III Parte Microevolução O estudo de populações da mesma espécie, ou a comparação entre subespécies, etc., tem importância para o conhecimento sobre o que acontece no processo de «origem das espécies» género espécie subespécie último ancestral comum Já Darwin argumentou que o termo espécie era «aplicável arbitrariamente, e por mera conveniência, a um grupo de indivíduos que se parecem uns com os outros; e que não difere essencialmente do termo variedade atribuído a formas menos distintas e mais flutuantes» PANMIXIA ESTRATIFICAÇÃO Efeito de Wahlund Consequência da estratificação das populações P A estratificação expressa-se por uma tendência para os cruzamentos serem preferenciais, com ou sem seleção < Pode ser por isolamento geográfico, social, correlação fenotípica, etc.. < Cada estrato pode ser modelado como uma subpopulação panmíctica, ou por sua vez também ser estratificado < Cada unidade panmíctica chama-se um deme. P Cada deme tem um Ne significativamente inferior ao que a população poderia atingir globalmente, e por isso, em consequência da deriva genética, as frequências genéticas tendem a divergir entre os estratos < A variância das frequências genéticas entre estratos resulta globalmente numa proporção de heterozigóticos inferior à expetativa do modelo de Hardy-Weinberg — efeito de Wahlund (1928) P Essa variância sugere uma via para medir-se a divergência genética que poderia prosseguir até à especiação — modelo das ilhas de Wright Coeficiente de fixação Uma medida com muitos significados, apenas um deles o de representar o efeito de Wahlund O modelo das ilhas (Sewall Wright) define três níveis numa população estratificada T – Total da população S – Nível dos estratos (ou subpopulações) I – Nível dos indivíduos A estatística FST (Sewall Wright, 1951) é um coeficiente de fixação ao nível dos estratos, e historicamente constituiu a primeira medida genética da divergência genética num estado incipiente da especiação Polimorfismogenético Alelos A1 A2 ... An Frequências x1 x2 ... xn Genótipos AiAi AiAj i = 1, ..., n i = 1, .., n – 1; i < j Diversidade n ½n(n–1) Frequências xi2 2xixj Coeficientes de fixação, e relação com situações de equilíbrio f ( A) = x a designa todososoutrosalelos f ( Aa ) = 2 x (1 − x )(1 − F ) f ( Aa ) F = 1− 2 x (1 − x ) Y menosheterozigóticosqueateoria coeficientedefixação HO F= equilíbrio mutação-deriva HT No modelo das ilhas de Wright: HO HT H FIS = 1 − O HS FIT = 1 − FST 1 − FIT = (1 − FIS )(1 − FST ) HS = 1− HT 1 FST ≈ 1 + 4 Nem 1 1+ 4Neµ efeitodeWahlund equilíbrio migração-deriva (não-divergência!) s< 1 2Ne Aperfeiçoamentos e variantes do FST P Weir & Cockerham (1984) desenharam uma abordagem computacional afim à análise de variância, que é tida como o tratamento definitivo da FST (mas que, para ser distinguido deste, recebeu a sigla θ) P Smouse et al. (1992) generalizaram esta abordagem para dados moleculares, no que passou a chamar-se Análise de Variância Molecular (AMOVA). Em 2001, no contexto de populações de árvores florestais, desenvolveram a estatística ΦST com base na comparação entre os genótipos de progenitores e suas descendências, onde os estratos são cada progenitor feminino (produtor de sementes) e a variação dentro de estratos é representada pelos gâmetas masculinos intervenientes na fertilização P Slatkin (1995) deduziu uma formulação análoga para micro-satélites, assumindo não o modelo de mutação pontual (Infinite Allele Model) mas sim o de mutação por incrementos (Stepwise Mutation Model), referente ao número de repetições de sequência existentes em cada alelo (estatística ρ, ou RST) < Tanto as estatísticas θ como as estatísticas ρ, que são especialmente populares, podem ser calculadas com vários softwares, possivelmente o melhor de todos é o GENEPOP Outras abordagens inspiradas no FST GST = DST HT Alternativa que expressa simplesmente a divergência entre estratos, sem implicar (nem excluir) um modelo evolutivo como o das ilhas (Nei, 1973) N ST = νb ν w + νb (Lynch & Crease 1990) Versão de GST para haplótipos, tendo em conta as distâncias genéticas entre eles δ (desenvolvido por Gregorius et al., 1974-1986, 2008): considerando L estratos, calculam-se L estatísticas de diferenciação, cada uma entre um estrato e o conjunto dos (L – 1) estratos restantes. A média desses valores (ponderada pelo tamanho de cada estrato) é δ. Segundo os autores, é mais sensível que o FST. Polimorfismosgenéticos Uma ferramenta e também um motivo de discórdia Uma perspectiva histórica A visão neodarwinista do polimorfismo a nível genético P Os polimorfismos são mantidos nas populações: < ou por fluxo genético entre populações divergentes, < ou por seleção equilibrada (vantagem dos heterozigóticos) P Este “discurso” tinha poucas bases experimentais e era altamente influenciado por certos estudos com populações naturais de drosófilas, assim como pelo preconceito que a deriva genética tem pouca importância para os processos evolutivos P Impôs-se como um quase dogma até ao aparecimento dum corpo experimental sólido a nível molecular, nos anos 60 < Abafou quase por completo importantes contribuições alternativas de cientistas como Goldschmidt, Müller, e (em parte) Wright e Haldane. A revolução molecular Origens da Teoria Neutral da Variação Molecular P Nos anos 60 começaram a acumular-se dois tipos de dados: sequências de proteínas, e polimorfismos moleculares (sobretudo isoenzimáticos, demonstrados por electroforese) P Kimura postulou uma simples teoria especificando que por acção da deriva genética qualquer mutação neutral se podia fixar numa população, contribuindo assim para a divergência evolutiva P King & Jukes analisaram sequências de proteínas e verificaram que a probabilidade de haver substituições era proporcional à antiguidade do ancestral comum < De maneira provocatória, intitularam o seu artigo: «NonDarwinian Evolution» < Deste trabalho nasceu o conceito de «relógio molecular» O debate seleccionismo-neutralismo A segunda “Era das Trevas” da Genética no século XX Disputa estéril (e muitas vezes desonesta) sobre a predominância da visão panselecionista, adotada (talvez inadvertidamente) pelo neodarwinismo, face a uma versão mais flexível radicada na Teoria Neutral. A primeira argumentava que a seleção atua universalmente, ao nível dos organismos e não dos genes, a outra assumia que toda a variação molecular (quase só isoenzimática, à época), até prova em contrário, é neutral. Contudo, produziu vários testes estatísticos à neutralidade, de que emergiu um paradigma da Teoria Neutral como a hipótese nula da variação molecular, cuja rejeição poderá ser o ponto de partida para postular forças seletivas a serem investigadas. Mutações “nearly neutral” Espetro de coeficientes de selecção 1 s< 2Ne O impacto da seleção é menor com um baixo N e Interpretação dos polimorfismos Algumas situações a considerar P Neutrais: fase transitória para a fixação < Deverão corresponder a partes do genoma < Resultado varia entre populações (pelo menos se isoladas) P Mista: a ideia de Sewall Wright sobre a manutenção dos polimorfismos por fluxo genético entre estratos < Divergência entre estratos tanto pode ser por seleção como por deriva, e a migração assegura a persistência de polimorfismos em praticamente todos < Valores de FST devem ser consistentes entre loci neutrais (equilíbrio migração-deriva) < Alelos “privados” vs. alelos partilhados P Seleção equilibrada < Praticamente a única interpretação para polimorfismos préespeciação (embora possa aplicar-se noutras situações) Marcadoresmoleculares Estudospopulacionais A informação que traduzem P Entende-se “marcador genético” como uma informação que não é a própria sequência do DNA mas depende dela e pode ser relacionada com ela. Exemplos: < Antigénios: reconhecimento diferencial duma estrutura molecular por anticorpos traduz uma diferente codificação (proteínas) ou uma diferente catálise (produtos de vias metabólicas) < Isoenzimas: substituição dum aminoácido altera o ponto isoelétrico da proteína < RFLPs: hidrólise do DNA por enzimas de restrição assinala diretamente a presença duma sequência nucleotídica e permite (na eletroforese) distingui-la doutras variantes nessa posição Duas categorias de marcadores “anónimos” Uma selecção dos mais utilizados actualmente (baseados na PCR) P Loci altamente polimórficos < Ae = (3xi2)–1 (diversidade alélica) < Tipificado pelos microsatélites/ simple tandem repeats (STR)/ simple sequence repeats (SSR) – Elevadas taxas de mutação, na ordem de 10–3/geração P Multiplex < Uma imagem representativa do genoma numa só reação < Tipificados pelos AFLPs (amplified fragment lengthpolymorphisms) a.k.a. simple tandem repeats (STR) / simple sequence repeats (SSR) Microsatélites codominância genes gene electroforese capilar P Grande utilidade em < Estudos de paternidade < Estudos de estratificação populacional < Podem ser “transferidos” entre espécies (especialmente ESTSSRs) P Inconvenientes < Trabalhoso definir os loci que podem ser úteis, ainda mais a validá-los < Homoplasia < Alelos nulos < Má aplicação < Neutralidade? AFLPs P Grande utilidade em Exemplo de interpretação (detalhe): A/B representa homozigótico A ou B, H heterozigótico < Representação potencialmente homogénea do genoma < Uma só tecnologia praticamente universal < Relativamente pouco esforço de desenvolvimento e validação para cada novo táxone < Altamente reprodutíveis (dentro das condições certas) P Inconvenientes < Dominância < Exigentes na qualidade do DNA