132 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 1 2 planta do pav. térreo esc. 1:250 áreas comuns 1 - rampas de acesso ao desembarque de veículos 2 - escadas de acesso de pedestres 3 - rampas de acesso ao subsolo 4 - halls de acesso ao edifício 5 - halls sociais 6 - halls de serviço 1 2 13 - sala de jantar 14 - sala de estar 15 - dorm. de solteiro 16 - dorm. de casal 17 - banhos 18 - copa 19 - cozinha 20 - serviço 21 - dorm. empregada 22 - banho empregada 7 - sala de estar/guarita 8 - dorm. casal 9 - dorm. solteiro 10 - cozinha 11 - banheiro 12 - quintal descoberto apto. 2 dorm. - 165 m² apto. zelador - 80 m² Edson Lucchini Jr. Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 planta do subsolo esc. 1:250 1 - rampas de acesso ao térreo 2 - caixas d’água 3 - depósitos 4 - lixeiras Croqui de Adolf Franz Heep - distribuição de vagas Fonte: Acervo do edifício Lausanne Cedido por Fernando Martinelli 133 Edson Lucchini Jr. 134 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr. Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 1 1 planta do pav. tipo - 1º ao 13º pav. 1 esc. 1:250 apto. 3 dorm. - 175 m² 1 - hall social 2 - hall de serviço 3 - sala de estar 1 4 - sala de jantar 5 - sala de estar 2 6 - dorms. de solteiro 7 - dorm. de casal 8 - banhos 9 - copa 10 - cozinha 11 - área de serviço 12 - dorm. empregada 13 - banho empregada 14 - terraço Perspectivas axonométricas dos apartamentos 1º ao 13º pavimento Fonte: Acervo do edifício Lausanne Cedido por Fernando Martinelli 135 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr. Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 1 1 planta do 14º pavimento esc. 1:250 1 apto. 2 dorm. - 152 m² 1 - hall social 2 - hall de serviço 3 - sala de estar 4 - sala de jantar 5 - dorm. de solteiro 6 - dorm. de casal 7 - banhos 8 - copa 9 - cozinha 10 - área de serviço 11 - dorm. empregada 12 - banho empregada. 13 - terraço 136 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr. Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 1 3 2 planta do 15º pavimento esc. 1:250 1 apto. 3 dorm. - 263 m² 1 - hall social 2 - hall de serviço 3 - hall de entrada 4 - estar/lareira 5 - sala de jantar 6 - dorm. solteiro 7 - suíte casal 8 - closet 9 - banho casal 10 - suíte solteiro 11 - banho solteiro 12 - copa 13 - cozinha 14 - despensa 15 - serviço 16 - dorm. empr. 17 - banho empr. 18 - terraço 2 apto. 2 dorm. - 133 m² 1 - hall social 2 - hall de serviço 3 - hall de entrada 4 - sala de jantar 5 - sala de estar 6 - dorm. solteiro 7 - suíte casal 8 - banho casal 9 - banho social 10 - cozinha 11 - serviço 12 - dorm. empr. 13 - banho empr. 14 - terraço 3 apto. 2 dorm. - 133 m² 1 - hall social 2 - hall de serviço 3 - sala de estar 4 - sala de jantar 5 - dorm. solteiro 6 - dorm. casal 7 - banho 8 - cozinha 9 - serviço 10 - dorm. empr. 11 - banho empr. 12 - terraço Perspectiva axonométrica do apartamento de 263 m² do 15º pavimento Fonte: Acervo do edifício Lausanne Cedido por Fernando Martinelli Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 137 Edson Lucchini Jr. corte AA Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 138 Edson Lucchini Jr. fachada av. higienópolis Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 fachada lateral esquerda 139 Edson Lucchini Jr. fachada lateral direita Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 140 Edson Lucchini Jr. fachada posterior Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 detalhe de fachada - térreo Pilotis enquadram um pano de cobogós octogonais que fazem o fechamento dos apartamentos térreos. detalhe de fachada - corpo principal Venezianas coloridas que dominam a fachada desprovida de fechamentos em alvenaria. Aleatoriedade na distribuição de cores trazem dinamismo. detalhe de fachada - coroamento Uma laje perfurada por dômus trapezoidais caracterizam o coroamento do edifício e minimizam a percepção do escalonamento obrigatório do 15º andar. 141 Edson Lucchini Jr. 142 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr. Foto: Edson Lucchini Jr. Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 6.6 Edifício Ouro Preto 1954-57 endereço e localização Av. São Luiz 97 - Centro a ng ra pi .i av iz lu av. são pça. dom josé gaspar construção Otto Meinberg S.A terreno Trapezoidal - 560 m² unidades 1º ao 11º pav.: 2 ap. de 197 m² 12º ao 19º pav.: 2 ap. de 145 m² Total - 36 unidades publicações Acrópole 240, 1958, p. 554-555-570 c o e f. d e a p ro ve i ta m e nto 14.7 taxa de ocupação 95 % conservação Razoável fotos da publicação na revista acrópole nº 240 - 1958 descaracterização Média 143 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Edson Lucchini Jr. A Avenida São Luiz A atual avenida São Luiz teve o seu primeiro registro em planta no ano de 1810; com o nome de Beco Comprido, ela cortava as terras do Coronel Luiz Antônio de Souza. Com o falecimento do Coronel, as terras foram divididas em lotes, que em 1920 já somavam 16 unidades; em 1930 já havia 17 palacetes construídos, isolados em seus lotes. Em 1940, as obras do Plano de Avenidas de Prestes Maia chegaram à São Luiz, que teve sua calha alargada de 13,00m para 33,00m, transformando a via, até então de caráter local, numa avenida de maior influência na região central da cidade. Com isso, iniciava-se o processo de verticalização da São Luiz, especialmente voltado para moradias destinadas às classes mais abastadas. (LEFÈVRE, 2006) Av. São Luiz em 1956 Fonte: http://www.abril.com.br/especial450/materias/lorca/imagens/025.jpg acesso em maio de 2010 A São Luiz tornou-se palco da produção de diversos exemplares relevantes da arquitetura moderna paulistana, como os edifícios Itália42 e o do Jornal O Estado de São Paulo43, ambos de Adolf Franz Heep; os Edifícios Louvre e Viadutos de Artacho Jurado; a Galeria Metrópole de Giancarlo Gasperini e Salvador Cândia, além de outros edifícios proto-modernos como a Biblioteca Municipal Mário de Andrade de Jacques Pilon, com quem Franz Heep trabalhou quando chegou ao Brasil em 1947. A partir da década de 1970 a São Luiz começa a perder o seu caráter residencial de alto padrão; surgem os escritórios, em inúmeras salas comerciais, que resultaram num inchaço do centro, com excesso de trânsito para poucas vagas de estacionamento. Isto, entre outros fatores, trouxe a desvalorização imobiliária. Apesar disto, a São Luiz preserva até hoje as suas características de generosidade de espaços públicos associada à boa arquitetura; passeios largos e muita arborização ainda estão presentes nesta avenida, que é de importante valor simbólico para a cidade de São Paulo. (LEFÈVRE, 2006) Edifício Itália - Adolf Franz Heep - 1956 Foto: Edson Lucchini Jr. (42) - Maiores informações sobre o edificio Itália estão na página 19 (43) - Maiores informações sobre o edificio O Estado de São Paulo estão na página 17 144 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Edson Lucchini Jr. Av. São Luiz vista do terraço do Ed. Louvre de João Artacho Jurado - 1953 Foto: Edson Lucchini Jr. Ed. Viadutos - João Artacho Jurado - 1951 Foto: Edson Lucchini Jr. Ed. do jornal O Estado de São Paulo - Adolf Franz Heep - 1948 Foto: Edson Lucchini Jr. Cobertura do Ed. Viadutos - João Artacho Jurado - 1951 Foto: Edson Lucchini Jr. Av. São Luiz vista da cobertura do Ed. Viadutos (João Artacho Jurado - 1951) Foto: Edson Lucchini Jr. 145 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Edson Lucchini Jr. O edifício Ouro Preto, cujos projetos datam de 1954 e sua entrega em 1957, foi produzido pela parceria entre Franz Heep e Otto Meinberg; assim como o Ouro Verde, estudado anteriormente, este edifício, situado num tradicional reduto da burguesia paulistana, alia “técnica, materiais duráveis e um detalhamento primoroso” (BARBOSA, 2002, p.97) da mesma forma que os edifícios produzidos por Heep e Jean Ginsberg em Paris nos anos 1930. Terreno, implantação, volumetria e entorno O terreno onde situa-se o Ouro Preto possui a topografia plana e uma geometria trapezoidal; a face principal, voltada para a avenida São Luiz, e a dos fundos, voltada para a rua Basílio da Gama, são os lados menores e não paralelos do trapézio, medindo 15,30m e 15,45m respectivamente. As faces maiores e paralelas do terreno, que são lindeiras ao lotes vizinhos, medem 35,90m e 37,30m, totalizando aproximadamente 560 m² de área. r. basílio da gama av. são luiz circ. vertical volume principal pça. D. José Gaspar av. são luiz av. ipiranga pça. da república O edifício conta com térreo mais 19 pavimentos, sendo que do 1º ao 11º a relação proporcional do volume é de 44,00m de altura por 15,30m de largura e 31,50m de profundidade no corpo elevado. Do 12º pavimento ao 19º, a necessidade de recuos laterais de 2,50m definiu um volume superior cuja largura passa a ser de 10,30m por 27,75m de altura e a mesma profundidade do volume inferior. Desta forma, verticalmente, indentifica-se na volumetria do Ouro Preto uma bipartição; horizontalmente, pode-se dizer que há uma tripartição, onde os dois blocos maiores, que faceiam os alinhamentos da avenida São Luiz e dua rua Basílio da Gama, correspondem aos apartamentos, sendo unidos entre sí por um terceiro bloco menor, correspondente à circulação vertical. À partir do 13º andar, a face do volume voltada para a rua Basílio da Gama sofre um escalonamento imposto pela legislação da época, já que a via em questão possui uma menor largura que a avenida São Luiz. O gabarito do edifício condiz com o dos vizinhos, que possuem assim como o Ouro Preto, um volume superior recuado das laterais; porém, a alguns metros do Ouro Preto, junto à praça Dom José Gaspar, encontra-se o edifício da Galeria Metrópole, que, por estar recuado do alinhamento, pôde atingir um gabarito mais elevado. 146 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Edson Lucchini Jr. loja loja 98 m² 101 m² loja loja 82 m² 137 m² Esquema de distribuição do pavimento térreo circulação horizontal circulação vertical lojas r. basílio da gama av. são luiz Térreo e subsolo O térreo do edifício, que ocupa a totalidade do lote, conta com quatro lojas, sendo duas voltadas para a avenida São Luiz e duas para a rua Basílio da Gama. O subsolo, assim como o térreo, também ocupa todo o terreno, porém ele se destina apenas a estoque das lojas e é acessado por escadas independentes. O acesso social localiza-se na porção direita do terreno, para quem da avenida São Luiz olha o edifício de frente, e possui junto ao alinhamento, 4,70m de largura, conformando um hall de entrada que vai gradualmente se estreitando no sentido do centro do terreno, através de uma parede curva que cria um corredor de 2,70m de largura e conduz ao nicho de circulação vertical. O acesso de serviço se dá pela rua Basílio da Gama, onde se inicia um corredor de 18,00m de comprimento por 1,40m de largura que, longo e desprovido de iluminação natural, também conduz aos elevadores e escadas. Apesar do terreno possuir duas frentes, uma para a avenida São Luiz e outra para a rua Basílio da Gama, o térreo não foi contemplado com uma conexão urbana entre essas duas vias, através de uma possível galeria comercial, um elemento paradigmático no centro da cidade de São Paulo nos anos 1950, resultando num empobrecimento da relação do edifício com a cidade, em seu ponto nevrálgico. Circulação Vertical A circulação vertical do edifício Ouro Preto é feita em um volume independente, situado na porção central do terreno, que divide o corpo elevado da torre em dois blocos e conforma dois poços de iluminação e ventilação naturais entre eles. É composta por três elevadores, sendo dois sociais e um de serviço, além de uma escada em forma de ferradura, sem patamar intermediário. Os dois elevadores sociais, dispostos lado-a-lado, são acessados por um hall exclusivo e separado do nicho de serviço, que contém o terceiro elevador e a escada. 147 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Edson Lucchini Jr. 197 m² 197 m² Esquema de distribuição do pavimento tipo, do 1º ao 13º andar circulação horizontal circulação vertical unidades Planta das unidades de 197m², do 1º ao 11º andar r. basílio da gama av. são luiz Pavimento tipo e unidades A conformação volumétrica bipartida verticalmente do Ouro Preto, onde, do 1º ao 11º pavimento o bloco principal está encostado nas divisas laterais e, do 12º ao 19º ele está recuado 2,50m em ambos os lados, refletese diretamente nas plantas das unidades. Desta maneira, o volume inferior conta com unidades de 197m², e o superior, com unidades menores, de 145m². Em ambos os volumes, os pavimentos contam com duas unidades cada, espelhadas entre sí; uma voltada para a avenida São Luiz com orientação oeste, e a outra voltada para a rua Basílio da Gama com orientação leste, separadas pelo corpo de circulação vertical e pelos 2 poços de iluminação e ventilação naturais. As unidades de 197m² contam com hall de entrada, salas de estar e jantar, terraço, 3 dormitórios, 2 banheiros, copa/cozinha e área de serviço com domitório e banheiro de empregada. O hall de entrada social, de 2,15m de comprimento por 2,60m de largura, possui uma abertura voltada para o poço menor de iluminação e ventilação naturais do edifício. As salas de jantar e estar compartilham o mesmo espaço retangular de 9,20m de comprimento por 4,50m de largura. A ausência de compartimentação deste espaço, garante uma boa amplitude visual e diversas possibilidades de distribuição do mobiliário. Isto também propicia uma melhor iluminação e ventilação das salas, feitas por duas aberturas voltadas para a fachada do edifício, através uma porta de vidro que separa a sala do terraço e uma veneziana fixa de ventilação permanente do tipo piso-teto; ambas são alinhadas com outra abertura do lado oposto, voltada para o poço central do edifício, que permite a ventilação cruzada. A parede que separa a sala de jantar da cozinha possui, em seu último terço, no sentido do centro do terreno para o alinhamento, um chanfro que induz e diminui o percurso de quem adentra o apartamento, em direção ao corredor íntimo. Além disso, o chanfro suaviza o encontro do corredor com as áreas sociais e contribui para uma melhor iluminação deste, já que permite a captura de mais luz proveniente das salas. O uso do chanfro como elemento encurtador e indutor de percursos, aparece nesta obra na escala da domesticidade, dentro de uma unidade residencial. Na análise do todo da obra de Adolf Franz Heep, este conceito se repete muitas vezes, mas na escala da Adolf Franz Heep: edifícios residenciais 148 Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Edson Lucchini Jr. cidade, em obras que demandaram uma inserção urbana mais rica, onde o chanfro, além de encurtar percursos de pedestres, valoriza esquinas. Ed. Ouro Preto atualmente Foto: Edson Lucchini Jr. O terraço, de 2,50m de comprimento por 3,30m de largura, é acessado somente pela sala de estar, sendo separado desta por uma porta de correr em vidro, que possibilita uma continuidade entre os dois espaços. Além disso, pode-se dizer que o terraço exerce uma contribuição ao conforto térmico do apartamento; ele evita que o caixilho envidraçado que separa o terraço da sala fique diretamente exposto à insolação excessiva da face oeste, no bloco voltado para a São Luiz, e a leste, no bloco voltado para a Basílio da Gama. Esses fatores contribuem, junto com a ventilação cruzada, para a manutenção de uma temperatura mais amena nas salas de estar e jantar. Além disso, o terraço é um importante elemento na composição da fachada e um espaço em que se contempla a elegante a arborizada avenida São Luiz. Os três dormitórios da unidade de 197m² estão dispostos sequencialmente ao longo de um corredor íntimo. Os dois primeiros, mais próximos às salas, possuem as mesmas dimensões de 3,25m de largura por 6,50m de comprimento. O terceiro dormitório, provavelmente designado ao casal, possui a mesma largura dos demais, porém com 7,10m de comprimento. Todos possuem as suas aberturas voltadas para as fachadas principais, e consequentemente, a mesma orientação oeste, para os apartamentos voltados para a avenida São Luiz, e leste, para os apartamentos voltados para a rua Basílio da Gama. Essa solução foi alcançada graças à largura do terreno , que permitiu que principais espaços de permanência pudessem ter suas aberturas voltadas para as fachadas principais, deixando abertos para os poços centrais de iluminação e ventilação do edifício, apenas as áreas molhadas. Porém, esta solução acarretou em salas e dormitórios com uma conformação espacial cuja proporção da planta é acentuadamente retangular, onde o comprimento é sempre maior ou igual ao dobro da largura. Ed. Ouro Preto atualmente Foto: Edson Lucchini Jr. A porção íntima da planta conta ainda com dois banheiros dispostos lado-a-lado, sendo um de 7,00m², provido de espaço para banheira, e um menor, de 4,00m². O conceito de suíte, amplamente utilizado nos dias de hoje em edifícios de diversos padrões, aparece no universo das obras de Heep, apenas nos edifícios Ouro Verde e Lausanne, ambos em Higienópolis e destinados às classes mais abastadas. 149 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 A planta da cozinha é derivada de dois polígonos de tamanhos diferentes. O menor, que pode ser utilizado como copa, é praticamente trapeizoidal, com 6,15m² de área, cuja forma foi definida pelo chanfro da parede que o separa da sala de jantar. O espaço maior, praticamente quadrado, conta com 11,50m² e abriga todas as funções necessárias para uma cozinha, porém, o fato de possuir 3 passagens, sendo uma para a lavanderia, outra para o hall de serviço, e outra para a copa, prejudica a distribuição do mobiliário. A área de serviço é conformada por um corredor de 1,30m de largura por 6,50m de comprimento, onde realizam-se as funções de lavagem e secagem de roupas. Este corredor, ventilado e iluminado naturalmente por cobogós, recebe as aberturas dos banheiros social e íntimo, além de conduzir a um banheiro e a um dormitório de empregada. Assim como em outros edifícios de Heep estudados, nota-se que o arranjo espacial do apartamento concentra todas as áreas molhadas em uma única porção da planta, enfatizando a postura racionalista do arquiteto, que ao adotar esse tipo de solução, garante uma economia com elementos hidráulicos, além de facilitar a manutenção. distribuição do pavimento tipo continua idêntica, com a caixa de circulação vertical dividindo o volume em dois blocos, um voltado para a av. São Luiz e outro para a rua Basílio da Gama. Os apartamentos deste bloco superior possuem um arranjo espacial muito semelhante aos do bloco inferior, pois as funções sociais, íntimas e de serviços continuam dispostas da mesma maneira, porém com um dormitório a menos, uma sala de estar mais estreita, que conta agora com 3,20m de largura por 11,30m de comprimento; perda do hall de entrada, e transformação do banheiro social em um lavabo. Além disso, a unidade de 145m² perde a ventilação cruzada da sala de estar, que é compensada de certa forma pela presença de algumas aberturas laterais, possíveis agora graças aos recuos. Não há mais o chanfro na parede que separa a sala de jantar da cozinha, devido à menor largura desta, se comparada à cozinha dos apartamentos de 197m². As áreas de serviço também foram reduzidas, mas abrigam as mesmas funções. Os terraços das unidades do volume superior contam com 1,20m de largura por 9,70m de comprimento, possuindo agora uma conformação mais contínua, que abrange toda a largura do apartamento; são acessados não só pela sala de estar, como nos apartamentos inferiores, mas também pelos dormitórios. 145 m² r. basílio da gama av. são luiz À partir do 12º pavimento, a necessidade de recuos laterais de 2,50m de cada lado acarretou na diminuição das unidades para 145m². Apesar da redução da área, a 145 m² Esquema de distribuição do pavimento tipo, do 12º ao 19º andar circulação horizontal circulação vertical unidades Edson Lucchini Jr. Planta das unidades de 197m², do 12º ao 19º andar Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 150 Edson Lucchini Jr. 151 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Edson Lucchini Jr. Fachadas O edifício Ouro Preto possui duas fachadas que receberam tratamento arquitetônico: uma voltada para a avenida São Luiz e outra voltada para a rua Basílio da Gama; isto ocorreu pois o edifício está contido entre edificações vizinhas do térreo ao 11º pavimento. À partir do 12º, até o 19º pavimento, há recuos laterais de 2,50m em ambos os lados, criando faces com algumas aberturas, passíveis de elaboração, porém, como são raramente percebidas pelo observador localizado no térreo, essas faces laterais receberam um tratamento arquitetônico mais simples. Na fachada voltada para a avenida São Luiz, são identificados três momentos distintos, que, analogamente à uma coluna clássica, podem ser chamados de base, fuste e capitel. Deste modo, pode-se dizer que a base corresponde ao térreo, o fuste são os apartamentos do 1 º ao 12º andar, e o capitel é o volume sobrelevado. Porém, cabe afirmar que essa relação não tem a intenção de sugerir que o arquiteto possa ter feito qualquer remissão à arquitetura clássica, servindo apenas para nomear as partes, facilitando a descrição da fachada. A base, que corresponde ao térreo e possui 5,50m de altura, é composta pelas portas das três lojas, que ocupam o mesmo vão estrutural dos dormitórios dos apartamentos superiores, além da entrada social, localizada à direita de quem da avenida São Luiz vê o edifício de frente, que é protegida e marcada por um pórtico que corresponde à largura dos terraços das unidades residenciais acima. Essas correspondências citadas, são necessárias para demonstrar que há um alinhamento preciso dos elementos da base com os do fuste, que são interrompidos por um brise horizontal de 2,00m de altura, que rasga toda a largura do edifício e localiza-se logo acima das portas das lojas. Hoje, a base do edifício Ouro Preto é o elemento mais descaracterizado com relação ao projeto original, devido à retirada do brise e à colocação de granito marrom no pórtico de entrada, além da troca da porta principal por uma que destoa radicalmente das linhas do edifício. O fuste, que corresponde aos apartamentos do 1º ao 11º andar, é composto por uma grelha não-estrutural, sobressalente cerca de 20cm da fachada, cuja medida de 3,20m por 3,20m corresponde ao vão estrutural e enquadra as aberturas dos dormitórios, que são compostas por um caixilho de vidro piso-teto de 3,20m de altura por Adolf Franz Heep: edifícios residenciais 152 Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Edson Lucchini Jr. 1,60m de largura, ou seja, o caixilho possui a mesma altura da parte interna da unidade da grelha e metade da sua largura. A outra metade restante é preenchida por uma parede de alvenaria. Venezianas em aço, que correm em trilhos fixos nas partes superior e inferior da grelha, estão sempre em posições variadas, ora escondendo o caixilho, ora escondendo a parede, conferindo um aspecto de constante mutação e movimento à fachada. Os terraços, que estão à direita de quem da avenida São Luiz vê o edifício de frente, são os elementos que rompem a continuidade da grelha, apesar de possuirem a mesma largura desta e um comprimento cuja metade cria uma reentrância na sala de estar, e a outra, projeta-se além do alinhamento, provocando um jogo de cheios e vazios na fachada. Os guarda-corpos, opacos, por serem de alvenaria na parte frontal, contrapõe a transparência da porta de vidro que separa a sala do terraço. As laterais dos guarda-corpos são vazadas, protegidas por um gradil de barras horizontais. Ed. Ouro Preto atualmente Foto: Edson Lucchini Jr. “(...) numa fachada dominada por um grafismo de venezianas móveis, Heep desloca o eixo de simetria para a direita por meio de um elemento de subtração - a varanda - reforçado pela sua projeção além do limite da fachada, formando um volume intermitente que acentua a verticalidade da torre”. (BARBOSA, 2002, p.102) Adolf Franz Heep: edifícios residenciais 153 Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Edson Lucchini Jr. A porção da extremidade direita da fachada, de quem vê o edifício de frente, é definida pelo único elemento que não possui a mesma largura de 3,20m, presente na grelha e nos terraços, sendo composto por uma veneziana fixa de aço de 1,00m de largura, porém, com a mesma altura deles. O 12º pavimento é uma espécie de transição entre o fuste e o capitel; não possui, no que diz respeito à fachada, a linguagem de nenhum dos dois, tornando-se um elemento que “solta” o volume sobrelevado do inferior. O capitel, cujo volume contém os apartamentos do 13º ao 19º andar, tem como elemento marcante os terraços, que abrangem toda a parte frontal dos apartamentos. “ O volume superior (...) sofre uma inversão, pois o terraço domina a fachada, estando os caixilhos recuados e sem expressão, formando uma série de linhas que acentuam a horizontalidade deste volume anexo”. (BARBOSA, 2002, p.102) 154 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Além da análise de Barbosa, o fato dos terraços dominarem a fachada do volume sobrelevado pode ser justificada pela questão da forte insolação que esta face recebe, por ser orientada a oeste e por estar num ponto elevado, onde não há mais o sombreamento causado pelos edifícios que estão do outro lado da avenida São Luiz. Desta maneira, o uso dos terraços ocupando toda a largura da fachada, protege as aberturas das salas e quartos da exposição direta ao sol da tarde. A fachada voltada para a rua Basílio da Gama, possui o fuste idêntico à da São Luiz, porém a base e o capitel possuem diferenças. O volume posterior está recuado 6,00m do alinhamento com a Basílio da Gama, porém, o pavimento térreo avança até o limite do lote com a rua. Esta conformação gerou um terraço sobre o pavimento térreo, que é utilizado pelo apartamento do 1º andar. Este terraço possui fechamentos em elementos vazados com uma abertura quadrada central, cuja solução lembra as adotadas por Lúcio Costa no Parque Guinle, e por Affonso Eduardo Reidy no Residencial Pedregulho44. Fachada da Rua Basílio da Gama - Ed. Ouro Preto Foto: Edson Lucchini Jr. (44) - As ressonâncias de elementos da obra de Lúcio Costa e Affonso Eduardo Reidy em fachadas de Franz Heep são mais evidentes no edifício Guaporé (p.202) Edson Lucchini Jr. 155 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 Edson Lucchini Jr. Situação Atual Ed. Ouro Preto atualmente Foto: Edson Lucchini Jr. O edifício Ouro Preto se encontra hoje num estado de conservação razoável, porém, a descaracterização vem aumentando, à medida em que os terraços vem sendo fechados por vidros, empobrecendo o jogo de sombras, cheios e vazios do projeto original. As venezianas, originalmente em alumínio pintado na cor creme, estão sendo trocadas aleatóriamente por outras, ora de alumínio prateado, ora de alumínio anodizado, simbolizando um descaso com a preservação da fachada original; além disso, o edifício teve a fachada do andar térreo totalmente descaracterizada com a retirada dos brises e com a colocação de uma porta de acesso social num estilo que não condiz com o do restante do edifício. 156 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Edson Lucchini Jr. Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 N 1 - acesso social 2 - áreas descobertas 3 - acesso de serviço 4 - lojas planta do pav. térreo esc. 1:250 1 apto. 3 dorm. - 197 m² 1 - hall de entrada 2 - sala jantar 3 - sala estar 4 - terraço 5 - dorm. solteiro 6 - dorm. casal 7 - banho casal 8 - banho social 9 - cozinha 10 - área de serviço 11 - banho empr. 12 - dorm. empr. 1 planta do pav. tipo 1º ao 11º pav. esc. 1:250 1 apto. 2 dorm. - 145 m² 1 - hall de entrada 2 - sala jantar 3 - sala estar 4 - terraço 5 - dorm. solteiro 6 - dorm. casal 7 - banho social 8 - lavabo 9 - cozinha 10 - área de serviço 11 - dorm. empr. 12 - banho. empr. 1 planta do pav. tipo 12º ao 19º pav. esc. 1:250 Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 157 Edson Lucchini Jr. corte AA Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 fachada r. basílio da gama 158 Edson Lucchini Jr. fachada av. são luiz Adolf Franz Heep: edifícios residenciais Um estudo da sua contribuição para a habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950 detalhe de fachada Bipartição da fachada: do 1º ao 11º há uma modulação através de uma grelha quadrada com terraços salientes. Do 12º ao 19º há um volume sobrelevado, recuado das laterais, com terraços subtraídos do volume principal. detalhe de fachada Uso de caixilhos que ocupam a totalidade do módulo da grelha. A extremidade direita, de quem vê o edifício de frente, rompe a modulação da grelha criando elementos retangulares que acentuam a verticalidade. detalhe de fachada - térreo Uso de um brise horizontal sobre as portas das lojas, que enfatiza a separação entre térreo e os pavimentos. Há um pórtico saliente que rompe o brise, marcando a entrada social. 159 Edson Lucchini Jr.