análise e interpretação do mapa de uso do solo do

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ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO MAPA DE USO DO SOLO DO
MUNICÍPIO DE IJACI-MG: RECURSO PARA INVESTIGAÇÃO DO ESPAÇO
AGRÁRIO
Cassiano Gustavo Messias
Análise Geoespacial de Dados Ambientais e de Saúde - GEODAS
Instituto de Geociências - Unicamp - SP
[email protected]
Larissa Chiulli Guida
Grupo de Estudos Regionais e Socioespaciais – GERES
Instituto de Ciências da Natureza – UNIFAL-MG
[email protected]
Raphael Casagrande Guida
Universidade Federal de Alfenas – MG
[email protected]
Danilo Francisco Garófalo Trovó
Análise Geoespacial de Dados Ambientais e de Saúde – GEODAS
Instituto de Geociências – Unicamp – SP
[email protected]
Resumo
O uso de geotecnologias como instrumento para análise espacial vem sendo adotado em
diversas áreas do conhecimento. Cabe à Geografia, mais especificamente ao Geógrafo, a análise
totalizante do espaço. Assim, sendo geógrafos, propusemo-nos analisar o espaço agrário do
município de Ijaci/MG, dedicando para a metodologia desta análise a utilização dos recursos
que a geografia dispõe: arcabouços teóricos e conceituais da Geografia Agrária e
Geotecnologias, tendo o sensoriamento remoto como principal técnica norteadora da
investigação. A pesquisa se divide em duas fases, sendo este trabalho resultado da primeira, que
visa demonstrar a análise através da elaboração do Mapa de Uso do Solo de Ijaci/MG, a
segunda fase ainda em desenvolvimento, contemplará uma investigação de caráter qualitativo.
Contudo, acreditamos que o objetivo central do trabalho seja a investigação integrando as áreas
subdivididas da Geografia (Humana e Física), na tentativa de alcançar uma análise final sob a
ótica holística do geógrafo.
Palavras-chave: Mapa de Uso do Solo. Geotecnologias. Ijaci-MG.
Introdução
A prática da agricultura, de acordo com Diniz (1984), se caracteriza como diversificada
por ocorrer em diferentes meios ecológicos na superfície terrestre, e como dispersa, por
atender diferentes necessidades sociais, econômicas e políticas. Sendo esta prática
fundamental para garantir a subsistência de uma população, e/ou impulsionar a
1
economia de uma nação quando aliada à produção industrial, por exemplo. Assim, a
análise do espaço agrário envolve vários aspectos que se inter-relacionam, se tornando
complexa, por isso se faz necessário frisar que a agricultura é uma atividade, por si só
não explica e elucida as diversas transformações pertencentes ao mundo rural.
Neste sentido, cabe à Geografia Agrária analisar este vasto mosaico de inter-relações
que sucedem no espaço rural, e as constantes transformações (oriundas das interrelações de diversos agentes) neste espaço. Segundo Andrade (p. 13, 2010)
“naturalmente essas transformações vão refletir na orientação do estudo tanto do ponto
de vista teórico quanto metodológico; o geógrafo tem necessidade de acompanhar as
transformações para fazer uma Geografia Rural e não História Rural”.
Dessa forma, compreende-se que a metodologia da investigação no estudo da Geografia
Agrária deve utilizar de todos os recursos disponíveis abrangendo desde os arcabouços
teóricos e conceituais, aos levantamentos e observações in loco aos instrumentos
técnicos para análise espacial, ou melhor, os Sistemas de Informações Geográficas
(SIG’s). Afinal, a ordem e/ou ordenamento espacial e as relações dos diversos agentes
neste meio, consiste na base da pesquisa do geógrafo, recorrem-se logo às
geotecnologias como instrumento de análise.
As Geotecnologias são hoje ferramentas essenciais para a análise do espaço geográfico.
Utilizando técnicas de Sensoriamento Remoto, Geoprocessamento e Análise Espacial,
podem-se obter dados de maneira rápida, além de interagir diferentes informações. Uma
aplicação das técnicas nesta abordagem é a análise de uso do solo, que pode nos levar a
informações importantes, tais como a caracterização das propriedades, fragmentação do
solo, tipos de produção, quantificação de áreas agrícolas e proximidade destas com
aglomerados urbanos, entre outras.
Diante desta exposição acerca da Geotecnologia no estudo da Geografia Agrária,
apresenta-se este trabalho, que tem como objetivo específico investigar o espaço rural
do município de Ijaci-MG, a partir da interpretação e análise do Mapa de Uso do Solo,
correlacionando com a dinâmica econômica municipal, a fim de verificar a estrutura da
agropecuária numa região de exploração mineral.
Área de estudo
O município de Ijaci-MG está situado na mesorregião do Vale das Vertentes, às
margens do Rio Grande, afluente do Rio Paraná, entre as coordenadas geográficas
2
21º14’26’’ e 21º06’39’’ de latitude sul e 44º59’31” e 44º51’27’’ de longitude oeste
(Figura 1).
Conforme Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2010), o município
abrange uma área de 10.525ha, com uma população de 5.859 habitantes, sendo que
5.605 vivem na área urbana e apenas 254 na zona rural. A principal atividade
econômica está voltada para a indústria, representada pela mineração. A atividade
agrícola está ligada basicamente a pequenos produtores, tendo representatividade de
culturas permanentes, como o café e de culturas anuais, tais como milho, cana-deaçucar e feijão. A barragem da Hidrelétrica do Funil, situada no Rio Grande, configurase como um limítrofe ao norte do município.
Figura 1: Localização do município de Ijaci.
Mapa de localização da área estudada
Elaboração: Cassiano Gustavo Messias
3
Materiais e métodos
Para a realização desta pesquisa dividiu-se a investigação em duas fases, caracterizando
a primeira em levantamentos de dados secundários, e a segunda, ainda em
desenvolvimento, levantamento de dados primários.
Inicialmente realizou-se um levantamento bibliográfico referente à Geografia Agrária e
ao uso das Geotecnologias para análise do espaço agrário e à utilização de produtos de
sensoriamento remoto para a interpretação do uso do solo.
A realização da primeira fase se baseou em uma investigação de caráter quantitativo,
com o objetivo final de gerar um mapa de uso do solo, cuja análise permitiu detalhar e
nortear o método da segunda fase, esta em desenvolvimento e de caráter qualitativo,
incluindo aplicação de questionários e entrevistas.
A respeito do método quantitativo na investigação da Geografia Agrária, Ceron e
Gerardi (2007, p. 13) apontam que “a quantificação deva ser encarada como técnica
auxiliar da análise com grandes vantagens, particularmente para a solução de problemas
de natureza complexa”. Neste sentido, realizaram-se na primeira fase levantamentos e
análise de dados secundários do município de Ijaci (população, PIB - Produto Interno
Bruto, PAM - Produção Agrícola Municipal, Estatística do Cadastro Central de
Empresas, número e área dos estabelecimentos agropecuários, índice de Gini), todos
coletados nos bancos de dados do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas.
Para a geração do Mapa de Uso do Solo de Ijaci, utilizaram-se como materiais
cartográficos as cartas topográficas, folha Lavras (SF-23-X-C-I-1) e Nepomuceno (SF23-V-D-III-2), na escala 1:50.000 do ano de 1973. Utilizou-se como produto de
Sensoriamento Remoto, interpretou-se a imagem do satélite CBERS 2B/HRC
(CB2BHRC153_C124_120080713), de 26/04/2008 e resolução espacial de 2,5m.
Executou-se o processamento digital da imagem CBERS 2B/HRC, utilizando o
software Ilwis 3.4. Trabalhou-se o contraste, correção atmosférica, registro – tomando
como base as cartas topográficas (IBGE, 1973) e recorte da região de interesse.
Posteriormente, a imagem processada foi importada para o ArcGIS 10, no qual foram
criadas classes de uso do solo – baseando-se no Manual de Técnico de Uso da Terra
(IBGE, 1999), estas foram vetorizadas e classificadas manualmente.
Contudo, a partir da análise do Mapa de Uso do Solo gerado, foi possível estruturar os
métodos para a análise do território rural de Ijaci, que será realizado através da
elaboração e aplicação de questionários e entrevistas com os moradores da área rural,
4
apoiados em questões cuja finalidade é conhecer os tipos de produção, modo de vida,
analisar o êxodo rural do campo de Ijaci, impactos da mineradora.
Geotecnologias para a análise do espaço agrário
Conforme Pires (2010), Geotecnologias “é um conjunto de tecnologias que possibilita a
obtenção, a representação de dados e o tratamento de informações georreferenciadas a
serem empregadas para a análise geográfica [...]”. Para o autor, tais tecnologias são
redes sociais colaborativas, que utilizam Softwares, SIGs, GPS, imagens de satélite,
entre outros instrumentos. Ressaltou-se ainda que, a utilização tem sido dificultada
pelos custos de hardwares e softwares, o que tem levado as nações que desejam se
inserir minimamente na era digital a utilizarem softwares livres.
Ceron e Diniz (1966) estudaram os elementos de identificação das culturas em
fotografias aéreas (chaves de interpretação). Analisaram-se diferentes usos nos
municípios de Limeira e Araras, verificando-os tanto em fotografias aéreas, como em
trabalhos de campo. O objetivo se tratava da criação de elementos que identificassem as
classes de uso em fotografias aéreas, para a posterior classificação de uso da terra.
Os elementos identificados foram cor, textura, forma da parcela, dimensão da área
cultivada, dimensão dos campos de cultivo, altura, espaçamento, restos de colheita e
arranjo espacial. Consoante a Ceron e Diniz (1966), os elementos dependem da época
do ano em que a fotografia foi extraída, além das técnicas agrícolas empregadas na área.
Castanho e Teodoro (2010) afirmam que um dos meios pragmáticos para estudar o
espaço agrário, é através da espacialização utilizando Geotecnologias, através dos
Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), onde é possível espacializar dados
quantitativos e qualitativos para a Geografia. O estudo do espaço agrário desempenha
um papel importante não só para a produção de alimentos para o Brasil, mas também no
papel da economia do país. Acredita-se então, que os estudos do uso e da ocupação do
solo se configuram como importante análise do espaço geográfico e agrário, quando os
autores apontam que:
A modificação do meio natural decorrente da intensificação da modernização
da agricultura, impõe a adequação de técnicas para avaliação e diagnóstico
que acompanham as modificações do espaço rural e consequentemente o uso
e sua ocupação (CASTANHO e TEODORO, 2010, p. 149).
5
Leite (2009) corrobora com Castanho e Teodoro (2010) quando infere que, ao se tratar
de questões agrárias, deve-se remeter à análise de uso da terra e transformações
antrópicas no meio ambiente. De acordo com o autor, a terra é a fonte de trabalho do
pequeno produtor, que atribui a ela atividades agropecuárias, turismo, lazer, serviços,
entre outras relacionadas à agricultura familiar. Portanto, para se analisar um
desenvolvimento rural sustentável, não se devem dispensar as Geotecnologias, que
oferecerão informações espaciais sobre a forma com que o homem utiliza o espaço.
Em uma concepção agrícola, Moreira et. al. (2008, p. 102) afirmam que “o
conhecimento da distribuição espacial da cultura é imprescindível tanto para a previsão
de safras quanto para o planejamento agrícola em escala municipal, estadual e federal”.
Análise do Mapa do Uso do Solo de Ijaci-MG
O Mapa de Uso do Solo do Município de Ijaci (Figura 2) nos permite visualizar a
distribuição espacial das classes de uso do solo do município e a Tabela 1 caracteriza
quantitativamente a área ocupada por cada classe.
6
Mapa de Uso do Solo do Município de Ijaci-MG
Elaboração: Cassiano Gustavo Messias
Tabela 1: Área ocupada pelas classes de uso do solo no município de Ijaci-MG.
Classe
Urbano 1
Urbano 2
Mata
Capoeira
Pastagem
Silvicultura
Solo Exposto
Culturas Permanentes
Culturas Anuais
Mineração
Corpos d’água
Total
Área (Km²)
1,20
1,56
5,94
8,07
65,87
1,16
1,43
3,53
4,78
1,73
10,16
105,43
Área (ha)
120,0
156,0
594,0
807,0
6587,0
116,0
143,0
353,0
478,0
173,0
1016,0
10543,0
Área (%)
1,13
1,47
5,63
7,65
62,44
1,09
1,35
3,34
4,53
1,63
9,63
100
Elaboração: Cassiano Gustavo Messias
Realizando primeiramente uma análise da distribuição espacial das classes do uso do
solo do município, verificou-se que maior parte de Ijaci é ocupada por pastagem sendo
65,87km² do total da área municipal de 105,43 km², correspondendo a 62,44%. Estas
7
áreas estão relacionadas à pecuária, introduzida juntamente com a cultura do café no
século XIX. De acordo com Oliveira-Filho e Fluminhan-Filho (1999), na região do alto
Rio Grande a cobertura vegetal primitiva foi reduzida pela pecuária extensiva, retirada
seletiva de madeira e pelas queimadas. As matas e capoeiras representam,
respectivamente, 5,63% e 7,65%, relacionando-se, em grande parte, às margens de
cursos d’água.
A extração do calcário é a principal atividade industrial, sendo que a Mineração retrata
1,63%. São visíveis os impactos causados pela mineradora, tais como a poluição visual,
sonora e ambiental. Pelo Mapa de Uso do Solo (Figura 2) é possível observar que as
mineradoras foram instaladas sobre nascentes de córregos alterando a qualidade da água
dos mesmos, o que nos permite concluir que prejudica a produções que utilizam a
irrigação.
A classe Culturas Anuais ocupa 4,53%, a classe Culturas Permanentes representam
3,34%. As áreas agrícolas estão muitas vezes próximas de córregos e ribeirões, o que
facilita a irrigação. Além disso, muitas das áreas de Solo Exposto, que ocupam 1,35%,
estão relacionadas a solos arados, em preparação para o cultivo. Há ainda o uso
relacionado à Silvicultura, representada pela eucaliptocultura, configurando-se com
1,09% da área municipal.
As áreas urbanas foram subdivididas em Urbano 1 – urbanização consolidada, sendo
1,13% da área municipal e Urbano 2 – loteamentos e urbanização não consolidada,
1,47%. Deve-se ressaltar que, a proximidade com córregos e ribeirões, tem gerado
problemas de ordem social, como as enchentes ocorridas em janeiro de 2012 em certos
pontos no município.
Análise da produção agrícola de Ijaci-MG
De acordo com os dados do SIDRA (IBGE, 2006), a respeito da estrutura fundiária do
município, são 128 estabelecimentos agropecuários correspondendo a uma área de
4.576 hectares, dos quais aproximadamente 93% são considerados pequenas
propriedades segundo o módulo do INCRA.
A partir da análise do Mapa de uso do solo, observa-se que a produção agrícola se
divide em classes de culturas permanentes e anuais. Segundo os dados da PAM
(Produção Agrícola Municipal) do IBGE (2010), analisamos a produção do município
de Ijaci (Quadro 1).
8
Quadro 1 – Produção Agrícola Municipal de Ijaci-MG em 2010.
Cultura
Café em grão
Laranja
Banana
Goiaba
Cana-de-açúcar
Feijão (em grão)
Mandioca
Milho
Arroz (em casca)
PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Quantidade produzida (t)
Agricultura Permanente
432
108
90
16
Agricultura Anual
800
73
108
2.500
102
Valor da produção (R$)
2.203.000,00
32.000,00
45.000,00
10.000,00
28.000,00
110.000,00
54.000,00
800.000,00
41.000,00
Fonte: IBGE, 2010
Sendo 86,36% dos estabelecimentos agropecuários minifúndios (SIDRA, IBGE, 2006)
espera-se uma produção agrícola de caráter familiar, mais diversificada e voltada para
abastecimento (produtos alimentícios), como apresenta o quadro 1, sendo milho, café e
o feijão principais culturas que ocupam maiores áreas, respectivamente.
Como relatado, a pesquisa sobre a dinâmica do espaço agrário envolve uma série de
variáveis. A análise da variável do desenvolvimento econômico municipal é
fundamental para compreendermos a importância da agricultura neste setor. O PIB
(Produto Interno Bruto) municipal e setorial (agropecuário, indústria e serviços) de Ijaci
está representado no quadro 2.
Quadro 2 - PIB municipal e por setores de Ijaci-MG em 2009.
PIB municipal (R$)
231.447.000,00
Agropecuário (R$)
8.731.000,00
Indústria (R$)
134.701.000,00
Serviços (R$)
53.899.000,00
Fonte: IBGE, 2009.
Analisando os valores agregados aos setores do PIB municipal temos a seguinte
distribuição: o setor de serviços participa com 23,28%, setor da indústria com 58,19%, e
o setor agropecuário com 3,77%.
Tem-se que a base para o desenvolvimento econômico do município é o setor industrial,
conforme IBGE (2010b) há no município 144 empresas, as quais ocupam um total de
1.664 trabalhadores, com um salário mensal médio de 2,6 salários mínimos. As
principais empresas geradoras de renda para o município estão relacionadas à
9
mineração, na exploração de rochas calcárias e produção de cimento. O trabalho de
extração, moagem e comercialização é realizado pelas cimenteiras Cauê – Grupo
Camargo Corrêa e Indústria de Cal SN – Grupo SN.
O PIB agropecuário é o de menor valor agregado ao PIB municipal, comparando aos
dados do quadro 1, entre as principais atividades que mais agregam valor a este setor
tem-se uma participação de 25,23% da produção de café e 9,16% da produção de milho
do total de R$ 8.731.000,00 (PIB agropecuário). Considerando que a cafeicultura seja
uma commodity agrícola, mesmo sendo a produção que mais agrega valor ao setor
agropecuário, não corresponde a 50% do total agregado, podendo-se inferir que esta não
seja a principal atividade econômica das famílias rurais.
Associado à variável econômica, a análise populacional do município também conduz
às considerações da Geografia Agrária. O quadro 3 demonstra a população de Ijaci-MG
segundo o censo demográfico de 2010.
Quadro 3 - População total, rural e urbana de Ijaci-MG em 2010.
População Total
5.859
Rural
254
Urbana
5.605
Fonte: IBGE, 2010XX
Com aproximadamente seis mil habitantes, Ijaci é considerado um município pequeno.
Esta pequena população justifica o alto valor do PIB per capta de R$ 38.344,45 (IBGE,
2009). Analisando integralmente os dados econômicos e populacionais temos que
28,40% da população municipal têm vínculo empregatício junto ao setor de empresas
(1.664 trabalhadores em empresas. IBGE, 2010b). Agregando esta informação, e
considerando que 95,66% da população de Ijaci é urbana, chama a atenção para a
questão do êxodo rural, considerando que a atividade mineradora é a principal no setor
econômico do município
Análise do espaço agrário de Ijaci: breves considerações na relação entre
população rural, produção agrícola e a atividade mineradora
Como relatado, a extração, beneficiamento e comercialização do calcário é a principal
atividade econômica do município de Ijaci-MG. As áreas de mineração se configuram
como visíveis alterações ambientais causadas pelo homem. As cavas são locais de
extração de matéria, enquanto o bota-fora o destino dos rejeitos da mineração, sendo
10
considerado um depósito tecnogênico. Os impactos da mineração não se restringem
somente aos ambientais, mas também aos visuais e à população instalada no entorno.
Elaborou-se um questionário baseado no trabalho de Yhoshida (2005), indagando quais
os impactos visíveis para a população do entorno. Foram entrevistados moradores de
oito casas da zona rural de Ijaci, os quais se situam ao redor das cavas pertencentes ao
Grupo Camargo Corrêa.
Ao serem questionados se a mineradora acarreta algum tipo de perturbação, 62,5% dos
entrevistados afirmam que sim (Gráfico 1).
Gráfico 1: Moradores rurais perturbados pela mineração em Ijaci – MG
Fonte: Cassiano Gutavo Messias, 2011 - Trabalho de campo
Esta perturbação se dá de diferentes formas, sendo tanto ao morador, como ao meio
ambiente. Os entrevistados afirmaram que há poluição visual, sonora, do ar, vibrações,
desmatamento, assoreamento de córregos e alteração na qualidade da água (no caso do
Córrego da Serrapilheira). Alguns moradores afirmaram ainda que a mineradora faz
estudos e medições em seus terrenos sem pedir autorização.
Com relação ao beneficiamento aos moradores, somente 37,5% afirmam que alguém de
sua família é beneficiado pela mineradora (Gráfico 2).
Gráfico 2: Moradores rurais de Ijaci-MG beneficiados pela mineração
Fonte: Cassiano Gutavo Messias, 2011 - Trabalho de campo
Os beneficiados são em grande maioria pessoas que trabalham para as mineradoras, visto
que houve a geração de empregos com a instalação. Além disso, moradores afirmam que
11
o Grupo Camargo Corrêa implantou creches, playground, parques e destina uma verba
para a prefeitura de Ijaci, que deve ser destinada ao desenvolvimento do município.
Figura 3 – Fotografias do espaço agrário de Ijaci-MG.
Fonte: Cassiano Gustavo Messias, 2011 - Trabalho de campo.
Através das análises das fotografias, evidenciam-se as relações que ocorrem no espaço
agrário de Ijaci, entre a atividade mineradora, a população rural e a produção agrícola.
Na foto A, tem-se a estrutura externa de uma cava e a infraestrutura de beneficiamento e
processamento do calcário, da mineradora do grupo Cuaê (à direita), revelando o que
Rua (2006) considera ser a urbanidades no campo, retratando a manifestação do
seguimento urbano-industrial no campo.
A foto B é a estrutura interna de uma cava de extração mineral. Interessante observar a
produção de eucaliptocultura que ocorre nas proximidades da cava, talvez faça parte de
um programa de reflorestamento da empresa, como ocorre em situações semelhantes.
Contudo, não se dá esta afirmativa por esta foto.
A foto C registra a proximidade da atividade mineradora com os sítios dos bairros
rurais. Observam-se nesta foto os impactos negativos que a exploração mineral ocasiona
aos produtores rurais, principalmente os ambientais. A imagem trata-se do “bota fora”
12
(lixo) da atividade mineradora, que pode poluir os cursos d’água bem como corre risco
de desmoronamento.
Contudo, o que se tem desta análise prévia da relação da mineradora com o espaço
agrário de Ijaci é que em consequência desta, a produção agrícola ao entorno das cavas
é praticamente inexistente. Além dos impactos negativos gerados pela atividade
mineradora, que vão desde os danos ambientais, à perturbação na qualidade de vida dos
produtores rurais, além de implicar na produtividade da produção agrícola. No entanto,
se faz necessário ressaltar, que conforme analisado pela entrevista, a atividade
mineradora tem feito a população se fixar no campo, através da oferta de empregos,
evitando o êxodo rural. Podendo-se afirmar, com base em Rua (2006), que se trata da
discussão acerca das urbanidades no campo, como colocado por Graziano da Silva
(1999), é o vínculo empregatício em uma atividade não agrícola no campo.
Considerações finais
Concluindo a primeira parte da investigação sobre o espaço rural do município de IjaciMG, foi possível inferir algumas considerações e selecionar algumas questões
recorrentes à pesquisa da Geografia Agrária que será trabalhada na segunda fase da
pesquisa.
A partir da interpretação e análise do Mapa do Uso do Solo de Ijaci e da comparação
com os dados econômicos, populacionais e da produção agrícola, verifica-se que a
principal atividade econômica do município está vinculada à extração de calcário, fator
que eleva o PIB industrial e é o responsável por grande parte dos empregos. Dessa
forma, concordamos com Rua (2006) quando aponta sobre as urbanidades no rural,
evidenciando a participação econômica de atividades industriais no cotidiano das
populações residentes no campo.
Relacionando-se com este fato, tem-se que a população urbana representa 95,66% da
população municipal, justificando talvez um êxodo rural pela oferta de empregos
provenientes da cidade. Ainda a respeito da atividade mineradora, esta ocorre próxima a
bairros rurais fato este que nos permite questionar alguns assuntos pertinentes à
temática da Geografia Agrária: 1) Questão ambiental: fatores que prejudicam os
moradores locais através dos impactos da poluição (dos córregos e nascentes, sonora,
visual); 2) Questão territorial: disputa por terras para cultivo e terras para exploração
mineral; 3) Questão da permanência no campo: se ocorre vínculo empregatício entre
13
população rural e mineradora, tem sido motivo de fixação desta população no campo, o
que implica em outra questão, sobre a atividade não agrícola no campo, neste caso,
extensão de atividades industriais.
Dos dados obtidos da pesquisa sobre produção agrícola municipal, desenvolvimento
econômico e espacialidade dos usos do solo, conclui-se que em Ijaci a produção agrária
tem premissas da
agricultura
familiar,
pois verificou-se que 86,36% dos
estabelecimentos agropecuários são pequenas propriedades com produção diversificada.
A respeito da produção agrícola e do desenvolvimento econômico, tem-se que a cultura
que mais agrega valor ao PIB agropecuário é a cafeeira, embora não muito significante
(corresponde a 25,23% do PIB agropecuário), sobressai sobre a segunda maior
participação de 9,16% atribuídos à produção de milho. Sabe-se que o café é uma das
principais commodities agrícolas exportadas pelo Brasil, portanto responde às
exigências do mercado internacional, fato que dificulta a participação de pequenos
proprietários. Assim, com estes dados inserimos as seguintes discussões: A)
Multifuncionalidade e Pluriatividade no espaço rural de Ijaci: a inserção destas
atividades no campo como alternativas econômicas diante da produção excludente da
cafeicultura, e/ou pequenos bazares, feiras que comercialize a produção aos
trabalhadores da mineradora; B) Produção econômica da pecuária: verificado que a área
da pastagem corresponde a 62,44% da área municipal, verificar a rentabilidade da
atividade pecuária e por consequência a existência de laticínios.
Contudo, para o desenvolvimento da segunda fase da pesquisa foi possível através da
interpretação e análise do Mapa de Uso do Solo de Ijaci-MG e dos demais dados
levantados, nortear os pontos que serão inseridos nos questionários e entrevistas, bem
como os demais bancos de dados para coleta de informações secundárias e primárias,
possibilitando compreender e conhecer o espaço rural do município através do uso da
Geotecnologia.
Conclui-se então, estar alcançando o objetivo central da pesquisa, que consiste na
elaboração de um estudo que extingue “barreiras” entre Geografia Humana, Física e
Geotecnologias. Compreende-se então que
[...] o geógrafo deve permanecer sempre um humanista, sempre preocupado
com a totalidade, mesmo quando utiliza as tecnologias mais sofisticadas. O
uso dos computadores, das imagens de satélites, das operações matemáticoestatísticas, deve ser valorizado, mas sem esquecer que, por maior que seja a
importância destes recursos, eles não substituem o cérebro humano
(ANDRADE, p.19, 2010).
14
Referências
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Agropecuário. In.: Brazilian Geographical Journal: Geosciences and Humanities
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XXVIII, nº 2, abril-junho de 1966, p. 151-173.
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