III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 EIXO TEMÁTICO: Ciências Ambientais e da Terra O SISTEMA CANTAREIRA E OS POSSÍVEIS IMPACTOS PARA A PRODUÇÃO DO ÁLCOOL COMBUSTÍVEL Amanda de Oliveira Rodrigues 1 Mirna Ivonne Gaya Scandiffio2 RESUMO: Embora seja um país privilegiado, por possuir 12% da água doce do planeta, o Brasil vem sofrendo alguns impactos socioambientais por ter uma mal distribuição desse recurso natural. A Bacia Amazônica abriga 78% dessa água. Apenas 6% da água doce do país estão distribuídas no Sudeste, região que detém 42% da população do país e 60% da produção de álcool combustível a partir da cana-de-açúcar. Este artigo discute os (possíveis) impactos econômicos na produção do álcool combustível, causados pela escassez da água, pois as vendas de etanol pelas unidades produtoras da região Centro-Sul na segunda quinzena de junho/2014 apresentaram uma queda de 9,78% em relação a igual período de 2013, devido ao clima muito seco que está causando uma expressiva queda no rendimento dos canaviais. Porém, não só a economia do país pode ser afetada, mas o próprio meio ambiente, uma vez que o álcool combustível tem sido reconhecido mundialmente como uma das possíveis soluções para a mitigação de problemas ambientais. A crise do Sistema Cantareira pode ser um agravante para a produção da cana-de-açúcar que demanda considerável quantidade de água. Como conseqüência, nas principais bacias hidrográficas brasileiras, ocorreu um aumento dos conflitos de uso, com destaque para as bacias com desenvolvimento agrícola e urbano expressivo, como é o caso da bacia PCJ, rio Piracicaba, Capivari, Jundiaí. O ângulo dessa abordagem é, pois, híbrido, uma vez que evidencia a fusão dos campos interdisciplinares dos recursos hídricos, da agricultura, da economia, em geral, do meio ambiente. Palavras-chaves: Álcool Combustível. Recursos hídricos. Sistema Cantareira. 1. INTRODUÇÃO Embora seja um país privilegiado por possuir 12% da água doce do planeta, o Brasil vem sofrendo alguns impactos socioambientais por ter uma mal distribuição desse recurso natural. A Bacia Amazônica, maior bacia hidrográfica da terra, abriga 78% dessa água, embora concentre a menor parte da população brasileira. Apenas 6% da água doce estão distribuídas no Sudeste (ISA, 2005). Além de a região Sudeste sofrer com essa distribuição desfavorável, outros fatores contribuem com a desordem ambiental e afetando os recursos hídricos: o processo industrial, a expansão agrícola e o aumento desenfreado da população, segundo informações do PROSAB (2009). 1 Faculdade Adventista de Hortolândia, MBA em Gestão Estratégica de Negócios, Pós-Graduanda. e-mail: [email protected] 2 Faculdade Adventista de Hortolândia-FAH/UNASP HT. Professora. Doutora em Planejamento de Sistemas Energéticos, Faculdade de Engenharia Mecânica, UNICAMP. e-mail: [email protected] III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 A bacia do Alto Tietê, que abriga 47 % da população do Estado de São Paulo, localizado na região sudeste do país, importa água da bacia do Rio Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Essa região, por sua vez é bastante industrializada, possui agricultura diversificada e também não está em situação confortável em termos de oferta e demanda hídrica (NIEMEYER, 2009). As mudanças climáticas tornaram o ciclo de chuvas muito irregular. Essa situação afeta o setor sucroalcooleiro, que tem especial significado econômico para o Brasil, responsável por 2% do PIB nacional e por 31% do PIB da agricultura no Brasil, em 2012 (BIOSEV, 2013). Com a criação do Proálcool (Programa Nacional do Álcool), na década de 1970, houve uma grande expansão da capacidade produtiva. De 1975 a 1987, ocorreu um veloz crescimento na produção da cana-de-açúcar. Após certa estagnação até 1994, iniciou-se outra fase de crescimento (SCANDIFFIO, 2005). Dos 300 milhões de toneladas produzidas no início dos anos 2000, o país produziu cerca de 600 milhões em 2013 (UNICA, 2014). Os resultados obtidos neste segundo levantamento da safra 2013/14 na região sudeste são detalhados na tabela a seguir: Tabela 1. Produção da cana-de-açúcar na região sudeste. Comparativo de área, produtividade e produção. Safras 2012/13 e 2013/14. Região Sudeste Área (mil ha) Safra 2012/13 721,860 62,110 39,860 4.419,460 Produtividade (kg/ha) Safra Var. % Safra Safra 2013/14 2012/13 2013/14 MG 781,920 8,32 70.939 76.367 ES 65,340 5,20 55.250 54.717 RJ 35,870 (10,00) 47.510 45.000 SP 4.515,36 2,17 74.827 80.480 0 Fonte: CONAB – Segundo levantamento: agosto de 2013 Produção (mil t) Var. % 7,70 (1,00) (5,30) 7,60 Safra 2012/13 51.208 3.431 1.893 330.694 Safra 2013/14 59.712 3.575 1.614 363.396 Var. % 16,60 4,20 (14,80) 9,90 O objetivo desta pesquisa é analisar os possíveis impactos econômicos na produção do álcool combustível, causado pela crise do Sistema Cantareira, pois a produção da cana-de-açúcar demanda considerável quantidade de água. Como conseqüência, nas principais bacias hidrográficas brasileiras, ocorreu um aumento dos conflitos de uso, com destaque para aquelas bacias com desenvolvimento agrícola e urbano expressivo, como é o caso da bacia PCJ, rio Piracicaba, Capivari, Jundiaí, localizadas no estado de São Paulo, o qual é responsável por 85% da produção de cana de açúcar na região sudeste, conforme a tabela 1. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia desta pesquisa é de ordem teórica, valendo-se da análise bibliográfica de materiais que abordam o estudo dos recursos hídricos e da produção do álcool combustível. Isso inclui não apenas a consulta a livros, mas também a artigos, teses e dissertações. O ângulo de abordagem é, pois, híbrido, uma vez que evidencia a fusão dos campos interdisciplinares dos III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 recursos hídricos, da agricultura, da economia, em geral, do meio ambiente. Trata-se de uma pesquisa não-quantitativa e, que, no entanto, não negligencia os passos de uma pesquisa quantitativa – viz., a observação, a coleta de dados, a análise dos dados coletados e a interpretação referente à recepção e a efetivação da divulgação científica (SANTAELLA, 2001). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Segundo o Relatório de Qualidade Ambiental (2012), o Sistema Cantareira é conhecido pela distância de sua estrutura em relação ao núcleo urbano ao qual serve e também pela extensão da sua área de drenagem. No presente ano, 2014, o reservatório apresentou sucessivas baixas históricas atingindo um nível de 12,0% pela primeira vez desde 1976, ficando exposto ao risco de entrar em um colapso técnico. Essa crise pode causar possíveis impactos na produção de cana-de-açúcar, afetando a economia do Brasil, pois o setor sucroalcooleiro é de grande importância para o país principalmente pelos seus dois produtos de grande peso comercial nacional: o açúcar e o etanol que se tornaram commodities (CHAVES, 2011). Por causa da estiagem de 2010, muitas usinas trabalharam abaixo da capacidade máxima de moagem, aumentando o custo de produção – como consequência final, a safra 2011/12 terminou com o setor apresentando uma dívida líquida de R$ 105 por tonelada de cana-de-açúcar (NOVACANA, 2012). Este ano, as vendas de etanol pelas unidades produtoras da região Centro-Sul na segunda quinzena de junho somaram 1,06 bilhão de litros, uma queda de 9,78% em relação a igual período de 2013, que somaram 1,18 bilhão de litros (UNICA, 2014). O preço médio do etanol nas usinas de São Paulo teve leve alta na última semana diante da expectativa do mercado com o efeito da seca, que pode limitar a oferta. Entre 7 e 11 de julho, o Indicador Cepea/Esalq do etanol hidratado (utilizado nos carros flex), em São Paulo, teve média de 1,2424/litro, pequena alta de 0,4% em relação à semana anterior. Para o etanol anidro (misturado à gasolina), a elevação foi de 0,8% por cento, com o valor médio atingindo 1,3637/litro em igual comparação (CEPEA, 2014). Porém a elevação dos preços, não é o único agravante. O meio ambiente pode ser atingido também, pois de acordo com Scandiffio (2004), dentro das discussões ambientais, o uso de álcool combustível tem sido reconhecido mundialmente como uma das possíveis soluções para a mitigação de problemas ambientais. No caso da produção de etanol, o uso de água está presente principalmente na fase industrial (lavagem, fermentação, destilação, etc.), com 1,8 m3/TC (Tonelada de Cana). O chamado plantio de inverno, com ocorrência no período seco, requer irrigação suplementar, com recomendação de duas lâminas de 30 a 40 mm de água, situação não comum na região Sudeste (ELIA NETO, 2005). Como conseqüência, nas principais bacias hidrográficas brasileiras, ocorreu um aumento dos conflitos III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 de uso, e isso, com certeza, repercute no abastecimento de água na Região Metropolitana de São Paulo, que disputa água com a Região da Bacia do Piracicaba ( NIEMEYER, 2009). 4. CONCLUSÃO A cadeia produtiva do álcool e do açúcar envolve uma série processos agrícolas e industriais, que vão desde o plantio até a obtenção dos produtos finais. Trata-se de uma cadeia que precisa de atenção devido à intensa utilização do fator de produção terra e o consumo intensivo de água. O processo de desenvolvimento industrial e urbano acelerado dos municípios que compõem as bacias do PCJ podem ser a causa desse conflito na região, sendo necessário um planejamento capaz de atenuar (ou talvez corrigir) a escassez hídrica, os possíveis impactos econômicos para a produção do etanol e os problemas ambientais. Uma possível solução para esses conflitos seria transformar a água contaminada, como o caso do rio Tietê, em água potável para o uso urbano e fazer o reuso para o setor sucroenergético, através da osmose reversa. Apesar de esse processo exigir tempo, por ser necessário aplicar bastante pressão, esse é um método ecologicamente correto, com baixíssimo consumo de água e energia elétrica. REFERÊNCIAS BIOSEV – A Louis Dreyfus Commodities Company. 2013. Disponível em: http://ri.biosev.com/biosev/web/conteudo_pt.asp?idioma=0&conta=28&tipo=30884 CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA – CEPEA. Alertas de Mercado. Etanol/Cepea: Indicadores seguem firmes em SP. Disponível em: http://cepea.esalq.usp.br/imprensa/?page=340&id=6099 >. Acesso em 22 de jul. 2014. CHAVES, Gilberto. Influência do clima na produtividade da cana-de-açúcar /Gilberto Theodoro Chaves Junior. -- Araçatuba, SP: Fatec, 2011. 55f. : il. Trabalho (Graduação) – Apresentado ao Curso de Tecnologia em Biocombustíveis, Faculdade de Tecnologia de Araçatuba, 2011. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – CONAB. Acompanhamento da safra brasileira/cana-de-açúcar. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/13_08_08_09_39_29_boletim_cana_portug ues_-_abril_2013_1o_lev.pdf > Acesso em 26 de jun. 2014. ELIA NETO, André. Captação e uso de água no processamento da cana-de-açúcar. In A Energia da Cana de Açúcar – Doze estudos sobre a agroindústria da cana-de-açúcar e a sua sustentabilidade. Isaías Carvalho (org.). São Paulo: ÚNICA, 2005. INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL - ISA. Água: o risco da escassez. Disponível em: <http://www.socioambiental.org/esp/agua/pgn/> Acesso em 29 de jun. 2014. MEIO AMBIENTE PAULISTA. Relatório de qualidade ambiental 2012. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/consema/files/2012/04/Relatorio_Anual_da_Qualidade_Ambiental. pdf> Acesso em 29 de jun. 2014 III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 NIEMEYER, Luiz. A produção do etanol e o Meio Ambiente: a economia política da análise de custo-beneficio. Conferência - “Dinâmica da Pobreza e Padrões de Acumulação Econômica em Moçambique” 22-23 abril, IESE, Moçambique. 2009. 16 p. NOVACANA (2012). Setor sucroalcooleiro chegará ao fundo do poço em 2014. Disponível em: < http://www.novacana.com/n/industria/financeiro/setor-sucroalcooleiro-fundo-poco-2014-291112/> Acesso em 29 de jun. 2014. PROSAB. Conservação de água e energia em sistemas prediais e públicos de abastecimento de água. Disponível em: <http://www.finep.gov.br/prosab/livros/prosab5_tema%205.pdf. >Acesso em 19 de jun. de 14 SANTAELLA, Lucia. Comunicação e Pesquisa. São Paulo: Hacker Editores, 2001. SCANDIFFIO, Mirna Ivonne Gaya. Análise Prospectiva do Álcool Combustível no Brasil – Cenários 2004-2024. Tese de Doutorado. Planejamento de Sistemas Energéticos/FEM – Unicamp, 2005. SCANDIFFIO, Mirna Ivonne Gaya; FURTADO, André Tosi. A liderança do Brasil em Fontes energéticas renováveis: uma visão de longo prazo. ANPPAS 2004. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/38424336/A-LIDERANCA-DO-BRASIL-EM-FONTES-ENERGETICASRENOVAVEIS-UMA-VISAO-DE-LONGO-PRAZO. >Acesso em 15 de jun. de 14. UNICA – UNIÃO DA INDÚSTRIA DA CANA-DE-AÇÚCAR. 2014. Disponível em: <http://www.unica.com.br/setor-sucroenergetico/> Acesso em 28 de jun. de 2014 UNICA – UNIÃO DA INDÚSTRIA DA CANA-DE-AÇUCAR. 2014. Disponível em: <http://www.unica.com.br/imprensa/1119646792038663351/clima-seco-favorece-colheita-da-canapor-cento2C-mas-prejudica/> Acesso em 21 de jul. de 2014.