do Artigo

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SUMÁRIO
ESTUDO DO ESPECTRO EM FACHADAS DE EDIFÍCIOS
MULTIFAMILIARES DE JARDIM CAMBURI, VITÓRIA-ES
RABBI, Leticia (1); CAVALCANTE, Marianne (2); VIEIRA, Geilma (3)
(1) UFES, (27) 981169834, e-mail: [email protected], (2) UFES, email: marianneccavalcante, (3) UFES, e-mail: [email protected]
RESUMO
Esta pesquisa aborda as manifestações patológicas das fachadas de
edifícios localizados próximos à orla da Praia de Camburi, no bairro
Jardim Camburi, em Vitória/ES. Os edifícios selecionados para estudos
de caso estão em distintas fases de sua vida útil, e foram escolhidos por
apresentarem a manifestação patológica espectro ou fantasma. A
metodologia se constitui de: revisão bibliográfica para embasar a
escolha dos edifícios, caracterização das manifestações patológicas
detectadas, registro fotográfico, levantamento das possíveis causas e
efeitos, sugestão de procedimentos corretivos. Foram realizadas visitas e
inspeções in loco para elaboração do diagnóstico preliminar.
Recomenda-se a execução de ensaios para validar e confirmar o
diagnóstico para então propor as terapias a serem adotadas. Para
obtenção do diagnóstico preciso, indica-se utilizar a Termografia
Infravermelha - que possibilita a detecção de umidade, temperatura,
perda de calor, falta ou dano do isolamento térmico, pontes térmicas e
vazamento de ar de um sistema de vedação - e o Método do
Cachimbo, que avalia a permeabilidade do sistema de vedação. O
objetivo deste trabalho é levantar a situação atual dos edifícios
selecionados para estudo, através de visitas in loco, buscando
identificar as manifestações patológicas, suas causas e possíveis
terapias a serem aplicadas para tratamento das patologias
identificadas.
Palavras-Chave: manifestação patológica, espectro, fantasma, fachadas.
ABSTRACT
This research addresses the pathological manifestations of the facades
of buildings located near the edge of Camburi Beach in Jardim Camburi
neighborhood in Vitória/ES. The buildings selected for case studies are in
different phases of life, and were chosen because they have a
pathological manifestation spectrum or ghost. The methodology is
composed of: literature review to support the choice of buildings,
characterize the pathological manifestations detected, photographic
record, lifting of the possible causes and effects, suggesting corrective
procedures. Site visits and inspections were carried out in preparation for
the preliminary diagnosis. It is recommended to carry out tests to validate
and confirm the diagnosis and then propose therapies to be adopted.
To obtain an accurate diagnosis, it is indicated using Infrared
SUMÁRIO
Thermography - allowing moisture detection, temperature, heat loss, lack
or damage of the thermal insulation, thermal bridges and air leakage of
a sealing system - and the method Pipe, which evaluates the
permeability of the sealing system. The objective of this work is to raise
the current status of selected buildings to study through site visits in order
to identify the pathological manifestations, their causes and possible
therapies to be applied to treatment of identified diseases.
Keywords: pathological manifestation, specter, ghost, facades.
1
INTRODUÇÃO
Cada material, componente ou sistema, reage de uma forma particular
às solicitações de deterioração às quais é submetido, a depender de
sua natureza e das condições de exposição aos agentes. O
comportamento de um sistema em utilização é denominado
desempenho e o período durante o qual as suas propriedades
permanecem acima dos limites especificados é denominado vida útil
(ISAIA, 2007).
O desempenho dos componentes de uma edificação ao longo da sua
vida útil resultará da integração dos processos desenvolvidos nas etapas
de concepção, execução e utilização, de modo que os problemas
patológicos se originam de falhas ocorridas durante a execução de
uma ou mais atividades intrínsecas a estas etapas (SOUZA, RIPPER, 2009).
Para que os materiais especificados atinjam o desempenho esperado,
os critérios de seleção de materiais devem ser bem estabelecidos,
focando nos sistemas aos quais os materiais pertencem (ISAIA, 2007).
Dentre os sistemas de um edifício, a fachada é um elemento chave,
influenciando em seu conforto, segurança e estética (LERMA,
CABRELLES E PORTALÉS, 2011), sendo que seu desempenho geral
depende das performances dos seus componentes de isolamento,
apoio e instalações (HERMANS, 1995). As soluções adotadas no projeto
repercutem durante todo o processo de construção, impactando
diretamente na execução da obra (ISAIA, 2007). Assim como em
qualquer elemento de um edifício, nos sistemas de vedações verticais
externos (fachadas) a má concepção de detalhes construtivos, a
incorreta seleção de materiais, a execução inadequada ou a
inexistência de manutenção são o centro das atuais manifestações
patológicas (LERMA, CABRELLES E PORTALÉS, 2011 e PEREIRA, 2005).
O objetivo deste trabalho é levantar a situação atual dos edifícios
selecionados para estudo, através de visitas in loco, buscando
identificar as manifestações patológicas, suas causas e possíveis
terapias a serem aplicadas para tratamento das patologias
identificadas.
SUMÁRIO
2
MANUTENÇÃO E DESEMPENHO
Segundo Lichtenstein (1985), desempenho é o comportamento de um
produto quando em uso, seja ele o conjunto de sistemas (o edifício), os
vários subsistemas que o compõem (estruturas, instalações, vedações,
etc.) ou os componentes que formam um determinado subsistema. Os
requisitos de desempenho são relativos ao uso propriamente dito da
edificação e à resistência da mesma aos desgastes recebidos.
Considera-se que existe uma manifestação patológica (problema real,
com sintomas já manifestos) ou uma inconformidade (problema
potencial ou já instalado e ainda sem sintomas aparentes) em todo
sistema ou subsistema que não atende a algum requisito de
desempenho, particularmente aqueles exigidos por legislação
específica, regulamentação ou normalização técnica (GNIPPER e
MIKALDO, 2007). Considerando-se o conceito de desempenho,
principalmente normatizado em 2013 através da NBR 15575 (ABNT,
2013), os problemas de desempenho são analisados dentro do contexto
de um conjunto de sistemas que deve funcionar em equilíbrio.
O desempenho e a durabilidade das paredes em alvenaria podem
variar em função da resistência da mesma à deterioração pela ação
de agentes agressivos. A durabilidade da fachada pode ser
comprometida por fissuração e rupturas localizadas – que dependem
da estabilidade dimensional e da capacidade de absorver
deformações da alvenaria, que variam muito e dependem do tipo de
alvenaria empregada. A variação dimensional é resultado de
movimentações higroscópicas ou térmicas. A estabilidade dimensional
da alvenaria é função das características dos blocos e das argamassas
empregadas.
A norma NBR 15575-1 (ABNT, 2013) estabelece que o sistema de
vedação vertical externo, que abrange a alvenaria, regularização,
revestimento e acabamento, deve atingir vida útil mínima de 40 anos. O
atendimento ao desempenho requerido, bem como o seu
prolongamento estão condicionados à correta periodicidade e
atendimento aos processos de manutenção segundo a NBR 5674 ou
recomendados pelo fornecedor.
A manutenção preventiva (ou planejada) é aquela feita em intervalos
pré-definidos, de forma regular, para garantir o desempenho esperado
na edificação. Ela reduz a necessidade de obras não planejadas e
permite estimar os custos gerais. A Manutenção preditiva (ou baseada
em condição) é aquela em que se realiza um planejamento de
inspeção. As previsões aumentam a precisão, sendo muito útil para
reduzir os custos do ciclo de vida e encontrar formas mais eficientes de
utilizar o orçamento de manutenção. Por último, tem-se a Manutenção
Reativa, relativa à correção de anomalias inesperadas, quase sempre
um processo de urgência, levando a custos adicionais inevitáveis e não
previstos. É de suma importância normatizar os procedimentos e
técnicas que podem minimizar os inconvenientes deste tipo de
manutenção (ABNT, 2013).
SUMÁRIO
Com a evolução dos estudos diagnósticos voltados às edificações, com
destaque para a Inspeção Predial e a Engenharia Diagnóstica, foram
classificadas cinco ferramentas diagnósticas dos exames em
edificações: vistorias, inspeções, auditorias, perícias e consultorias. Todas
visando ações investigativas, pró-ativas de qualidade e sustentabilidade
das edificações. Foram complementados com as normas da ABNT: de
manutenção (NBR 5674:2013), de desempenho (NBR 15575:2013) e com
as Diretrizes Técnicas da cartilha - Inspeção Predial: a Saúde dos Edifícios
(IBAPE-SP, 2012). Recomenda-se que seja utilizado um roteiro de
trabalho para realizar a Inspeção de Manutenção Predial, visando
sistematizar as ações mais genéricas, o que facilita o desenvolvimento
da atividade.
A Inspeção Predial apresenta-se como uma ferramenta diagnóstica
fundamental no enfoque da qualidade das edificações, além de
contribuir para as avaliações técnicas na prática, na manutenção e no
desempenho.
A
segurança,
preservação
da
qualidade,
sustentabilidade e valorização das edificações dependem da
manutenção predial, que se configura como uma das condicionantes
para se atingir o patamar técnico e a vida útil de projeto (VUP). O
objetivo principal destas diretrizes técnicas é colaborar com a “saúde
dos edifícios”, sua segurança, funcionalidade, manutenção adequada
e valorização patrimonial, sendo aplicável a todas as edificações,
independentemente da tipologia e da idade (IBAPE-SP, 2011).
Segundo o IBAPE-SP (2012): “A inspeção predial é a atividade que possui
norma e método próprios. Classifica as deficiências constatadas na
edificação com visão sistêmica, aponta o grau de risco observado para
cada uma delas e gera lista de prioridades técnicas com orientações
ou recomendações para sua correção”. Para a realização da inspeção
predial, recomenda-se o emprego da Norma de Inspeção Predial
(IBAPE-SP, 2011) e destaca-se que o trabalho precisa ser realizado por
profissional habilitado (engenheiro ou arquiteto), especialista e
capacitado para a função.
3
METODOLOGIA
A pesquisa é composta por estudos de caso, abordando as
manifestações patológicas ocorridas em fachadas de seis edifícios
localizados próximos à orla da Praia de Camburi, no bairro Jardim
Camburi, em Vitória, Espírito Santo. Os edifícios selecionados estão em
distintas fases de sua vida útil, e foram selecionados por apresentarem a
mesma manifestação patológica: espectro ou fantasma. O foco do
trabalho é o estudo das manifestações patológicas ocorridas na
camada de revestimento externo das fachadas, compostas por pintura
ou textura sobre o reboco.
A Metodologia adotada nesta pesquisa é baseada em Lichtenstein
(1985) e foi estruturada em uma sequência de três etapas:
levantamento de subsídios, diagnóstico preliminar e sugestão de
SUMÁRIO
alternativas para intervenção. O levantamento de subsídios para
entendimento dos problemas foi feito através de inspeção visual dos
edifícios e levantamento fotográfico. O mesmo poderá ser
complementado, futuramente, com o histórico dos edifícios, vistorias
detalhadas
in
loco,
entrevistas
com
moradores
ou
administradores/síndicos e análise de projetos, se necessário. Feito o
levantamento, passou-se à elaboração do diagnóstico preliminar da
manifestação patológica, que deve ser comprovado pelos ensaios
complementares sugeridos. Por último foi feito o estudo das alternativas
de intervenção, para posterior decisão da conduta a ser seguida. Deve
ser escolhida a alternativa de intervenção mais conveniente, visando o
tratamento correto da patologia.
Para a seleção dos edifícios a serem estudados, foram definidos quatro
parâmetros essenciais: 1. O edifício deve estar localizado dentro da
área demarcada para análise; 2. Deve ser um edifício residencial
multifamiliar, com mínimo de dois andares tipo; 3. Possuir revestimento
externo da(s) fachada(s) afetada(s) pela manifestação patológica
composta por pintura ou textura; 4. Existência da manifestação
patológica conhecida como espectro ou fantasma no sistema de
vedação vertical externo.
4
4.1
ESTUDOS DE CASO
Caracterização da área em estudo
O bairro Jardim Camburi é situado próximo à praia e a uma área
industrial, onde se concentram usinas de pelotização, produção de
aço, pátios de estocagem de minério de ferro, carvão siderúrgico, além
de indústrias cimentícias. O estudo de caso englobará edifícios
localizados nas quadras mais próximas à praia. Na área de recorte, há a
predominância de edificações de uso residencial, bem como
construções de uso misto, que mesclam uso comercial, institucional,
prestação de serviços e residencial. Os gabaritos das edificações
variam de 3 a 40 metros de altura, sendo que os números de
pavimentos oscilam de 01 a 12 andares.
4.2
Caracterização da manifestação patológica
A manifestação patológica conhecida como espectro de juntas ou
“fantasmas” é caracterizada pelo desenho de juntas verticais e
horizontais no revestimento de fachada, onde a estrutura fica bem
marcada e pode-se visualizar o desenho do material de vedação
interna desta superfície. Unido à deposição de poeira e poluição
atmosférica na superfície da fachada, podem ser observadas manchas
de cor escura nos locais. A causa mais frequente dos “fantasmas” é o
fenômeno físico conhecido como termoforese. Em função da
temperatura superficial das paredes, internas e externas, ocorre maior
ou menor deposição de poeiras. Quanto mais baixa a temperatura,
SUMÁRIO
maior e mais intensa a deposição sobre a superfície (LOGEAIS apud
SEGAT, 2005).
As juntas de assentamento entre os blocos e os componentes da
alvenaria possuem diferentes coeficientes de absorção de água. Das
diferentes temperaturas incidentes na face do revestimento decorrem
os espectros externos, enquanto que as pontes térmicas constituídas
pelas juntas originam os espectros internos. (LOGEAIS apud SEGAT, 2005).
O escurecimento da superfície da fachada também pode ser
decorrente da proliferação de fungos, essencialmente localizados nos
substratos mais absorventes. Como as tintas látex, geralmente utilizadas
para pintura de superfícies externas, são compostas por substâncias que
agem como nutrientes para microrganismos, que por sua vez se
desenvolvem na existência de umidade excessiva, antes da execução
da pintura é importante que a umidade absorvida pelo substrato (base)
seja eliminada. Em alguns casos, o revestimento pintura apresenta alta
permeabilidade, permitindo a absorção da água da chuva pela base,
mas inibindo a evaporação da água, propiciando a ocorrência da
manifestação patológica.
Outras hipóteses que podem favorecer o desenvolvimento da
manifestação patológica são: a ausência de chapisco - camada
responsável pela homogeneização das condições higroscópicas da
base - além da possibilidade da espessura do revestimento ser reduzida.
Demais causas de manifestações patológicas em fachadas de
alvenaria são:
- A falta de normatização que exija o detalhamento adequado das
soluções propostas para as fachadas, o que leva a execução de
projetos preliminares e sem detalhes executivos de fachadas;
- A escolha dos materiais levando-se em consideração apenas o custo
e não as características técnicas do mesmo: se foram ensaiados em
laboratório ou se possuem a qualidade necessária para o desempenho
satisfatório da edificação;
- A qualidade da mão-de-obra empregada na construção:
normalmente de baixa qualidade, sem capacitação ou treinamento;
- O ritmo da construção excessivamente rápida, muito praticada
atualmente, que torna a construção em geral e em destaque as
paredes, extremamente sensíveis à qualidade da execução;
Os aspectos citados acima ressaltam a importância da correta escolha
dos materiais, sejam os blocos, argamassas e os acabamentos a serem
utilizados na execução das alvenarias. A adoção de soluções
convenientemente detalhadas e, sempre que possível mais simples e
racionalizadas, deixam a construção menos sujeita à qualidade da
mão-de-obra. Além disso, contribuem para a redução do esforço físico
no assentamento e podem levar a uma maior produtividade e
economia geral da edificação.
SUMÁRIO
4.3
Edifícios selecionados para Estudos de Caso
Os seis edifícios selecionados para estudo foram:
1. Edifício 01
2. Edifício 02
3. Edifício 03
4. Edifício 04
5. Edifício 05
6. Edifício 06
As fachadas levantadas no estudo de caso, nas quais se localizam as
manifestações patológicas, possuem sistema de revestimento de
argamassa em camada única ou duas camadas. Segundo a NBR 13529
(ABNT, 2013), o sistema de revestimento é o “conjunto formado por
revestimento de argamassa e acabamento decorativo”, sendo que o
revestimento de argamassa consiste no “cobrimento de uma superfície
com uma ou mais camadas superpostas de argamassa, apto a receber
acabamento decorativo ou constituir-se em acabamento final”. Os
revestimentos de camada única possuem um único tipo de argamassa
SUMÁRIO
aplicado sobre a base do revestimento, enquanto que o revestimento
de duas camadas é constituído de reboco e emboço.
Todos os substratos do estudo de caso possuem acabamento em
pinturas texturizadas acrílicas. As pinturas não devem ser entendidas
apenas como a camada de acabamento (UEMOTO, 2005), visto que
possuem a função de proteger os revestimentos de argamassa contra o
esfarelamento, ação de umidade, reduzir a absorção de água e inibir o
desenvolvimento de microrganismos (SABBATINI et al 2006).
A partir da análise das seis edificações selecionadas, observou-se que
os edifícios 01, 02, 03, 04 e 05 apresentaram este tipo de manifestação
patológica nas fachadas voltadas para o Sul, com maior incidência nas
partes superiores dos mesmos. Destaca-se que recebem a incidência do
vento vindo da praia, sofrendo ação da névoa salina, alta umidade e
incidência de poluição atmosférica.
Esta poluição atmosférica é constituída, principalmente, de poeira e
material particulado em suspensão, oriundo da enorme planta industrial
localizada próxima ao bairro. Nela se concentram pátios de estocagem
de minério de ferro, carvão siderúrgico, além de indústrias cimenteiras.
Os gases e materiais particulados gerados são imediatamente emitidos
para a atmosfera, sendo esta emissão geralmente realizada por
chaminés. Ao sair da chaminé esta “pluma contaminante” eleva-se,
devido a sua alta temperatura em relação à temperatura ambiente, e
ao ser lançada na atmosfera sofre efeito de dispersão, condicionado
aos parâmetros meteorológicos e aerodinâmicos, como velocidade e
direção do vento e temperatura (PAOLI, 2006).
Como na cidade de Vitória os ventos predominantes são o nordeste e o
sul, e a dispersão da pluma é afetada por efeitos aerodinâmicos, as
emissões são guiadas por estes ventos. Estando o bairro
geograficamente localizado nos sentidos norte-sul, tendo o mar no
sentido sul, os ventos que partem do sentido sul atingem com maior
frequência as fachadas voltadas para o mar.
Une-se a isto, a presença de uma grande lâmina d’água, na praia de
Camburi, onde ocorre a evaporação da água da superfície de água
livre (oceano). Esta água em forma de vapor se une ao material
particulado originário da planta industrial, que está em suspensão, e a
outros íons típicos da atmosfera marinha (como cloro, sulfatos e
magnésio). Este conjunto é carreado pelo vento até as fachadas dos
prédios, onde se acumula, causando o aspecto escurecido das
mesmas, além de acarretar outras manifestações patológicas. Isto
ocorre ao longo de todo o bairro, não apenas na área demarcada
para estudo.
No edifício 06, a fachada danificada é a voltada para o Leste, com
destaque para o corredor de vento entre esta edificação e a
edificação vizinha, o que favorece a ação das intempéries citadas. É
importante destacar o edifício 03 que, por ser uma edificação mais
antiga, está mais sujeito às patologias relacionadas à falta de
SUMÁRIO
manutenção periódica por parte dos usuários. Constata-se, também
que neste edifício muitos apartamentos estão desocupados (para
serem alugados ou à venda), o que contribui para o agravamento das
manifestações patológicas destacadas.
Os levantamentos e a análises conduzidos no estudo apontaram
diversos fatores contribuintes para o surgimento de manifestações
patológicas, entre os quais se destacam: 1. Possíveis falhas na
concepção do projeto ou falta de detalhamento do projeto de
fachada; 2. Possíveis falhas de execução dos sistemas de vedação
verticais;
A ação da água sobre a fachada pode ser considerada um agente
químico de degradação, segundo BAUER (1987), sendo inclusos neste
grupo a umidade de ar, a condensação e as precipitações. Outros
agentes importantes são os sais oriundos da névoa salina, vinda do mar,
e a ação dos materiais inertes como a poeira e a poluição ambiental
(material particulado em suspensão). Ressalta-se ainda que a falta de
um processo ordenado de desenvolvimento dos vários sistemas prediais,
segundo os princípios da chamada engenharia simultânea, também
podem causar patologias.
5
5.1
RESULTADOS
Ensaios para comprovação
Neste estudo de caso, para obtenção do diagnóstico mais preciso, é
indicada a utilização da Termografia Infravermelha, uma técnica de
imagem não destrutiva de sensoriamento remoto, a qual possibilita a
detecção de umidade, temperatura, perda de calor, falta ou dano do
isolamento térmico, pontes térmicas e vazamento de ar de um sistema
de vedação (LERMA, CABRELLES e PORTALÉS, 2011). Esta técnica
permite a caracterização do comportamento higrotérmico da
fachada.
Outro método recomendado é o “método do cachimbo”, que objetiva
avaliar a capacidade impermeabilizante ou de repelência à água de
um revestimento de parede. A permeabilidade está relacionada à
passagem de água pela camada de argamassa, que permite a
percolação da água por ser porosa (BAIA e SABBATINI, 2008). Este
método foi idealizado pelo instituto de informação e pesquisa científica
Belga (Centre Scientifique et Technique de La Construction – CSTC), e
adaptado por Polisseni (1986). As principais aplicações do método do
cachimbo são: avaliação da capacidade impermeabilizante de um
revestimento de parede; avaliação da durabilidade relacionada à
capacidade impermeabilizante dos revestimentos de parede; e
comparação
da
eficácia
inicial
relativa
à
capacidade
impermeabilizante entre produto de revestimento de parede (HATTGE,
2004).
SUMÁRIO
5.2
Diagnóstico Preliminar
Para o estabelecimento de um diagnóstico correto, devem ser
efetuados levantamentos globais (locais da obra onde aparece o
problema, eventual manifestação do problema em componentes ou
obras vizinhas, presença de outras patologias na região em análise,
etc.), sendo necessário também analisar-se o histórico dos
acontecimentos que poderiam relacionar-se com a patologia em
questão: época de execução da obra, eventual sazonalidade na
manifestação do problema, tentativas de reparação etc. Pode-se
ainda recorrer à análise dos projetos e à execução de ensaios
específicos, tanto em laboratório como na própria obra (PEREIRA, 2005).
É importante que os casos, depois de analisados e solucionados, sejam
registrados para que, futuramente, possam ser tomadas medidas
preventivas para evitar tais falhas e assim, não se torne necessário ter
gastos e incômodos com terapias corretivas.
5.3
Proposição de Soluções ou Tratamentos
Para a recuperação e tratamento da fachada externa com
revestimento de argamassa, Campos (2009) recomenda a lavagem da
superfície com hidro jateamento e a recuperação das áreas com
trincas, fissuras, mal aderidas, com bolhas e saliências existentes na
superfície. Nas áreas que apresentarem trincas, o reboco deve ser
removido por meio de corte e apicoamento, e executada a
recuperação com argamassa micro reforçada com fibras de
polipropileno multifilamentos. As fissuras de pequenas aberturas devem
ser reforçadas com tela de poliéster sobre a superfície do quadro
fissuratório.
Segundo Bianchin (1999), no tratamento de sistemas de revestimento
atingidos por umidade e sais, devem ser utilizados sistemas de
revestimento de recuperação formado por chapisco, reboco-base ou
emboço e reboco de recuperação, sendo que o reboco-base não é
obrigatório. A argamassa de recuperação deve ter por características
alta porosidade e permeabilidade ao vapor de água, além de
apresentar uma redução no transporte por capilaridade desta água.
Antes da recuperação é necessário realizar a remoção do revestimento
na região afetada pela umidade, e raspar as juntas na profundidade
de 2 a 3 cm.
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A deterioração causada pela ação da água nas fachadas em
alvenaria é função de diversos fatores e fenômenos, que juntos podem
causar danos de diferentes proporções. Em locais com alto índice de
precipitação, presença de grandes lâminas d’água, névoa salina, alta
umidade relativa do ar e altos níveis de poluição atmosférica, as
fachadas são mais solicitadas, em relação à estanqueidade e
SUMÁRIO
desempenho global. O grau de exposição a que as fachadas estão
sujeitas sintetiza a solicitação que é imposta a aquela parede.
As manifestações patológicas nas alvenarias de fachadas podem
decorrer de falhas na composição dos seus materiais constituintes
(blocos ou tijolos, argamassas, dentre outros), da armazenagem
inadequada desses materiais no canteiro (exposição à chuva, excesso
de radiação solar, calor ou elementos contaminantes), de falhas na
execução e de deficiências de projeto, principalmente em relação à
falta de detalhamento e falta de projeto executivo de fachadas. É
importante levar em consideração também a velocidade exigida para
execução e entrega das obras, com prazos cada vez mais curtos para
cada etapa da construção.
O que pode ser visualizado como “defeito” ou patologia nas alvenarias
das fachadas pode ocorrer devido a falhas em outros componentes da
obra, como: a excessiva deformação ou dilatações térmicas das
estruturas de concreto armado e a infiltração de água nas paredes
(seja pelas fundações, coberturas, caixilharia ou instalações), pois
tratam de sistemas inter-relacionados.
A falta de manutenção regular dos edifícios também contribui para a
deterioração precoce das edificações. Problemas comuns de
ocorrerem nas obras, como: fissuras na alvenaria, infiltrações em
telhados, falta de juntas de dilatação nos revestimentos, podem
transformar-se em problemas generalizados se não corrigidos a tempo.
O diagnóstico correto das patologias é fundamental para o
estabelecimento das medidas preventivas e para a tomada de decisão
sobre as medidas corretivas, que a princípio só serão eficientes se
conseguirem combater efetivamente a causa dos problemas.
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