SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE-SES PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL ANA PAULA DÂNDARO ENVERNIZE VITAMINA D E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: UMA REVISÃO DE LITERATURA RIBEIRÃO PRETO 2008 SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE-SES PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL ANA PAULA DÂNDARO ENVERNIZE VITAMINA D E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: UMA REVISÃO DE LITERATURA Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado ao Programa de Aprimoramento Profissional / Secretaria de Estado da Saúde-SES, elaborado na Universidade de São Paulo-USP / Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-HCFMRP, como requisito para obtenção do título de Especialista em Nutrição. Área de Concentração: Nutrição Clínica. Autora: Ana Paula Dândaro Envernize Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Dutra De Oliveira RIBEIRÃO PRETO 2008 Envernize, Ana Paula Dândaro Vitamina D e insuficiência cardíaca: uma revisão de literatura/ Ana Paula Dândaro Envernize; Orientador: Prof. Dr. José Eduardo Dutra De Oliveira ,2008. 61 f. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação em Nutrição / Aprimoramento em Especialização em Nutrição- Apresentado ao Departamento de Clínica Médica da Universidade de São Paulo-USP, Ribeirão Preto, 2008. Área de concentração: Nutrição Clínica. 1.Coração. 2.Insuficiência cardíaca. 3.Vitamina D. I. Dutra De Oliveira, José Eduardo. II. Departamento de Clínica Médica da Universidade de São Paulo-USP. III. Título. FOLHA DE APROVAÇÃO VITAMINA D E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: UMA REVISÃO DE LITERATURA ANA PAULA DÂNDARO ENVERNIZE BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Prof. Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira (orientador) ____________________________________________________ Prof. Dr. ( ) ____________________________________________________ Prof. Dr. ( ) DEDICATÓRIA Aos meus pais, Wagner Envernize e Marli Ap. Dândaro Envernize, pelo amor incondicional. Ao meu irmão, Eduardo Dândaro Envernize meu elo forte que nunca se rompe e a minha amada e iluminada sobrinha Pietra De Vita Envernize. AGRADECIMENTOS A Deus, pelo dom da vida. Aos meus pais e irmão, que sempre estiveram ao meu lado, me confortando e apoiando. Sem dúvida alguma, um alicerce fundamental para a minha “caminhada”. À Universidade de São Paulo-USP, pela estrutura proporcionada. Ao orientador, Prof. Dr. José Eduardo Dutra De Oliveira, pela dedicação, compreensão, generosidade e por me despertar um espírito crítico em todo o decorrer do trabalho. À Profª. Drª Márcia M.V. Junqueira Franco, sempre presente , generosa e compreensiva. Obrigada pela confiança e apoio. Ao Prof. Dr.Lourenço Gallo Júnior, cardiologista e docente do curso de Medicina da Universidade de São Paulo-USP, Campus Ribeirão Preto, pela total doação, apoio, idéias e pelo bom humor que sempre me recebeu. Ao Prof. Mauro Franco, que me auxiliou nas traduções de todo o material científico utilizado para a elaboração deste trabalho. Aos meus amigos do Curso de Especialização em Nutrição do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo / HCFMRP-USP. As todas as pessoas que direta e/ou indiretamente contribuíram na construção da minha formação acadêmica. O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Ele me faz descansar em verdes pastos, a águas tranqüilas me conduz. Restaura minhas forças, guia-me pelo caminho certo, por amor do seu nome. Se eu tiver de andar por vale escuro, não temerei mal nenhum, pois comigo estás. O teu bastão e teu cajado me dão segurança. Diante de mim preparas uma mesa aos olhos de meus inimigos; unges com óleo minha cabeça, meu cálice transborda. Felicidade e graça vão me acompanhar todos os dias de minha vida e vou morar na casa do Senhor por muitíssimos anos. Salmo 23. RESUMO O crescimento e manutenção orgânica são interdependentes de inúmeros mecanismos inerentes ao bom funcionamento do corpo humano. A principal via de obtenção do equilíbrio orgânico, com fornecimento de nutrientes e oxigênio e recolhimento de metabólitos celulares se dá por meio do sistema circulatório. Nesse sistema, para que os humores possam ter a devida fluidez por meio dos vasos sanguíneos, existe um órgão central, que funciona como uma bomba contrátil-propulsora, propiciando irrigação dos tecidos de maneira adequada às necessidades metabólicas: o coração. Porém, em algumas situações patológicas, esses mecanismos de controle, podem apresentar-se de forma deficitária, comprometendo sobremaneira toda a fisiologia do organismo, destaca-se neste sentido, a insuficiência cardíaca (IC) como injúria de grande potencial deletério a homeostase orgânica. Diante de tal comprometimento cardíaco, funções vitais como o suprimento de nutrientes as células culminam em diversas complicações de ordem nutricional que se seguem com a instalação e progressão da IC, destacando-se entre estas: a deficiência de vitamina D. Desse modo, o objetivo do presente trabalho foi verificar por meio de revisão literária a prevalência e possível correlação entre o aporte deficiente de vitamina D em pacientes acometidos por IC e a progressão desta morbidade. Neste sentido, é notória a não elucidação completa dos diversos e complexos mecanismos fisiopatológicos que circundam esta importante injúria. A participação da vitamina D, mais precisamente, da deficiência deste micronutriente no quadro etiopatológico inerente a IC ainda constitui-se de dados escassos e pouco consistentes. Porém um aspecto é desprovido de questionamentos: a depreciação deste micronutriente na maioria dos casos de IC. Assim, o acompanhamento e intervenção nutricional precoces em pacientes com IC pode ser um aspecto decisivo para o controle do quadro patológico, bem como para a garantia de uma melhor sobrevida a estes indivíduos. PALAVRAS-CHAVE: Coração, Insuficiência cardíaca, vitamina D, ABSTRACT Organic growth and maintenance are interdependent in countless mechanisms inherent to the proper functioning of the human body. The main way of achieving a balanced organic, with the supply of nutrients and oxygen and recollection of cellular metabolites happens through the circulatory system. In this system, so that moods can have the proper flow through blood vessels, there is a central organ which works like a contract-propulsive pump, making the irrigation of tissues in the proper way to the metabolic needs: the heart . However, in some pathological situations, these mechanisms of control can appear in a deficit form, excessively jeopardizing all the physiology of the organism,, are distinguished in this direction, a heart failure (HF) as a great potential deleterious injury of the organic homeostasis. Face to such a commitment heart, vital functions such providing the nutrient cells culminate in various complications of a nutrient that continue with the installation and progression of the heart failure, being distinguished among them: the deficiency of vitamin D. Thus, the objective of the current study was to verify through a literary revision the predominance and possible correlation between the deficient of vitamin D in patients undertaken by heart failure and the progression of this morbidity. So, is well-known the non complete clarification of the various and complex physiopathological mechanisms that surround this important injury. The involvement of vitamin D, most precisely, this micronutrient deficiency in the Ethio pathological state inherent in the heart failure still consists of little data and few consistent ones. But one aspect is devoid of questioning: the depreciation of this micronutrient in most cases of heart failure. Thus, nutritional support and early intervention in patients with heart failure can be a crucial aspect for the control of the state pathological, as well as for ensuring a better life-on to these individuals. KEY-WORDS: Heart, Heart failure, Vitamin D LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURAS Figura 1. Visão geral do coração. Corte longitudinal do coração mostrando os ventrículos direito e esquerdo ................................................................................ 19 Figura 2. O Tecido excito-condutor do coração ..................................................... 22 Figura 3. Metabolismo e ação da vitamina D ......................................................... 43 TABELAS Tabela 1. Classificação funcional da IC de acordo com a NYHA .............................. 37 Tabela 2. Concentração de 25 (OH) D e classificação nutricional ............................ 45 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12 2 OBJETIVO ......................................................................................................... 15 2.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 15 3 METODOLOGIA ............................................................................................... 16 3.1 Tipo de Estudo ........................................................................................ 16 3.2 Local de Pesquisa ................................................................................... 16 3.3 Período de Estudo .................................................................................. 16 3.4 Idioma ...................................................................................................... 16 3.5 Palavras-chave ........................................................................................ 16 3.6 Tipo de Publicação Analisada .............................................................. 17 3.7 Procedimento de Pesquisa .................................................................... 17 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 18 4.1 Fisiologia do sistema cardiovascular .................................................... 18 4.2 O Coração ............................................................................................... 18 4.2.1 O potencial de ação da fibra miocárdica ................................. 21 4.2.2 A excitação cardíaca ................................................................. 22 4.2.3 O ciclo cardíaco.......................................................................... 23 4.2.4 Sístole atrial................................................................................ 24 4.2.5 Sístole ventricular ...................................................................... 24 4.2.6 Diástole ....................................................................................... 25 4.2.7 Regulação da atividade cardíaca ............................................. 26 4.2.8 Regulação da freqüência cardíaca ........................................... 27 4.2.9 Regulação da força de contração cardíaca ............................. 27 4.3 A Circulação e os Vasos Sanguíneos ......................................... 28 4.3.1 Tipos de circulação.................................................................... 30 4.4 Regulação Neural e Hormonal de Fluxos Locais ................................. 31 4.4.1 Regulação da pressão arterial .................................................. 33 4.5 Insuficiência cardíaca ............................................................................. 34 4.5.1 Epidemiologia da IC no Brasil .................................................. 35 4.5.2 Causas e fatores de risco para o desenvolvimento da IC ...... 35 4.5.3 Classificação funcional da IC ................................................... 36 4.5.4 Fisiopatologia da IC .................................................................. 37 4.5.5 Tratamento da IC ....................................................................... 39 4.6 Vitamina D Na Insuficiência Cardíaca.................................................... 40 4.6.1 Considerações gerais ............................................................... 40 4.6.2 Metabolismo e ações da vitamina D......................................... 41 4.6.3 Avaliação dos níveis de vitamina D ......................................... 44 4.6.4 Vitamina D em pacientes com insuficiência cardíaca ............ 46 4.6.5 Deficiência de vitamina D: participação na patogênese da insuficiência cardíaca ....................................................................... 48 4.6.6 Estratégias de tratamento ........................................................ 51 5 CONCLUSÃO ................................................................................................... 55 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 56 12 1 INTRODUÇÃO O crescimento e manutenção orgânica são interdependentes de inúmeros mecanismos que proporcionam a integração de diferentes funções, culminando para tal equilíbrio órgão (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). Uma das necessidades primordiais para que tal homeostase do organismo possa prevalecer, reside na adequada nutrição celular, ou seja, a oferta de todos os nutrientes tanto em quantidade como em qualidade preenchendo dessa maneira, requisitos inerentes ao bom funcionamento do corpo humano (GUYTON; HALL, 2002). Nesse sentido, a principal via de fornecimento do aporte nutricional as células, portanto aos tecidos, órgãos e sistemas se dá por meio da rede e/ou sistema circulatório (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). A função básica exercida por este sistema ocorre por meio da condução e distribuição de material nutritivo e oxigênio as células que constituem o organismo (GUYTON; HALL, 2002). Além do fornecimento dos requisitos básicos ao funcionamento celular, o sistema circulatório também, é responsável pela captação, condução e excreção de materiais residuais produzidos pelo metabolismo das células, os chamados metabólitos, inclusive a formação de CO2 (LACCHINI; IRIGOYEN, 2008). Assim, o sangue circulante contido no interior de artérias, veias e capilares irá servir como o veículo de todos esses mecanismos de trocas metabólicas por meio do trajeto da rede circulatória (GUYTON; HALL, 2002). Nesse sistema ou rede circulatória, para que os humores (sangue e linfa) possam ter a devida fluidez por meio dos vasos sanguíneos, distribuindo material orgânico ao longo de diversas regiões e/ou territórios, há um órgão central, que funciona como uma bomba contrátil-propulsora, propiciando irrigação dos tecidos de maneira adequada às necessidades metabólicas: o coração (LACCHINI; IRIGOYEN, 2008). Esta função exercida por tão importante órgão do corpo humano, o coração; deve ter suas atribuições constante e interruptamente preservadas, necessitando para tanto de inúmeros mecanismos de controle interdependentes (GUYTON; HALL, 2002). 13 Porém, em algumas situações patológicas, esses mecanismos de controle, próprios do sistema cardiovascular, podem apresentar-se de forma deficitária, comprometendo sobremaneira toda a fisiologia do organismo (COKKINOS, LEWIS, 2006). Entre uma das morbidades de suma importância para este funcionamento inadequado do coração e demais componentes da rede circulatória, destaca-se a insuficiência cardíaca (IC) como injúria de grande potencial comprometedor da homeostase orgânica (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). A IC atualmente vem sendo objeto de grande interesse de estudo entre as morbidades cardíacas e não cardíacas, uma vez que, a incidência e prevalência desta, vêm aumentando consideravelmente nos últimos anos, especialmente entre os idosos, tornando-se um grave problema de saúde pública (COKKINOS, LEWIS, 2006). A IC pode ser definida como uma síndrome em que o coração torna-se incapaz de manter suficiente a perfusão periférica para suprir as necessidades metabólicas tissulares ou o faz à custa de altas pressões de enchimento (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). Em outras palavras, a IC, representa uma situação patológica complexa com demarcada anormalidade da função ventricular esquerda e regulação neurohormonal, acompanhada por intolerância aos esforços físicos, retenção hídrica e diminuição na expectativa de vida (COKKINOS, LEWIS, 2006). Diante de tal comprometimento cardíaco, funções vitais como o suprimento de nutrientes as células, bem como captação de metabólitos produzidos pelas mesmas, terá seu funcionamento insuficiente, refletindo na perda do equilíbrio orgânico. (ROSSI NETO, 2004). São diversos os comprometimentos de ordem nutricional que se seguem com a instalação e progressão da IC, destacando-se entre estes, um nutriente pouco estudado frente a esta injúria, mas com importantes evidências de contribuição para a piora do prognóstico do quadro: a vitamina D (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). 14 Estudos, porém ainda escassos, evidenciam uma possível relação entre a instalação e progressão da IC com a deficiência de vitamina D no organismo dos indivíduos acometidos por esta morbidade (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Nestes estudos, a inadequação dos níveis de vitamina D circulante, bem como suas principais formas ativas vem sendo freqüentemente constatadas em pacientes portadores de IC independentemente do estágio em que a doença se encontra (ZITTERMANN, 2003). A vitamina D é sabidamente um micronutriente de suma importância para a manutenção dos níveis de cálcio e fósforo orgânicos, auxiliando no correto funcionamento do metabolismo mineral (MOURÃO et al., 2005). A atuação deste nutriente, com conhecida ação hormonal, se dá por meio de três vias orgânicas: intestino delgado, ossos e rins. Sendo que sua ausência pode resultar em doenças cujos mecanismos já são bem elucidados: raquitismo em crianças e osteomalácia em adultos (ZITTERMANN, 2003). O corpo humano pode obter este nutriente por duas vias: por meio de alimentos fontes e /ou através da síntese endógena por exposição solar da pele aos raios ultravioletas tipo B (UVB) (MOURÃO et al., 2005). Porém em certas morbidades, como a IC, através de diversos mecanismos deficiência deste micronutriente pode ser severamente encontrada. O que torna relevante o seu estudo incluindo: metabolismo e ações frente a esta situação patológica; possibilitando elucidar cada vez mais os mecanismos que possam estar envolvidos com esta morbidade, igualmente proporcionando estratégias de intervenção médica e nutricional direcionadas a este fator, melhorando quem sabe o prognóstico da doença e a qualidade de vida do paciente (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). 15 2 OBJETIVO 2.1 Objetivo Geral Verificar por meio de revisão literária, a prevalência de deficiência de vitamina D em pacientes acometidos por insuficiência cardíaca, bem como a possível correlação entre o aporte insuficiente deste nutriente e sua participação na etiopatogênese da morbidade. 16 3 METODOLOGIA 3.1 Tipo de Estudo Estudo do tipo Revisão de Literatura, cuja característica é conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto, compilando o que realmente é importante frente ao tema discutido (VIEIRA; HOSSNE, 2003). 3.2 Local de Pesquisa Biblioteca da Universidade de São Paulo-USP, Campus Ribeirão Preto, no Portal da Bireme / Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), através do Banco de Dados LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe) SCIELO (Scientific Eletronic Library On line) e MEDLINE (Medical Literature On Line). 3.3 Período de Estudo O período de análise dos estudos compreendeu os anos de 1992 a 2008. 3.4 Idioma Pesquisa realizada em idiomas português e inglês. 3.5 Palavras-chave Os descritores de assunto utilizados para realizar as buscas nos bancos de dados foram: insuficiência cardíaca, coração, problemas cardíacos, nutrientes, vitaminas, vitamina D, calcitriol e deficiência nutricional. 17 3.6 Tipo de Publicação Analisada Os tipos de publicações analisadas foram Artigos Científicos publicados em revistas indexadas e livros. 3.7 Procedimento de Pesquisa Primeiramente, foram localizados os materiais bibliográficos, tanto na forma impressa, como na digital e realizada leitura prévia de seus resumos e análise das palavras-chave neles contidas. Posteriormente, estes materiais bibliográficos foram selecionados ou excluídos, dependendo do conteúdo de seu resumo. As bibliografias selecionadas eram lidas em sua íntegra, analisadas e interpretadas. As partes mais relevantes das mesmas eram destacadas, fornecendo subsídio para a formulação textual do trabalho. 18 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Fisiologia do sistema cardiovascular Pode-se entender por sistema cardiovascular, uma rede complexa fechada, portanto, sem comunicação com o exterior, onde interagem diversos segmentos que o compõem, constituindo também um local que administra inúmeros fenômenos fisiológicos de importância vital para a homeostase do organismo (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). Para desempenhar sua função, o aparelho cardiovascular, ou aparelho circulatório, está organizado morfologicamente e funcionalmente (JUNQUEIRA JR, 2007). Assim, o Aparelho Cardiovascular, compõe-se das seguintes estruturas (DÂNGELO; FANTTINI, 2004; JUNQUEIRA JR, 2007): • uma bomba premente e aspirante geradora de pressão e receptora de volume sangüíneo,representada pelo coração; • um sistema tubular condutor e distribuidor, representado pelo sistema de vasos arteriais (sistema vascular arterial); • um sistema tubular trocador, que é a microcirculação; • um sistema tubular coletor de retorno, que é o sistema de vasos venosos (sistema vascular venoso) e linfáticos (sistema vascular linfático). 4.2 O Coração É definido como um órgão muscular, oco, que funciona como uma bomba contrátil-propulsora, a dois tempos (admissão/ejeção), constituído de paredes musculares que delimitam quatro cavidades: os átrios direito e esquerdo, e os ventrículos direito e esquerdo (JUNQUEIRA JR, 2007; SILVA JR., 1988). A estrutura muscular que integra as paredes das cavidades atriais e ventriculares é denominada miocárdio, o qual está envolto externamente por uma estrutura membranosa, que é o pericárdio, cuja função é proteger o miocárdio e 19 permitir o suave deslizamento das paredes do órgão durante o seu funcionamento mecânico, pois contém líquido lubrificante em seu interior. Internamente, o miocárdio é recoberto pelo endocárdio, que se constitui na membrana de proteção interna que fica em contato direto com o sangue, separando a musculatura, do interior das cavidades do órgão (DÂNGELO; FANTTINI, 2004; JUNQUEIRA JR, 2007). O coração é então na realidade, constituído por duas bombas distintas: o coração direito que bombeia o sangue pelos pulmões e o coração esquerdo, que bombeia o sangue pelos órgãos periféricos (GUYTON, 1992; GUYTON; HALL, 2002). Este importante órgão, que tem o tamanho da mão fechada e pesa cerca de 300 g, está localizado na região centro-lateral da caixa torácica, inclinadamente para a esquerda, tendo sua ponta inferiormente situada próxima ao mamilo esquerdo, e sua base superiormente situada no centro do tórax aproximadamente 5 cm abaixo da fúrcula esternal (DÂNGELO; FANTTINI, 2004; JUNQUEIRA JR, 2007). A B Figura 1. A. Visão geral do coração. B. Corte longitudinal do coração mostrando os ventrículos direito e esquerdo. Fonte: JUNQUEIRA JR, 2007. p. 3. Quando as paredes do coração são abertas, verifica-se que a cavidade cardíaca, apresenta septos que a subdividem em quatro câmaras: átrios direito e esquerdo; ventrículos direito e esquerdo (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). 20 Os átrios estão separados entre si pelo septo interatrial, e os ventrículos pelo septo interventricular. Entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo, separando as duas cavidades, encontra-se a valva mitral; entre o átrio direito e o ventrículo direito está a valva tricúspide (JUNQUEIRA JR, 2007). No átrio esquerdo desembocam diretamente quatro veias pulmonares, que conduzem sangue proveniente dos pulmões. Já no átrio direito, as veias cavas superior e inferior, tem a função de condutores terminais do sangue proveniente de todas as partes do organismo (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). Do ventrículo esquerdo sai a grande artéria aorta, que distribui sangue para todo o organismo, por meio das suas ramificações arteriais; na saída do ventrículo esquerdo situa-se a valva aórtica, a qual separa esta cavidade ventricular da aorta. Do ventrículo direito emerge a artéria pulmonar, que é a condutora do sangue em direção aos pulmões; entre a saída da cavidade ventricular direita e o início da artéria pulmonar encontra-se a valva pulmonar. (GUYTON, 1992; JUNQUEIRA JR, 2007). Nesta complexa rede circulatória e distribuidora do fluxo sanguíneo e de outros componentes conduzidos através do mesmo, destaca-se então, os átrios como câmaras de acumulação de sangue, que fracamente exercem um leve bombeamento do humor líquido, em direção aos ventrículos, sendo que estes por sua vez, constituem a principal fonte da força que impulsiona o sangue pela circulação pulmonar e/ou pela periférica (GUYTON; HALL, 2002; LACCHINI; IRIGOYEN, 2008). Dessa maneira, o coração representa um órgão propulsor, cuja contractibilidade depende diretamente da sua constituição, ou seja, da sua musculatura, que pode ser dividia em três tipos principais: músculo atrial e ventricular, além das fibras musculares condutoras e excitatórias especializadas (GUYTON, 1992). O tecido contrátil arterial e ventricular apresenta contração muscular rápida, semelhante ao músculo esquelético; os tecidos especializados, excitatório e de condução, apresentam contração fracas, pois sua função primordial é gerar ou conduzir o estímulo a alta velocidade através do coração (LACCHINI; IRIGOYEN, 2008). As fibras musculares cardíacas, estriadas, possuem inúmeras semelhanças com as fibras esqueléticas, porém apresentam uma característica peculiar: extensa 21 ramificação entre suas membranas celulares, permitindo com certa facilidade, a condução do estímulo nervoso de célula em célula (GUYTON; HALL, 2002). Devido a esta característica, de disseminar o estímulo nervoso facilmente e rapidamente através de todas as células que compõem a musculatura cardíaca, afirma-se que as mesmas, formam um sincício fisiológico. Isto quer dizer que, embora sejam individualizadas, as células comportam-se, na prática, como se seus citoplasmas apresentassem continuidade através de toda a massa cardíaca (DÂNGELO; FANTTINI, 2004; LACCHINI; IRIGOYEN, 2008). 4.2.1 O potencial de ação da fibra miocárdica Mecanismos especiais no coração mantêm a ritmicidade cardíaca e transmitem potenciais de ação para todo o músculo cardíaco, de modo a produzir o batimento rítmico do coração (DÂNGELO; FANTTINI, 2004; GUYTON; HALL, 2002). Então se pode concluir que, o desempenho da função de oferta e manutenção de um adequado fluxo sangüíneo tecidual pelo aparelho cardiovascular está na dependência de certas propriedades funcionais dos seus diversos componentes (GUYTON, 1992). Um desses componentes se refere diretamente as células miocárdicas, mais precisamente ao potencial de ação das mesmas, que quando estimuladas, reagem de modo semelhante ás células musculares esqueléticas, despolarizando-se rapidamente a anulando a diferença de potencial transmembrana (LACCHINI; IRIGOYEN, 2008; SILVA JR., 1988). Porém em um aspecto de suma importância, as células cardíacas diferenciam-se das músculo-esquelético. Uma vez despolarizadas pelo estímulo inicial, as células miocárdicas permanecem despolarizadas por um intervalo bastante prolongado, o que propicia o correto desempenho bombeador do coração (GUYTON; HALL, 2002). Com este peculiar potencial de ação, assegura-se que o coração funcione como uma bomba propulsora, incluindo em seu ciclo cardíaco, uma fase de relaxamento (diástole) seguida de uma fase contração (sístole) (SILVA JR., 1988). 22 4.2.2 A excitação cardíaca Um coração com funcionamento normal, ou seja, fisiológico, inicia um potencial de ação toda a vez que recebe um estímulo adequado, que percorre desde o átrio direito até o ventrículo esquerdo (JUNQUEIRA JR, 2007). A onda de excitação normalmente tem início no nódulo-sinoatrial, constituído por um conjunto de células miocárdicas especializadas, cuja localização compreende a porção superior atrial direita, popularmente conhecido como “marcapasso cardíaco” (GUYTON; HALL, 2002). Tem-se então, mediante a um estímulo apropriado, inicialmente a despolarização atrial. Já a posterior passagem do estímulo despolarizador presente nos átrios para os ventrículos depende de uma única conexão de continuidade entre a musculatura do átrio e a ventricular, conexão representada por um segundo nódulo: o átrio-ventricular; ao qual se liga um feixe de tecido especializado em condução, o chamado feixe de His (SILVA JR., 1988). O feixe de His, por sua vez, penetra na face interna das câmaras ventriculares, por meio de subdivisões que dão origem a ramificações de fibras condutoras de alta velocidade, denominadas fibras de Purkinje (JUNQUEIRA JR, 2007). Figura 2. O Tecido excito-condutor do coração. Fonte: JUNQUEIRA JR, 2007. p. 4. 23 À medida que o estímulo cardíaco percorre o feixe de His e atinge as fibras de Purkinje, todas as células miocárdicas ventriculares que circundam o local são despolarizadas, transmitindo imediatamente o estímulo excitatório para as células vizinhas que não estão em contato direto com fibras condutoras (NASCIMENTO et al., 2008). Durante esta fase de despolarização celular miocárdica, semelhantemente ao que ocorre com o músculo esquelético, predomina um aumento a permeabilidade da membrana celular e do retículo sarcoplasmático ao íon Ca++, que em conseqüência, penetra no citoplasma, entrando em contato com as miofibrilas contráteis, culminando na contração da musculatura (SILVA JR., 1988). Uma vez cessado o estímulo e conseqüentemente o potencial de ação, os íons cálcio são retransportados para o interior do retículo e exterior da célula, caracterizando o término da contração muscular cardíaca (NASCIMENTO et al., 2008). 4.2.3 O ciclo cardíaco A denominação ciclo cardíaco pode ser definida como o intervalo de tempo bem como dos eventos que ocorrem desde o início de uma contração cardíaca até próxima que se sucederá (MILL; VASQUEZ, 2008). O ciclo cardíaco é constituído de duas fases distintas e opostas: a contração, ou simplesmente sístole, e o relaxamento, que também recebe a denominação de diástole (GUYTON; HALL, 2002). Este ciclo tem início a partir de uma geração espontânea de um estímulo, que atinge o nódulo-sinoatrial, cuja propagação ocorre imediatamente, deste ponto, para toda a musculatura atrial, atingindo inclusive o nódulo átrioventricular, que representa a conexão entre a musculatura que forma o átrio e o ventrículo (SILVA JR., 1988). Neste local, ou seja, no nódulo átrio-ventricular este estímulo sofre um retardo fisiológico de cerca de 0,1 segundo, passando posteriormente as células que 24 constituem a musculatura ventricular. Conseqüentemente, a contração ventricular é retardada por volta de 0,1 segundo em relação a atrial (MILL; VASQUEZ, 2008). 4.2.4 Sístole atrial Ao iniciar-se a sístole atrial, as quatro câmaras cardíacas que compõem o coração encontra-se em estado de completo relaxamento, sendo que, as válvulas atrioventriculares apresentam-se neste momento abertas, devido as pressões dos átrios estarem praticamente iguais às dos ventrículos (GUYTON; HALL, 2002). Por outro lado, as válvulas semilunares encontram-se fechadas, em decorrência das elevações das pressões aórtica e pulmonar que predominam neste período (MILL; VASQUEZ, 2008). O período correspondente a sístole atrial compreende cerca de 0,1 segundo de duração (SILVA JR., 1988). 4.2.5 Sístole ventricular Finalizado o impulso que atinge a região do nódulo atrioventricular, inicia-se a outra etapa que compõem o ciclo cardíaco: a sístole ventricular (JUNQUEIRA JR, 2007). Como conseqüência desta etapa cardíaca, elevam-se as pressões intraventriculares, principalmente na região do ventrículo esquerdo, em decorrência principalmente da maior potência desta musculatura. Esta elevação determinará o imediato fechamento das válvulas atrioventriculares, impedindo desta forma que, ocorra um possível refluxo ventricular de sangue para os átrios coronarianos (GUYTON, 1992). Após este período, tem início a chamada segunda fase da sístole ventricular, também denominada como fase de ejeção (MILL; VASQUEZ, 2008). Nesta etapa, as pressões intraventriculares crescentes superam as respectivas pressões atriais, sendo que neste momento, as válvulas semilunares 25 abrem-se, resultando na propulsão de sangue ventricular em direção aos vasos sanguíneos (GUYTON; HALL, 2002). 4.2.6 Diástole A etapa denominada de diástole ou fase de relaxamento das câmaras musculares cardíacas inicia-se quando é cessado o estado de contração miocárdica (SILVA JR., 1988). Durante a fase de ejeção ventricular, as artérias encontram-se extremamente distendidas, devido à pressão exercida pela ejeção ventricular do músculo cardíaco (GUYTON; HALL, 2002). No entanto, no momento em que o ventrículo inicia seu relaxamento, a pressão intraventricular diminui progressivamente, atingindo a graduação zero, porém, o mesmo não ocorre com as artérias, tanto a aorta quanto a pulmonar (MILL; VASQUEZ, 2008). Esse fenômeno fisiológico ocorre em virtude da distensão das próprias paredes que constituem estes vasos sanguíneos, que por sua vez, decorrem da ejeção sistólica, que provoca o acúmulo de energia nesta musculatura vascular, devolvida sob a forma de fluxo sangüíneo, que irá irrigar as células, tecidos e órgãos do corpo humano. Por esse motivo, a pressão arterial supera a pressão ventricular, determinando desse modo, o brusco fechamento das válvulas semilunares e assim o início da diástole (GUYTON; HALL, 2002; SILVA JR., 1988). Finalmente após este processo, tem início a segunda fase da diástole cardíaca, também conhecida como fase de enchimento, que por sua vez, se subdivide em subfases: enchimento rápido, lento e sístole atrial (MILL; VASQUEZ, 2008). A sístole atrial, ou contração dos átrios cardíacos, tem uma duração em média de 0,10 segundo, sendo responsável por 10% do enchimento ventricular os quais se encontram relaxados, o que resulta na abertura das valvas atrioventriculares mitral e tricúspide em associação com o fechamento das valvas aórtica e pulmonar; em conseqüência, os mesmos, tornam-se repletos de sangue e 26 aumentam seu tamanho, sendo o volume sangüíneo retido chamado volume diastólico (JUNQUEIRA JR, 2007). O enchimento ventricular termina com a contração atrial. A fase diastólica, de duração de cerca de 0,41 segundo (compreendida pelo relaxamento ventricular isovolumétrico e o enchimento ventricular rápido e lento, termina com o fechamento da válvula mitral, indicando o início de mais um ciclo cardíaco (MILL; VASQUEZ, 2008). 4.2.7 Regulação da atividade cardíaca A regulação da atividade cardíaca ocorre primordialmente em função de duas variáveis: a freqüência cardíaca, que nada mais é do que, o número de batimentos ou contrações cardíacas que ocorrem em um intervalo de 1 minuto; e a força de contração do coração em cada batimento (GUYTON; HALL, 2002), Quanto à irrigação sanguínea exercida pelo coração aos diversos órgãos, tecidos e células, ou seja, a variação de volume impelido para o sistema vascular, vai estar diretamente dependente das necessidades de cada território a ser irrigado (SILVA JR., 1988). Desse modo, a causa de maior importância para a determinação de um aumento do aporte de irrigação sanguínea em determinada região do organismo, será decorrente do incremento da demanda de atividade tecidual local, conseqüentemente conduzindo a necessidade de volume de oxigenação mais acentuado (MILL; VASQUEZ, 2008). Sendo assim, uma das leis básicas de regulação de função cardíaca é que, o volume de sangue ejetado para a circulação em minuto (débito cardíaco) é normalmente proporcional ao consumo de oxigênio global do organismo a cada instante (SILVA JR., 1988). Pode-se entender então por débito cardíaco, a quantidade de sangue que cada ventrículo lança na circulação (pulmonar ou sist6emica) em determinada unidade de tempo (MILL; VASQUEZ, 2008). 27 Vale ressaltar então, que em situações fisiológicas, o aumento e/ou diminuição do débito cardíaco irá variar conforme a intensidade e duração de atividade pelo exercida pelo organismo (GUYTON; HALL, 2002), 4.2.8 Regulação da freqüência cardíaca A freqüência cardíaca é automaticamente determinada pelo número de vezes em que ocorre despolarização do tecido cardíaco onde se localiza o nódulo sinoatrial, mecanismo também conhecido como potencial de ação celular (JUNQUEIRA JR, 2007). No ser humano, este nódulo apresenta uma dupla inervação, proveniente das duas grandes divisões do sistema nervoso autônomo: a inervação parassimpática (nervo vago) e a simpática (três ramos cardíacos dos plexos simpáticos cervicais) (SILVA JR., 1988). Ou seja, visando atender as variáveis necessidades de fluxo sanguíneo dos tecidos do organismo, o coração está sob a influência reguladora de uma rica rede de nervos oriundos de diversas estruturas do sistema nervoso central, os quais modificam o estado funcional e as propriedades dos diferentes componentes do órgão, por meio da liberação em seus terminais, de substâncias químicas neurotransmissoras estimuladoras (noradrenalina e outras) ou inibidoras (acetilcolina e outras) (JUNQUEIRA JR, 2007). A estimulação parassimpática determina a redução da freqüência básica do nódulo sinoatrial, com conseqüente redução da freqüência cardíaca, enquanto que, a ação simpática, aumenta a freqüência básica do tecido em que está situado o marcapasso cardíaco ou nódulo sinoatrial, propiciando dessa maneira, a aceleração cardíaca (MILL; VASQUEZ, 2008). Tanto o sistema nervoso parassimpático como o simpático, atua de modo a estimular o nódulo sinoatrial, sendo que a freqüência cardíaca dependerá do equilíbrio entre estas duas atividades nervosas (GUYTON; HALL, 2002), 4.2.9 Regulação da força de contração cardíaca 28 A regulação da força de contração cardíaca é exercida por dois mecanismos complementares: um de origem intrínseca e outro proveniente do sistema nervoso (MILL; VASQUEZ, 2008). A regulação intrínseca da força de contração cardíaca, como o próprio nome já diz, não depende de nenhum mecanismo ligado a inervação nervosa, dependendo apenas de propriedades próprias da musculatura cardíaca (SILVA JR., 1988). Este princípio de auto-regulação cardíaca, denominado como lei de Frank-Starling, deriva da afirmativa de que, em cada sístole cardíaca a força de contração é proporcional ao grau de estiramento das fibras cardíacas durante a sístole precedente (GUYTON, 1992). Isso significa que, o grau de estiramento da musculatura cardíaca durante qualquer diástole determina a força de contração da sístole seguinte (GUYTON; HALL, 2002), Esse princípio garante que, o coração ajuste automaticamente sua força de contração em função do volume de sangue nele contido, nunca retendo sangue em excesso, ou esvaziando-se exageradamente. Contribuindo igualmente para que, em média, os volumes ejetados pelos dois ventrículos sejam exatamente iguais (SILVA JR., 1988). O segundo mecanismo de regulação da força de contração cardíaca é exercido pelo sistema nervoso e sobrepõe-se ao mecanismo intrínseco, ajustandoos às necessidades de cada momento (GUYTON; HALL, 2002), A estimulação simpática determina um aumento da força de contração cardíaca e, portanto um aumento do volume de ejeção, enquanto o sistema parassimpático apresenta uma fraquíssima ação negativa, reduzindo a força de contração (SILVA JR., 1988). Pode-se presumir então que as ações nervosas sobre a freqüência cardíaca e sobre a força de contração agem em sincronismo, sendo que, o débito cardíaco de um indivíduo em condições normais é proveniente de um fino ajuste de intensidade de estimulação de cada um dos componentes do sistema nervoso autônomo (SILVA JR., 1988). 4.3 A Circulação e os Vasos Sanguíneos 29 O crescimento e homeostase orgânica são propiciados pela adequada nutrição das células, tecidos e órgãos. A função básica do sistema circulatório é a de conduzir todo o material nutritivo e oxigênio através das células, além de coletar os produtos residuais do metabolismo das mesmas, desde o local onde foram produzidos até aos órgãos encarregados de eliminá-los (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). Este aparelho circulatório inerente aos mamíferos, constitui-se, em sentido geral, de um sistema de tubos fechados, impedindo o escape direto de sangue para o interior das células. Os diferentes segmentos que compõem esta complexa rede cardiovascular possuem características estruturais distintas, adequados de acordo com as necessidades orgânicas (FRANCHINI, 2008). Além do coração, com sua função de bomba-propulsora, distinguem-se, estrutural e funcionalmente as artérias, arteríolas, capilares e veias (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). O sistema arterial possui basicamente a propriedade de condução e distribuição do volume sangüíneo aos tecidos, e de variação da resistência ao fluxo de sangue, para a manutenção da pressão intravascular e da adequada oferta de fluxo, sendo constituído de extensa rede de vasos, que inclui a aorta e seus ramos principais, as grandes, médias e pequenas artérias, e as arteríolas, os quais oferecem resistência progressivamente maior ao fluxo sangüíneo, na medida em que vão se ramificando em direção ao interior dos diversos órgãos. (JUNQUEIRA JR, 2007). A microcirculação compreende as meta-arteríolas, os esfíncteres précapilares, a rede de vasos capilares e a rede de microvênulas. Nesta microcirculação o sangue flui muito lentamente, sob baixa pressão, devido a propriedade de permitir a troca de substâncias sólidas, líqüidas e gasosas entre o compartimento intravascular e as células teciduais (DÂNGELO; FANTTINI, 2004; JUNQUEIRA JR, 2007). O sistema venoso integra uma rica rede de vasos coletores de sangue proveniente dos tecidos, que inclui as vênulas, as pequenas, médias e grandes veias, possuindo a propriedade de variação da sua complacência, para permitir o retorno de um variável volume sangüíneo ao coração, e a manutenção de uma reserva deste volume (JUNQUEIRA JR, 2007). 30 4.3.1 Tipos de circulação Dentro da rede que compõem o complexo sistema circulatório, podemse distinguir funcionalmente quatro tipos de redes, ou simplesmente, quatro diferentes vias para a circulação sanguínea (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). O conjunto dos sistemas vasculares distribuídos em todas as estruturas do organismo é denominado de grande circulação, ou circulação sistêmica (JUNQUEIRA JR, 2007). Esta grande circulação tem início no ventrículo esquerdo, de onde o sangue é bombeado para a rede capilar dos tecidos de todo o organismo. Após as trocas, o sangue retorna pelas veias ao átrio direito. Em síntese, é uma circulação coração-tecidos-coração (FRANCHINI, 2008). Os sistemas arterial e venoso do pulmão constituem a pequena circulação, ou circulação pulmonar (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). A circulação denominada como do tipo pulmonar, tem início no ventrículo direito, de onde o sangue é bombeado para a rede capilar dos pulmões. Posteriormente o sangue oxigenado, proveniente da hematose, retorna ao átrio esquerdo. Pode-se dizer então, que esta é uma circulação coração-pulmão-coração (DÂNGELO; FANTTINI, 2004; GUYTON; HALL, 2002). Nesta imensa rede que forma o sistema circulatório, ainda pode-se destacar dois outros tipos de vias de circulação: colateral e portal (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). A circulação colateral, normalmente é formada por anastomoses entre ramos de artérias ou de veias entre si. Em situações normais não há muita passagem de sangue por meio destas comunicações, mas na ocorr6encia de alguma obstrução de um vaso de maior calibre que participe da rede anastomótica, o sangue passa a circular ativamente por estas vias alternativas, estabelecendo a efetiva circulação colateral (GUYTON; HALL, 2002). Já a circulação classificada como do tipo portal, possui uma interposição entre uma veia e duas redes de capilares, sem passar por um órgão intermediário (DÂNGELO; FANTTINI, 2004). 31 4.4 Regulação Neural e Hormonal de Fluxos Locais Além da influência exercida pelo grau de atividade metabólica local, o fluxo para qualquer região pode ser igualmente ajustado também por mecanismos de cunho nervoso e hormonal (GUYTON; HALL, 2002). Estes mecanismos atuam como fatores complementares ao ajuste local, podendo ser aplicados pelo organismo para restringir o fluxo para determinadas localidades em favor do aumento temporário das necessidades metabólicas de certas regiões, ou para exacerbar os efeitos dos mecanismos locais, assegurando dessa maneira, um fluxo sanguíneo ainda mais eficiente (SILVA JR., 1988). No entanto, para que estes mecanismos funcionem homeostaticamente, fazse necessário a integração entre o sistema nervoso endócrino, com importante participação do sistema nervoso central (MICHELINI; ROSSONI, 2008). Basicamente, a ativação do sistema nervoso simpático, irá determinar a vasoconstrição arteriolar na grande maioria dos territórios, com diminuição do fluxo sanguíneo local e conseqüente desvio do mesmo para outras regiões (SILVA JR., 1988). A inervação simpática constritora localizada em vasos sanguíneos de musculatura esquelética tem a mesma função básica de reduzir o fluxo sanguíneo em determinada localidade do organismo, desviando-o para outra região com maior atividade metabólica, enquanto a inervação de origem vasodilatadora aumenta fluxos musculares frente a situações que necessitem de maior demanda oxigenativa, como por exemplo, no caso de exercícios físicos (MICHELINI; ROSSONI, 2008). Além desta ação integradora exercida pelo sistema nervoso sob a regulação do fluxo sanguíneo no interior dos vasos que compõem o grande sistema cardiovascular, ou simplesmente, sistema circulatório, muitos hormônios, apresenta ações frente a esse sistema, participando em sinergismo dos mecanismos de regulação de fluxo (GUYTON; HALL, 2002). Estes hormônios são substâncias que agem não de modo localizado, ou seja, restrito a uma região, pois uma vez secretados, atingem todo o sistema circulatório, resultando em ação vascular generalizada (SILVA JR., 1988). 32 Dentre estes hormônios de grande relevância na regulação de fluxo e regulação de pressão sanguínea, pode-se citar (JUNQUEIRA JR, 2007): • Adrenalina: secretada pela porção medular da glândula supra-renal, em resposta a estimulação simpática do nervo supra-renal, cuja ações são predominantemente vasoconstritoras sobre o sistema circulatório em geral (MICHELINI; ROSSONI, 2008). • Angiotensina: substância que resulta da ação de um hormônio sintetizado pelo rim, a renina, com ação sobre as proteínas plasmáticas e subseqüente formação angiotensina de uma substância praticamente inativa, denominada como I. Esta, posteriormente sofre conversão enzimática, transformando-se em angiotensina II, que consiste em um poderoso agente vasoconstritor (GUYTON; HALL, 2002). • Vasopressina: consiste em um hormônio produzido no hipotálamo e armazenado na hipófise posterior, ligado a regulação do metabolismo da água, por isso, também conhecido como hormônio antidiurético. Porém, quando presente em grandes quantidades no sangue circulante, apresenta ações vasoconstritoras, podendo dessa maneira, interferir na regulação de fluxos (MICHELINI; ROSSONI, 2008). • Bradicinina: é uma substância que se encontra em estado inativo ligada a proteína plasmática. Quando liberada a bradicinina, apresenta potentes propriedades vasodilatadoras, agindo em uma grande quantidade de regiões (SILVA JR., 1988). • Histamina: este é outro agente vasodilatador, sendo secretada localmente nos tecidos, durante injúria tecidual, inflamação e reações alérgicas. Determina intensa dilatação das arteríolas e aumento de fluxo local, com simultânea indução da contração das vênulas, induzindo ao aumento da permeabilidade capilar, causando extravasamento de líquidos dos capilares para o interstício, gerando a formação de edema local (MICHELINI; ROSSONI, 2008; SILVA JR., 1988). • Peptídeo atrial natriurético: constitui um hormônio sintetizado e lançado na circulação sanguínea pelos miócitos atriais, quando distendidos durante aumentos do retorno venoso ou da volemia. Sua ação resulta em vasodilatação, determinando queda da resistência e aumento do fluxo local, 33 facilitando a filtração capilar e transposição de fluídos para o espaço intersticial. Além de sua ação direta vasodilatadora, o peptídeo atrial natriurético inibe a síntese e a liberação de endotelina, angiotensina II e noradrenalina, com acentuado predomínio do tônus vasodilatador. Esses efeitos, associados às suas ações natriuréticas e diuréticas, constituem importantes mecanismos de defesa org6anica ao aumento de volemia (MICHELINI; ROSSONI, 2008). 4.4.1 Regulação da pressão arterial Para manter a homeostase orgânica, é necessária que a pressão arterial apresente níveis constantes, o que pode ser assegurado por meio da sua regulação, isto é, através da ação de mecanismos nervosos capazes de detectar alterações presentes nestas, corrigindo-as (JUNQUEIRA JR, 2007). No interior das paredes do sistema cardiovascular, existem sistemas que propiciam este controle da pressão arterial sanguínea: sistemas pressorreceptores e/ou barorreceptores, situados no arco da aorta e na bifurcação das artérias carótidas, na região cervical (MICHELINI; ROSSONI, 2008). Os pressorreceptores são na realidade, terminações nervosas sensitivas que penetram no interior da parede arterial da aorta ou da bifurcação carotídea, sendo que, a ação cíclica do coração dilatando e contraindo as paredes das artérias, faz com que estas terminações nervosas sejam deformadas de acordo com o momento do ciclo cardíaco, estando em sincronia com cada batimento do coração (GUYTON; HALL, 2002). A distensão destas complexas terminações nervosas durante o ciclo cardíaco provoca o surgimento de potenciais de ação nas fibras nervosas, caracterizando um registro da pressão arterial (SILVA JR., 1988). Estas informações codificadas e transmitidas ao sistema nervoso central por intermédio dos barorreceptores permitem que, ajustes necessários para a manutenção da pressão arterial sejam estabelecidos, dessa maneira a homeostase do meio é restabelecida (MICHELINI; ROSSONI, 2008). 34 4.5 Insuficiência cardíaca A insuficiência cardíaca (IC) é caracterizada como uma síndrome clínica complexa, acompanhada por disfunção ventricular, sistólica e/ou diastólica, associada a alterações do eixo neuro-hormonal, levando a restrição de atividades físicas, retenção hídrica e diminuição da longevidade (ROCHITTE; BACAL; DOS SANTOS, 2007). De modo amplo, essa desordem estrutural ou funcional do coração decorrente da instalação da IC, leva à diminuição da capacidade do ventrículo de ejetar e/ ou de se encher de sangue nas pressões de enchimento fisiológicas (ROSSI NETO, 2004). Talvez essa seja a afecção mais importante e desafiadora, em que os médicos deverão deparar-se, podendo se estabelecer em decorrência de qualquer condição que determine a diminuição do bombeamento de sangue pelo coração (GUYTON; HALL, 2002). Esse comprometimento cardíaco no que diz respeito a ejeção deficiente de sangue para os vasos, tecidos, células e órgãos, pode advir de uma redução na contratilidade do músculo cardíaco, em resposta a diminuição do fluxo sanguíneo coronário, que também pode ser conseqüência de lesão das válvulas cardíacas, por pressão externa em torno do coração, por deficiência de vitamina B, por doenças primárias do músculo cardíaco ou por qualquer outra anormalidade que torne o coração uma bomba propulsora pouco eficiente (DEL CARLO et al., 2007; GUYTON; HALL, 2002). Depois que a doença está estabelecida condições como o infarto do miocárdio, excesso de sódio dietético, não adesão a medicação, arritmias, embolia pulmonar e anemia podem precipitar a IC completa, sendo que a maioria das doenças cardiovasculares culmina nesta via comum (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). A IC, não sendo uma doença específica, apresenta manifestações clínicas diversas decorrentes do fator etiológico primário, da idade do paciente, do grau e do tipo de disfunção ventricular, do tempo de evolução e da ativação de mecanismos hemodinâmicos e neuro-hormonais (KOPEL; LAGE, 2000). 35 Inicialmente compensatórios, os mecanismos hemodinâmicos e neurohormonais passam a ter papel determinante na manifestação clínica a medida que a doença progride , tornando-se insuficientes e/ou exacerbados (DEL CARLO et al., 2007). 4.5.1 Epidemiologia da IC no Brasil No Brasil não existem estudos epidemiológicos envolvendo a incidência de IC, porém, de acordo com outros países pode-se estimar que até 6,4 milhões de brasileiros sofram de IC. Segundo dados obtidos do Sistema Único de Saúde (SUS), do Ministério da Saúde, foram realizados no ano 2000 cerca de 398 mil internações por insuficiência cardíaca, com ocorrência de 26 mil óbitos (ASSIS; BARROS; GANZAROLLI, 2007) Cerca de um terço dos internados no SUS com doença cardíaca é portador de IC sendo que, entre os pacientes com mais de 60 anos, a IC é a principal causa de internação. Por estes motivos, a IC vem se tornando um grave problema de saúde pública em todo o mundo (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). Além dos altos custos hospitalares e em atendimentos de emergência, a IC provoca uma sensível perda da qualidade de vida, resultando, muitas vezes, em aposentadorias precoces e em alto custo socioeconômico para o país (ASSIS; BARROS; GANZAROLLI, 2007). 4.5.2 Causas e fatores de risco para o desenvolvimento da IC A IC na realidade pode ser considerada como evento final de várias doenças que comprometem o desempenho cardíaco (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). A hipertensão arterial sistêmica, a doença cardíaca isquêmica, diabetes e hipertrofia ventricular esquerda são alguma das morbidades iniciais que podem 36 desencadear em seus estágios mais avançados a IC. (ROCHITTE; BACAL; DOS SANTOS, 2007). Outros fatores de risco incluem dislipidemia, fumo, obesidade e doença valvar. Estudos recentes de epidemiologia identificaram novos fatores de risco, incluindo insuficiência renal, microalbuminúria, síndrome metabólica, depressão e baixa atividade física. Pacientes com história familiar de cardiomiopatia também estão em risco (ROSSI NETO, 2004). 4.5.3 Classificação funcional da IC Esta classificação funcional desenvolvida pela New York Heart Association (NYHA) tem como característica a segmentação dos pacientes portadores de IC em quatro grupos distintos, levando em consideração o grau de atividade física necessária para o surgimento dos sintomas inerentes a IC (KOPEL; LAGE, 2000). Esta classificação, porém, tem caráter subjetivo, tanto para o paciente que relata seus sintomas mediante testes físicos, quanto para o avaliador que acompanha os mesmos, levando ainda em consideração, a inespecificidade dos testes aplicados (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). Mas, embora haja limitações evidentes, esta classificação tem sua utilidade no que tange a comparação ou para o acompanhamento de um mesmo paciente ao longo do tempo (ROCHITTE; BACAL; DOS SANTOS, 2007). 37 Tabela 1. Classificação funcional da IC de acordo com a NYHA (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). Classe Funcional Características clínicas I Sem limitações às atividades físicas habituais. II Limitação discreta às atividades físicas habituais e assintomáticos ao repouso. III Limitação acentuada às atividades físicas habituais e assintomáticos ao repouso. IV Incapacidade de realizar quaisquer atividades físicas sem desconforto e sintomático ao repouso. Além da classificação da NYHA, a determinação do pico de consumo de oxigênio (VO2) por meio da realização do teste de esforço acoplado à análise dos gases respiratórios, permite a documentação da capacidade funcional de uma maneira mais objetiva do que simplesmente o tempo de exercício ou a avaliação funcional segundo critérios da NYHA (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). Os métodos complementares exercem, hoje, papel importante no diagnóstico, na estratificação de risco e no prognóstico dos pacientes. Dentre os métodos diagnósticos complementares, a ressonância magnética tem ganhado papel de destaque, proporcionando ao médico uma análise detalhada, tanto da anatomia como do ponto de vista funcional, ajudando na definição etiológica, prognóstica e de orientação terapêutica. (ROCHITTE; BACAL; DOS SANTOS, 2007). 4.5.4 Fisiopatologia da IC A progressão fisiopatológica da IC pode ser comparada com certa similaridade à aterogênese, ou processo aterosclerótico, principalmente no que se refere a fase assintomática onde a lesão está se estabelecendo de forma silenciosa, característica comum entre as duas morbidades (GUYTON; HALL, 2002). 38 Principalmente nos últimos anos, ampliaram-se os conhecimentos sobre a IC. Estabeleceu-se, assim, que, aos distúrbios hemodinâmicos inicialmente deflagrados, se associam alterações sistêmicas, do miócito, apoptose, da remodelação cardíaca e do interstício, disfunção endotelial, ativação neuro-hormonal (angiotensina II, catecolaminas, endotelina, aldosterona), pró-inflamatória, fatores do crescimento, permitindo compreender o caráter progressivo da IC (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). É na utilização excessiva desses sistemas compensatórios pela rede cardiovascular, que se encontra o início do processo de remodelagem ventricular, onde o coração tenta diminuir o estresse da parede por meio de aumentos da espessura da mesma (GUYTON; HALL, 2002). Este processo de remodelagem da câmara cardíaca ocorre antes que os sintomas da IC se estabeleçam, contribuindo posteriormente para piorá-los (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). A remodelagem ventricular pode ocorrer tanto em situações de sobrecarga de volume como de pressão, mecanismo desencadeado pelos componentes hemodinâmicos, neuro-humorais e genéticos, com subseqüente reprogramação gênica e presença de alteração da composição protéica do miócito, conduzindo a um retorno do padrão fetal do mesmo (LAGE; KOPEL, 2000). Dessa maneira, o miócito passa a expressar o fator atrial natriurético no nível ventricular. Todas as modificações apresentadas pelo sistema cardiovascular cursam para um menor consumo energético, no entanto, à custa de menor eficácia contrátil (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002; LAGE; KOPEL, 2000; NASTARI, 2003). Deve-se ressaltar que, um dos aspectos mais relevantes da remodelação ventricular é a fibrose intersticial, cuja estimulação ocorre por fatores locais secundários ao aumento ventricular e sistêmico, como a angiotensina II e aldosterona, comprometendo severamente a função sistólica e anatomia ventricular (CHAGAS, JARDIM, 2004). Todas essas alterações inerentes ao quadro de IC têm por conseqüência o comprometimento homeostático do mecanismo de Frank-Starling, com posterior interação dos mecanismos adaptativos periféricos e subseqüente importante perpetuação do processo (GUYTON; HALL, 2002). 39 Outro fator que merece ressalva é a exacerbação do sistema nervoso simpático frente a um quadro de IC, devido à diminuição da influência inibitória sobre os neurônios do centro vasomotor, conseqüência da disfunção dos barorreceptores e pelos estímulos excitatórios exacerbados pelos receptores metabólico-musculares e quimiorreceptores arteriais. O efeito final dessa ativação acentuada do sistema nervoso simpático conduz a elevações no nível sérico de norepinefrina, com implicações prognósticas na IC (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). Na IC a produção de renina também se encontra em ritmo acelerado devido a redução do fluxo sanguíneo renal e aumento na estimulação dos βadrenoceptores justaglomerulares renais (GUYTON; HALL, 2002). O aumento na produção de renina conduz a um incremento nos níveis de angiotensina II, levando a hipertrofia miocárdica e da musculatura lisa vascular (LAGE; KOPEL, 2000). Níveis elevados de angiotensina II também podem desencadear aumento na liberação de vasopressina, conseqüentemente conduzindo a um quadro de hiponatremia, ao qual, constitui-se de um mau prognóstico na IC. (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). O endotélio vascular também recebe efeitos deletérios provenientes do quadro de IC. A presença de diminuição na vasodilatação fluxo-dependente mediada por acetilcolina associada ao aumento na produção de endotelina, propicia, efeitos vasoconstritores a nível periférico e pulmonar de grande comprometimento para o funcionamento do sistema cardiovascular (GUYTON; HALL, 2002). Na IC ainda reside uma produção desequilibrada das chamadas citocinas inflamatórias, em particular o fator de necrose tumoral (TNF-α) e as interleucinas, conduzindo a diminuição da capacidade contrátil do coração; mecanismo associado com a piora da morbidade (LAGE; KOPEL, 2000). 4.5.5 Tratamento da IC O tratamento da IC vai ter direta ligação com o estágio em que a morbidade apresentar, englobando os de origem farmacológica, não-farmacológica e 40 cirúrgica (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002; VILAS-BOAS; FOLLATH, 2006). Parte importante do tratamento é a modificação no estilo de vida do paciente, para que o quadro de IC não progrida a Insufici6encia cardíaca congestiva. A inserção de exercícios-físicos e dietas bem prescritas faz parte deste contexto de tratamento de cunho não farmacológico (GUYTON; HALL, 2002). O tratamento farmacológico é prontamente estabelecido, principalmente nos casos severos de IC. As drogas mais prescritas são: diuréticos; inibidores da enzima de conversão da angiotensina (ECA); bloqueadores βadrenérgicos e digoxina. Podendo também neta combinação de fármacos, ser administrado ao paciente portador de IC antagonistas de aldosterona e vasodilatadores (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). Basicamente esses fármacos reduzem o excesso de retenção hídrica, dilatam os vasos sanguíneos e aumentam a força de contração do coração (GUYTON; HALL, 2002). No entanto, a maioria dessas drogas juntamente com a própria condição patológica, pode agravar ainda mais o estado nutricional do paciente, requerendo dessa maneira, atenção e cuidados específicos pela equipe de nutrição (II DIRETRIZ PARA O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA, 2002). 4.6 Vitamina D Na Insuficiência Cardíaca 4.6.1 Considerações gerais A insuficiência cardíaca constitui-se em uma doença de caráter crônico que vem crescendo mundialmente principalmente entre as pessoas mais idosas e de populações menos favorecidas (HOBBS, 1999). No que se refere à etiopatogênese da insuficiência cardíaca, existem inúmeras evidências que demonstram uma grande incidência e relação entre 41 deficiências nutricionais específicas na população acometida por esta patologia, como por exemplo, estoques corpóreos inadequados de vitamina D, destacando esta condição como fator importante na contribuição para a instalação desta desordem orgânica, bem como para a sua acentuada progressão (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). 4.6.2 Metabolismo e ações da vitamina D Entre os micronutrientes, a vitamina D possui uma especial peculiaridade no que se referem as suas formas de obtenção pelo organismo humano: a mesma pode ser adquirida via exógena, ou seja, pela ingestão de alimentos fontes ou então pode ser obtida pela síntese endógena orgânica, mediante a exposição da pele humana aos raios solares ultravioletas (UVB) (BOBBIO; BOBBIO, 2003; COMBS JR, 2002; RONCADA, 1998; ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2005). Como fontes alimentares para a obtenção de vitamina D necessária para suprir os requerimentos mínimos recomendados, apenas alguns alimentos são considerados fontes satisfatórias deste nutriente (arenque, salmão, etc.), desta forma, a síntese de vitamina D via exposição solar da pele se demonstra como um fator importante e eficaz para adequar as necessidades orgânicas desta vitamina (MOURÃO et al., 2005; RONCADA, 1998; ZITTERMANN, 2003). Neste sentido, a vitamina D obtida pela ingestão dietética diária de alimentos fontes deste nutriente, contribui apenas para o preenchimento de 10-20% das necessidades orgânicas adequadas para a manutenção dos estoques corporais e conseqüentemente da homeostasia de todo o organismo, reforçando a necessidade da síntese da mesma, por regular exposição solar (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2005). No ciclo exógeno de obtenção da vitamina D, após a ingestão através de alimentos fontes, este nutriente é então absorvido no intestino delgado juntamente com a presença e o auxílio dos sais biliares, destacando-se a porção jejunal como principal via de absorção desta (RONCADA, 1998). 42 Posteriormente a sua absorção intestinal, a vitamina D, é então conduzida pelo sistema linfático até o fígado, onde ocorre sua conversão enzimática a 25-hidroxicolecalciferol pela ação da enzima hepática hidroxilase, que também processa a vitamina D sintetizada a partir da exposição da pele a raios UVB (COMBS JR, 2002; ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Vale ressaltar que a 25-hidroxicolecalciferol, constitui a principal forma circulante de vitamina D no organismo (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Durante o trajeto da vitamina D, mais precisamente de seus compostos formados a partir de reações orgânicas específicas, destaca-se um novo processo de hidroxilação desta vitamina, efetuado nos rins por meio de uma nova ação enzimática (1α-hidroxilase) transformando o composto anteriormente gerado nos hepatócitos em 1,25-diidroxicolecalciferol ou simplesmente calcitriol (RONCADA, 1998; VAN DEN BERG, 1997). Destacando que este novo passo de hidroxilação da vitamina D está sob controle hormonal do paratormônio (PTH), produzido pela paratireóide e que tem como função principal manter a constância nos níveis circulantes de cálcio sanguíneo (COMBS JR, 2002; GAYTON; HALL, 2002; ZITTERMANN, 2003) No entanto, para que a circulação de vitamina D e seus compostos de posterior conversão possam efetivamente circular pela complexa rede que forma o aparelho circulatório humano, é necessário a presença tanto de proteínas carreadoras de vitamina D, como de seus compostos (MOURÃO et al., 2005). Nesse caso, a proteína específica que realiza esta função de conduzir a vitamina D nos diversos compartimentos do organismo, denomina-se globulina, também conhecida como: proteína específica transportadora de vitamina D (DBP) (RONCADA, 1998; ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Além de necessitar de mecanismos carreadores para o transporte através do trajeto que forma a circulação sanguínea, a vitamina D, também necessita para a sua absorção celular em diversos tecidos, portanto em diversos órgãos, da existência de receptores específicos, indispensáveis para o efetivo processo de transferência deste nutriente para o interior de diferentes células (COMBS JR, 2002). Os receptores envolvidos na absorção celular de vitamina D, também são conhecidos como receptores hormonais, uma vez que, esta vitamina, na forma 43 de um de seus compostos, o 1,25 diidroxicolecalciferol, possui características inerentes a sistemas de controle hormonal, como: auto-regulção homeostática de acordo com seus níveis sanguíneos de concentração bem como pelos propiciados por meio do fornecimento de cálcio ao organismo (RONCADA, 1998; ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Entre as diversas células que formam o corpo humano e que possui a funcionabilidade de receptores hormonais específicos, necessários a absorção de vitamina D em nível celular, podem-se citar como exemplos as seguintes: osteoblastos, miócitos, cardiomiócitos, células β-pancreáticas, células formadoras do endotélio vascular, neuronais, colonócitos e células de função imune.(VIETH; LADAK ; WALFISH, 2003). Figura 3. Metabolismo e ação da vitamina D. Adaptado de COMBS JR. In: MAHAN, ESCOTTSTUMP. p. 74. 44 4.6.3 Avaliação dos níveis de vitamina D Já é de grande conhecimento entre os profissionais de saúde, principalmente os ligados diretamente com alimentação e nutrição humana, a importância da avaliação dietética no que se refere a ingestão e absorção dos nutrientes, possibilitando dessa maneira, a detecção entre a escala que segrega os níveis dietéticos de ingestão adequados dos severamente deficientes (PADOVANI et al., 2006). Quanto à avaliação dos níveis de vitamina D corpóreos, o marcador indicatório de normalidade e/ou deficiência desta no organismo, se dá prioritariamente, por meio da quantificação dos níveis circulantes de 25hidroxicolecalciferol, uma vez que, a circulação fisiológica deste componente, se faz necessária para a produção e fornecimento satisfatórios da demanda tecidual orgânica de calcitriol (LIPS, 2001) Dessa maneira, a deficiência de vitamina D no organismo, será caracterizada pela falta ou inadequação no preenchimento dos requerimentos mínimos de calcitriol necessários para o bom funcionamento das células-alvo (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Com a deficiência orgânica instalada deste nutriente, diversas e severas repercussões clínicas podem ser observadas, tais como: raquitismo, osteomalácia, miopatia, comprometedor hiperparatireoidismo secundário e má absorção de outro micronutriente, o mineral cálcio (COMBS JR, 2002; GAYTON; HALL, 2002; ZITTERMANN, 2003). Todavia, vale destacar que, em muitos casos em que a deficiência de vitamina D está presente, os sinais e sintomas clínicos podem ser ocultados, conseqüentemente dificultando o diagnóstico clínico-nutricional do paciente, contribuindo para a progressão da desordem nutricional (LIPS, 2001). Uma possível explicação para a condição sub-clínica em estágios de deficiência nutricional de vitamina D, pode estar contida, em uma espécie de mecanismo compensatório, na tentativa do organismo manter a homeostasia do meio (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). 45 Tabela 2. Concentração de 25 (OH) D e classificação nutricional. (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Níveis de vitamina D Concentração de 25(OH)D (nmol/L) Achados clínicos/ laboratoriais Deficiente 0-25 Hiperparatiroidismo severo, má absorção de cálcio, raquitismo, osteomalácia e miopatia Insuficiente >25-50 Elevados níveis de PTH, baixa taxa de absorção de cálcio intestinal, redução da densidade mineral óssea, miopatia sub-clínica Hipovitaminose D >50-70 Baixos estoques corporais de vitamina D, e elevados níveis de PTH Adequado 70-100 até 250 Ausência de distúrbios relacionados a vitaminaD Tóxico >250 Hiperabsorção intestinal de cálcio e hipercalcemia A ação hormonal do PTH constitui-se como principal via responsável por esta latência dos achados clínicos, uma vez que, o aumento dos níveis plasmáticos de PTH conduz ao estímulo do sistema renal para a síntese de calcitriol, com a finalidade de manter a normalidade quanto à absorção orgânica de cálcio, assim como seus níveis séricos (LIPS, 2001). Como conseqüência da ação do PTH, o calcitriol circulante, será mantido dentro dos limites da normalidade, condição decorrente do incremento do PTH circulante (COMBS JR, 2002; ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Mesmo diante da manutenção dos níveis sorológicos de calcitriol e cálcio, a constatação de uma relação negativa entre o PTH e o 25hidroxicolecalciferol séricos são visivelmente notáveis por meio de exames bioquímicos específicos, porém esta característica, não pode ser observada em relação aos níveis de calcitriol orgânico (VIETH; LADAK; WALFISH, 2003). Segundo alguns estudos que abrangem o espectro negativo relacionado a deficiência orgânica de vitamina D, indivíduos portadores deste déficit vitamínico específico por longo tempo, podem apresentar maior risco para o 46 desenvolvimento de doenças crônicas relacionadas a este micronutriente (GOMEZALONSO et al., 2003). Diante deste quadro, enfatiza-se a necessidade de detecção precoce de uma possível inadequação quanto à ingestão e/ou absorção desta vitamina, possibilitando corrigir as falhas dietéticas, bem como os fatores contribuintes para esta, evitando e minimizando dessa maneira, o surgimento e/ou agravamento de morbidades severas relacionadas a este aporte deficiente deste nutriente ao corpo humano (COMBS JR, 2002; RONCADA, 1998). 4.6.4 Vitamina D em pacientes com insuficiência cardíaca A deficiência de vitamina D não se constitui de um quadro exclusivo e tendencioso apenas inerente a portadores de insuficiência cardíaca, pelo contrário, dados fornecidos por diversos levantamentos advindos de estudos nesta área revelam que, a inadequação desta vitamina atinge consideravelmente a população em geral, ou seja, mesmo indivíduos considerados sadios do ponto de vista clínico apresentam esta deficiência específica (ZITTERMANN, 2003). Quanto a dados relacionados diretamente a avaliação do status da vitamina D em pacientes com insuficiência cardíaca, estudos apontam para uma escassez no que tange a informações mais consistentes a respeito especificamente deste tema (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Algumas informações advêm de um estudo onde, os níveis de 25hidroxicolecalciferol foram quantificados e avaliados, como resultado verificou-se que, com apenas uma exceção, todos os demais grupos de pacientes portadores de insuficiência cardíaca estudados apresentaram concentrações médias sorológicas de 25-hidroxicolecalciferol ao redor ou abaixo de 50nmo/l, demonstrando que os mesmos, encontravam-se na escala de deficiência ou insuficiência no que diz respeito à vitamina D (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Teoricamente, são várias as possíveis explicações para a deficiente circulação dos níveis de 25-hidroxicolecalciferol em pacientes com insuficiência cardíaca, citando entre elas: inadequada exposição solar da pele aos raios UVB e/ou deficiente ingestão de vitamina D por meio dos alimentos fontes, anormalidade de 47 origem genética na funcionabilidade da enzima hepática 25-hidroxilase ou até mesmo um aumento no catabolismo do composto 25-hidroxicolecalciferol (ZITTERMANN, 2003; ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). No que tange a obtenção de vitamina D via síntese endógena por estímulo da exposição da pele aos raios solares UVB, um aspecto importante a de ser considerado: a variação da incidência destes raios solares durante as diferentes estações do ano e também sua intensidade de acordo com a região em que a população se encontra (GOSWAMI et al., 2000). A estas variáveis, existem ainda dois adicionais importantes que podem contribuir significativamente para uma baixa obtenção de vitamina D por exposição aos raios UVB nos pacientes que apresentam a insuficiência cardíaca (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). A primeira reside no fato de que, os pacientes portadores dessa morbidade cardíaca, pela própria condição inerente ao estágio em que se encontra a doença, apresentam pouca mobilidade física, o que lhes impede de uma exposição adequada ao sol para a síntese da pró-vitamina A (ALBANESE et al., 1999). O outro aspecto a ser frisado, se refere a idade do paciente portador da insuficiência cardíaca, pois com o avançar dos anos, ocorre uma depleção generalizada em indivíduos idosos independentemente da presença e/ou ausência de qualquer patologia, inclusive diminuição na capacidade da pele em sintetizar a pró-vitamina D (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Vale também ressaltar que, o estilo de toda uma vida, ou seja, aspectos advindos desde a infância exercerão influências significativas para um maior ou menor percentual de inadequação e/ou adequação de diversos mecanismos, destacando entre eles um adequado e/ou inadequado nível corpóreo de vitamina D (NISHO et al., 2003). Na tentativa de explicar o déficit de 25-hidroxicolecalciferol e conseqüentemente de vitamina D em portadores de insuficiência cardíaca, várias outras teorias são pautadas para discussões, cujo intuito principal é o de correlacionar um ou mais fatores que respondam negativamente para esta deficiência constatada em alguns estudos (SCHLEITHOFET et al., 2006; ZITTERMANN et al., 2003). 48 Neste sentido, a insuficiência renal, decorrente da patologia de base (insuficiência cardíaca), segundo alguns autores, poderia ser uma explicação plausível para esta inadequação vitamínica (SILVERBERG et al., 2004). Um estudo que procurou correlacionar os níveis circulantes corpóreos de calcitriol e creatinina em pacientes com insuficiência cardíaca e indivíduos saudáveis, encontrou correlação negativa entre o calcitriol do soro e a creatinina e positiva correlação com a creatinina clearance (SHANE et al., 1997). Entretanto, outro estudo similar, não encontrou correlação entre os níveis sorológicos de calcitriol e creatinina. Neste mesmo estudo, creatinina clearance apresentou-se aumentado em pacientes jovens portadores da morbidade cardíaca com baixos níveis circulantes de calcitriol (ZITTERMANN et al., 2003). Conseqüentemente parece pouco provável que a insuficiência renal seja a responsável pela redução da atividade enzimática renal exercida pela enzima 1-α hidroxilase, que converte o composto 25-hidroxicolecalciferol em calcitriol (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Ainda sobre os possíveis mecanismos que possam exercer papel negativo sobre o metabolismo de vitamina D em pacientes com insuficiência cardíaca, estudos recentemente têm sugerido que, o fator de necrose tumoral (TNFα) pode estar envolvido na supressão da síntese de calcitriol (HAUG et al., 1998). Em pacientes portadores da insuficiência cardíaca, os níveis no soro de TNF-α são marcadamente mais elevados do que os considerados como parâmetros de normalidade para indivíduos saudáveis. Dessa maneira, os níveis elevados de TNF-α podem ser uma causa importante dos baixos níveis de calcitriol em indivíduos com insuficiência cardíaca (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). 4.6.5 Deficiência de vitamina D: participação na patogênese da insuficiência cardíaca Atualmente, são notáveis as evidências de que baixos níveis corpóreos de vitamina D podem ser um importante fator contribuinte para a patogênese da insuficiência cardíaca, enfatizando, porém, que mesmo diante destes achados, a 49 negligência acerca desta probabilidade ainda subsiste de maneira considerável (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Em geral, na população, os estágios extremos de morbidades como hipertensão arterial, comprometimentos coronários e valvulares, podem ser fatores desencadeadores da instalação da insuficiência cardíaca. Conseqüentemente, podese concluir que, doenças miocárdicas de ordem primária podem conduzir posteriormente ao quadro de insuficiência cardíaca (KANNEL, 2000). Considerando os fatores de riscos preponderantes para a contribuição no que diz respeito ao surgimento e agravamento da insuficiência cardíaca, a hipertensão arterial, assume um papel impactante para esta negativa contribuição, estando associada com 39% dos eventos da insuficiência cardíaca em homens e 59% nas mulheres (KANNEL, 2000). Quanto à contribuição do quadro hipertensivo para a instalação e progressão da insuficiência cardíaca, uma das hipóteses levantadas, reside no fato de que, a presença de hipertensão pode estar associada com estimulação inapropriada do sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAAS) (LI, 2003). A vitamina D neste contexto se insere no sentido de que seu composto ativo, o calcitriol, é sabidamente conhecido por agir como um regulador endócrino do sistema RAAS, sendo que sua ação, frente a diversos casos, ou seja, o tratamento mediante a administração de calcitriol demonstrou reduzir a atividade plasmática de renina, níveis de angiotensina II, pressão sanguínea e hipertrofia miocárdica (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Assim, os níveis circulantes de calcitriol, não são apenas importantes para manter a homeostasia de cálcio corpóreo, exercendo ainda, um papel determinante para o equilíbrio dos eletrólitos circulantes, volume e pressão sanguínea (LI, 2003). Os benefícios quanto à ação da vitamina D no organismo via síntese endógena foram demonstrados por meio de um estudo, onde pacientes hipertensivos submetidos a exposição solar regular aos raios UVB, apresentaram aumento dos níveis circulantes de 25-hidroxicolecalciferol acima de 100nmol/l e também reduziram significantemente a pressão sanguínea em aproximadamente 6 nmHg dentro de um período intervencional que compreendeu seis semanas (KRAUSE et al., 1998). 50 Já em outro estudo, um grupo de mulheres idosas foram suplementadas diariamente com cálcio e 20 µg de vitamina D3, enquanto outro grupo, apenas cálcio foi oferecido em regime diário de administração. Os níveis iniciais de 25-hidroxicolecalciferol do grupo que recebera cálcio e vitamina D3 eram de aproximadamente 24.6 nmol/l e do suplementado apenas com o mineral cálcio em torno de 25.7 nmol/l (PFEIFER et al., 2001). Quando comparados os dois grupos, o que recebeu cálcio associado a vitamina D3, os níveis de 25-hidroxicolecalciferol apresentaram um aumento médio de 20 nmol/l, diminuição de PTH no soro em torno de 17%, decréscimo da pressão sanguínea sistólica de 9.3% e diminuição da taxa cardíaca (5.4%) (PFEIFER et al., 2001). Outra forte evidência da importância acerca da vitamina D no organismo, endossando seu déficit corporal como agente favorecedor na patogênese da doença coronária, advêm de dados relacionados a pacientes com insuficiência renal em estágio final da doença (ESRD) (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Nesses pacientes, como conseqüência de uma síntese renal reduzida de calcitriol, o hiperparatireoidismo secundário instala-se prontamente ainda na fase inicial da doença. Sendo que nestes indivíduos ESRD, esta desordem, é considerada como um fator de risco relevante para patogênese da doença cardiovascular. Aliado a este contexto, os pacientes ESRD possuem mais um adicional negativo com relação ao comprometimento cardíaco: risco de calcificação vascular (DRUEKE; MCCARRON, 2003). Quanto a calcificação vascular, até mesmo na população em geral, sua presença relaciona-se negativamente com uma redução na expectativa de vida em torno de cinco anos. Nesse sentido, os níveis de calcitriol em populações com risco alto e moderado para desenvolvimento de doenças de ordem cardiovascular, foram inversamente correlacionados com a extensão da calcificação vascular (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Ainda sobre a influência negativa do PTH sobre a etiopatogênese da insuficiência cardíaca, é de conhecimento que, excessos deste hormônio na corrente circulatória, são responsáveis pelo aumento da pressão sanguínea e também da contractilidade cardíaca, conduzindo a uma hipertrofia miocárdica e a um quadro de fibrose intersticial no coração. Sendo assim, o desequilíbrio nos níveis hormonais de 51 PTH contribui para o desenvolvimento e/ou agravamento das doenças cardiovasculares (ROSTAND; DRUEKE, 1999). O principal preditor dos níveis circulantes de PTH é o composto 25hidroxicolecalciferol, sendo que, uma inversa correlação entre os níveis deste composto e do calcitriol com os de PTH tem sido observados em pacientes com insuficiência cardíaca. Estando, porém mais fortemente pronunciado esta correlação entre 25-hidroxicolecalciferol e PTH do que calcitriol e PTH (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Estudos in vitro sugerem que, a vitamina D diminua a ação das citocinas pró-inflamatórias, aumentando ainda, aquelas com funções anti.inflamatórias, proporcionando conseqüentemente, efeitos benéficos ao organismo, já que, elevados níveis de citocinas pró-inflamatórias podem contribuir segundo alguns autores, para a patogênese da insuficiência cardíaca (ZHU et al., 2005). Em suma, pode-se citar então, três principais mecanismos que podem explicar os efeitos protetores da vitamina D no que tange a mortalidade por doença cardiovascular: regulação da inflamação, o efeito sobre a proliferação e hipertrofia miocárdica e a regulação do sistema RAAS (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). 4.6.6 Estratégias de tratamento Teoricamente, a adequação nos níveis de vitamina D em pacientes portadores da insuficiência cardíaca, pode ser efetuada pela síntese endógena deste nutriente, ou seja, via dérmica e/ou através da adequação pela ingestão oral (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Sem dúvida alguma, a exposição solar da pele aos raios UVB, constitui um fator de suma importância para a obtenção de grande parte dos requerimentos orgânicos de vitamina D (COMBS JR, 2002; MOURÃO et al., 2005; RONCADA, 1998). Porém, em alguns países, como os situados na Europa e America do Norte esta medida (exposição solar) seria muito pouco efetiva, já que a incidência dos raios tipo UVB é bem limitada na maior parte do ano (GOSWAMI et al., 2000). 52 Outro ponto que merece ressalva é o fato de que, além da variável que se refere a localização do país em que se encontra o paciente ou qualquer indivíduo, contribuindo para uma maior ou menor incidência de raios do tipo UVB, a proporção da superfície corporal exposta a radiação solar, pode ser um outro fator crítico para a síntese endógena de vitamina D via irradiação solar na pele (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Outra dificuldade que também merece ser citada, no que tange a exposição solar da pele como via endógena de obtenção da vitamina D em pacientes com insufici6encia cardíaca, reside no fato de que, estes indivíduos acometidos por esta severa patologia, em diferentes graus da morbidade apresentam dificuldades igualmente variáveis, principalmente comprometimento da mobilidade, impossibilitando em vários casos, a exposição natural da pele aos raios UVB (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Uma alternativa, nos casos impossibilitados de obtenção de radiação UVB de origem natural, poderia ser compensada, pelo uso de lâmpadas com emissão de raios UVB artificiais, melhorando assim, a oferta de vitamina D em pacientes portadores de insuficiência cardíaca acamados (WOLPOWITZ; GILCHREST, 2006). Esta medida, além de significar uma rota alternativa a pacientes severamente comprometidos pela morbidade cardíaca, também consistiria, em um método de maior controle no que diz respeito, ao tempo e porcentagem corporal necessárias para a correta obtenção dos requisitos orgânicos de vitamina D (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Entretanto, um maior e mais aprofundado rol de investigações científicas bem fundamentadas, ainda, se faz necessário para a correta estimativa quanto ao tempo e porcentagem da área corporal a ser exposta aos raios UVB, com a finalidade de obtenção satisfatória de vitamina D pelo organismo (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Outra possível opção para um requerimento nutricional satisfatório de vitamina D em indivíduos acometidos pela insuficiência cardíaca seria a administração via oral deste nutriente por meio de ampolas e/ou cápsulas cuja dose poria ser anual única, ou em diversas vezes ao ano, dependendo da avaliação do quadro geral do paciente em questão. Mas essa medida, só seria uma boa escolha, 53 para aqueles pacientes que possuem regular contato e avaliação médica (TRANG et al., 1998). A face negativa desta alternativa encontra-se no fato de que apenas uma dose anual de ingestão oral ou intravenosa deste micronutriente, não propiciaria uma constância de adequação nos níveis de 25-hidroxicolecalciferol (MASTAGLIA et al., 2006). Além disso, a maioria das preparações orais e/ou intravenosas disponíveis para vitamina D, consiste em uma forma pouco ativa da mesma: a vitamina D2, também conhecida como “ergocalciferol”. Sendo que, apenas algumas formulações contendo vitamina D3, conhecidamente a forma mais ativa deste nutriente foram ainda testadas (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Atualmente, a ingestão oral adequada de vitamina D, tem sido demonstrada como principal e mais eficaz ferramenta para melhorar e garantir o aporte nutricional deste micronutriente em pacientes com insuficiência cardíaca (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Outra medida profilática quanto a garantia de estoques corporais adequados nestes pacientes, deriva de um minucioso controle clínico, o qual deve ser realizado pelo médico, com a verificação via laboratorial dos níveis de 25- hidroxicolecalciferol, no mínimo uma vez ao ano (ZITTERMANN et al., 2003). A suplementação de vitamina D em indivíduos portadores da insuficiência cardíaca se faz necessária, quando o nível circulante de 25hidroxicolecalciferol estiver abaixo de 50 nmol/L (SCHLEITHOFF et al., 2006). Alguns dos dados disponíveis apontam para um aumento nos níveis de 25-hidroxicolecalciferol de 50-100nmol/L, com a administração de um µg de vitamina D3 por kg de peso corporal por dia nestes indivíduos portadores de morbidade cardíaca (ZITTERMANN et al., 2003). Embora estas dosagens de administração de vitamina D em pacientes portadores de insuficiência cardíaca, tem demonstrado efeitos desejáveis, os níveis sanguíneos de cálcio circulante, devem ser mantidos sob rigoroso controle laboratorial, em um intervalo de pelo menos 6 meses, evitando dessa maneira um possível risco de hipercalcemia (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). Muito embora, baixos níveis de calcitriol plasmáticos sejam evidenciados em pacientes com insuficiência cardíaca, não existe nenhuma base científica, para inserir a substituição deste hormônio esteróide, nem mesmo, no que 54 diz respeito, a prescrição de análogos específicos de vitamina D (KUBOTA et al., 2000). Pois geralmente, estes insuficientes níveis de 25-hidroxicolecalciferol em indivíduos que apresentam tal morbidade, são fortemente correlacionados com a irregular exposição solar da pele aos raios UVB (ALBANESE et AL., 1999). Dessa maneira, a ingestão oral diária de 50-100µg de vitamina D parece ser a melhor estratégia de impedir a insuficiência deste nutriente nestes pacientes portadores da morbidade cardíaca (ZITTERMANN; SCHLEITHOFF; KOERFER, 2006). 55 5 CONCLUSÃO A insuficiência cardíaca (IC) vem destacando-se marcadamente entre as injúrias de ordem cardiovascular, por três fatores de grande relevância: sua alta prevalência e incidência principalmente entre a população idosa; altas taxas de mortalidade e em último, considerável diminuição na qualidade de vida do indivíduo portador. Todos esses fatores de comprometimento de ordem humana refletem fortemente em aumento dos gastos na saúde pública, decorrentes do tratamento e de principalmente aposentadorias precoces, inviabilizando uma mão-de-obra em potencial. É notória que esta morbidade é circundada por diversos e complexos mecanismos fisiopatológicos ainda pouco elucidados. Dentre eles, evidencia-se a presença de fatores nutricionais, que podem estar envolvidos na patologia de origem deste quadro secundário (IC), como: hipertensão, diabetes, cardiomiopatias, insuficiência renal, etc. A participação da vitamina D, mais precisamente, da deficiência deste micronutriente no quadro etiopatológico inerente a IC ainda constitui-se de dados escassos e ainda pouco consistentes. No entanto, um aspecto é certo e comum em pacientes portadores de IC: a vitamina D encontra-se na maioria dos casos em estado depreciado. Sabendo-se que cada nutriente tem sua importância frente a homeostase orgânica e que isto não é diferente no caso da vitamina D, faz-se necessário o conhecimento amplo deste nutriente, bem como estratégias de intervenção nutricional para a correção e controle de seus níveis em indivíduos acometidos pela IC. O acompanhamento e intervenção nutricional precoces em pacientes com IC pode ser um aspecto decisivo para o controle do quadro patológico, bem como para a garantia de uma melhor sobrevida a estes indivíduos. 56 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBANESE, M.C.; PLEWKA, M.; GREGORI, D.; FRESCO, C.; AVON, G.; CALANDRO, D.; GRASSI, L.; ROSSI, P.; UDINA, P.; BULFONI, A.; COLLE, R.; CUZZATO, A.L.; FIORETTI, P.M. Use of medical resources and qualit`a of life of patients with chronic heart failure: A prospective survey in a large Italian community hospital. Eur J Heart Fail, v. 1, p. 411-17, 1999. ASSIS, C.C.; BARROS, A.L.B.L.; GANZAROLLI, M.Z. 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