Manuel Dias da Fonseca Rua Manuel Dias da Fonseca “Tenho saudades duma palavra Agora que a primavera nasce pela segunda vez.” (in Solidão Povoada) Irene Vilar Rua (1930-2008) Irene Vilar "Julgo ser um artista marginal pois sinto-me independente e não estou integrada em qualquer movimento ou moda” MANUEL DIAS DA FONSECA IRENE VILAR (1930-2008) Manuel Dias da Fonseca é um homem invulgar. Seguramente um dos grandes intelectuais do século XX português. A música clássica foi sempre a sua companheira. O Manuel Dias da Fonseca é um grande melómano: verdadeiramente culto, ouviu tudo, leu tudo, compreendeu tudo. A sua discoteca e biblioteca musical foi local de descoberta, de surpresa, de prazer, construída ao longo de décadas com uma sabedoria e abertura imensas, verdadeiro oásis de quem procurava ou de quem estava disponível para ouvir. Nem sempre é fácil dar nome às coisas. E não é de ânimo leve que se decide dar um nome a uma rua. É preciso reflectir, mensurar a importância desta ou daquela personalidade, analisar o impacto da escolha junto dos cidadãos. Nestes dois casos, confesso, foi simples. Confesso. Conheci bem Irene Vilar. Uma mulher encantadora, à frente do seu tempo, genuína e repleta de talento. Nasceu cá. Atribuiu um importante legado da sua obra escultórica à Câmara Municipal de Matosinhos. E, mais do que isso, levou o nome da sua terra Natal aos quatro cantos do mundo. Manuel Dias da Fonseca é um amigo, um professor, um pedagogo. Um melómano que lutou contra “ventos e marés”, criando públicos, lançando tendências e fazendo da música clássica agenda em Matosinhos. Mais do que atribuir o seu nome a uma rua do concelho, é objectivo da Câmara Municipal de Matosinhos homenagear Irene Vilar e Manuel Dias da Fonseca, dois nomes indissociáveis da História deste concelho de Mar, Movimento e Cultura. O Presidente da Câmara Dr. Guilherme Pinto Foi e é um homem do seu tempo. Sempre jovem, sempre atento ao que se faz hoje, muito pouco dado às nostalgias do passado. É também por isso que os seus amigos são sempre jovens. E quantas gerações sempre renovadas tiveram nele o Professor, o Pedagogo, o Amigo. Democrata no sentido mais etimológico da palavra. Na política, na cultura, nunca usou a sua poderosa memória para impor mas sim para abrir mentalidades, para lembrar que há sempre um outro, ou outros. Com a música no centro, ao arrepio da elite portuguesa, pouco dada às músicas, nenhuma disciplina lhe escapou, como grande intelectual que é: as artes, a filosofia, as ciências, as literaturas, a política, a história, o cinema. Publicou três livros de poesia, há muito esgotados: A solidão Povoada, 1953; A noite, um dia, um rio, 1956 e Talvez Origem, 1976. Nos anos 80 assumiu o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Matosinhos, numa altura em que a cultura estava arredada das preocupações autárquicas. Desassombrado, Manuel Dias da Fonseca, entregou-se de corpo e alma às funções de autarca, criando públicos, definindo estratégias. A sua acção e determinação, deram frutos, frutos que chegaram até aos nossos dias. Foi pelo seu percurso como autarca, intelectual, e cidadão, e pela consciência do seu inegável e justo prestígio, que a Câmara Municipal de Matosinhos lhe atribuiu em 21 de Maio de 2007 a Medalha de Honra, em ouro, e o título de cidadão honorário de Matosinhos, perpetuando agora o seu nome numa rua da cidade. Autora de vasta obra de escultura, medalhística, numismática e ourivesaria, Maria Irene Lima de Matos Vilar nasceu em Matosinhos no dia 11 de Dezembro de 1930, tendo feito ao município um legado de parte da sua obra escultórica em 1976. Licenciou-se pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, com 20 valores na tese de escultura, tendo sido discípula de Barata Feyo e Dórdio Gomes. Em 1958, como bolseira do Instituto de Alta Cultura e da Fundação Calouste Gulbenkian, estudou em Itália e viajou por Espanha, França e Suíça. Estagiou na Escola de Gomes Teixeira e na Escola Secundária de Clara de Resende, no Porto, leccionou as disciplinas de Desenho, Educação Visual e História do Traje. Foi também directora da antiga Escola Industrial Aurélia de Sousa (hoje Escola Secundária), também no Porto. Depois de um interregno no período pós 25 de Abril de 1974, viria a terminar a sua carreira de docente na Escola Secundária Clara de Resende, em 1987. A partir desta data passou a dedicar-se inteiramente à Arte. É autora de uma variada, ampla e riquíssima obra plástica, nas áreas da escultura, da medalhística, da numismática, da ourivesaria e da pintura, mostrada num sem número de exposições (individuais e colectivas) e distinguida com vários prémios. A sua obra foi apresentada nas exposições Modelar o mistério, Lisboa, Universidade Católica Portuguesa (2003); Do gesto ao gesso, Matosinhos (2004). Representou o País em diversos certames internacionais, nomeadamente nas Bienais de São Paulo, Paris, Colónia, Roma, Florença, Estocolmo, Londres, Helsínquia, Budapeste, Neuchâtel, Weimar, Roterdão. Realizou, de entre muitos outros, os seguintes monumentos: a Camões, Garcia de Orta e Guilhermina Suggia, no Porto; ao Pescador, a Florbela Espanca e a Abel Salazar, em Matosinhos; a D. António Ferreira Gomes, Padre Américo, e o conjunto de nove esculturas na Rotunda do Cameirinho, em Penafiel; a Fernando Pessoa, em Durban (África do Sul), São Paulo (Brasil) e em Ixelles (Bélgica). A convite do Governo de Macau executou, em 1996, o Monumento Abraço para o Jardim Luís de Camões. Em Portugal, o seu espólio encontra-se espalhado pela Secretaria de Estado da Cultura, Museu Amadeo Souza-Cardoso, Biblioteca-Museu de Vila Franca de Xira, Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, Museu do Chiado, em Lisboa, Património Artístico de Matosinhos, entre outros. A sua última obra, a escultura de D. Fernando I e Dona Leonor Teles, foi encomendada pela Câmara Municipal de Matosinhos, e pode ser admirada no Mosteiro de Leça do Balio.