SUMÁRIO ESTUDO DO ESPECTRO EM FACHADAS DE EDIFÍCIOS MULTIFAMILIARES DE JARDIM CAMBURI, VITÓRIA-ES RABBI, Leticia (1); CAVALCANTE, Marianne (2); VIEIRA, Geilma (3) (1) UFES, (27) 981169834, e-mail: [email protected], (2) UFES, email: marianneccavalcante, (3) UFES, e-mail: [email protected] RESUMO Esta pesquisa aborda as manifestações patológicas das fachadas de edifícios localizados próximos à orla da Praia de Camburi, no bairro Jardim Camburi, em Vitória/ES. Os edifícios selecionados para estudos de caso estão em distintas fases de sua vida útil, e foram escolhidos por apresentarem a manifestação patológica espectro ou fantasma. A metodologia se constitui de: revisão bibliográfica para embasar a escolha dos edifícios, caracterização das manifestações patológicas detectadas, registro fotográfico, levantamento das possíveis causas e efeitos, sugestão de procedimentos corretivos. Foram realizadas visitas e inspeções in loco para elaboração do diagnóstico preliminar. Recomenda-se a execução de ensaios para validar e confirmar o diagnóstico para então propor as terapias a serem adotadas. Para obtenção do diagnóstico preciso, indica-se utilizar a Termografia Infravermelha - que possibilita a detecção de umidade, temperatura, perda de calor, falta ou dano do isolamento térmico, pontes térmicas e vazamento de ar de um sistema de vedação - e o Método do Cachimbo, que avalia a permeabilidade do sistema de vedação. O objetivo deste trabalho é levantar a situação atual dos edifícios selecionados para estudo, através de visitas in loco, buscando identificar as manifestações patológicas, suas causas e possíveis terapias a serem aplicadas para tratamento das patologias identificadas. Palavras-Chave: manifestação patológica, espectro, fantasma, fachadas. ABSTRACT This research addresses the pathological manifestations of the facades of buildings located near the edge of Camburi Beach in Jardim Camburi neighborhood in Vitória/ES. The buildings selected for case studies are in different phases of life, and were chosen because they have a pathological manifestation spectrum or ghost. The methodology is composed of: literature review to support the choice of buildings, characterize the pathological manifestations detected, photographic record, lifting of the possible causes and effects, suggesting corrective procedures. Site visits and inspections were carried out in preparation for the preliminary diagnosis. It is recommended to carry out tests to validate and confirm the diagnosis and then propose therapies to be adopted. To obtain an accurate diagnosis, it is indicated using Infrared SUMÁRIO Thermography - allowing moisture detection, temperature, heat loss, lack or damage of the thermal insulation, thermal bridges and air leakage of a sealing system - and the method Pipe, which evaluates the permeability of the sealing system. The objective of this work is to raise the current status of selected buildings to study through site visits in order to identify the pathological manifestations, their causes and possible therapies to be applied to treatment of identified diseases. Keywords: pathological manifestation, specter, ghost, facades. 1 INTRODUÇÃO Cada material, componente ou sistema, reage de uma forma particular às solicitações de deterioração às quais é submetido, a depender de sua natureza e das condições de exposição aos agentes. O comportamento de um sistema em utilização é denominado desempenho e o período durante o qual as suas propriedades permanecem acima dos limites especificados é denominado vida útil (ISAIA, 2007). O desempenho dos componentes de uma edificação ao longo da sua vida útil resultará da integração dos processos desenvolvidos nas etapas de concepção, execução e utilização, de modo que os problemas patológicos se originam de falhas ocorridas durante a execução de uma ou mais atividades intrínsecas a estas etapas (SOUZA, RIPPER, 2009). Para que os materiais especificados atinjam o desempenho esperado, os critérios de seleção de materiais devem ser bem estabelecidos, focando nos sistemas aos quais os materiais pertencem (ISAIA, 2007). Dentre os sistemas de um edifício, a fachada é um elemento chave, influenciando em seu conforto, segurança e estética (LERMA, CABRELLES E PORTALÉS, 2011), sendo que seu desempenho geral depende das performances dos seus componentes de isolamento, apoio e instalações (HERMANS, 1995). As soluções adotadas no projeto repercutem durante todo o processo de construção, impactando diretamente na execução da obra (ISAIA, 2007). Assim como em qualquer elemento de um edifício, nos sistemas de vedações verticais externos (fachadas) a má concepção de detalhes construtivos, a incorreta seleção de materiais, a execução inadequada ou a inexistência de manutenção são o centro das atuais manifestações patológicas (LERMA, CABRELLES E PORTALÉS, 2011 e PEREIRA, 2005). O objetivo deste trabalho é levantar a situação atual dos edifícios selecionados para estudo, através de visitas in loco, buscando identificar as manifestações patológicas, suas causas e possíveis terapias a serem aplicadas para tratamento das patologias identificadas. SUMÁRIO 2 MANUTENÇÃO E DESEMPENHO Segundo Lichtenstein (1985), desempenho é o comportamento de um produto quando em uso, seja ele o conjunto de sistemas (o edifício), os vários subsistemas que o compõem (estruturas, instalações, vedações, etc.) ou os componentes que formam um determinado subsistema. Os requisitos de desempenho são relativos ao uso propriamente dito da edificação e à resistência da mesma aos desgastes recebidos. Considera-se que existe uma manifestação patológica (problema real, com sintomas já manifestos) ou uma inconformidade (problema potencial ou já instalado e ainda sem sintomas aparentes) em todo sistema ou subsistema que não atende a algum requisito de desempenho, particularmente aqueles exigidos por legislação específica, regulamentação ou normalização técnica (GNIPPER e MIKALDO, 2007). Considerando-se o conceito de desempenho, principalmente normatizado em 2013 através da NBR 15575 (ABNT, 2013), os problemas de desempenho são analisados dentro do contexto de um conjunto de sistemas que deve funcionar em equilíbrio. O desempenho e a durabilidade das paredes em alvenaria podem variar em função da resistência da mesma à deterioração pela ação de agentes agressivos. A durabilidade da fachada pode ser comprometida por fissuração e rupturas localizadas – que dependem da estabilidade dimensional e da capacidade de absorver deformações da alvenaria, que variam muito e dependem do tipo de alvenaria empregada. A variação dimensional é resultado de movimentações higroscópicas ou térmicas. A estabilidade dimensional da alvenaria é função das características dos blocos e das argamassas empregadas. A norma NBR 15575-1 (ABNT, 2013) estabelece que o sistema de vedação vertical externo, que abrange a alvenaria, regularização, revestimento e acabamento, deve atingir vida útil mínima de 40 anos. O atendimento ao desempenho requerido, bem como o seu prolongamento estão condicionados à correta periodicidade e atendimento aos processos de manutenção segundo a NBR 5674 ou recomendados pelo fornecedor. A manutenção preventiva (ou planejada) é aquela feita em intervalos pré-definidos, de forma regular, para garantir o desempenho esperado na edificação. Ela reduz a necessidade de obras não planejadas e permite estimar os custos gerais. A Manutenção preditiva (ou baseada em condição) é aquela em que se realiza um planejamento de inspeção. As previsões aumentam a precisão, sendo muito útil para reduzir os custos do ciclo de vida e encontrar formas mais eficientes de utilizar o orçamento de manutenção. Por último, tem-se a Manutenção Reativa, relativa à correção de anomalias inesperadas, quase sempre um processo de urgência, levando a custos adicionais inevitáveis e não previstos. É de suma importância normatizar os procedimentos e técnicas que podem minimizar os inconvenientes deste tipo de manutenção (ABNT, 2013). SUMÁRIO Com a evolução dos estudos diagnósticos voltados às edificações, com destaque para a Inspeção Predial e a Engenharia Diagnóstica, foram classificadas cinco ferramentas diagnósticas dos exames em edificações: vistorias, inspeções, auditorias, perícias e consultorias. Todas visando ações investigativas, pró-ativas de qualidade e sustentabilidade das edificações. Foram complementados com as normas da ABNT: de manutenção (NBR 5674:2013), de desempenho (NBR 15575:2013) e com as Diretrizes Técnicas da cartilha - Inspeção Predial: a Saúde dos Edifícios (IBAPE-SP, 2012). Recomenda-se que seja utilizado um roteiro de trabalho para realizar a Inspeção de Manutenção Predial, visando sistematizar as ações mais genéricas, o que facilita o desenvolvimento da atividade. A Inspeção Predial apresenta-se como uma ferramenta diagnóstica fundamental no enfoque da qualidade das edificações, além de contribuir para as avaliações técnicas na prática, na manutenção e no desempenho. A segurança, preservação da qualidade, sustentabilidade e valorização das edificações dependem da manutenção predial, que se configura como uma das condicionantes para se atingir o patamar técnico e a vida útil de projeto (VUP). O objetivo principal destas diretrizes técnicas é colaborar com a “saúde dos edifícios”, sua segurança, funcionalidade, manutenção adequada e valorização patrimonial, sendo aplicável a todas as edificações, independentemente da tipologia e da idade (IBAPE-SP, 2011). Segundo o IBAPE-SP (2012): “A inspeção predial é a atividade que possui norma e método próprios. Classifica as deficiências constatadas na edificação com visão sistêmica, aponta o grau de risco observado para cada uma delas e gera lista de prioridades técnicas com orientações ou recomendações para sua correção”. Para a realização da inspeção predial, recomenda-se o emprego da Norma de Inspeção Predial (IBAPE-SP, 2011) e destaca-se que o trabalho precisa ser realizado por profissional habilitado (engenheiro ou arquiteto), especialista e capacitado para a função. 3 METODOLOGIA A pesquisa é composta por estudos de caso, abordando as manifestações patológicas ocorridas em fachadas de seis edifícios localizados próximos à orla da Praia de Camburi, no bairro Jardim Camburi, em Vitória, Espírito Santo. Os edifícios selecionados estão em distintas fases de sua vida útil, e foram selecionados por apresentarem a mesma manifestação patológica: espectro ou fantasma. O foco do trabalho é o estudo das manifestações patológicas ocorridas na camada de revestimento externo das fachadas, compostas por pintura ou textura sobre o reboco. A Metodologia adotada nesta pesquisa é baseada em Lichtenstein (1985) e foi estruturada em uma sequência de três etapas: levantamento de subsídios, diagnóstico preliminar e sugestão de SUMÁRIO alternativas para intervenção. O levantamento de subsídios para entendimento dos problemas foi feito através de inspeção visual dos edifícios e levantamento fotográfico. O mesmo poderá ser complementado, futuramente, com o histórico dos edifícios, vistorias detalhadas in loco, entrevistas com moradores ou administradores/síndicos e análise de projetos, se necessário. Feito o levantamento, passou-se à elaboração do diagnóstico preliminar da manifestação patológica, que deve ser comprovado pelos ensaios complementares sugeridos. Por último foi feito o estudo das alternativas de intervenção, para posterior decisão da conduta a ser seguida. Deve ser escolhida a alternativa de intervenção mais conveniente, visando o tratamento correto da patologia. Para a seleção dos edifícios a serem estudados, foram definidos quatro parâmetros essenciais: 1. O edifício deve estar localizado dentro da área demarcada para análise; 2. Deve ser um edifício residencial multifamiliar, com mínimo de dois andares tipo; 3. Possuir revestimento externo da(s) fachada(s) afetada(s) pela manifestação patológica composta por pintura ou textura; 4. Existência da manifestação patológica conhecida como espectro ou fantasma no sistema de vedação vertical externo. 4 4.1 ESTUDOS DE CASO Caracterização da área em estudo O bairro Jardim Camburi é situado próximo à praia e a uma área industrial, onde se concentram usinas de pelotização, produção de aço, pátios de estocagem de minério de ferro, carvão siderúrgico, além de indústrias cimentícias. O estudo de caso englobará edifícios localizados nas quadras mais próximas à praia. Na área de recorte, há a predominância de edificações de uso residencial, bem como construções de uso misto, que mesclam uso comercial, institucional, prestação de serviços e residencial. Os gabaritos das edificações variam de 3 a 40 metros de altura, sendo que os números de pavimentos oscilam de 01 a 12 andares. 4.2 Caracterização da manifestação patológica A manifestação patológica conhecida como espectro de juntas ou “fantasmas” é caracterizada pelo desenho de juntas verticais e horizontais no revestimento de fachada, onde a estrutura fica bem marcada e pode-se visualizar o desenho do material de vedação interna desta superfície. Unido à deposição de poeira e poluição atmosférica na superfície da fachada, podem ser observadas manchas de cor escura nos locais. A causa mais frequente dos “fantasmas” é o fenômeno físico conhecido como termoforese. Em função da temperatura superficial das paredes, internas e externas, ocorre maior ou menor deposição de poeiras. Quanto mais baixa a temperatura, SUMÁRIO maior e mais intensa a deposição sobre a superfície (LOGEAIS apud SEGAT, 2005). As juntas de assentamento entre os blocos e os componentes da alvenaria possuem diferentes coeficientes de absorção de água. Das diferentes temperaturas incidentes na face do revestimento decorrem os espectros externos, enquanto que as pontes térmicas constituídas pelas juntas originam os espectros internos. (LOGEAIS apud SEGAT, 2005). O escurecimento da superfície da fachada também pode ser decorrente da proliferação de fungos, essencialmente localizados nos substratos mais absorventes. Como as tintas látex, geralmente utilizadas para pintura de superfícies externas, são compostas por substâncias que agem como nutrientes para microrganismos, que por sua vez se desenvolvem na existência de umidade excessiva, antes da execução da pintura é importante que a umidade absorvida pelo substrato (base) seja eliminada. Em alguns casos, o revestimento pintura apresenta alta permeabilidade, permitindo a absorção da água da chuva pela base, mas inibindo a evaporação da água, propiciando a ocorrência da manifestação patológica. Outras hipóteses que podem favorecer o desenvolvimento da manifestação patológica são: a ausência de chapisco - camada responsável pela homogeneização das condições higroscópicas da base - além da possibilidade da espessura do revestimento ser reduzida. Demais causas de manifestações patológicas em fachadas de alvenaria são: - A falta de normatização que exija o detalhamento adequado das soluções propostas para as fachadas, o que leva a execução de projetos preliminares e sem detalhes executivos de fachadas; - A escolha dos materiais levando-se em consideração apenas o custo e não as características técnicas do mesmo: se foram ensaiados em laboratório ou se possuem a qualidade necessária para o desempenho satisfatório da edificação; - A qualidade da mão-de-obra empregada na construção: normalmente de baixa qualidade, sem capacitação ou treinamento; - O ritmo da construção excessivamente rápida, muito praticada atualmente, que torna a construção em geral e em destaque as paredes, extremamente sensíveis à qualidade da execução; Os aspectos citados acima ressaltam a importância da correta escolha dos materiais, sejam os blocos, argamassas e os acabamentos a serem utilizados na execução das alvenarias. A adoção de soluções convenientemente detalhadas e, sempre que possível mais simples e racionalizadas, deixam a construção menos sujeita à qualidade da mão-de-obra. Além disso, contribuem para a redução do esforço físico no assentamento e podem levar a uma maior produtividade e economia geral da edificação. SUMÁRIO 4.3 Edifícios selecionados para Estudos de Caso Os seis edifícios selecionados para estudo foram: 1. Edifício 01 2. Edifício 02 3. Edifício 03 4. Edifício 04 5. Edifício 05 6. Edifício 06 As fachadas levantadas no estudo de caso, nas quais se localizam as manifestações patológicas, possuem sistema de revestimento de argamassa em camada única ou duas camadas. Segundo a NBR 13529 (ABNT, 2013), o sistema de revestimento é o “conjunto formado por revestimento de argamassa e acabamento decorativo”, sendo que o revestimento de argamassa consiste no “cobrimento de uma superfície com uma ou mais camadas superpostas de argamassa, apto a receber acabamento decorativo ou constituir-se em acabamento final”. Os revestimentos de camada única possuem um único tipo de argamassa SUMÁRIO aplicado sobre a base do revestimento, enquanto que o revestimento de duas camadas é constituído de reboco e emboço. Todos os substratos do estudo de caso possuem acabamento em pinturas texturizadas acrílicas. As pinturas não devem ser entendidas apenas como a camada de acabamento (UEMOTO, 2005), visto que possuem a função de proteger os revestimentos de argamassa contra o esfarelamento, ação de umidade, reduzir a absorção de água e inibir o desenvolvimento de microrganismos (SABBATINI et al 2006). A partir da análise das seis edificações selecionadas, observou-se que os edifícios 01, 02, 03, 04 e 05 apresentaram este tipo de manifestação patológica nas fachadas voltadas para o Sul, com maior incidência nas partes superiores dos mesmos. Destaca-se que recebem a incidência do vento vindo da praia, sofrendo ação da névoa salina, alta umidade e incidência de poluição atmosférica. Esta poluição atmosférica é constituída, principalmente, de poeira e material particulado em suspensão, oriundo da enorme planta industrial localizada próxima ao bairro. Nela se concentram pátios de estocagem de minério de ferro, carvão siderúrgico, além de indústrias cimenteiras. Os gases e materiais particulados gerados são imediatamente emitidos para a atmosfera, sendo esta emissão geralmente realizada por chaminés. Ao sair da chaminé esta “pluma contaminante” eleva-se, devido a sua alta temperatura em relação à temperatura ambiente, e ao ser lançada na atmosfera sofre efeito de dispersão, condicionado aos parâmetros meteorológicos e aerodinâmicos, como velocidade e direção do vento e temperatura (PAOLI, 2006). Como na cidade de Vitória os ventos predominantes são o nordeste e o sul, e a dispersão da pluma é afetada por efeitos aerodinâmicos, as emissões são guiadas por estes ventos. Estando o bairro geograficamente localizado nos sentidos norte-sul, tendo o mar no sentido sul, os ventos que partem do sentido sul atingem com maior frequência as fachadas voltadas para o mar. Une-se a isto, a presença de uma grande lâmina d’água, na praia de Camburi, onde ocorre a evaporação da água da superfície de água livre (oceano). Esta água em forma de vapor se une ao material particulado originário da planta industrial, que está em suspensão, e a outros íons típicos da atmosfera marinha (como cloro, sulfatos e magnésio). Este conjunto é carreado pelo vento até as fachadas dos prédios, onde se acumula, causando o aspecto escurecido das mesmas, além de acarretar outras manifestações patológicas. Isto ocorre ao longo de todo o bairro, não apenas na área demarcada para estudo. No edifício 06, a fachada danificada é a voltada para o Leste, com destaque para o corredor de vento entre esta edificação e a edificação vizinha, o que favorece a ação das intempéries citadas. É importante destacar o edifício 03 que, por ser uma edificação mais antiga, está mais sujeito às patologias relacionadas à falta de SUMÁRIO manutenção periódica por parte dos usuários. Constata-se, também que neste edifício muitos apartamentos estão desocupados (para serem alugados ou à venda), o que contribui para o agravamento das manifestações patológicas destacadas. Os levantamentos e a análises conduzidos no estudo apontaram diversos fatores contribuintes para o surgimento de manifestações patológicas, entre os quais se destacam: 1. Possíveis falhas na concepção do projeto ou falta de detalhamento do projeto de fachada; 2. Possíveis falhas de execução dos sistemas de vedação verticais; A ação da água sobre a fachada pode ser considerada um agente químico de degradação, segundo BAUER (1987), sendo inclusos neste grupo a umidade de ar, a condensação e as precipitações. Outros agentes importantes são os sais oriundos da névoa salina, vinda do mar, e a ação dos materiais inertes como a poeira e a poluição ambiental (material particulado em suspensão). Ressalta-se ainda que a falta de um processo ordenado de desenvolvimento dos vários sistemas prediais, segundo os princípios da chamada engenharia simultânea, também podem causar patologias. 5 5.1 RESULTADOS Ensaios para comprovação Neste estudo de caso, para obtenção do diagnóstico mais preciso, é indicada a utilização da Termografia Infravermelha, uma técnica de imagem não destrutiva de sensoriamento remoto, a qual possibilita a detecção de umidade, temperatura, perda de calor, falta ou dano do isolamento térmico, pontes térmicas e vazamento de ar de um sistema de vedação (LERMA, CABRELLES e PORTALÉS, 2011). Esta técnica permite a caracterização do comportamento higrotérmico da fachada. Outro método recomendado é o “método do cachimbo”, que objetiva avaliar a capacidade impermeabilizante ou de repelência à água de um revestimento de parede. A permeabilidade está relacionada à passagem de água pela camada de argamassa, que permite a percolação da água por ser porosa (BAIA e SABBATINI, 2008). Este método foi idealizado pelo instituto de informação e pesquisa científica Belga (Centre Scientifique et Technique de La Construction – CSTC), e adaptado por Polisseni (1986). As principais aplicações do método do cachimbo são: avaliação da capacidade impermeabilizante de um revestimento de parede; avaliação da durabilidade relacionada à capacidade impermeabilizante dos revestimentos de parede; e comparação da eficácia inicial relativa à capacidade impermeabilizante entre produto de revestimento de parede (HATTGE, 2004). SUMÁRIO 5.2 Diagnóstico Preliminar Para o estabelecimento de um diagnóstico correto, devem ser efetuados levantamentos globais (locais da obra onde aparece o problema, eventual manifestação do problema em componentes ou obras vizinhas, presença de outras patologias na região em análise, etc.), sendo necessário também analisar-se o histórico dos acontecimentos que poderiam relacionar-se com a patologia em questão: época de execução da obra, eventual sazonalidade na manifestação do problema, tentativas de reparação etc. Pode-se ainda recorrer à análise dos projetos e à execução de ensaios específicos, tanto em laboratório como na própria obra (PEREIRA, 2005). É importante que os casos, depois de analisados e solucionados, sejam registrados para que, futuramente, possam ser tomadas medidas preventivas para evitar tais falhas e assim, não se torne necessário ter gastos e incômodos com terapias corretivas. 5.3 Proposição de Soluções ou Tratamentos Para a recuperação e tratamento da fachada externa com revestimento de argamassa, Campos (2009) recomenda a lavagem da superfície com hidro jateamento e a recuperação das áreas com trincas, fissuras, mal aderidas, com bolhas e saliências existentes na superfície. Nas áreas que apresentarem trincas, o reboco deve ser removido por meio de corte e apicoamento, e executada a recuperação com argamassa micro reforçada com fibras de polipropileno multifilamentos. As fissuras de pequenas aberturas devem ser reforçadas com tela de poliéster sobre a superfície do quadro fissuratório. Segundo Bianchin (1999), no tratamento de sistemas de revestimento atingidos por umidade e sais, devem ser utilizados sistemas de revestimento de recuperação formado por chapisco, reboco-base ou emboço e reboco de recuperação, sendo que o reboco-base não é obrigatório. A argamassa de recuperação deve ter por características alta porosidade e permeabilidade ao vapor de água, além de apresentar uma redução no transporte por capilaridade desta água. Antes da recuperação é necessário realizar a remoção do revestimento na região afetada pela umidade, e raspar as juntas na profundidade de 2 a 3 cm. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A deterioração causada pela ação da água nas fachadas em alvenaria é função de diversos fatores e fenômenos, que juntos podem causar danos de diferentes proporções. Em locais com alto índice de precipitação, presença de grandes lâminas d’água, névoa salina, alta umidade relativa do ar e altos níveis de poluição atmosférica, as fachadas são mais solicitadas, em relação à estanqueidade e SUMÁRIO desempenho global. O grau de exposição a que as fachadas estão sujeitas sintetiza a solicitação que é imposta a aquela parede. As manifestações patológicas nas alvenarias de fachadas podem decorrer de falhas na composição dos seus materiais constituintes (blocos ou tijolos, argamassas, dentre outros), da armazenagem inadequada desses materiais no canteiro (exposição à chuva, excesso de radiação solar, calor ou elementos contaminantes), de falhas na execução e de deficiências de projeto, principalmente em relação à falta de detalhamento e falta de projeto executivo de fachadas. É importante levar em consideração também a velocidade exigida para execução e entrega das obras, com prazos cada vez mais curtos para cada etapa da construção. O que pode ser visualizado como “defeito” ou patologia nas alvenarias das fachadas pode ocorrer devido a falhas em outros componentes da obra, como: a excessiva deformação ou dilatações térmicas das estruturas de concreto armado e a infiltração de água nas paredes (seja pelas fundações, coberturas, caixilharia ou instalações), pois tratam de sistemas inter-relacionados. A falta de manutenção regular dos edifícios também contribui para a deterioração precoce das edificações. Problemas comuns de ocorrerem nas obras, como: fissuras na alvenaria, infiltrações em telhados, falta de juntas de dilatação nos revestimentos, podem transformar-se em problemas generalizados se não corrigidos a tempo. O diagnóstico correto das patologias é fundamental para o estabelecimento das medidas preventivas e para a tomada de decisão sobre as medidas corretivas, que a princípio só serão eficientes se conseguirem combater efetivamente a causa dos problemas. 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