ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO MAPA DE USO DO SOLO DO MUNICÍPIO DE IJACI-MG: RECURSO PARA INVESTIGAÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO Cassiano Gustavo Messias Análise Geoespacial de Dados Ambientais e de Saúde - GEODAS Instituto de Geociências - Unicamp - SP [email protected] Larissa Chiulli Guida Grupo de Estudos Regionais e Socioespaciais – GERES Instituto de Ciências da Natureza – UNIFAL-MG [email protected] Raphael Casagrande Guida Universidade Federal de Alfenas – MG [email protected] Danilo Francisco Garófalo Trovó Análise Geoespacial de Dados Ambientais e de Saúde – GEODAS Instituto de Geociências – Unicamp – SP [email protected] Resumo O uso de geotecnologias como instrumento para análise espacial vem sendo adotado em diversas áreas do conhecimento. Cabe à Geografia, mais especificamente ao Geógrafo, a análise totalizante do espaço. Assim, sendo geógrafos, propusemo-nos analisar o espaço agrário do município de Ijaci/MG, dedicando para a metodologia desta análise a utilização dos recursos que a geografia dispõe: arcabouços teóricos e conceituais da Geografia Agrária e Geotecnologias, tendo o sensoriamento remoto como principal técnica norteadora da investigação. A pesquisa se divide em duas fases, sendo este trabalho resultado da primeira, que visa demonstrar a análise através da elaboração do Mapa de Uso do Solo de Ijaci/MG, a segunda fase ainda em desenvolvimento, contemplará uma investigação de caráter qualitativo. Contudo, acreditamos que o objetivo central do trabalho seja a investigação integrando as áreas subdivididas da Geografia (Humana e Física), na tentativa de alcançar uma análise final sob a ótica holística do geógrafo. Palavras-chave: Mapa de Uso do Solo. Geotecnologias. Ijaci-MG. Introdução A prática da agricultura, de acordo com Diniz (1984), se caracteriza como diversificada por ocorrer em diferentes meios ecológicos na superfície terrestre, e como dispersa, por atender diferentes necessidades sociais, econômicas e políticas. Sendo esta prática fundamental para garantir a subsistência de uma população, e/ou impulsionar a 1 economia de uma nação quando aliada à produção industrial, por exemplo. Assim, a análise do espaço agrário envolve vários aspectos que se inter-relacionam, se tornando complexa, por isso se faz necessário frisar que a agricultura é uma atividade, por si só não explica e elucida as diversas transformações pertencentes ao mundo rural. Neste sentido, cabe à Geografia Agrária analisar este vasto mosaico de inter-relações que sucedem no espaço rural, e as constantes transformações (oriundas das interrelações de diversos agentes) neste espaço. Segundo Andrade (p. 13, 2010) “naturalmente essas transformações vão refletir na orientação do estudo tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico; o geógrafo tem necessidade de acompanhar as transformações para fazer uma Geografia Rural e não História Rural”. Dessa forma, compreende-se que a metodologia da investigação no estudo da Geografia Agrária deve utilizar de todos os recursos disponíveis abrangendo desde os arcabouços teóricos e conceituais, aos levantamentos e observações in loco aos instrumentos técnicos para análise espacial, ou melhor, os Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s). Afinal, a ordem e/ou ordenamento espacial e as relações dos diversos agentes neste meio, consiste na base da pesquisa do geógrafo, recorrem-se logo às geotecnologias como instrumento de análise. As Geotecnologias são hoje ferramentas essenciais para a análise do espaço geográfico. Utilizando técnicas de Sensoriamento Remoto, Geoprocessamento e Análise Espacial, podem-se obter dados de maneira rápida, além de interagir diferentes informações. Uma aplicação das técnicas nesta abordagem é a análise de uso do solo, que pode nos levar a informações importantes, tais como a caracterização das propriedades, fragmentação do solo, tipos de produção, quantificação de áreas agrícolas e proximidade destas com aglomerados urbanos, entre outras. Diante desta exposição acerca da Geotecnologia no estudo da Geografia Agrária, apresenta-se este trabalho, que tem como objetivo específico investigar o espaço rural do município de Ijaci-MG, a partir da interpretação e análise do Mapa de Uso do Solo, correlacionando com a dinâmica econômica municipal, a fim de verificar a estrutura da agropecuária numa região de exploração mineral. Área de estudo O município de Ijaci-MG está situado na mesorregião do Vale das Vertentes, às margens do Rio Grande, afluente do Rio Paraná, entre as coordenadas geográficas 2 21º14’26’’ e 21º06’39’’ de latitude sul e 44º59’31” e 44º51’27’’ de longitude oeste (Figura 1). Conforme Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2010), o município abrange uma área de 10.525ha, com uma população de 5.859 habitantes, sendo que 5.605 vivem na área urbana e apenas 254 na zona rural. A principal atividade econômica está voltada para a indústria, representada pela mineração. A atividade agrícola está ligada basicamente a pequenos produtores, tendo representatividade de culturas permanentes, como o café e de culturas anuais, tais como milho, cana-deaçucar e feijão. A barragem da Hidrelétrica do Funil, situada no Rio Grande, configurase como um limítrofe ao norte do município. Figura 1: Localização do município de Ijaci. Mapa de localização da área estudada Elaboração: Cassiano Gustavo Messias 3 Materiais e métodos Para a realização desta pesquisa dividiu-se a investigação em duas fases, caracterizando a primeira em levantamentos de dados secundários, e a segunda, ainda em desenvolvimento, levantamento de dados primários. Inicialmente realizou-se um levantamento bibliográfico referente à Geografia Agrária e ao uso das Geotecnologias para análise do espaço agrário e à utilização de produtos de sensoriamento remoto para a interpretação do uso do solo. A realização da primeira fase se baseou em uma investigação de caráter quantitativo, com o objetivo final de gerar um mapa de uso do solo, cuja análise permitiu detalhar e nortear o método da segunda fase, esta em desenvolvimento e de caráter qualitativo, incluindo aplicação de questionários e entrevistas. A respeito do método quantitativo na investigação da Geografia Agrária, Ceron e Gerardi (2007, p. 13) apontam que “a quantificação deva ser encarada como técnica auxiliar da análise com grandes vantagens, particularmente para a solução de problemas de natureza complexa”. Neste sentido, realizaram-se na primeira fase levantamentos e análise de dados secundários do município de Ijaci (população, PIB - Produto Interno Bruto, PAM - Produção Agrícola Municipal, Estatística do Cadastro Central de Empresas, número e área dos estabelecimentos agropecuários, índice de Gini), todos coletados nos bancos de dados do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Para a geração do Mapa de Uso do Solo de Ijaci, utilizaram-se como materiais cartográficos as cartas topográficas, folha Lavras (SF-23-X-C-I-1) e Nepomuceno (SF23-V-D-III-2), na escala 1:50.000 do ano de 1973. Utilizou-se como produto de Sensoriamento Remoto, interpretou-se a imagem do satélite CBERS 2B/HRC (CB2BHRC153_C124_120080713), de 26/04/2008 e resolução espacial de 2,5m. Executou-se o processamento digital da imagem CBERS 2B/HRC, utilizando o software Ilwis 3.4. Trabalhou-se o contraste, correção atmosférica, registro – tomando como base as cartas topográficas (IBGE, 1973) e recorte da região de interesse. Posteriormente, a imagem processada foi importada para o ArcGIS 10, no qual foram criadas classes de uso do solo – baseando-se no Manual de Técnico de Uso da Terra (IBGE, 1999), estas foram vetorizadas e classificadas manualmente. Contudo, a partir da análise do Mapa de Uso do Solo gerado, foi possível estruturar os métodos para a análise do território rural de Ijaci, que será realizado através da elaboração e aplicação de questionários e entrevistas com os moradores da área rural, 4 apoiados em questões cuja finalidade é conhecer os tipos de produção, modo de vida, analisar o êxodo rural do campo de Ijaci, impactos da mineradora. Geotecnologias para a análise do espaço agrário Conforme Pires (2010), Geotecnologias “é um conjunto de tecnologias que possibilita a obtenção, a representação de dados e o tratamento de informações georreferenciadas a serem empregadas para a análise geográfica [...]”. Para o autor, tais tecnologias são redes sociais colaborativas, que utilizam Softwares, SIGs, GPS, imagens de satélite, entre outros instrumentos. Ressaltou-se ainda que, a utilização tem sido dificultada pelos custos de hardwares e softwares, o que tem levado as nações que desejam se inserir minimamente na era digital a utilizarem softwares livres. Ceron e Diniz (1966) estudaram os elementos de identificação das culturas em fotografias aéreas (chaves de interpretação). Analisaram-se diferentes usos nos municípios de Limeira e Araras, verificando-os tanto em fotografias aéreas, como em trabalhos de campo. O objetivo se tratava da criação de elementos que identificassem as classes de uso em fotografias aéreas, para a posterior classificação de uso da terra. Os elementos identificados foram cor, textura, forma da parcela, dimensão da área cultivada, dimensão dos campos de cultivo, altura, espaçamento, restos de colheita e arranjo espacial. Consoante a Ceron e Diniz (1966), os elementos dependem da época do ano em que a fotografia foi extraída, além das técnicas agrícolas empregadas na área. Castanho e Teodoro (2010) afirmam que um dos meios pragmáticos para estudar o espaço agrário, é através da espacialização utilizando Geotecnologias, através dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), onde é possível espacializar dados quantitativos e qualitativos para a Geografia. O estudo do espaço agrário desempenha um papel importante não só para a produção de alimentos para o Brasil, mas também no papel da economia do país. Acredita-se então, que os estudos do uso e da ocupação do solo se configuram como importante análise do espaço geográfico e agrário, quando os autores apontam que: A modificação do meio natural decorrente da intensificação da modernização da agricultura, impõe a adequação de técnicas para avaliação e diagnóstico que acompanham as modificações do espaço rural e consequentemente o uso e sua ocupação (CASTANHO e TEODORO, 2010, p. 149). 5 Leite (2009) corrobora com Castanho e Teodoro (2010) quando infere que, ao se tratar de questões agrárias, deve-se remeter à análise de uso da terra e transformações antrópicas no meio ambiente. De acordo com o autor, a terra é a fonte de trabalho do pequeno produtor, que atribui a ela atividades agropecuárias, turismo, lazer, serviços, entre outras relacionadas à agricultura familiar. Portanto, para se analisar um desenvolvimento rural sustentável, não se devem dispensar as Geotecnologias, que oferecerão informações espaciais sobre a forma com que o homem utiliza o espaço. Em uma concepção agrícola, Moreira et. al. (2008, p. 102) afirmam que “o conhecimento da distribuição espacial da cultura é imprescindível tanto para a previsão de safras quanto para o planejamento agrícola em escala municipal, estadual e federal”. Análise do Mapa do Uso do Solo de Ijaci-MG O Mapa de Uso do Solo do Município de Ijaci (Figura 2) nos permite visualizar a distribuição espacial das classes de uso do solo do município e a Tabela 1 caracteriza quantitativamente a área ocupada por cada classe. 6 Mapa de Uso do Solo do Município de Ijaci-MG Elaboração: Cassiano Gustavo Messias Tabela 1: Área ocupada pelas classes de uso do solo no município de Ijaci-MG. Classe Urbano 1 Urbano 2 Mata Capoeira Pastagem Silvicultura Solo Exposto Culturas Permanentes Culturas Anuais Mineração Corpos d’água Total Área (Km²) 1,20 1,56 5,94 8,07 65,87 1,16 1,43 3,53 4,78 1,73 10,16 105,43 Área (ha) 120,0 156,0 594,0 807,0 6587,0 116,0 143,0 353,0 478,0 173,0 1016,0 10543,0 Área (%) 1,13 1,47 5,63 7,65 62,44 1,09 1,35 3,34 4,53 1,63 9,63 100 Elaboração: Cassiano Gustavo Messias Realizando primeiramente uma análise da distribuição espacial das classes do uso do solo do município, verificou-se que maior parte de Ijaci é ocupada por pastagem sendo 65,87km² do total da área municipal de 105,43 km², correspondendo a 62,44%. Estas 7 áreas estão relacionadas à pecuária, introduzida juntamente com a cultura do café no século XIX. De acordo com Oliveira-Filho e Fluminhan-Filho (1999), na região do alto Rio Grande a cobertura vegetal primitiva foi reduzida pela pecuária extensiva, retirada seletiva de madeira e pelas queimadas. As matas e capoeiras representam, respectivamente, 5,63% e 7,65%, relacionando-se, em grande parte, às margens de cursos d’água. A extração do calcário é a principal atividade industrial, sendo que a Mineração retrata 1,63%. São visíveis os impactos causados pela mineradora, tais como a poluição visual, sonora e ambiental. Pelo Mapa de Uso do Solo (Figura 2) é possível observar que as mineradoras foram instaladas sobre nascentes de córregos alterando a qualidade da água dos mesmos, o que nos permite concluir que prejudica a produções que utilizam a irrigação. A classe Culturas Anuais ocupa 4,53%, a classe Culturas Permanentes representam 3,34%. As áreas agrícolas estão muitas vezes próximas de córregos e ribeirões, o que facilita a irrigação. Além disso, muitas das áreas de Solo Exposto, que ocupam 1,35%, estão relacionadas a solos arados, em preparação para o cultivo. Há ainda o uso relacionado à Silvicultura, representada pela eucaliptocultura, configurando-se com 1,09% da área municipal. As áreas urbanas foram subdivididas em Urbano 1 – urbanização consolidada, sendo 1,13% da área municipal e Urbano 2 – loteamentos e urbanização não consolidada, 1,47%. Deve-se ressaltar que, a proximidade com córregos e ribeirões, tem gerado problemas de ordem social, como as enchentes ocorridas em janeiro de 2012 em certos pontos no município. Análise da produção agrícola de Ijaci-MG De acordo com os dados do SIDRA (IBGE, 2006), a respeito da estrutura fundiária do município, são 128 estabelecimentos agropecuários correspondendo a uma área de 4.576 hectares, dos quais aproximadamente 93% são considerados pequenas propriedades segundo o módulo do INCRA. A partir da análise do Mapa de uso do solo, observa-se que a produção agrícola se divide em classes de culturas permanentes e anuais. Segundo os dados da PAM (Produção Agrícola Municipal) do IBGE (2010), analisamos a produção do município de Ijaci (Quadro 1). 8 Quadro 1 – Produção Agrícola Municipal de Ijaci-MG em 2010. Cultura Café em grão Laranja Banana Goiaba Cana-de-açúcar Feijão (em grão) Mandioca Milho Arroz (em casca) PRODUÇÃO AGRÍCOLA Quantidade produzida (t) Agricultura Permanente 432 108 90 16 Agricultura Anual 800 73 108 2.500 102 Valor da produção (R$) 2.203.000,00 32.000,00 45.000,00 10.000,00 28.000,00 110.000,00 54.000,00 800.000,00 41.000,00 Fonte: IBGE, 2010 Sendo 86,36% dos estabelecimentos agropecuários minifúndios (SIDRA, IBGE, 2006) espera-se uma produção agrícola de caráter familiar, mais diversificada e voltada para abastecimento (produtos alimentícios), como apresenta o quadro 1, sendo milho, café e o feijão principais culturas que ocupam maiores áreas, respectivamente. Como relatado, a pesquisa sobre a dinâmica do espaço agrário envolve uma série de variáveis. A análise da variável do desenvolvimento econômico municipal é fundamental para compreendermos a importância da agricultura neste setor. O PIB (Produto Interno Bruto) municipal e setorial (agropecuário, indústria e serviços) de Ijaci está representado no quadro 2. Quadro 2 - PIB municipal e por setores de Ijaci-MG em 2009. PIB municipal (R$) 231.447.000,00 Agropecuário (R$) 8.731.000,00 Indústria (R$) 134.701.000,00 Serviços (R$) 53.899.000,00 Fonte: IBGE, 2009. Analisando os valores agregados aos setores do PIB municipal temos a seguinte distribuição: o setor de serviços participa com 23,28%, setor da indústria com 58,19%, e o setor agropecuário com 3,77%. Tem-se que a base para o desenvolvimento econômico do município é o setor industrial, conforme IBGE (2010b) há no município 144 empresas, as quais ocupam um total de 1.664 trabalhadores, com um salário mensal médio de 2,6 salários mínimos. As principais empresas geradoras de renda para o município estão relacionadas à 9 mineração, na exploração de rochas calcárias e produção de cimento. O trabalho de extração, moagem e comercialização é realizado pelas cimenteiras Cauê – Grupo Camargo Corrêa e Indústria de Cal SN – Grupo SN. O PIB agropecuário é o de menor valor agregado ao PIB municipal, comparando aos dados do quadro 1, entre as principais atividades que mais agregam valor a este setor tem-se uma participação de 25,23% da produção de café e 9,16% da produção de milho do total de R$ 8.731.000,00 (PIB agropecuário). Considerando que a cafeicultura seja uma commodity agrícola, mesmo sendo a produção que mais agrega valor ao setor agropecuário, não corresponde a 50% do total agregado, podendo-se inferir que esta não seja a principal atividade econômica das famílias rurais. Associado à variável econômica, a análise populacional do município também conduz às considerações da Geografia Agrária. O quadro 3 demonstra a população de Ijaci-MG segundo o censo demográfico de 2010. Quadro 3 - População total, rural e urbana de Ijaci-MG em 2010. População Total 5.859 Rural 254 Urbana 5.605 Fonte: IBGE, 2010XX Com aproximadamente seis mil habitantes, Ijaci é considerado um município pequeno. Esta pequena população justifica o alto valor do PIB per capta de R$ 38.344,45 (IBGE, 2009). Analisando integralmente os dados econômicos e populacionais temos que 28,40% da população municipal têm vínculo empregatício junto ao setor de empresas (1.664 trabalhadores em empresas. IBGE, 2010b). Agregando esta informação, e considerando que 95,66% da população de Ijaci é urbana, chama a atenção para a questão do êxodo rural, considerando que a atividade mineradora é a principal no setor econômico do município Análise do espaço agrário de Ijaci: breves considerações na relação entre população rural, produção agrícola e a atividade mineradora Como relatado, a extração, beneficiamento e comercialização do calcário é a principal atividade econômica do município de Ijaci-MG. As áreas de mineração se configuram como visíveis alterações ambientais causadas pelo homem. As cavas são locais de extração de matéria, enquanto o bota-fora o destino dos rejeitos da mineração, sendo 10 considerado um depósito tecnogênico. Os impactos da mineração não se restringem somente aos ambientais, mas também aos visuais e à população instalada no entorno. Elaborou-se um questionário baseado no trabalho de Yhoshida (2005), indagando quais os impactos visíveis para a população do entorno. Foram entrevistados moradores de oito casas da zona rural de Ijaci, os quais se situam ao redor das cavas pertencentes ao Grupo Camargo Corrêa. Ao serem questionados se a mineradora acarreta algum tipo de perturbação, 62,5% dos entrevistados afirmam que sim (Gráfico 1). Gráfico 1: Moradores rurais perturbados pela mineração em Ijaci – MG Fonte: Cassiano Gutavo Messias, 2011 - Trabalho de campo Esta perturbação se dá de diferentes formas, sendo tanto ao morador, como ao meio ambiente. Os entrevistados afirmaram que há poluição visual, sonora, do ar, vibrações, desmatamento, assoreamento de córregos e alteração na qualidade da água (no caso do Córrego da Serrapilheira). Alguns moradores afirmaram ainda que a mineradora faz estudos e medições em seus terrenos sem pedir autorização. Com relação ao beneficiamento aos moradores, somente 37,5% afirmam que alguém de sua família é beneficiado pela mineradora (Gráfico 2). Gráfico 2: Moradores rurais de Ijaci-MG beneficiados pela mineração Fonte: Cassiano Gutavo Messias, 2011 - Trabalho de campo Os beneficiados são em grande maioria pessoas que trabalham para as mineradoras, visto que houve a geração de empregos com a instalação. Além disso, moradores afirmam que 11 o Grupo Camargo Corrêa implantou creches, playground, parques e destina uma verba para a prefeitura de Ijaci, que deve ser destinada ao desenvolvimento do município. Figura 3 – Fotografias do espaço agrário de Ijaci-MG. Fonte: Cassiano Gustavo Messias, 2011 - Trabalho de campo. Através das análises das fotografias, evidenciam-se as relações que ocorrem no espaço agrário de Ijaci, entre a atividade mineradora, a população rural e a produção agrícola. Na foto A, tem-se a estrutura externa de uma cava e a infraestrutura de beneficiamento e processamento do calcário, da mineradora do grupo Cuaê (à direita), revelando o que Rua (2006) considera ser a urbanidades no campo, retratando a manifestação do seguimento urbano-industrial no campo. A foto B é a estrutura interna de uma cava de extração mineral. Interessante observar a produção de eucaliptocultura que ocorre nas proximidades da cava, talvez faça parte de um programa de reflorestamento da empresa, como ocorre em situações semelhantes. Contudo, não se dá esta afirmativa por esta foto. A foto C registra a proximidade da atividade mineradora com os sítios dos bairros rurais. Observam-se nesta foto os impactos negativos que a exploração mineral ocasiona aos produtores rurais, principalmente os ambientais. A imagem trata-se do “bota fora” 12 (lixo) da atividade mineradora, que pode poluir os cursos d’água bem como corre risco de desmoronamento. Contudo, o que se tem desta análise prévia da relação da mineradora com o espaço agrário de Ijaci é que em consequência desta, a produção agrícola ao entorno das cavas é praticamente inexistente. Além dos impactos negativos gerados pela atividade mineradora, que vão desde os danos ambientais, à perturbação na qualidade de vida dos produtores rurais, além de implicar na produtividade da produção agrícola. No entanto, se faz necessário ressaltar, que conforme analisado pela entrevista, a atividade mineradora tem feito a população se fixar no campo, através da oferta de empregos, evitando o êxodo rural. Podendo-se afirmar, com base em Rua (2006), que se trata da discussão acerca das urbanidades no campo, como colocado por Graziano da Silva (1999), é o vínculo empregatício em uma atividade não agrícola no campo. Considerações finais Concluindo a primeira parte da investigação sobre o espaço rural do município de IjaciMG, foi possível inferir algumas considerações e selecionar algumas questões recorrentes à pesquisa da Geografia Agrária que será trabalhada na segunda fase da pesquisa. A partir da interpretação e análise do Mapa do Uso do Solo de Ijaci e da comparação com os dados econômicos, populacionais e da produção agrícola, verifica-se que a principal atividade econômica do município está vinculada à extração de calcário, fator que eleva o PIB industrial e é o responsável por grande parte dos empregos. Dessa forma, concordamos com Rua (2006) quando aponta sobre as urbanidades no rural, evidenciando a participação econômica de atividades industriais no cotidiano das populações residentes no campo. Relacionando-se com este fato, tem-se que a população urbana representa 95,66% da população municipal, justificando talvez um êxodo rural pela oferta de empregos provenientes da cidade. Ainda a respeito da atividade mineradora, esta ocorre próxima a bairros rurais fato este que nos permite questionar alguns assuntos pertinentes à temática da Geografia Agrária: 1) Questão ambiental: fatores que prejudicam os moradores locais através dos impactos da poluição (dos córregos e nascentes, sonora, visual); 2) Questão territorial: disputa por terras para cultivo e terras para exploração mineral; 3) Questão da permanência no campo: se ocorre vínculo empregatício entre 13 população rural e mineradora, tem sido motivo de fixação desta população no campo, o que implica em outra questão, sobre a atividade não agrícola no campo, neste caso, extensão de atividades industriais. Dos dados obtidos da pesquisa sobre produção agrícola municipal, desenvolvimento econômico e espacialidade dos usos do solo, conclui-se que em Ijaci a produção agrária tem premissas da agricultura familiar, pois verificou-se que 86,36% dos estabelecimentos agropecuários são pequenas propriedades com produção diversificada. A respeito da produção agrícola e do desenvolvimento econômico, tem-se que a cultura que mais agrega valor ao PIB agropecuário é a cafeeira, embora não muito significante (corresponde a 25,23% do PIB agropecuário), sobressai sobre a segunda maior participação de 9,16% atribuídos à produção de milho. Sabe-se que o café é uma das principais commodities agrícolas exportadas pelo Brasil, portanto responde às exigências do mercado internacional, fato que dificulta a participação de pequenos proprietários. Assim, com estes dados inserimos as seguintes discussões: A) Multifuncionalidade e Pluriatividade no espaço rural de Ijaci: a inserção destas atividades no campo como alternativas econômicas diante da produção excludente da cafeicultura, e/ou pequenos bazares, feiras que comercialize a produção aos trabalhadores da mineradora; B) Produção econômica da pecuária: verificado que a área da pastagem corresponde a 62,44% da área municipal, verificar a rentabilidade da atividade pecuária e por consequência a existência de laticínios. Contudo, para o desenvolvimento da segunda fase da pesquisa foi possível através da interpretação e análise do Mapa de Uso do Solo de Ijaci-MG e dos demais dados levantados, nortear os pontos que serão inseridos nos questionários e entrevistas, bem como os demais bancos de dados para coleta de informações secundárias e primárias, possibilitando compreender e conhecer o espaço rural do município através do uso da Geotecnologia. Conclui-se então, estar alcançando o objetivo central da pesquisa, que consiste na elaboração de um estudo que extingue “barreiras” entre Geografia Humana, Física e Geotecnologias. Compreende-se então que [...] o geógrafo deve permanecer sempre um humanista, sempre preocupado com a totalidade, mesmo quando utiliza as tecnologias mais sofisticadas. O uso dos computadores, das imagens de satélites, das operações matemáticoestatísticas, deve ser valorizado, mas sem esquecer que, por maior que seja a importância destes recursos, eles não substituem o cérebro humano (ANDRADE, p.19, 2010). 14 Referências CASTANHO, R. P.; TEODORO, M. A. O uso das geotecnologias no estudo do espaço Agropecuário. In.: Brazilian Geographical Journal: Geosciences and Humanities research medium, UFU, Pontal/Ituiutaba, v. 1, n. 1, p. 136-156, 2010 CERON, A. O.; DINIZ, J. A. F. O uso das fotografias aéreas na identificação das formas de utilização agrícola da terra. 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