Comparação da Alternância Indicativo/Subjuntivo Astrid Franco Barbosa UFES Serra, Espírito Santo, 29175-509, Brasil [email protected] RESUMO Este trabalho tem como objetivo comparar os resultados encontrados para a alternância de formas indicativas e subjuntivas nos trabalhos de Rocha (1997 – Rio de Janeiro/Brasília) [4], Carvalho (2007 – Cariri) [2], Oliveira (2007 – João Pessoa) [3], e Barbosa (2011 – Vitória) [1], possibilitando identificar as similaridades e as diferenças presentes na alternância de modo pesquisada na região Sudeste/Centro-Oeste e na Nordeste. Foi-nos possível proceder à comparação dos trabalhos citados, pois foi utilizada a mesma metodologia: seleção do corpus, codificação dos dados e, em seguida, utilização do programa GOLDVARB X para realização da análise estatística. 80% 20% 79% Barbosa (2001) Vitória Não-factivo volitivo Não-factivo, não-volitivo Factivo emotivo ou avaliat. Querer 100% Oliveira (2007) – Esperar 95% João Pessoa Desejar 100% Permitir 100% Pedir 95% Deixar 100% Ter medo 100% 97% Voliti-vos 74% Carvalho (2007)Cariri Campo de expectativa do subjuntivo Gostar 100% A carga semântica do verbo da matriz tem sido considerada, por pesquisadores da alternância de modo, de suma importância para o entendimento do fenômeno, haja vista que a semântica do verbo é a responsável, muitas vezes, pelo uso de uma ou de outra forma verbal por parte do falante que não faz o uso consciente dessas formas, salvo os casos em que, por possuir um nível de consciência apurado, o falante se monitora no uso do indicativo e/ou do subjuntivo. Na análise da carga semântica os verbos foram divididos em três grupos: i. verbos não-factivos volitivos, não-factivo nãovolitivo, e emotivo ou avaliativo: campo de expectativa do subjuntivo; ii. verbos indiferentes de opinião e suposição, indiferentes de suposição, e indiferentes de opinião: campo de expectativa de alternância; Tabela 1 79% CARGA SEMÂNTICA DO VERBO DA MATRIZ 1.1 Campo de expectativa do subjuntivo Na tabela 1 podemos observar que somente os dados de Oliveira (2007) foram analisados individualmente. Não nos foi possível agrupá-los para que em todos os trabalhos a análise fosse a mesma, pois a autora quando do agrupamento dos verbos o fez a partir da amalgamação dos mesmos. 59% 1 verbos factivos não-emotivos não-avaliativos, e indiferentes performativos/condicionais: campo de expectativa do indicativo. Rocha (1997) – RJ/Brasília O presente trabalho tem como objetivo comparar os resultados encontrados para o estudo da alternância de modo – indicativo x subjuntivo – nos trabalhos de Rocha (1997), Carvalho (2007), Oliveira (2007) e Barbosa. Apesar de cada um destes trabalhos representar uma comunidade de fala distinta, respectivamente, Rio de Janeiro/Brasília, Cariri, João Pessoa e Vitória, foi possível proceder à comparação porque os quatro estudos utilizaram o mesmo procedimento metodológico, bem como definiram as mesmas variáveis independentes. Os trabalhos aqui apresentados comungam dos preceitos da Sociolinguística Variacionista, também conhecida como Teoria da Variação e da Mudança Linguística, implementada por Weinreich, Labov e Herzog (2006) [5]. Esta teoria preconiza a importância de nos debruçarmos tanto sobre as variáveis lingüísticas quanto sobre as sociais no intuito de entendermos a variação existente na língua. No caso da variação aqui estudada, destacam-se as variáveis linguísticas, principalmente, a carga semântica do verbo da matriz e o grau de assertividade que foram selecionadas em todos os trabalhos aqui comparados. iii. Não-factivo, volitivo INTRODUÇÃO Factivo emotivo Não-factivo, nãoou avaliat. volitivo 0 Verificamos que no campo de expectativa de uso da forma subjuntiva esta prevalece nos trabalhos do Nordeste com pouca e algumas vezes nenhuma variação. No entanto, no Sudeste/Centro-Oeste há variação, ou seja, nessas regiões a entrada da forma indicativa no campo de expectativa da forma subjuntiva é mais acentuada. Salientamos que em Vitória o resultado para o verbo gostar BARBOSA COMPARAÇÃO DA ALTERNÂNCIA INDICATIVO/SUBJUNTIVO (emotivo ou avaliativo) distingue-se do encontrado nas demais cidades. Isso ainda será por nós estudado. 2 1.2 Campo de expectativa de alternância No campo de alternância de formas indicativas e subjuntivas, verificamos que há um equilíbrio nos resultados encontrados, exceto em João Pessoa em que a frequência relativa de uso da forma subjuntiva é menor do que nas demais cidades. 7% 48% Indiferente-opinião e suposição Indiferen te de suposiçã o 0% Barbosa (2001) Vitória Imaginar 25% Pensar 4% Acreditar 21% Crer 2% Parecer 0% Indiferen te de opinião. 12% Verbo cognitivo Achar 2% 45% Verbos cognitivos 41% Carvalho (2007)Cariri Oliveira (2007) – João Pessoa Campo de expectativa de alternância 6% 4%% Indiferente Indiferente Indiferente-opinião e de opinião. de suposição suposição Rocha (1997) – RJ/Brasília Tabela 2 Somente no Rio de Janeiro/Brasília temos a ocorrência da forma subjuntiva com o verbo parecer na matriz. O verbo achar destaca-se no desfavorecimento do uso da forma subjuntiva em todas as comunidades de fala pesquisadas. 1.3 Campo de expectativa do indicativo No campo de expectativa de uso da forma indicativa a freqüência relativa de uso da forma subjuntiva é desfavorecida, principalmente em João Pessoa. A cidade de Vitória é a que mais favorece o uso da forma subjuntiva, conforme a tabela 3. Logo, o subjuntivo tem entrado no campo de expectativa de uso do indicativo com mais frequência. A segunda variável independente selecionada em todos os trabalhos é o grau de assertividade. A negação na matriz, que foi controlada em todos os trabalhos, é favorecedora do uso da forma subjuntiva em todas as cidades comparadas. Em seguida, temos a dupla negação – negação na matriz e na encaixada, que foi controlada no Rio de Janeiro/Brasília e no Cariri. Somente no Cariri a afirmação na matriz com negação na encaixada (0,73) favoreceu o uso da forma subjuntiva. Acreditamos que devemos, futuramente, debruçarmo-nos sobre essa variável para entendermos o porquê deste desfavorecimento nas demais cidades, pois estamos trabalhando com a negação. A afirmação na matriz e na encaixada só favorece a forma subjuntiva no Rio de Janeiro/Brasília (0,59), no entanto esse favorecimento é bem menos acentuado do que o da negação na matriz e o da na matriz e na encaixada. Já a interrogativa só foi produtiva no Sudeste, no entanto não houve confluência de resultados: no Rio de Janeiro/Brasília houve um desfavorecimento do uso da forma subjuntiva (0,17), enquanto Vitória apresenta quase um equilíbrio no uso das formas indicativas e subjuntivas (0,47). 3 CONCLUSÃO Verificamos, portanto, que os resultados acima nos mostram que o fato de duas comunidades de fala estarem situadas em uma mesma região não significa que o uso da forma indicativa ou da subjuntiva será o mesmo, ao contrário, percebemos que cada comunidade de fala tem a sua especificidade que pode estar diretamente relacionada ao contato lingüístico ao qual ela foi exposta. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Barbosa, A. F. A alternância de formas indicativas e subjuntivas na fala de Vitória (ES). Vitória: UFES, 2011, 211P. Dissertação, Curso de Pós-Graduação em Lingüística, Universidade Federal do Espírito Santo. [2] Carvalho, H. M. A alternância Indicativo/Subjuntivo nas Orações Subjuntivas em função dos Tempos Verbais Presente e Imperfeito na Língua Falada do Cariri. Fortaleza: UFC, 2007, 159p. Tese, Curso de Pós-Graduação em Lingüística, Universidade Federal do Ceará. [3] Oliveira, M. do C. de. O uso do modo verbal em estruturas de complementação no Português do Brasil. Brasília:UNB, 2007, 141p. Dissertação, PósGraduação em Lingüística, Universidade de Brasília. [4] Rocha, R. C. F. da. A alternância Indicativo/Subjuntivo nas Orações Subordinadas Substantivas em Português. Brasília: UNB, 1997, 123p. Dissertação, Curso de Pós-Graduação em Lingüística, Universidade de Brasília. [5] Weinreich, U.; Labov, W.; Herzog, M. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. Tradução de Marco Bagno. São Paulo: Parábola, 2006. 27% Factivo nãoemotivo não18% avaliativ o Oliveira (2007) – João Pessoa Barbosa (2001) Vitória Indiferente performativo/ condicional 3% 12% Dizer 2% Verbo factivo Carvalh o (2007)Cariri Campo de expectativa do indicativo Verbo dicendi Indiferente Factivo não- Rocha performativo/con emotivo (1997) – dicional nãoRJ/Brasí avaliativo lia 17% 4% Tabela 3 GRAU DE ASSERTIVIDADE I CONGRESSO NACIONAL DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS, VITÓRIA-ES, 18 A 21 DE OUTUBRO DE 2011