UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS MORFOLOGIA E SINTAXE – TURMA A PROFESSORA: SABRINA ABREU ALUNAS: Aline Costa, Bruna Almeida, Elisângela Pretto, Luiza Maragno, Joyce Maia, Mariana Petersen e Priscylla Cygainski 4 - ANÁLISES MORFOLÓGICAS DO VERBO A complexidade formal dos verbos sempre existiu, porém, não há registros de análises pormenorizadas que mostrem com nitidez os constituintes do verbo. Os gramáticos revelam uma atenção maior a essa classe, no entanto, não realizam uma análise profunda, apenas apresentam irregularidades e terminações em tabelas. Contentam-se apenas em analisar a forma exterior do verbo, a qual é formada por parte invariável + parte variável. Exemplificando: 1. Júlio Ribeiro (1885): tema + terminação; 2. Maximino Maciel (1931): radical ou tema + terminação; 3. Said Ali (1964): radical + terminação; 4. Eduardo Carlos Pereira (1956): radical ou tema + terminação ou desinência + vogal característica; 5. Antenor Nascimento (1960): tema + terminação ou desinência; 6. Rocha Lima (1967): radical + terminação. Análise TradicionalApesar da Nomenclatura Gramatical Brasileira incluir os termos citados e as categorias verbais (de número e pessoa, modo e tempo), sugerindo assim uma análise mais profunda do verbo, a maioria dos estudiosos parece ignorar a sugestão devido a dificuldade de análise. Passam despercebidas realidades de ordem estrutural, importantes para se compreender as formas irregulares e facilitar seu aprendizado. Análise estrutural Advento do estruturalismo científico descrições rigorosas das línguas através de uma metodologia científica. Gramática tradicional x Gramática estrutural *Base intuitiva; *Noção de estrutura; *Orientada por objetivos *Precisão de rigor técnico. práticos e normativos nas suas descrições. Exemplo dessa orientação estruturalista: Análise bloomfieldiana = constituintes imediatos segmentação gradual e binária até se chegar aos elementos irredutíveis. A análise [Tema + Sufixo Flexional] A análise pioneira de Mattoso Lexical¹ Vocábulo verbal Gramatical² 1. Lexical: conteúdo semântico lexical ou nocional = Radical (R), correspondendo este a uma “raiz, ou radical último e indivisível, que pode se ampliar por meio de prefixos e sufixos. RADICAL = (Prefixo(S)) Raiz (Sufixo(S)) 2. Gramatical: expressos na parte final, a tradicional “terminação”, os conteúdos gramaticais de classe formal, modo, tempo, número e pessoa, que contrastam com o conteúdo léxico do radical. A partir do Radical e dos conteúdos gramaticais, sendo este o conjunto de constituintes Variável, que é o sufixo flexional, temos a primeira fórmula: R + SF Sufixo modo-temporal (SMT) – exprime cumulativamente o modo e o tempo verbais. SF Sufixo número-pessoal (SNP) – assinala a pessoa e o número do sujeito do verbo. Para completar essa descrição gramatical, deve-se levar em conta uma vogal característica (-a-,-e-,-i-) Acrescentada ao radical, transforma-o num tema (T), ou seja, um radical pronto a receber o sufixo flexional (SF) Vogal característica (vogal temática) Situa o radical numa classe morfológica dita “conjugação” (1ª, 2ª e 3ª conjugação). Fórmula estrutural do verbo: Portanto: V = T + SF V = T(R + VT) + SF (SMT + SNP) T = R + VT SF = SMT + S Há 8 reparos a se fazer nessa análise estrutural: 1. Distinção entre raiz e radical; 2. Nada consta a respeito da constituição imediata e estrutura hierarquizada dos radicais, nem sobre radicais compostos (radical+radical); 3. A entidade “Sufixo Flexional” que na verdade não existe; 4. A análise das formas verbo-nominais dentro das categorias de modo e tempo, sob o domínio do símbolo SMT; 5. Não leva em conta a categoria de aspecto no primeiro sufixo flexional (“sufixo Modo-temporal”); 6. Noção imperfeita da categoria de tempo, levando à manutenção do “presente” e “futuro” da nomenclatura tradicional; 7. A mistura das categorias de pessoa e número; 8. A falta de uma formalização maior, que permita descrições estruturais exatas e exaustivas. A análise [Radical + Sufixo Flexional] Eunice Pontes descreve o português coloquial do RJ: V= T + SFT= tema SF= sufixo flexional O tema se constitui de um núcleo, uma raiz afixada ou não: T= +/- Pref + R +/- Suf O sistema dos sufixos flexionais é composto pela vogal temática, os constituintes de tempo e aspecto (MTA) e pessoa e número (PN): SF= +/- VT +/- MTA +/- PN Diferenças em relação à análise de Mattoso: Inclui a subanálise do radical na fórmula: (pref+) Raiz (+sufixo); Inclui a vogal temática (VT) no sufixo flexional (SF); Acrescenta o “aspecto” no segundo SF; Deixa de fora da análise o futuro e o pretérito mais que perfeito do indicativo, bem como a 2ª pessoa do plural e do singular (tu e vós). Há 10 reparos a se fazer nessa análise: 1. A regra T + SF é inexata. A fórmula deveria ser R+SF. 2. Faltam, assim como em Mattoso, regras sobre a constituição imediata do radical. 3. Falta de distinção raiz/radical. 4. A entidade sufixo flexional dominando um aglomerado heterogêneo. 5. Falta de separação clara entre formas verbais e formas verbo-nominais. 6. Categoria tempo não resolvida. Fica mantida a perspectiva tradicional. 7. Aspecto classificado como linear/não-linear em lugar de perfeito/não-perfeito. 8. Adota o sistema P1, P2, P3 e P4 como se houvesse somente 4 pessoas gramaticais. 9. Deficiências na orientação lingüística seguida. Por exemplo, a preocupação dominante com a segmentação e a classificação. 10. Ao restringir-se à fala espontânea (“parole”), não cobre a estrutura verbal completa da língua (“langue”). Análise Gerativo-Transformacional O método estrutural estuda as formas expressas, as formas patentes. Já no modo de ver gerativo-transformacional, a análise é das estruturas latentes. As formas que o verbo assume na frase não são o ponto de partida, e sim o de chegada da análise. Esta é uma análise sintática, pois o transformacionista não vê as palavras em si, as vê como estruturas da frase. Em Aspectos da teoria da sintaxe (Chomsky, 1975, p. 195) propõe-se uma nova formulação das regras: (I) O → SN Sintagma-Predicativo (II) Sintagma-Predicativo → Aux FV (Locativo) (Temporal) (III) FV → ..... V {...} ............................ (VI) V → SC ............................ ............................ (XVI) Aux → Tempo (M) (Aspecto) Especificando aspecto como Perfectivo tem + do e Progressivo esta + ndo, obtém-se o diagrama-árvore para o sintagma predicativo: Sintagma-Predicativo Aux Tempo M deve r tem FV Aspecto V PerfProg do esta ndo Dentro do componente sintático básico, existe o subcomponente lexical: o verbo é especificado como símbolo complexo de traços distintivos. Cada palavra é especificada no léxico como um conjunto de propriedades: sintáticas, semânticas, morfológicas e fonéticas. Para um verbo, consta se pede ou não sujeito, objeto, humano ou não, etc. Num primeiro momento, nas regras de estrutura sintagmática, o verbo entra apenas como radical. Depois se especificam os traços [Conjugação], [Modo], [Tempo] e [Aspecto]. [Pessoa] e [Número] serão acrescentados quando se operar a transformação de concordância, na qual tais traços são copiados do sujeito. No léxico, constaria apenas o radical – -kant (-cant), por exemplo –, acompanhado das informações: informação semântica: significado e usos Informação sintática: transitividade, do que trata, se pede sujeito animado, etc. Informação morfológica: conjugação (no caso, a primeira) Informação fonológica: elementos fônicos de que é constituído Tais informações se representam como traços binários +/-, presença ou ausência de traço. Para a oração Cantavas ontem, teria-se o marcador sintagmático, diagramo-árvore: Se modo, tempo e aspecto forem considerados traços inerentes do verbo, terão de ser introduzidos na matriz (coluna de traços).O componente sintático básico daria todas as informações necessárias para essas categorias do verbo, acrescentando os traços. Após isso, o componente sintático transformacional acrescentaria à matriz os traços de pessoa e número do substantivo (pronome) sujeito. O marcador sintagmático ficaria, então, assim: Os traços da matriz V indicam que é necessário efetuar transformações adicionantes: ao ramo V devem ser acrescentados ramos secundários correspondentes aos segmentos afixais de vogal temática (Conjugação), modotempo-aspecto e pessoa-número. Segue a etapa de inserção léxica: [+ Afixo, + Conjugação] = a [+ Afixo, + Conjugação, + Indicativo, + Passado, - Perfeito] = va [+ Afixo, + II, - Plural] = s Não se fala em raiz, tema, vogal temática, etc. Os diversos constituintes ficam representados no mesmo nível, não há hierarquização estrutural de ordem morfológica. Levando-se em conta a indecomponibilidade do radical, pois não se sabia como agir em termos gerativo-transformacionais. A teoria gerativo-transformacional não nos proporciona um método para uma análise estritamente morfológica, devido a seu caráter essencialmente sintático-semântico (“ao menos por enquanto”). ANÁLISE TRADICIONAL Parte Invariável Parte Variável Tema Terminação Radical/tema Flexão Am + o, as, a, Não faz amos, etc. Said Ali (1964) Radical Terminação Cant-o; Cant-as; Não faz etc. Eduardo Pereira Radical/tema Terminação/ Louv-o; Louv-as; Não faz etc. Apresenta a “vogal característica”, mas não a segmenta no paradigma. Não faz Apenas apresenta desinências para as conjugações regulares Júlio Ribeiro Segmentação Verbos Regulares Segmentação Verbos Irregulares Peculiaridades (1985) Maximino Maciel (1931) Desinência (1956) Antenor Tema Nascentes Terminação/ Desinência (1960) Rocha Lima (1967) Radical Terminação Fal + o, Ava, ei, ara, asse. Não faz Em 1973, acrescenta a vogal temática, mas não a segmenta no paradigma.