18-11-2015 Empresários querem solução rápida de governo Política A maioria deseja estabilidade, independentemente da cor política, e não arrisca fazer cenários quanto a eleições antecipadas. Mónica Silvares [email protected] Preocupação. É a palavra que perpassa o discurso de todos os empresários ouvidos pelo Económico. Se alguns admitem que a incerteza política os faz adiar investimentos, outros garantem que o problema está nas medidas que podem pôr em causa a competitividade da economia – como o aumento do salário mínimo ou o incentivo ao consumo com o consequente desequilíbrio da balança externa. A indefinição quanto à futura solução governativa é um problema para todos. A maioria o que deseja é estabilidade, independentemente da cor política, e não se arrisca a fazer cenários quanto à possibilidade de Portugal ter eleições antecipadas. “Estou algo apreensivo com a indefinição política”, diz António Portela. O CEO da farmacêutica Bial considera que a situação “já está a demorar algum tempo” e que “é necessário clarificá-la”. “O país é demasiado pequeno para não termos Governo”, defende, por seu turno, o presidente da Martifer, Carlos Martins. “A não clarificação não é favorável”, defende Jorge Armindo. O presidente da Amorim Turismo, cujo grupo não está a rever ou suspender decisões de investimento por causa da instabilidade política, frisa que o país já deveria estar a tratar do Orçamento do Estado e que “não vale a pena o Presidente da República demorar a tomar uma decisão que já está na sua cabeça”. “Quanto mais cedo o Sr. Presidente da República decidir, mais contribuirá para uma normalização da situação económico-financeira do país”, acrescenta. “Esta indefinição é o pior possível”, corrobora o CEO da Gelpeixe que não hesita em reconhecer que vai suspender investi- mentos. Manuel Tarré considera que “independentemente da cor política – ou de se é um Governo do PS ou de gestão – é preferível haver uma decisão, qualquer que seja, a não haver nenhuma decisão”. “Temos de saber com aquilo que contamos”, frisa. O desconhecimento das políticas que o novo Executivo vai adoptar é o motivo pelo qual muitos admitem rever investimentos. A possibilidade de um Governo à esquerda – incontornável para alguns: “A não ser que haja alguma coisa de surpreendente que o Presidente não terá outra alternativa que não seja a de dar posse a António Costa”, diz Esmeralda Dourado, administradora executiva de várias empresas – e as medidas já ventiladas deixam muitos empresários desconfortáveis. “Se os partidos levam à prática o que foram dizendo nos últimos tempos isso é obviamente perturbador”, afirma o presidente da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva. “O reforço da fiscalidade sobre as empresas, em particular de alguns sectores, a suspensão de algumas medidas laborais que foram tomadas (maior rigidez na legislação laboral) ou um aumento, de forma administrativa, do salário mínimo, poderá implicar uma degradação das contas públicas e isso vai ter efeitos negativos sobre a actividade empresarial”, sublinha o responsável. “Há motivos fortes para temermos uma travagem no processo de consolidação orçamental e até do crescimento económico”, diz também João Rafael Koehler. “É provável que o PS não tenha capacidade política para tomar medidas de ajustamento económico, consiVeja as declarações na íntegra dos 22 empresários contactados em www.economico.pt derando o populismo e irrealismo dos partidos que sustentarão no Parlamento”, acrescenta o presidente da ANJE. A interrupção da descida do IRC, uma medida acordada entre o Executivo de Passos Coelho e o PS, ainda liderado por António José Seguro, é apontada como outro dos grandes problemas, a par da revisão antecipada do Código de Trabalho. “Existem duas medidas anunciadas que poderão causar problemas de competitividade ao nosso sector: o aumento do salário mínimo e da reposição, ou nova criação, de feriados”, diz Jorge Rosa, o presidente da Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) e director geral da fábrica da Mitsubishi. Já a aposta no aumento do consumo só é elogiada se resultar de um aumento da produção. “O aumento do consumo deve ser feito cautelosamente, pois se for à custa do aumento de importações estaremos a desequilibrar a balança comercial externa o que nos trará dificuldades”, alerta o presidente da Novabase, Luís Paulo Salvado. “A política não deve ser como o futebol, onde a emoção impera sobre a razão e onde a cor da camisola é mais importante do que o jogo”, ironiza Gonçalo Rebelo de Almeida. O administrador do grupo Vila Galé, que falou a título pessoal, resume que a política deve ser “uma arte de propor e encontrar soluções e compromissos e não apenas de constante crítica destrutiva”. E para os empresários não é certo que a solução para o país passe por eleições antecipadas. Dos 22 inquiridos seis defendem que o PS não cumpra uma legislatura de quatro anos, seis sugerem exactamente o contrário e os restantes não arriscam prognósticos antes do jogo. ■ A.F.S., D.L., C.M., E.F., S.S.P., S.P.M INDEFINIÇÃO E INSTABILIDADE PREOCUPAM Mário Vaz Luís Paulo Salvado CEO da Vodafone “A estabilidade não tem valor por si só, mas apenas no sentido em que uma certa previsibilidade suporta o desenvolvimento da economia e do país, no longo prazo.” Presidente da Novabase “Aumentar o consumo deve ser feito cautelosamente pois se for à custa do aumento de importações estaremos a desequilibrar a balança comercial externa.” Carlos Barbot Ana Paula Rafael CEO da Tintas Barbot “Vamos todos andar muito felizes com um ano de aumento de consumo. O pior é perceber quem é que vai pagar a factura. E qual é a factura?” Presidente executiva da Dielmar “Medidas para avulsas para aumentar o consumo, apenas contribuirão para criar mais chagas no tecido empresarial, fazendo desaparecer ainda mais empresas.” Castelão Costa Francisco Calheiros Administrador Pousadas de Portugal “A instabilidade política gera tipicamente incertezas, o que naturalmente não é criadora de cenários de investimento, muito pelo contrário.” Presidente da CTP “Não receamos represálias dos credores internacionais. Tememos que a continuação desta instabilidade possa prejudicar o investimento, o consumo, a confiança.” António Portela Carlos Martins CEO da Bial “Os portugueses têm de produzir mais, e é esse aumento de produtividade que tem de levar a um aumento de consumo. Não se pode puxar pela economia apenas pelo consumo.” Presidente da Martifer “Não vejo um eventual aumento do salário mínimo como um constrangimento, ou uma dificuldade, até porque poderá implicar um ligeiro aumento do consumo.” 18-11-2015 EDGAR SILVA ACUSA CAVACO O candidato do PCP a Belém, Edgar Silva, acusou Cavaco Silva de se ter tornado num “foco de intensa instabilidade” política para o país. “Ao que tudo indica, temos um Presidente da República que, mais do que estar empenhado na defesa intransigente do interesse nacional, mais parece estar empenhado em servir interesses estranhos e estrangeiros ao país”, declarou o candidato comunista. OS EMPRESÁRIOS PORTUGUESES Jorge Rosa Gonçalo Rebelo de Almeida Manuel Soares de Oliveira José Soares Presidente da ACAP “A instabilidade política é inimiga da economia e cria, consequentemente, uma grande indefinição nas estratégias das empresas.” Administrador do grupo Vila Galé “A preocupação advém mais da crispação sentida a nível político que pode causar alguma instabilidade social provocada por posições extremadas.” Director-geral Mosca Publicidade “Estão em ‘stand by’ algumas decisões, sobretudo relacionadas com contratações. É indiferente se vamos ter um Governo de esquerda ou direita.” Director-geral da Sika Portugal “O modelo assente na procura, nos mercados externos e fomento ao investimento nas empresas, assim como o aumento da sua produtividade terá resultados mais eficazes.” João Rafael Koehler Fortunato Frederico Presidente da ANJE “Um governo minoritário do PS não vai certamente concluir a legislatura, mas não estou certo de que caia já daqui a um ano. A não ser que a conjuntura se degrade.” Presidente do grupo Kyaia “Não estou preocupado com medidas sejam de que governo for. Sou empresário há 40 anos e não condiciono o meu caminho pelos governos.” Bernardo Trindade Manuel Tarré Administrador Porto Bay “Anseio por estabilidade política e fiscal fundamental para poder decidir com tranquilidade mais investimento, e por consequência mais riqueza e emprego.” CEO da Gelpeixe “Estou muito preocupado com a situação política, que está a interferir e a colocar em causa o desenvolvimento da economia. Esta indefinição é o pior possível.” Carlos Ribas Representante da Bosch em Portugal “Estou seguro que alguns investidores estão a aguardar por uma altura mais estável para tomar as suas decisões para investir no nosso país. O importante é oferecer credibilidade nas políticas fiscais e estabilidade nas leis laborais.” Nuno Ribeiro da Silva Esmeralda Dourado Jorge Armindo David Leal Presidente da Endesa Portugal “Há um conjunto de posições e de declarações no programa, sobretudo do BE e PCP, que não são propriamente grandes cartões de visita para as empresas.” Administradora de várias empresas “Já pertenço ao grupo de S. Tomé, só ver para crer, mas obviamente que tudo o que são grandes decisões de investimento estão paradas.” Presidente da Amorim Turismo “Nas empresas é melhor uma má decisão do que não decidir. A nossa democracia está preparada para corrigir o que for preciso.“ Chief Operating Officer da Leilosoc “As primeiras medidas de António Costa terão, obrigatoriamente, de transmitir sinais positivos para a Europa, mercados, empresas e investidores.” 18-11-2015 Destaque Incerteza política Cavaco Silva recebe banqueiros convencido de que há “almofada” Audições Presidente da República recebe presidentes dos principais bancos. Amanhã será a vez dos economistas. [email protected] Os banqueiros vão hoje a Belém falar com o Presidente da República. São sete audiências separadas com os principais bancos, a que se deve seguir amanhã a audição do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, e de alguns economistas. A última vez que Cavaco Silva chamou os banqueiros a Belém foi a 6 de Abril de 2011 e nesse mesmo dia José Sócrates anunciou ao país que ia pedir um resgate à ‘troika’ e que se demitia do cargo de primeiro-ministro. Hoje, o cenário é totalmente diferente, garantiu ontem o próprio Presidente. Lembrando que as condições são “muito mais favoráveis” e que o país dispõe de “uma almofada financeira de dimensão substancial”. “Felizmente esta crise política ocorre em situações que são muito mais favoráveis do que aquelas que se verificavam na última que tinha ocorrido, que foi em 2011”, afirmou o Chefe de Estado, numa intervenção na sessão de encerramento da 7.ª jornada do Roteiro para a Economia, que decorreu na Madeira. Falando no acesso mais fácil aos mercados que existe hoje, no crescimento da economia, na diminuição do desemprego e “na almofada financeira de dimensão substanAGENDA 09:00 – CEO do Millennium BCP 10:00 – Presidente do Conselho de Administração do Novo Banco 11:00 – CEO do Banco BPI 12:00 – CEO do Santander Totta 15:00 – CEO da CGD 16:00 – CEO da Caixa Económica Montepio Geral 17:00 – Presidente da Associação Portuguesa de Bancos cial” que o Tesouro português tem agora, Cavaco Silva recordou a situação “exígua e assustadora do tesouro em 2011: “Eu nem quero vos dizer qual era o montante que Tesouro português tinha em cofre em 2011”. Será com a expectativa de validar esta informação e ter a certeza de que o sistema financeiro não está, neste momento, numa situação limite como em 2011, que Cavaco vai ouvir hoje os presidentes dos principais bancos nacionais. Antes dele, António Costa e Mário Centeno almoçaram já esta semana com as mesmas personalidades, mas ao que o Económico apurou o líder do PS está “preocupado” com a situação do sistema financeiro. O Presidente da República pareceu, no entanto, estar bastante optimista. “Talvez se possam recordar que em 2011 todos os mercados estavam fechados para a República, para os bancos e para as empresas. Felizmente hoje Portugal tem acesso fácil a todos os mercados financeiros internacionais, hoje Portugal é um país respeitado junto de investidores internacionais, um país cumpridor, um país onde existem boas oportunidades de investimento”, insistiu ontem na Madeira. Por enquanto, a Belém já foram patrões e sindicatos e, segundo apurou o Económico, os partidos com assento parlamentar só devem ser chamados na próxima semana. Confrontado com a urgência da situação do país, o Presidente já lembrou que ele próprio ficou “cinco meses em gestão”, indiciando que não tem pressa. Para amanhã está previsto, segundo avançava ontem a TSF, a ida a Belém de Carlos Costa e ainda de alguns economistas. Para já, entre os académicos ainda não parece ter existido convites. O Económico tentou perceber junto dos economistas que Cavaco ouviu em 2013, aquando da crise política provocada pela demissão de Vítor Gaspar e Paulo Portas, qual esperam que seja a decisão do Presidente sobre a situação de instabilidade que o país vive. José Reis, da Universidade de Coimbra, garante que ainda não foi convocado para Paula Nunes Márcia Galrão O Presidente da República encerrou ontem a 7.ª jornada do Roteiro para a Economia, que decorreu na Madeira. qualquer audiência, mas no seu entender é “óbvio” o que Cavaco deve fazer já que “a situação política e democrática indicou com toda a clareza um governo com apoio maioritário na AR. É o que conta”, frisa. Além disso, o economista aconselhava o Chefe de Estado a, “nem por um momento ferir a sua condição de Presidente da República”. “Segundo a sua velha fórmula de um Presidente para todos os portugueses não deve correr o risco de lançar a sociedade num clima de crispação e incerteza”, acrescentou. O Chefe de Estado está a recolher o máximo de informação antes de decidir o que fazer na sequência da moção de rejeição do PS ao Programa do XX Governo e o anúncio de que António Costa tem uma solução alternativa apoiada por PCP, BE e Verdes. ■ com M.S. e Lusa CONSTITUCIONALISTAS Miranda diz que cenário de 87 não se aplica Jorge Miranda reitera que “não é possível manter este Governo em gestão” e sublinha que há “uma diferença muito importante” em relação a 1987, quando Cavaco Silva esteve como primeiro-ministro cinco meses em gestão. É que nessa altura “deu-se a dissolução e foram convocadas novas eleições”, agora “houve eleições e não pode haver dissolução”. Sobre a proposta de Passos Coelho para se fazer uma revisão Constitucional, o pai da Lei Fundamental considera que “há toda a necessidade de uma Assembleia da República acabada de eleger exercer as suas funções pelo menos durante seis meses”. “É uma questão de estabilidade. Se o povo português expressou a sua vontade num certo momento, é de supor que o povo português dois meses ou três meses depois não irá mudar de orientação”, defendeu. Sobre o cenário de um governo de iniciativa presidencial, o constitucionalista - que falou à margem de uma conferência “Portugal e a Defesa Nacional” – considerou que pode ser viável, “embora tenha de ser submetido à Assembleia da República como aconteceu com os três governos de iniciativa presidencial no tempo do Presidente Ramalho Eanes”. 18-11-2015 Empresários querem um governo rápido Preocupação é palavra mais ouvida aos 22 empresários inquiridos pelo Económico sobre a crise política. Maioria deseja estabilidade e não arrisca traçar cenários em relação a eleições antecipadas. ➥ P4 A 6