avaliação da infestação do bicho-mineiro e do

AVALIAÇÃO DA INFESTAÇÃO DO BICHO-MINEIRO E DO
CRESCIMENTO DO CAFEEIRO SUBMETIDO A DIFERENTES
NÍVEIS DE DÉFICIT HÍDRICO
DANIEL FURTADO DE MEIRELES1
JACINTO DE ASSUNÇÃO CARVALHO2
JAIR CAMPOS MORAES3
RESUMO - Os efeitos de diferentes níveis de déficit
hídrico sobre a infestação do bicho-mineiro
[Leucoptera coffellum (Guérin-ménevile & Perrottet,
1842)] e crescimento do cafeeiro (Coffea arabica L.,
cultivar Mundo Novo), na fase inicial de formação da
cultura, foram avaliados por meio de um experimento
conduzido em casa-de-vegetação. Os tratamentos
consistiram na reposição de água diretamente ao solo,
em valores correspondentes a: 100, 85, 70, 55 e 40% da
água consumida diariamente pela planta. Após 130
dias, foram feitas três inoculações com pupas de bichomineiro a cada oito dias, na proporção de uma por vaso.
Durante 170 dias foram avaliados altura da planta,
diâmetro do caule, número de ramos plagiotrópicos e
área foliar. Observou-se maior infestação do bichomineiro nas plantas submetidas a maiores déficits
hídricos, que apresentaram, também, menores altura de
planta, ramos plagiotrópicos e área foliar.
TERMOS PARA INDEXAÇÃO: Cafeeiro, déficit hídrico, bicho-mineiro, Coffea, Leucoptera.
EVALUATION OF LEAF MINNER INFESTATION AND COFFEE
CULTURE GROWTH SUBMITTED TO DIFFERENT LEVELS OF
WATER DEFICIT
ABSTRACT - The effect of different levels of water
deficit over leaf minner [Leucoptera coffellum (GuérinMénevile & Perrottet, 1842)] infestation and coffee
culture growth (Coffea arabic L., cultivar Mundo
Novo), in the initial phase of culture formation, were
evaluated appraised through an experiment conducted
in a green house. The treatments were based on water
reposition directly to the soil corresponding to 100, 85,
70, 55 and 40% water consumed daily by the plant.
After 130 days, three inoculations were made with leaf
minner pupas at eight days intervals, in the proportion of
one per vase. During 170 days plant height, trunk
diameter, brench sides and leaf area were evaluated. It was
observed higher minner infestation on plants submitted to
higher water deficits, which also presented, reduced
plants height, brench sides end leaf area.
INDEX TERMS: Coffee culture, water deficit, leaf minner, Coffea.
INTRODUÇÃO
A cultura do cafeeiro (Coffea arabica L.), em
muitas
regiões
do
Pais,
tem
apresentado
desuniformidade de rendimento, em virtude,
principalmente das irregularidades e/ou insuficiência
de precipitações pluviométricas. A técnica da irrigação,
se utilizada de forma adequada, poderia em muito
contribuir para a elevação dos rendimentos dessa
cultura (Camargo, 1989).
Segundo Bernardo (1995), o uso da irrigação, a
quantidade de água a aplicar e quando aplicar inseremse em uma decisão a ser tomada com base no
conhecimento das relações água-solo-planta-atmosfera.
É importante considerar que uma cultura,
quando irrigada, apresenta um microclima diferenciado
em relação ao cultivo em regime de sequeiro. Isso
resulta em características intrínsecas da cultura
com
1. Estudante de graduação em Engenharia Agrícola – UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS(UFLA) – Caixa
Postal 37 – 37.200-000 – Lavras - MG – Bolsista CNPq
2. Professor Adjunto, Departamento de Engenharia/ UFLA
3. Professor Adjunto Departamento de Entomologia/UFLA
372
relação aos aspectos fitotécnicos, fisiológicos e
fitossanitários, incluindo, nesse último, aqueles
relacionados ao ataque de pragas. Dessa forma, para
toda cultura irrigada devem ser feitos estudos,
relacionando, se possível, níveis de água aplicada e
variações apresentadas com relação aos aspectos de
doenças e pragas.
O bicho-mineiro, Leucoptera coffeellum
(Guérin-Méneville & Perrottet, 1842) (Lepidoptera:
Lyonetiidae) causa desfolha nas plantas, afetando a
produtividade, o rendimento do cafeeiro e a
longevidade das plantas. Os sintomas são mais visíveis
na parte superior da planta, ocorrendo grande
desfolhamento quando a infestação é grande. A
desfolha acentuada próxima ao período de floração é
muito prejudicial à produção em razão do baixo
vingamento de frutos e baixo rendimento (frutos
grandes com maior volume de casca). Pesquisas
conduzidas no sul de Minas Gerais demonstraram uma
redução de mais de 50% na produção em virtude de
67% de desfolha ocorrida em outubro, época de
floração do cafeeiro (Le Pelley, 1968; Reis, 1990; Reis,
Souza e Melles, 1984).
Maiores infestações do bicho-mineiro foram
observadas em condiçòes de clima seco (Reis e Souza,
1979). Assim, seca prolongada proporciona maior
número de minas e conseqüentemente abundante queda
de folhas, que pode ser um recurso fisiológico do
cafeeiro para a economia de água (Avilés, 1991). Esse
autor observou que o aumento no teor de água na folha
provocou a morte de lagartas do bicho-mineiro no
interior das minas, porém, não investigou se as causas
da mortalidade estavam relacionadas com fatores
bióticos e/ou abióticos.
Considerando a importância da relação plantaágua-inseto, com este trabalho teve-se como objetivo
avaliar os níveis de infestação do bicho-mineiro e o
crescimento de mudas de cafeeiro submetidas a
diferentes condições de umidade de água no solo.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi desenvolvido em casade-vegetação, no Departamento de Entomologia da
UFLA, utilizando-se mudas da cultivar Mundo Novo,
obtidas no viveiro de cafeeicultura da própria
Universidade Federal de Lavras. As mudas foram
transplantadas para vasos, com substrato-padrão (solo
de barranco) desinfetado com brometo de metila e
adubado de acordo com a análise de solo. Após o
transplante, foram feitas irrigações de forma a elevar a
umidade de água no solo à condição de capacidade de
campo.
O experimento iniciou-se 15 dias após o
pegamento das mudas nos vasos. Os volumes de água
de reposição, representando os tratamentos, foram
obtidos a partir de um porcentual da quantidade de
água evapotranspirada (consumida) pela testemunha
(100% de reposição).
Os tratamentos foram:
- T1 - Reposição de 100% da água evapotranspirada no
período (Testemunha).
- T2 - Reposição de 85%;
- T3 - Reposição de 70%;
- T4 - Reposição de 55%
- T5 – Reposição de 40%.
Para o controle da irrigação da testemunha,
utilizou-se a equação do balanço hídrico:
ET = I – D, em que:
ET é a evapotranspiração (volume de água
consumido), I é o volume de água aplicado e D o
volume drenado. A partir desse valor, era obtida a
quantidade de água de reposição para cada tratamento,
aplicando-se nos vasos apenas o porcentual desse
volume, relativo a cada tratamento.
As irrigações eram feitas, diariamente, com o
uso de um regador manual, medindo-se o volume de
água com uma proveta. Ao volume de reposição da
água
consumida
pela
unidade
experimental
(testemunha), eram acrescidos de 2 a 5 ml, de forma a
permitir uma percolação, para assegurar que a umidade
do solo estava em sua capacidade de campo.
A cada 20 dias eram feitas as avaliações dos
parâmetros fitotécnicos, determinando-se: altura da
planta, diâmetro do caule, número de ramos
plagiotrópicos e área foliar, sendo esta última feita de
acordo com a metodologia proposta por Gomide et al.,
1977.
Após 130 dias da instalação do experimento
foram coletados casulos contendo pupas viáveis de
bicho-mineiro, em cafezais da região, fazendo-se a
infestação artificial. Foram feitas três inoculações com
as pupas a cada oito dias, na proporção de uma por
vaso. Realizaram-se duas avaliações dos níveis de
Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p. 371-374, mar./abr., 2001
373
infestação, sendo a segunda 21 dias após a primeira,
contando-se o número de minas por planta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
80
80
Queda de crescimento (%)
Na Figura 1 são apresentados os resultados da
queda de crescimento dos parâmetros fitotécnicos
(altura das planta, diâmetro do caule, número de ramos
plagiotrópicos e área foliar) em comparação às plantas
com reposição integral de água.
60
DIÂMETRO DO CAULE
60
ALTURA DAS PLANTAS
40
40
Y = 1,39 + 1,286.X
20
Y = 103,06 - 1,21.X
20
r2 = 0,9919
r2 = 0,9889
0
0
0
15
30
Déficit hídrico (%)
45
0
60
15
30
Déficit hídrico (%)
45
60
90
80
75
NÚMERO DE RAMOS PLAGIOTRÓPICOS
ÁREA FOLIAR
60
60
45
40
30
ln(Y) = - 0,5177 + 0,077.X
20
R2 = 0,9643
Y = 2,17.X - 0,0109.X^2
R 2 =0,9679
15
0
0
0
15
30
Déficit hídrico (%)
45
60
0
15
30
Déficit hídrico (%)
45
60
FIGURA 1 – Parâmetros fitotécnicos avaliados em mudas de cafeeiro Mundo Novo, em casa-de-vegetação,
sumetidas a diferentes condições de umidade. Lavras, MG, 1998.
A altura das plantas e o diâmetro do caule
apresentaram decréscimo linear à medida que se
acentuava o déficit hídrico. Durante o período estudado,
a queda do crescimento foi próxima de 80%, com um
déficit acumulado de 60%, em comparação às plantas
com reposição integral de água (testemunha). A queda
do número de ramos plagiotrópicos foi pequena para
um déficit próximo de 30%. Plantas cultivadas sob
déficits
hídricos
maiores
apresentaram
o
desenvolvimento de menor número de ramos
plagiotrópicos, chegando essa diminuição a 70%
quando comparada às plantas com reposição integral da
água consumida. Em relação à redução da área foliar
em função do déficit hídrico, obteve-se uma equação de
segundo grau, podendo-se demonstrar que a redução de
60% no teor de água provocou uma queda de 90%
nesse parâmetro.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p. 371-374, mar./abr., 2001
374
Na Tabela 1 estão apresentados o número em comparação aos demais tratamentos de reposição de
médio total e as porcentagens de folhas minadas nas água.
duas épocas avaliadas, para diferentes níveis de
Na segunda avaliação, observou-se um aumento
déficit hídrico.
no porcentual de folhas minadas em relação à primeira
Verificou-se (Tabela 1), na primeira avaliação, avaliação, para um mesmo tratamento de déficit
que as plantas submetidas ao maior déficit hídrico hídrico. Porém, manteve-se a tendência de ocorrência
(40% de reposição) foram mais atacadas pelo bicho- de maiores infestações do bicho-mineiro à medida que
mineiro, sendo a infestação significativamente maior se aumentava o déficit hídrico
TABELA 1 - Número médio total e porcentagem de folhas minadas em mudas de cafeeiro Mundo Novo
submetidas a diferentes condições de umidade. Lavras, MG, 1998
Déficit hídrico
(%)
Avaliação em 10/3/98
Número médio total de
folhas/planta
Avaliação em 31/3/98
Folhas minadas
(%)
Número total de
folhas/planta
Folhas minadas
(%)
23 c
100
74,7
7 b
87,3
85
113,0
6 b
132,9
30 bc
70
92,9
11 b
110,9
40 b
55
58,1
14 b
78,4
40 b
40
29,9
48 a
32,3
69 a
* Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Duncan, a
5% de probabilidade.
CONCLUSÕES
Considerando os resultados obtidos, pode-se
concluir que:
a) As plantas cultivadas com maior déficit
hídrico apresentaram uma redução no seu crescimento;
b) As maiores infestações do bicho-mineiro
ocorreram em plantas mantidas com maior déficit
hídrico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AVILÉS, D. P. Avaliação das populações do bichomineiro do cafeeiro, Perileucoptera coffeella
(Lepidoptera: Lyonetiidae) e seus parasitóides e
predadores: metodologias de estudo e flutuação
estacional. Viçosa: UFV, 1991. 127p. (Dissertação Mestrado em Entomologia).
BERNARDO, S. Manual de irrigação. 6.ed. Viçosa:
UFV, Impr. Univ., 1995. 596p.
CAMARGO, A. P. Necessidades hídricas do cafeeiro.
In: CURSO PRÁTICO INTERNACIONAL DE
AGROMETEOROLOGIA, 3. Campinas:
IAC,
1989. 20p.
GOMIDE, M. B.; LEMOS, O. V.; TOURINO, D.;
CARVALHO, M. M. de; CARVALHO, J. G. de;
DUARTE, G. de S. Comparação entre métodos de
determinação de área foliar em cafeeiros Mundo
Novo e Catuaí. Ciência e Prática, Lavras, v.1, n.
2, p.118-123, mar. 1977.
LE PELLEY, R. H.
Pests of coffee. London:
Longmans, 1968. 590p.
REIS, P. R. Manejo integrado das pragas do cafeeiro
em Minas Gerais. In: FERNANDES, O. A. et al.
(eds). Manejo integrado de pragas e nematóides.
Jaboticabal: FUNEP, 1990. p.39-57.
REIS, P. R.; SOUZA, J. C. Resistência do bichomineiro-do-cafeeiro,
Perileucoptera
coffeella
(Lepidoptera: Lyonetiidae) a baixas temperaturas.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p. 371-374, mar./abr., 2001
375
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS
CAFEEIRAS, 7., 1979,
Rio de Janeiro, RJ.
Resumos... Rio de Janeiro: IBC, 1979. v.1, p. 208209.
REIS, P. R. ; SOUZA, J.C.; MELLES, C. C. A. Pragas
do cafeeiro. Informe Agropecuário, Belo
Horizonte: v.10, n.109, p.26-33, jan. 1984.
Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p. 371-374, mar./abr., 2001