Aumentar a espessura da gengiva para permitir sua escultura. 0 dentista restaurador pode criar a forma gengival ideal para a restauração estética. e) Corrigir a altura vertical. (BRUNO, 1994). 16 O tempo de colocação do enxerto de tecido conjuntivo interposicional, no sitio do implante, depende do clinico. Alguns colocam o enxerto de tecido conjuntivo subepitelial no momento da fi xação do implante. A vantagem de se colocar o enxerto de tecido conjuntivo no momento da fixação do implante ou no momento da exposição do implante é a eliminação de um procedimento cirúrgico isolado. A desvantagem de se colocar o enxerto simultaneamente com o implante ou exposição deste é a diminuição do suprimento potencial vascular para o enxerto. 0 enxerto de tecido conjuntivo subepitelial é tradicionalmente colocado com seu futuro suprimento vascular vindo dos tecidos moles subjacentes e sobrejacentes. Quando colocado no momento da inserção do implante ou exposição deste, a subsupeficie do enxerto pode ser colocada contra o metal, osso desnudo traumatizado pela cirurgia, ou outros materiais para enxerto. Em relação ao enxerto de tecido conjuntivo subepitelial, Shibli, em 2004, realizou um estudo onde utilizou esta alternativa para restabelecer a discrepância da margem labial de um implante unitário, Antero-maxilar. 0 procedimento obteve êxito, manifestou uma melhora estética e uma estabilidade dos tecidos mole periimplantares por 18 meses. 1.3 Técnica Cirúrgica 17 O enxerto pode ser coletado tanto com uma técnica aberta como uma fechada. A técnica aberta envolve o levantamento de um retalho palatino e excisão de uma lamina do tecido palatino subepitelial subjacente. Para a técnica fechada, o enxerto de tecido conjuntivo 6 coletado sem o desenvolvimento de um retalho. Uma incisão horizontal 6 feita e a bolsa desenvolvida sem incisões verticais, evitando-se o retalho. A mucosa subjacente 6 coletada ape* 4 incisões serem feitas através do peri6steo dentro da bolsa. Para enxertos mais finos do que 1,5 a 2,0 mm, uma lâmina de bisturi dupla pode ser usada para coletar enxertos de espessura especifica, dependendo das necessidades do paciente. 0 tecido conjuntivo submucoso é coletado como uma lamina de tecido com mucosa palatina sobrejacente devolvida a sua posição original, evitandose a desepitelização do palato. Langer em 1994, descreveu o enxerto de tecido conjuntivo como um tratamento muito utilizado em exodontia seguida de implante imediato. Um enxerto de tecido conjuntivo subepitelial pode ser removido do palato. 0 enxerto 6 obtido através de duas incisões paralelas, com cerca de dois mm de profundidade, com uma distancia apical de pelo menos 1mm do tecido gengival livre do dente na região do palato e o encontro entre elas em uma posição superior entre a linha média do palato e a margem gengival. A camada epitelial 6 removida no enxerto conjuntivo e, então, colocada dentro do alvéolo de vestibular para palatino, provocando assim um tamponamento alveolar. Os retalhos vestibular e palatino são suturados cobrindo o enxerto de tecido conjuntivo. De acordo com Langer, caso o clinico deseje aumentar a espessura alveolar no estágio cirúrgico, isso pode ser feito acondicionando um enxerto de tecido conjuntivo logo abaixo do retalho vestibular. 18 O enxerto de tecido conjuntivo precisa estar firme em sua posição desejada. As suturas devem segurar firmemente o enxerto em posição contra os pediculos sobrejacentes e subjacentes do tecido para a formação de hematoma A localização vertical do enxerto e a sua orientação na crista alveolar são ditadas pela colocação firme das suturas, pela confecção de um retalho bem definido, e por evitar o dobramento do enxerto no momento de sua colocação. Diversos relatos clínicos foram publicados com o intuito de demonstrar e indicar a utilização de enxerto conjuntivo subepitelial como uma alternativa para a reestruturação dos tecidos mole periimplantar. Langer et al, em 1980, realizou enxerto conjuntivo subepitelial em 30 pacientes, através de seu estudo observou que os procedimentos mantiveram-se estáveis por dois anos, ou seja, os enxertos permaneceram na posição ideal alcançada. Foi observado que a altura tornou-se dimensionalmente estável após 2 meses do procedimento cirúrgico. Os autores concluiram que para corrigir concavidades e irregularidades em rebordos edêntulos, onde a estética é importante, uma combinação de restaurações provisórias com enxerto de tecido conjuntivo pode ser utilizada com sucesso. Goldstein et al, em 1998, documentou um caso clinico, onde o paciente apresentava dois implantes colocados numa área com deformidades, óssea e de tecido mole, envolvendo três dentes anteriores. 0 defeito foi mensurado aproximadamente em 15 mm mesiodistalmente, 7 mm no sentido bucolingual e 6 mm corono-apical. Goldstein utilizou aumento de tecido mole da crista com enxerto de tecido conjuntivo e enxerto gengival livre. Segundo ele, estas técnicas têm sido utilizadas para mudar o volume do 19 tecido, contorno e cor. Goldestein concluiu o tratamento no verão de 1995 e o tratamento atingiu um favorável resultado estético e funcional. Price, em 1999, utilizou enxe rt o de tecido conjuntivo subepitelial para restabelecer o contorno gengiva! periimplantar. Uma mulher de 41 anos apresentou-se para avaliação periodontal e protética antes do 2° estágio cirúrgico, após ter colocado um implante no local do 11 (fraturado por injúria traumática). Observou uma deficiência de tecido mole e duro no sentido ápico-coronal e vestíbulo-palatino. 0 implante estava posicionado, com sua cabeça, 6,5 mm abaixo da junção amelocementária adjacente, em uma área com volume ósseo e contorno de tecido mole inadequados. 0 defeito estético resultante foi tratado por meio de um enxerto de tecido conjuntivo subepitelial, dissecado do palato; o enxerto foi colocado para obter um contorno adequado do tecido mole, podendo assim, desenvolver uma prótese com perfil adequado, devolvendo forma e função. Três milimetros de tecido epitelial foram incluidos com o intuito de desenvolver mucosa queratinizada. Price acompanhou o caso por três anos e observou estabilidade e completa regeneração da papila interdental. 0 autor concluiu que um enxerto de tecido conjuntivo subepitelial juntamente com a manipulação do tecido mole, através da restauração provisória e definitiva, pode restabelecer a papila interdental e recompor o contorno gengival periimplantar. No caso citado, 3 anos após a restauração definitiva, a paciente continuou satisfeita com o resultado estético. Apesar da cabeça do implante estar a 6,5 mm abaixo da junção amelo-cementária adjacente, havia minima perda óssea ao redor do implante. regeneração da papila interdental e nenhum sinal de inflamação. -)0 Além de executar e documentar situações onde a utilização de enxerto conjuntivo subepitelial solucionou deficiências estéticas, estudos longitudinais com o intuito de comprovar a previsibilidade desse procedimento também foram realizados. Bianchi et al, em 2004, publicou um estudo longitudinal com o objetivo de avaliar, em longo prazo, a eficácia de um protocolo cirúrgico combinado, usando implante imediato associado a enxerto de tecido conjuntivo. Fonte BIANCHI, 2004 Figura 1: Instalação do implante imediato. Fonte BIANCHI, 2004 Figura 2: Enxerto conjuntivo no local do implante 21 No período de tempo de 1990 a 1998, Bianchi realizou 116 implantes em 116 pacientes, realizando um acompanhamento minucioso de todas as fases. Fonte: BIANCHI, 2004. Figura 3: Decorrido o tempo para a osteointegração, o tecido mole está completamente restabelecido. Com base nos seus resultados, o autor pôde concluir que implantes imediatos com enxerto de tecido conjuntivo representam um tratamento previsível em 100% dos casos tratados, num período de 9 anos. Fonte BIANCHI, 2004. Figura 4: cimentaçáo da coroa definitiva. Observar a mucosa queratinizada preservada e a papila com um desenvolvimento normal. ?) Após esse estudo, Bianchi em 2004 concluiu que esse sistema utilizado pode ser considerado simples e seguro para o alcance de restaurações funcionais e estéticas com um alto grau de sucesso. Ainda em relação a relatos clínicos, no seu estudo em 2004, Shibli utilizou e indicou como Area doadora o palato, desprezando a porção epitelial, ou seja, apenas tecido conjuntivo. 0 enxerto foi imediatamente colocado sobre a superfície receptora preparada, e estabilizado por dois pontos prodmais e um apical com fio reabsorvível 40. Após a estabilização do enxerto, o retalho foi reposicionado coronalmente recobrindo o enxerto completamente, sendo fixado corn sutures suspensas sem oferecer tensão excessiva. 23 2 CASO CLINICO Paciente S. L., 34 anos, sem acometimento sistémico, não fumante, foi submetido a tratamento com implantes na região dos dentes 24 e 25 no Centro de Estudo e Pesquisa de Implantes Dentários - UFSC. Decorrido o período de osteointegraçã.o e de cicatrização, observou-se uma deficiência em largura e altura de mucosa queratinizada, somado a uma deficiência volumétrica do tecido mole periimplantar, além disso, faz-se ressaltar a inadequada posição dos implantes. Para solucionar esses prejuízos estruturais e estéticos optou-se pela utilização de erocerto conjuntivo subepitelial. Figura 5: Vista lateral dos implantes instalados na região 24-25. Observar deficiência de mucosa queratinizada e volume de tecido por vestibular. Figura 6: Vista oclusal: podemos observar a deficiência em altura e espessura de mucosa queratinizada, além de uma deficiência volumétrica dos tecidos mole periimplantar, principalmente na região vestibular. 24 Figura 7 - Medição com sonda milimetrada, na região receptora, para estabelecer as dimensões necessárias do enxerto conjuntivo subepitelial. Figura 8 - Demonstração, com sonda milimetrada, da extensão de tecido conjuntivo subepitelial que será removido da área doadora. Figura 9 . Divisão do retalho para retirar a porção do tecido conjuntivo subepitelial a ser utilizado na area receptora. Figura 10: Demonstração do enxerto de tecido conjuntivo subepitelial, livre de tecido epitelial. 26 Figura 11: Imobilização inicial do enxerto de tecido conjuntivo subepitelial com pontos simples. Figura 12: Vista lateral da sutura concluída. 27 Figura 13: Vista oclusal da sutura concluída. Figura 14: Vista oclusal demonstrando o resultado final do enxerto conjuntivo subepitelial. queratinizada. Observar o Demonstra ganho em altura, espessura o e volume de gengiva favorável resultado obtido com 28 o procedimento. DISC USSÃO Recompor regiões estéticas representa um desafio para o profissional frente a necessidade de reestruturar areas com prejuízos funcionais e estéticos. A reabilitação de dentes anteriores com próteses adesiva ou parcial fixa tem apresentado ótimos resultados estéticos. Quando implantes são utilizados em areas anteriores, o mesmo resultado estético deve ser alcançado. 0 plano de tratamento cirúrgico deve decidir sobre o melhor posicionamento do implante e a necessidade de manipulação dos tecidos gengivais e ósseos para que o implante fique na posição ideal, a fi m de que a prótese fique envolta pelos tecidos adequadamente. 0 primeiro passo para conseguir boa estética em regiões anteriores com prótese implanto suportada, esta em planejar o tratamento e selecionar o paciente. É importante discutir sobre as necessidades e saber o que o paciente espera com o tratamento. A expectativa do paciente, a linha do sorriso, a morfologia do tecido mole e duro devem guiar o tratamento e determinar a previsibilidade do resultado estético. Nas últimas duas décadas o que se tem observado é um aumento no interesse das cirurgias plásticas periodontais, com o objetivo de reestruturar os tecidos mole periimplantares. Diversas técnicas cirúrgicas vêm sendo demonstradas, através de documentações clinicas, com resultados satisfatórios. Diversos resultados satisfatórios estão sendo obtidos com a utilização da manipulação do tecido mole em especial enxerto de tecido conjuntivo subepitelial, porém ainda falta um conjunto de informações cientificas com acompanhamento longitudinal. Deve ser enfatizado que não há evidências diretas que relacionem a necessidade da gengiva inserida para garantir o sucesso do implante em longo prazo na cavidade oral. Há um espaço para expressar as opiniões clinicas baseadas em pesquisas individuais em pacientes dentro de uma determinada população. Os benefícios da presença de gengiva queratinizada incluem: melhor estética em pacientes parcialmente edêntulos, presença de um tecido com menos retração, redução no acúmulo de placa bacteriana. (ONO, NEVINS, CAPPETTA, 1998). Defeitos de crista significativos necessitam cirurgias regeneradoras préimplantares para recriar um volume ósseo e mucoso compatível com as futuras reconstruções protéticas. Defeitos menores serão corrigidos na primeira ou na segunda etapa cirúrgica, sabendo que as reestruturações verticais (linha dos colos e papilas) serão as mais difíceis de serem obtidas. As cirurgias plásticas periimplantares associada a uma boa utilização dos componentes protéticos deve permitir alcançar um resultado compatível com as exigências legitimas dos pacientes e isso principalmente se o sorriso for gengival. O caso clinico apresentou uma deficiência em altura e espessura de mucosa queratinizada ao redor de dois implantes instalados na região dos dentes 24 e 25, sendo que os implantes não estão na posição mais adequada. Utilizou-se, para o melhoramento dos prejuízos estruturais e estéticos, enxerto de tecido conjuntivo subepitelial. Faz-se ressaltar que o enxerto conjuntivo subepitelial foi removido do sitio cirúrgico em questão, não necessitando intervir cirurgicamente em outra região, ou seja, o paciente terá apenas uma área de cicatrização, ao invés de duas regiões, sitio doador e receptor. Está técnica, nesse caso, demonstrou-se eficaz, obtendo-se um ganho considerável em altura, volume e qualidade tecidual. 0 enxerto de tecido conjuntivo subepiltelial, em pequenos defeitos, pode ser considerado uma alternativa eficaz. 31 C ONCLUSÃO Com base na revisão da literatura condui-se que além de sua confiabilidade, as restaurações implanto-suportadas tornaram-se uma realidade clinica no estabelecimento dos planos de tratamento. Para os segmentos anteriores e, sobretudo se forem maxilares, os parametros estéticos tomam-se preponderantes e a restauração dos tecidos moles tomou-se uma necessidade para a integração estética das restaurações implanto-suportadas. Alguns defeitos são corrigidos na primeira ou na segunda etapa cirúrgica. Entre as diversas alternativas cirúrgicas de manipulação de tecido mole periimplantar, destacamos o enxerto de tecido conjuntivo subepitelial como uma real alternativa diante das dificuldades na reestruturação de áreas estéticas. REFERÊNCIAS ASKARY A. 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