Unidade I METODOLOGIA E PRÁTICA ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Profa. Ma. Lilian Pessôa Aspectos históricos em relação ao ensino. Indagações iniciais Por que a educação, que a tantos formou no passado, não é mais adequada para os dias atuais? É, de fato, necessário modificar todo o ensino? O que buscamos? O que queremos em relação ao ensino nos anos iniciais do Ensino Fundamental? Por que é preciso modificar o ensino? Discurso recorrente e contagiante. Mudanças devem ocorrer a partir de um processo reflexivo sobre o ensino. É preciso tomar cuidado com os modismos. Entre o já conhecido e a novidade. O que já conhecemos sobre o ensino nos conforta porque podemos prever, controlar e antecipar fatos. Mas isso não mobiliza para a mudança! A novidade assusta justamente pela imprevisibilidade e pelos riscos que oferece. Mas correr riscos é necessário! A transformação do ensino A inovação faz sentido quando faz parte da história do conhecimento pedagógico, e quando, ao mesmo tempo, retoma e supera o anteriormente produzido. (LERNER, 2002, p. 30) A importância dos aspectos históricos. Resgatar o ontem ajuda a compreender o hoje e planejar melhor o amanhã. Uma análise possível, mas não a única. A necessidade de selecionar alguns acontecimentos e tomá-los tomá los como pontos de partida para a reflexão proposta nesta disciplina. O ensino e os interesses sociais O processo educativo não está isolado de outras instâncias sociais, mas apresenta estreita relação com as perspectivas sociais. Os propósitos do ensino podem servir essencialmente aqueles que estão no poder ou refletir a formação de um cidadão atuante na sociedade em que vive. Interatividade O discurso de que é preciso modificar o ensino deve ser compreendido na perspectiva de: a) retornar às práticas de ensino antigas, quando as pessoas aprendiam de verdade. d d b) exigir que o professor utilize toda a tecnologia moderna em suas aulas. c) articular diferentes métodos de ensino para formular um único modo de ensinar. d) possibilitar a mobilização de conhecimentos para a tomada de decisões. e) garantir ao aluno o direito de escolher se quer ir para a escola ou não. O ensino que recebemos O que sabemos sobre como nossos avós, pais, tios, enfim, aprenderam a ler e a escrever? Durante muito tempo o ensino adotou práticas que privilegiavam: o ensino homogêneo; as atividades mecanizadas (baseadas na cópia e na memorização); o processo de codificação e decodificação da escrita escrita. Não buscamos culpados, mas refletir sobre o processo de ensino em diferentes épocas. A que momento histórico esse ensino nos remetem? Se tomarmos como ponto de partida o Descobrimento do Brasil, num tempo bem distante de nós, veremos que essa era a concepção de ensino dos jesuítas, responsáveis pela educação da época. Se pensarmos no regime militar ditatorial, vigente no Brasil no período de 1964 a 1985, portanto, bem mais próximo de nós, notamos que não há modificações significativas na concepção de ensino ensino. O que aprendemos com esse resgate de marcos históricos? Que é preciso romper com modelos que não contribuem para a aprendizagem do aluno, mas servem apenas para consolidar o poder dominante vigente. Que a leitura se constitui como via de acesso à informação e, portanto, é um importante instrumento de transformação social. Que concepções essas práticas revelam? Que a aprendizagem ocorre por meio do treino intensivo e pela repetição fiel de modelos. Que o aluno não participa do processo de sua aprendizagem, apenas a recebe passivamente. Que a aprendizagem ocorre por meio do acúmulo de conhecimentos e informações recebidas pelo aluno. Por que essas práticas eram interessantes? Num país de regime ditatorial (autoritário), por exemplo, pode interessar àqueles que detêm o poder que o ensino da leitura e da escrita permaneça na esfera da codificação e decodificação do “decifrar as palavras” decodificação, palavras”. Quais os propósitos do ensino da leitura e da escrita hoje? Que se possa reconhecer que estas são vias de acesso à informação, a partir das quais se pode interpretar o que ocorre na sociedade para: tomar decisões; fazer exigências; sair da passividade para a atividade. Interatividade Durante a ditadura militar no Brasil bastava que as pessoas entendessem o que delas era esperado e soubessem cumprir ordens. Assim, as práticas educativas junto ao aluno privilegiavam: a)) a discussão di ã e a reflexão, fl ã para que o seu papel fosse compreendido. b) a reprodução de modelos, para executar tarefas mecanicamente. c) a cópia de textos, para que a escrita fosse significativa. i ifi ti d) a memorização, como forma de garantir sua participação no ensino. e) o trabalho em grupos, para o desenvolvimento do espírito de equipe. O ensino que desejamos. Deve ser pautado no desenvolvimento de competências de tal modo que, no caso da leitura e da escrita, frente a um texto de conteúdo polêmico ou duvidoso, por exemplo, o aluno saiba assumir uma posição expor sua opinião, posição, opinião justificar suas escolhas, tomar decisões. Mas, o que é competência? Competência não é dom! Dom – dote natural; a pessoa nasce com ele ou não. Competência – desenvolvida frente a oportunidades de tomadas de decisão, de desafios, de problematizações. A importância do ensino para desenvolvimento de competências. Tomemos como exemplo o processo eleitoral: O Brasil é referência em termos de democracia e tecnologia. Mas amarga as escolhas arbitrárias feitas pelos seus eleitores . Por isso, é função da escola Perpetuar o conhecimento valorizado por sua cultura de modo a subsidiar o aluno com experiências significativas de tomadas de decisão. Para muitas crianças, a escola é o único meio de acesso à: informação; leitura/ escrita; reflexão/ discussão; ação autônoma e criativa. O processo de aprendizagem. Segundo Délia Lerner (2002), não se chega ao conhecimento pela soma de pequenas aprendizagens, mas pela reorganização de objetos complexos. O tempo de aprender. Aprendizagem é processual. Não ocorre de um dia para o outro, mas gradativamente e durante um tempo que varia de indivíduo para indivíduo. É necessário instituir uma rotina de práticas em que o aluno possa mobilizar seus saberes. Interatividade O processo educativo atual investe no desenvolvimento de competências. Desse modo, espera-se que o aluno seja capaz de: a) reproduzir modelos propostos pelo professor, o que o fará aprender. b) cometer poucos erros, uma vez que estes o distanciam do aprender. c) acumular informações, que possam lhe ser úteis oportunamente. d) colocar em jogo talentos naturais a partir dos quais pode-se desenvolver outros. e) mobilizar saberes para a resolução de problemas cotidianos. Avanços e equívocos no processo de transformação. “...a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita amortece limita, amortece.” ” (CORTELLA, 2008, p.11) As dúvidas em relação ao ensino atual movimentam a busca de soluções para os mesmos. As pesquisas de Ferreiro. Na década de 1980, as pesquisas de Emília Ferreiro influenciaram fortemente a educação brasileira. Com a preocupação de compreender como os alunos aprendem o funcionamento do sistema de escrita, Ferreiro conclui que estes levantam hipóteses provisórias que os ajudam a aproximar-se do entendimento do sistema alfabético. O conhecimento superficial. Propostas colocadas em prática rapidamente. Não houve investimento em estudos aprofundados ou formação de professores. Foi desconsiderado que a aprendizagem é processual e que isso é válido para a criança, mas também para o professor. Princípios equivocados. O professor não pode mais corrigir o aluno. Não se pode mais utilizar a caneta vermelha para corrigir o aluno. Cópia, memorização e treino estão proibidos. O aluno constrói sozinho o seu conhecimento. Resultados que colhemos. Alunos concluem o Ensino Fundamental sem saber ler e escrever. E o que é pior: os alunos não dominavam nem a forma mecanizada de leitura e escrita, ou seja, codificação e decodificação. A sociedade começou a pressionar os professores que, por sua vez, sentiam-se perdidos. O que deu errado nesse processo? Saímos de um extremo em direção a outro. Antes: um ensino unicamente pautado no modelo, na cópia, na memorização. Depois: o aluno participa do seu processo de aprendizagem, ele mesmo constrói o seu conhecimento. É preciso sair dos extremos para buscar um ponto de equilíbrio. Interatividade Com base nos pressupostos construtivistas afirmamos que o aluno constrói seu conhecimento. Com relação aos professores sabemos que, por serem adultos: a) já construíram o seu conhecimento. b) aprendem muito mais rápido. c) vivenciam o mesmo processo que o aluno. d) podem aprender conteúdos complexos complexos. e) têm um modo de aprender diferente dos alunos. Uma reflexão para terminar “O desafio é formar praticantes da leitura e da escrita e não apenas sujeitos que possam ‘decifrar’ o sistema de escrita. É – já o disse – formar leitores que saberão escolher o material escrito adequado para buscar a solução de problemas que devem enfrentar e não capazes apenas de oralizar um texto selecionado por outro.” (LERNER, 2002, pp.27-28) ATÉ A PRÓXIMA!