AS RELAÇÕES PORTUGAL-BRASIL NO SÉCULO XX A diplomacia também económica precede e condiciona a política. Daí o bloco BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Neste mundo de mega-blocos, a oportunidade para Portugal e Espanha está na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e na Comunidade Afro-Americana de Nações que se cruzam, com secretariados-gerais em Lisboa e Madrid respectivamente. Juntas, estas comunidades podem construir a Grande Ibéria com iberidade sem iberismo, conforme demonstrei no meu recente livro A Grande Ibéria (Convergências e divergências de uma tendência) impressa pela Universidade de São Paulo. A Grande Ibéria pode ser um bloco económico e político, apesar de Portugal e Espanha na União Europeia e América Hispânica e Brasil estarem em outras associações, porque há ainda mais espaço para negociações e manobras conjuntas dentro e fora. A língua espanhola castelhana é a língua estrangeira que mais se divulga nos Estados Unidos e Europa, a língua portuguesa pode acompanhá-la paralelamente pelo interesse mundial pela Península Ibérica e na Hispano-América pelo Brasil. A língua francesa está diminuindo de influência, o alemão e o italiano nunca a tiveram muito, apesar da sua importância cultural. Os idiomas russo e chinês enfrentam resistência por maior dificuldade ortográfica e gramatical, embora seja previsível sua expansão, o japonês e o árabe outro tanto. A memória histórica do Brasil tem recordações da União Ibérica aceitando os brasileiros irem além do meridiano de Tordesilhas, portanto estendendo o território do Brasil. O espanhol castelhano tomou-se língua estrangeira obrigatória nos liceus brasileiros, ao lado do inglês. O Instituto Cervantes da Espanha tem hoje nove filiais no Brasil, só menos que nos Estados Unidos. Enquanto isso, o ensino do português pelo Brasil vai se estendendo pela América Hispânica. A opinião pública brasileira tem a tradição de não querer áreas de influência do Brasil, prefere espaços económicos a políticos, com mais vantagens e menos desvantagens. A diplomacia, também económica, brasileira, precede a política. Os transbordamentos das energias brasileiras condicionam suas atitudes. O espaço imediato brasileiro, fortalecido por exportações e importações com o mundo inteiro, concentra-se na América do Sul, portanto abaixo do canal do Panamá. O México exporta e importa oitenta e cinco por cento do que produz e consome para os Estados Unidos, o Caribe é considerado por Washington no seu imediato e prioritário espaço até de segurança militar. O Brasil não quer e não pode competir ali, mas o Brasil tem a tradição de alinhar-se com o mais forte mundialmente: com o Reino Unido após Portugal, com os Estados Unidos após a Grã-Bretanha. Ora a China está a emergir num horizonte a confirmar-se no tempo, quando o Brasil mais uma vez mudará de parceria especial na etapa oportuna. É o que os brasileiros chamam de relações com geometria variável. A China já ultrapassou 57