Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação Velozes e Furiosos: Uma Análise do Comportamento dos Consumidores e das Técnicas de Tie-in ¹ Artigo apresentado em 2014 no congresso internacional XI LUSOCOM, Universidad del vigo, Ponte Vedra, Espanhã. João Luís Lupianhes Quessada Pontifícia Univeridade Católica de Minas Gerais- Poços de Caldas Resumo O presente artigo discute as técnicas de merchandising editorial ou tie-in trabalhadas nos filmes “Velozes e Furiosos”, buscando compreender como essa estratégia se configura no contexto da narrativa. A partir do estudo de caso foi possível sintetizar as definições de merchandising e suas vertentes, identificando quadros de referência por meio de um mapeamento a respeito das técnicas de merchandising editorial ou tie-in utilizadas na série. Em seguida aprofundou-se nos estudos sobre o comportamento do teleconsumidor e os possíveis estímulos gerados pelos filmes. O grupo focal possibilitou compreender como os teleconsumidores são atingidos por esse fenômeno ao assistir a série, identificando tendências, comportamentos e opiniões acerca do assunto abordado. Palavras-chave tie-in; Comportamento do consumidor; Lembrança de marca; teleconsumidor. Corpo do trabalho O artigo propôs uma análise do merchandising editorial ou tie-in no cinema, concentrando-se na franquia “Velozes e Furiosos”, devido suas características diferenciadas. Por refletir uma realidade efetiva dentro do atual contexto socioeconômico e cultural, o merchandising editorial ou tie-in, adaptado aos filmes, proporciona ao consumidor uma forte identificação com a mensagem transmitida, possibilitando ampliar o desejo de compra do produto ou até mesmo da marca e, principalmente, aos valores que estão associados a eles. Seu objetivo foi de compreender como o merchandising editorial ou tie-in é configurado na franquia e de que maneira ele atinge o telespectador/consumidor ao mesclar 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação o roteiro com conteúdo publicitário. Estes serviram como ponto de partida para refletir sobre o comportamento do público e os possíveis estímulos gerados em sua mente. Com os avanços tecnológicos da comunicação e as mudanças de mercado, o consumidor está cada vez mais exigente, bem informado, crítico, consciente e com poder de compra. Essa nova tendência de comportamento foi claramente percebida pelas empresas e pelos publicitários, levando-os a procurar novas maneiras de abordá-los para potencializar os investimentos e garantir um retorno satisfatório. Portanto, foi desenvolvido um novo formato de publicidade, preparado para se adaptar a estes consumidores e, desse modo, ganhar sua atenção. O merchandising emergiu dessa necessidade, um instrumento da comunicação, que se preocupa em elaborar ações que valorizam os produtos e estimulam na decisão de compra do consumidor. Surgem outras interpretações publicitárias e diferentes aplicações de suas ferramentas, como sua inserção em programas de entretenimento, novelas e filmes, unindo conteúdo publicitário com o roteiro, na tentativa de atingir o público com mais eficiência. Trata-se do merchandising editorial ou tie-in, termo mais adequado para o tema analisado e que será explicado logo adiante. Observou-se que existem divergências acerca do conceito de merchandising, não apenas no sentido de sua aplicação prática no cinema, mas também como ferramenta de divulgação publicitária. Portanto, foi necessário identificar as vertentes do merchandising para apreender este processo complexo e dar continuidade à pesquisa. O termo mais correto para referir a essa ferramenta de comunicação corresponde ao merchandising televisivo, editorial ou tie-in. De acordo com Perez e Barbosa (2007): A exibição de uma marca, produto ou serviço no espaço de uma mídia não publicitária, como um programa de tevê, uma telenovela, um cartaz ou um cabeçalho de jornal, por exemplo, seria entendida como propaganda tie-in, algo amarrado dentro de um programa ou de uma mídia de natureza não publicitária, mas que estaria funcionando como tal. (PEREZ; BARBOSA, 2007, p. 342). Para os autores existem algumas definições e especificidades em relação ao termo abordado que devem ser explicadas, alertando que, em algumas ocasiões, as “ações de merchandising televisivo terão finalidades exclusivamente comerciais, visando à divulgação ou promoção de uma mercadoria, marca ou serviço, o que permite classificar tais ações de tie-in como merchandising televisivo comercial”. (PEREZ, BARBOSA, 2007, p. 343). Visto isso, para facilitar a leitura, optamos em utilizar apenas o termo tie-in. 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação À vista disso compreende-se que merchandising televisivo, editorial ou tie-in referese a uma estratégia promocional que funciona para complementar ou agir em conjunto com outras ações publicitárias. Uma das estratégias de pesquisa utilizada foi o estudo de caso. A partir de uma coleta de dados pôde-se analisar os conceitos e significados de tie-in , buscando compreender de que modo essa estratégia se desenvolve na franquia e o possível consumo indireto gerado neste cenário. Posteriormente foi realizado um grupo focal para refletir melhor sobre o comportamento dos teleconsumidores; termo criado para representar os telespectadores que também fazem parte do público consumidor. Essa expressão foi utilizada no decorrer da monografia, traduzindo melhor o comportamento do público no contexto dos filmes. Tie-in Em Sua Complexidade De Estrutura E Os Estudos Sobre O Comportamento Do Consumidor. É interessante abordar este conceito em seu sentido geral, como nesse caso, suas técnicas empregadas no Ponto de Venda (PDV), para compreender como o tie-in é desenvolvido na narrativa fílmica da série “Velozes e Furiosos”. A partir de um levantamento bibliográfico de autores selecionados para a pesquisa será possível entender melhor como os filmes produzem estímulos nos teleconsumidores e como o consumo indireto invade esse grupo. Em seguida, uma reflexão mais abrangente do comportamento do grupo será realizada para compreender a presença do tie-in nos filmes, buscando encontrar um padrão de técnicas empregadas neste cenário. buscando encontrar um padrão de técnicas empregadas neste cenário. O tie-in consiste numa estratégia de comunicação e é percebido como uma técnica, ação ou material promocional utilizado no ponto de venda de modo a promover marcas, produtos ou serviços. Há uma distinção entre essa ferramenta e o famoso marketing, no qual Chalmers (1976) compreende que “assim lembramos que marketing define tecnicamente o que e onde vender, com planificação de suprimentos. Logo, tie-in define, estrategicamente, como e porque vender, com maior rotação”. (CHALMERS, 1976, p. 10) Isso significa que é considerado pelo autor como uma subfunção da comunicação. Com o objetivo vender, esse instrumento interage com as áreas de divulgação do produto para que o mesmo chegue às mãos do consumidor final. São atividades desenvolvidas 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação estrategicamente, com o objetivo de potencializar as vendas de empresas que contenham um plano preestabelecido e que leve em conta um lucro satisfatório para a organização. Um exemplo relevante diz respeito à geração zapping, caracterizada por sujeitos que são atingidos constantemente por conteúdos fragmentados. São pessoas que encaram os intervalos comerciais como uma oportunidade de mudar de canal, ou melhor, zappear quando bem entenderem. Com o controle remoto, esse hábito proliferou-se de tal modo que dificultou o trabalho das organizações. Com o tie-in, é possível agregar a marca da empresa com sutileza, atraindo e gerando um efeito persuasivo no consumidor, por meio de celebridades e de filmes famosos que aumentam a credibilidade da mesma. Para corroborar com essa ideia Steffen (2005) defende que: Os meios de comunicação utilizam pessoas que são admiradas para lucrar, despertar neles o desejo de obter sucesso, as vantagens e o poder que um artista possui através da fama. Então o modelo de vida antigo, caracterizado pela admiração aos pais, educadores e heróis nacionais é substituído através da cultura de massa pelo modelo de vida dos artistas, da Novela, do Cinema. A nova sociedade surge em busca da perfeição, do luxo, da verdadeira vida, seguindo o mesmo padrão do mundo imaginário vivido pelos famosos (STEFFEN, 2005, p. 07). Neste contexto percebe-se que na franquia, as grandes marcas anunciam seus produtos de modo a torná-los atraentes para seus consumidores. Evidenciam, destacam e melhoram suas características, com o objetivo de convencerem os teleconsumidores que determinado produto é a melhor opção no momento de compra e que, ao consumi-lo, o sujeito adquire as mesmas vantagens e reconhecimento que os personagens têm na série. É evidente que a técnica é bastante utilizada na franquia, principalmente no setor automobilístico. Segundo Costa e Talarico (1996): Ao usar o tie-in , as empresas têm como principais propósitos difundir o uso do produto, fortalecendo a sua imagem; explorar o testemunhal e beneficiar-se da associação do ator e apresentador com o produto ou serviço; introduzir o uso do produto no cotidiano das pessoas; e ampliar o número de impactos no público, fortalecendo a lembrança da marca (COSTA; TALARICO, 1996, p.189). Ao delimitar o objeto de estudo torna-se necessário analisar o comportamento do consumidor de modo geral, buscando compreender como o tie-in se desenvolve no cinema e de que modo os teleconsumidores reagem e agem diante dessa problemática, contribuindo 4 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação assim, para a criação de novos produtos, o aprimoramento dos existentes e a elaboração de uma publicidade voltada especificamente para esse segmento que cresce cada vez mais no mundo. Estudar o comportamento do consumidor é importante para os autores, na medida em que esse estudo contribui para compreender como os produtos têm impacto na vida do mesmo. No contexto da influência do consumidor as pesquisas têm ganhado cada vez mais força, pois são fundamentais para os países que buscam sua independência econômica e também por permitir aos empresários elaborarem melhores estratégias para moldar o comportamento dos consumidores. De acordo com eles empresários de todo o mundo estão descobrindo os ganhos de se entender os prováveis consumidores e atender suas necessidades com alternativas culturalmente relevantes. Por outro lado há também a pesquisa pós-moderna, que busca entender esse comportamento nos dias atuais e como é a conduta desses consumidores diante dessa atividade que está presente na vida de todas as pessoas. Mowen e Minor (2003) defendem que o comportamento do consumidor consiste num estudo das unidades comparadoras e dos processos de troca envolvidos na aquisição, no consumo e na disposição de mercadorias, serviços, experiência e ideias. De acordo com eles este estudo pode fornecer três tipos de informação: orientação, fatos e teoria. De início ele contribui para orientar os gerentes e legisladores de maneira que considerem o impacto de suas atitudes sobre os consumidores. Fornece também fatos, tais como opções que os consumidores têm para adquirir um produto ou quais os valores enfatizados por culturas específicas. Os personagens dos filmes “Velozes e Furiosos” apresentam características fortes e que são capazes de atrair pessoas que acabam se identificando com suas personalidades. Thompson (1990) explica que: Os personagens que se apresentam nos filmes e nos programas de televisão se tornam pontos de referência comuns para milhões de indivíduos que podem nunca interagir um com outro, mas que partilham, em virtude de sua participação em uma cultura mediada, de uma 5 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação experiência comum e de uma memória coletiva (THOMPSON, 1990, p. 279). Isso demonstra que a cultura apresentada na franquia oferece modelos de identidade e estimula os teleconsumidores a seguirem o mesmo estilo de vida dos atores. Essa característica de se identificar com alguém ou alguma coisa faz parte da natureza humana, gerando estímulos e até mudanças de comportamento. Ela pode estar relacionada com os desejos e necessidades dos indivíduos. Segundo Engel, Blackwell e Miniard (2000), o comportamento do consumidor se estabelece a partir de todas as atividades ligadas ao consumo, desde os processos anteriores e posteriores envolvidos no ato, até o momento de decisão de compra de determinados produtos ou serviços. Eles defendem que há várias perspectivas em torno desse comportamento, sendo elas: influência do consumidor, pós-moderna e intercultural, as quais sempre se sobrepõem em algum ponto. Engel, Blackwell e Miniard (2000) acreditam que nas últimas três décadas os estudos dos hábitos de consumo sofreram um processo de evolução, uma vez que passaram a dar enfoque no consumidor, permitindo que as empresas desenvolvam estratégias mais adequadas para atingir o público. E segundo Mattar (1999) pesquisar o comportamento do consumidor é “entender melhor o consumidor e assim poder melhor antecipar ou prever o seu comportamento futuro”. (MATTER, 1999, p. 158). Ao relacionar as três perspectivas dadas pelos autores de “Velozes e Furiosos”, é possível compreender que o estudo do comportamento do consumidor existe para que, a partir daí, seja elaborada a melhor estratégia para chamar a atenção do teleconsumidor, alcançando o reconhecimento da marca e sua identificação com o público. É no momento de compra que o indivíduo se lembrará da marca e, consequentemente, o consumo do produto ou serviço é garantido. A partir das abordagens feitas, é possível obter-se uma direção para analisar o tie-in e suas técnicas trabalhadas nos franquia “Velozes e Furiosos”, além dos diversos estímulos que a série pode gerar nos teleconsumidores. Busca-se compreender se são diretos e conscientes ou se são sutis e capazes de alterar o seu comportamento de forma indireta, mas ostensiva. Tunagem e suas especificidades 6 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação Tal termo surgiu na França, onde existiam indivíduos que compravam ou fabricavam peças para acrescentar em seu veículo, porém se popularizou mundialmente após o lançamento do filme “Velozes e Furiosos” em 2001, aumentando a demanda de acessórios estéticos e de sua performace. (PORTAL VOLKSPAGE, 2004). A propagação da personalização de automóveis reuniu esses dois elementos, criando os campeonatos de som e os de arrancada, que destacavam aqueles carros que continham as características das modificações estéticas e das performances. No início a arte de “tunar” era realizada por pessoas simples e com salários baixos, entretanto, hoje é perceptível a grande quantidade de peças, além dos preços acessíveis para toda a população. O termo “tuning” significa personalizar carros, não apenas em relação ao seu visual, mas também no desempenho e no sistema de sonorização. Segundo pesquisas realizadas no site “sabertudo” a palavra “tuning” corresponde ajuste fino, ou melhor, adaptações minuciosamente caprichadas. No caso do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (DPLP) é considerada como uma atividade que realiza alterações em veículos de modo a personalizá-los para lhes conferir maior potência. Antes do primeiro filme “Velozes e Furiosos” as competições de carros personalizados eram associados à qualidade e à potência do som. Atualmente as competições envolvem tanto o som, quanto a aparência. Revistas sobre “tunagem” e empresas que atuam nesse segmento se consolidaram no mercado graças a essa nova cultura que emergiu em conjunto com a estreia do filme: O Tuning hoje é reconhecido como uma tendência mundial que segmenta mercados, forma grupos e cria novos vínculos entre a pessoa e seu bem. Em paralelo, surgem empresas, revistas, eventos, lojas e sites especializados nesse tipo de prática que, entre seus apreciadores, já ganha até status de arte. O cinema teve um papel crucial no fomento da prática Tuning em âmbito internacional. Dentre as várias opções de filmes que tratam sobre carros esportivos e das corridas urbanas, a série mais conhecida e com maior influência na personalização automotiva é a trilogia de Velozes e Furiosos que se iniciou em 2001 e estreou o terceiro filme no ano de 2006. (SILVA, 2007, p. 30). Silva (2007) ainda complementa que: A pessoa pode sofrer influências do cinema, das revistas, meios publicitários diversos e de outros grupos de referência o qual haja identificação. Entretanto, a diferença observada é que dificilmente há a 7 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação imposição de estilo. [...] A identidade da pessoa é demonstrada no carro através dos diversos estilos existentes, mesmo que em uma mesma categoria. Observou-se também que, os impactos na cultura nacional (e até mesmo em outros países) advindos da difusão do filme Velozes e Furiosos a partir de 2001 foram de uma amplitude – talvez – inimaginável para seus produtores e surpreendente para as pessoas e os mercados de consumo que os rodeiam. [...] O filme tem como particularidade o poder de criar e transformar ritos e que, aqui, ocorreu de forma ampla e generalizada para os amantes deste segmento automobilístico. (SILVA, 2007, p. 108). Essa nova cultura é atualmente composta por jovens de classe média e alta que possuem recursos financeiros suficientes para participar dessa atividade. A grande maioria do público é masculina e a prática começa entre amigos que encorajam um ao outro a entrarem na “brincadeira”, como uma competição interna. Aquele que possuir o carro mais bonito, veloz e valioso, conquista a competição. “Tunar” carros ganhou visibilidade com o famoso boca a boca, no qual jovens se informam com pessoas que já estão incluídas nesse universo. Quanto à sua personalização, depende da criatividade e do estilo de cada um, podendo ser algo mais simples ou mais ousado, variando de acordo com o contexto econômico, social e cultural que cada sujeito está inserido. O importante a se destacar neste projeto é a disseminação da cultura “tuning” e sua tendência mundial que só foi possível com o lançamento do primeiro filme “Velozes e Furiosos” em 2001, contribuindo para que as pessoas interessadas pelo setor automobilístico criassem/ampliassem seu desejo de personalizar seus carros. Um caso interessante sobre essa moda de “tunar” diz respeito ao empresário e expiloto da Fórmula 01 Tarso Marques, um homem que se tornou referência no país quando o assunto é customização. Apaixonado por automóveis ele iniciou sua carreira no kart e, em seguida, participou da Stock Car. De acordo com o site oficial TMC (ano desconhecido) o designer criou a TMC (Tarso Marques Concept) em 1999 e hoje é considerado o mais conceituado Estúdio de Design e Customização de produtos de luxo da América Latina, atuando nos mais diversos segmentos de modo a desenvolver e customizar produtos modernos e aprimorados, além de oferecer um design e performance de ponta, levando em conta o estilo e a exclusividade. Apesar de o Estúdio oferecer personalização de aviões, helicópteros, iates, relógios, casas, dentre outros, o enfoque maior está na “tunagem” de veículos terrestres, principalmente motos e carros, antigos ou modernos. Alguns carros personalizados por Tarso Marques já foram exibidos na feira anual de carros, chamada AutoEsporte ExpoShow. Ainda segundo o site oficial TMC (ano desconhecido) o estúdio nasceu em 8 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação Curitiba, mas atualmente conta com uma fábrica em São Paulo, pois o maior mercado se encontra nessa cidade. MÉTODOS DE PESQUISA Como suporte para a análise foram utilizadas duas técnicas metodológicas, a fim de se obter consistência e embasamento teórico para a monografia. Esses métodos serviram para dar aplicabilidade e resultados satisfatórios ao trabalho, fornecendo dados importantes para o estudo do tie-in e suas especificidades no contexto da franquia “Velozes e Furiosos. Em seguida o comportamento dos teleconsumidores e o modo como os estímulos são manifestados foram investigados, levando em conta o fenômeno do consumo indireto. O primeiro deles diz respeito ao estudo de caso, que consistiu num levantamento de questões sobre os conceitos de tie-in . Tratou-se também de analisar informações numerosas e detalhadas para compreender a situação que se encontra a técnica na franquia. Estudo descritivo qualitativo por meio de discussões em grupo com consumidores em potencial. Teve como objetivo conhecer melhor a relação dos mesmos com a franquia, permitindo encontrar respostas para as questões que envolvem as técnicas do tie-in trabalhadas nos filmes, os estímulos gerados por elas e que podem comprometer o comportamento dos teleconsumidores e até provocar um consumo indireto. O segundo método refere-se ao grupo focal, utilizado quando há a necessidade de saber mais sobre as características e comportamento de determinado grupo em determinada situação. Por tratar-se de uma pesquisa qualitativa, os assuntos tratados nas discussões direcionaram para um resultado mais amplo e válido. É uma técnica que recolhe dados da vida real em um contexto social, é flexível, possui alta validade subjetiva, oferecendo uma interação importante entre os membros em um período curto, o qual permite resultados relativamente rápidos. (THORNTON, 2005, p. 21). 9 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação Debate em grupo realizado na residência que se encontra no Jardim Centenário, Rua João de Araújo, 211 - Poços de Caldas, onde foram mostrados trechos de ação dos filmes “Velozes e Furiosos”. Teve como propósito obter interação entre os participantes/teleconsumidores, avaliando o comportamento dos mesmos. Em relação à aplicabilidade do método Duarte e Barros (2011) afirmam que, por ser um método de natureza exploratória, ele pode ser utilizado em diversas áreas de estudo e em várias fases do processo. Na área de marketing ele auxilia na identificação de hábitos, preferências e percepções do consumidor. Nos estudos da área cinematográfica os autores afirmam que: Para analisar percepções sobre um estímulo, no caso, um filme, e nessas circunstâncias a sessão de Grupo Focal inicia-se com a apresentação do estímulo, seja filme, cena, e só então se aplica o roteiro das perguntas, iniciando-se com as menos estruturadas, do tipo “o que mais impressionou você nessa cena...?” (DUARTE; BARROS, 2011, p. 182). ANÁLISE DOS RESULTADOS O desejo de consumir os produtos apresentados nos filmes “Velozes e Furiosos” e de apoderar-se dos valores que estes agregam é evidente entre os entrevistados. O carro que obteve maior destaque foi o Skyline laranja, utilizado no segundo filme. Apesar da grande visibilidade do automóvel eles ainda preferem o Mazda e Mustang para se consumir. A maioria dos entrevistados comprova que qualquer homem deseja adquirir a posse de um desses automóveis exibidos na série, mas o que os impede envolve diversos fatores internos e externos que os impossibilitam de efetuar a compra, como a falta de acessibilidade e, principalmente, a condição financeira que está distante da realidade que a série estabelece. Certeza, mas a condição financeira não permite. Se eu tivesse dinheiro eu compraria todos, pois carros trazem poder, status. Se eu pudesse ter eu teria. [...] acho que qualquer homem queria comprar um carro desses. É só questão de ter o dinheiro. Se eu já tivesse um apartamento, compraria. (PARTICIPANTE 05). Compraria sim. O Mazda, o conversível. A questão é o acesso ao valor, ter condições de adquirir. Talvez também a prioridade. [...] Vontade meio 10 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação platônica. Muito legais os carros conversíveis, mas estão longe de estarem acessíveis pra mim, mas poderia me inspirar a comprar outro mais acessível. (PARTICIPANTE 02). Compraria o Mustang. (PARTICIPANTE 01). Já a tunagem é vista pelos entrevistados como forma de inspiração e não como um estilo de vida. Eles admitem não ter interesse em personalizar completamente o automóvel igual aos filmes “Velozes e Furiosos”, mas sentem desejo de equipar e fazer pequenas modificações. Eu acho legal banco de esportivo ou um DVD. Já a parte de pintura, rebaixar ou colocar uma roda cromada eu acho legal, mas depende do carro. No meu eu não faria, se eu tivesse um outro, Veloster, por exemplo, eu colocaria uma roda mais simples que as do filme. Não exatamente como nos filmes, mas eu tunaria algumas partes do meu carro. (PARTICIPANTE 02). Não tunaria no nível deles. Modificações no carro seriam detalhes. Câmbio, estofamento, aerofólio. Colocar luz e rebaixar não. (PARTICIPANTE 01). Não colocaria muitas coisas para não ficar muito rebuscado. (PARTICIPANTE 05). Para os entrevistados os filmes “Velozes e Furiosos” transmitem uma mensagem de amizade e companheirismo, mas, ao mesmo tempo, há questões de má conduta dos personagens em relação às leis e ao crime organizado. Outro ponto importante é que para eles a realidade que a série apresenta pode não funcionar para os mesmos, devido às questões levantadas acima, mas existem indivíduos que vivem imersos nesse ambiente automobilístico. O filme mostra pessoas que tem paixão por esse estilo de vida e que existem alguém que é realmente assim. (PARTICIPANTE 01). Se você for rico e tiver um carrão você consegue as coisas mais facilmente. (PARTICIPANTE 03). Um estilo de vida que existe em vários lugares. Existem jovens apostando rachas e gastando dinheiro, investindo no carro, como um hobby. Possivelmente envolvidos no crime organizado, como o tráfico de drogas. O filme passa a mensagem que os jovens que dirigem os carros estão no crime. Acho que é de gosto. Tenho um amigo que mora em uma oficina, passa o dia todo mexendo no carro e ele adora. É uma paixão pra ele, mas também não me agrada. Eu não faria isso. Eles são muito amigos. Um 11 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação liberta o outro em uma das cenas. Uma disputa porá ver quem é o melhor na pista, mas fora daquilo eles são amigos. (PARTICIPANTE 02). O filme mostra um estilo de vida meio babaca, que eles vivem só pelo carro, pensando que o carro vai te proporcionar tudo. E não é bem assim na realidade. Mensagem sobre competição, mais do que companheirismo. (PARTICIPANTE 04). A mensagem que o filme passa pra mim é de amizade, companheirismo. Um sempre querendo livrar a barra do outro. Fazem coisas absurdas uns pelos outros. Em um dos filmes um deles tenta salvar o outro, mas o carro explode e ele não consegue. (PARTICIPANTE 05). O que eles compreendem demonstra que valores positivos e negativos estão presentes nesse terreno regado a velocidade, dinheiro e poder. E os personagens exercem um papel fundamental para concretizar essa realidade que foge do comum. Nesse contexto os entrevistados caracterizam o estilo de vida criado pelos filmes “Velozes e Furiosos” a partir de três palavras que definem totalmente essa condição: Estilo doidão, mulherengos e marrentos. Há também a noção de que os bandidos aparentam ser bons indivíduos e que, por esse motivo, os espectadores acabam torcendo por eles. Os argumentos dos entrevistados foram semelhantes ao defender que, apesar de os personagens burlarem a lei, esse tipo de comportamento é aceito, porque é por uma boa causa. Marrentos. (PARTICIPANTE 05). Mulherengos. Estilo doidão. O Vin Diesel se parece mais velho, mais experiente. Os vilões também estão presentes em todos os filmes e parecem ter sempre uma boa equipe. (PARTICIPANTE 02). O Paul Walker passa a imagem de mocinho, mesmo sendo criminoso parece ser bonzinho. Vin Diesel passa a imagem de um cara durão, cabeça e líder da turma. O oriental parece ser mais inteligente, mais racional. (PARTICIPANTE 01). Os entrevistados refletem que as marcas só ficam visíveis àqueles que têm interesse sobre o assunto. Desse modo eles acreditam que, se não existe atração por parte do indivíduo, as marcas podem não causar o mesmo impacto para aqueles que simpatizam com o tema. CONSIDERAÇÕES FINAIS 12 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação A partir das análises feitas compreende-se que a série trabalha com técnicas de tie-in carregadas de sutileza. Nesse contexto encontra-se um padrão de ferramentas, no qual diversas marcas são inseridas na narrativa com inteligência. A naturalidade é mantida no decorrer da história, ampliando as chances de impacto da mensagem transmitida. As marcas são promovidas de maneira discreta, uma vez que participam das cenas junto com os personagens, garantindo maior visibilidade e gerando diversos estímulos. Estes são inconscientes e indiretos, consequentemente, a lembrança das marcas permanece na mente dos teleconsumidores. Os filmes foram estruturados para oferecer produtos que combinem com as características do público, possibilitando ao mesmo se identificar em alguns aspectos. Nesse contexto as marcas se conectam aos heróis da série para trazer à tona um estilo de vida que se torna objeto de desejo pelos homens e mulheres. Esse estilo de vida é alcançado por meio dos automóveis personalizados e de outros produtos que envolvem o setor automobilístico, oferecendo valores simbólicos que chamam a atenção de ambos os sexos. A vontade de comprar um automóvel semelhante ao que os personagens dirigem é bastante perceptível, mas há fatores que não permitem sua efetivação. Um deles diz respeito à condição financeira que limita os teleconsumidores. Outro problema refere-se à suas realidades completamente diferentes das vivenciadas pelos personagens dos filmes e que fogem do comum. Entretanto, o público tende a querer fazer pequenas modificações em seu próprio carro, como colocar um som potente, banco de couro ou rodas personalizadas. Nada exagerado e que esteja economicamente acessível a ele. O alto investimento que esses produtos demandam contribui para que os teleconsumidores repensem na tomada de decisão de compra. Geralmente, eles acabam priorizando outros fatores que estão à frente das marcas exibidas na série. E mesmo se o consumo desses produtos de alto valor fosse viável eles se informariam, pesquisariam e analisariam os preços e os benefícios oferecidos antes de efetuar a compra, com a intenção de atender suas necessidades e, ao mesmo tempo, satisfazer seus desejos. O automóvel é considerado como um dos símbolos do individualismo característico da sociedade contemporânea, responsável por influenciar significativamente as relações sociais e o modo como os indivíduos modelam suas identidades. Os valores agregados às marcas do setor automobilístico são altíssimos e bastante desejados pela população. A franquia trabalha com esses elementos, apresentando um estilo de vida carregado de benefícios que os carros famosos e personalizados oferecem aos personagens. A ideia 13 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro-RJ – 4 a 7/9/2015 V Colóquio Brasil-Argentina de Ciências da Comunicação transmitida é que obter um veículo desse padrão proporcionará poder, status, respeito e muita mulher. Esses valores chamam a atenção do público, que passa a buscar referências dos carros turbinados e do estilo de vida dos personagens da série. Para corroborar com essa ideia Sant’Anna reflete que: Cada vez são menos os que trabalham somente por dinheiro. Cada vez são menos os que comem para alimentar-se, menos os que vão ao exterior para ampliar sua cultura, os que compram automóveis para ter um meio de transporte. E cada vez são mais os que o admitem. [...] Existem na vida muitas coisas que não se podem provar, e o melhor é reconhecer este fato. Chamamos “coisas substanciais” às que se podem medir e demonstrar e “coisas espirituais” as coisas que pertencem ao reino do abstrato, do imponderável, do indemonstrável; não se pode negar que uma coisa é tão importante quanto a outra. (SANT’ANNA, p. 190-191, 1998). A estratégia torna-se válida nesse contexto e as marcas acabam sendo associadas pelos teleconsumidores. Em consequência das cenas rápidas e da sutileza da inserção dos produtos a lembrança não é contundente, entretanto, o público se recorda de alguns símbolos a partir da quantidade de vezes que as marcas aparecem e das cores chamativas dos automóveis, principalmente, se estiverem sendo dirigidos pelos personagens principais. A realidade que eles vivem é apreciada, tanto pelo público masculino, quanto pelo feminino. É nesse cenário que as marcas são recordadas, já que são elas que agregam valores desejados por ambos os sexos. Referências bibliográficas BLESSA, Regina. Merchandising no Ponto-de-Venda. 4 Ed. São Paulo: Atlas Editora, 2012. CHALMERS, Ruy Barros. Merchandising – A Estratégia do Marketing. São Paulo: Atlas Editora, 1976. COSTA, Antonio R.; TALARICO, Edison de Gomes. Marketing promocional: descobrindo os segredos do mercado. São Paulo: Atlas Editora, 1996. DICAS.NET. Carro tunado por onde começar. <http://www.dicas.net/carro-tunado-por-onde-comecar/>. 2013. Disponível em: ENGEL, James F.; BLACKWELL, Roger D.; MINIARD, Paul. W. Comportamento do Consumidor. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos S.A. 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