SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA SOBRATI MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA MARIA MÔNICA BARBOSA CAIXETA MARTINE REZENDE FARIA PINTO MODELO DE ASSISTENCIA ODONTOLÓGICA EM PACIENTES DE TERAPIA INTENSIVA NO HOSPITAL DE URGENCIAS DE GOIÂNIA. LUXO OU NECESSIDADE ? Brasília Julho 2016 MARIA MÔNICA BARBOSA CAIXETA MARTINE REZENDE FARIA PINTO MODELO DE ASSISTÊNCIA ODONTOLÓGICA EM PACIENTES DE TERAPIA INTENSIVA NO HOSPITAL DE URGÊNCIAS DE GOIÂNIA. LUXO OU NECESSIDADE ? Tese apresentada à banca do curso de mestrado da SOBRATI como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva . Orientadora : Profª. Ms Vanízia Pádua Brasília Julho 2016 3 MODELO DE ASSISTÊNCIA ODONTOLÓGICA AO PACIENTE DE TERAPIA INTENSIVA NO HOSPITAL DE URGÊNCIAS DE GOIÂNIA . LUXO OU NECESSIDADE ? RESUMO Este trabalho tem o objetivo de demonstrar a efetividade do modelo de atuação da Odontologia Intensivista em um Hospital Estadual de Goiânia, referência em trauma (HUGO) , após 07 anos de experiência. O trabalho teve como base livros didáticos conceituados no assunto, referências bibliográficas obtidas no LILACS e SCIELO. Utilizou-se da experiência da equipe, imagens do acervo pessoal e disponibilização de material referente a parte burocrática produzida pelo grupo. No desenvolvimento foi citado trabalhos que relacionam e comprovam relação de saúde bucal com condições sistêmicas e vice-versa, que falam sobre a importância de cuidados bucais , fez-se um histórico do início das atividades da odontologia fora do consultório e foi realizado uma descrição de alguns dos procedimentos específicos que a Odontologia pode realizar em um paciente de UTI ,com imagens devidamente autorizadas, para facilitar o entendimento . Demonstrou-se também a preocupação com as normas de segurança para realização dos procedimentos . No contexto de atendimento humanizado, a Odontologia Intensiva já é uma realidade, a necessidade é inegável, sua entrada definitiva esbarra em questões financeiras , mas acredita-se que com ações de divulgação, estudos científicos, os administradores de hospitais se convencerão da importância de promover saúde e obter redução de custos . Palavras - chave : Odontologia - UTI, paciente crítico, odontologia hospitalar, segurança do paciente DENTAL CARE MODEL TO INTENSIVE CARE PATIENT IN GOIANIA’S EMERGENCY HOSPITAL . LUXURY OR NECESSITY ? ABSTRACT This work aims to demonstrate the effectiveness of the operational model of Intensive Dentistry in a State Hospital Goiânia, reference trauma (HUGO), after 07 years of experience. The work was based on respected textbooks on the subject, references obtained from LILACS and SCIELO. We used the team's experience, images of personal collection and provision of material regarding the paperwork produced by the group. Development was cited studies that relate and demonstrate oral health related to systemic conditions and vice versa, that talk about the importance of oral care, there was a history of the beginning of dental activities outside the office and was carried out a description of some specific procedures for dentistry can be held in an ICU patient, duly authorized images to facilitate understanding. It is also demonstrated concern for the safety standards for the procedures. In the context of humanized care, Intensive dentistry is already a reality, the need is undeniable, its final entry comes up against financial issues, but it is believed that with dissemination actions, scientific studies, hospital administrators will be convinced of the importance of promoting obtaining health and cost reduction. Keywords: Dentistry - ICU ,critical patient, hospital dentistry, patient safety 1- Introdução Na Odontologia Intensiva o cirurgião-dentista (CD), atua dentro das Unidades de Terapia Intensiva, executando tratamentos de baixa, média e alta complexidade com o objetivo de participar ativa ou passivamente do processo de cura , independente do motivo que levou o paciente a ser internado. Apesar de não estar entre as especialidades listadas no Conselho Federal de Odontologia (CFO), a Odontologia Intensiva se solidifica mais a cada dia, e mesmo que seu ambiente de atuação seja novidade para a Odontologia tradicional , esta nova vertente reafirma o conceito de Profissional da Saúde mantendo seu compromisso com a Promoção de Saúde . O modelo de assistência odontológica em UTIs a ser demonstrado, é realizado no Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO) , referência em atendimentos de traumas , urgências e emergências do Estado de Goiás durante quase 25 anos. É um hospital público inaugurado em 1991, vinculado à Secretaria de Saúde do Estado, e a partir de maio de 2012, foi implantado um novo modelo de gestão realizado por uma Organização Social denominada Instituto Gerir. Seu quadro de funcionários consta de servidores celetistas e de servidores concursados da Secretaria de Saúde do Estado, como é o caso dos 4 CDs e 4 técnicas em saúde bucal (TSB) , que compõem a Equipe de Odontologia Hospitalar e Intensivista . O hospital possui 407 leitos , sendo 58 de Unidade de Terapia Intensiva ( UTI ) . O serviço de Odontologia Hospitalar foi implantado em 1998, realizando atendimento ambulatorial seguindo o perfil do atendimento de urgências / emergências , recebendo pacientes triados das demais unidades de saúde e porta aberta à população em quadro clínico de urgência odontológica e também realizando procedimentos nos internos mediante solicitação de parecer médico. Considerando que o cirurgião- dentista é o profissional responsável pelo diagnóstico e tratamento das patologias presentes na cavidade oral , 5 deu-se início à rotina da avaliação odontológica aos pacientes internos nas enfermarias , visando a melhora da condição bucal . Em 2009, a estratégia usada para a inserção do cirurgião- dentista no ambiente de UTI foi a promoção de cursos no Programa de Educação Continuada , com treinamento realizado com a mesma equipe que já atuava : médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, enfermeiros e psicólogos. Desde então, essa equipe que é multiprofissional em sua formação e interprofissional em sua atuação , trabalha de forma integrada contribuindo para a minimização das morbidades e melhora dos desfechos clínicos ,dentro de uma filosofia de tratamento humanizado. A condição bucal é essencial para a saúde , afetando os indivíduos, do âmbito físico ao psíquico. Doenças bucais interferem diretamente na qualidade de vida das pessoas , uma vez que influenciam a maneira como se alimentam , falam e se socializam, afetando sua autoestima, alem de ser fonte frequente de dor (MORAIS, 2012 cap 17). O paciente internado em UTI, perde sua capacidade de decisão frente às ações às quais será submetido , sua situação é de entrega total aos cuidados definidos por estranhos . Portanto, esta assistência odontológica especializada, que emprega um olhar clínico para diagnosticar e tratar alterações bucais relevantes, vem somar e proporcionar cuidados e soluções até então utópicas para este paciente. Diante de todas estas observações , e tendo em vista a enorme variedade de situações em que o CD inserido nas UTIs, pode atuar, participando do processo terapêutico de restabelecimento e cura , objetivou-se demonstrar esta assistência que é realizada no HUGO. A motivação para se expor tal modelo, vem da observação diária da resolutividade dos atendimentos , do grande número de intervenções realizadas e da satisfação dos familiares e da equipe , provocando a reflexão acerca da inserção da Odontologia em UTIs, será luxo ou uma necessidade ? 2. Objetivos A cavidade bucal , devido a suas características de temperatura , umidade , Ph, , presença de sujidades e presença de diferentes texturas como, superfície duras , esmalte dentário, próteses, implantes, abriga quase metade da microbiota do corpo humano em grandes depósitos de microorganismos denominados biofilme . Fatores comportamentais e ambientais como higiene bucal, estado nutricional, imunidade, uso de medicamentos e as condições peculiares de pacientes internados em UTI, alteram significativamente a microbiota deste biofilme . (CALDEIRA E CABUCCI, 2011) . No paciente em estado crítico , com a resposta imune alterada . o risco de agudização da infecção bucal até então latente , e do desenvolvimento de infecções oportunistas e lesões traumáticas é aumentado, bem como a repercussão bucal de um evento sistêmico. A partir da boca , uma doença localizada pode tornar-se sistêmica por contiguidade , pela corrente sanguínea ou através da microaspiração, como no caso das pneumonias (SANTOS E SOARES JUNIOR , 2012). Durante anos, o obstáculo enfrentado pelo CD para integrar equipes interdisciplinares em UTIs, era a baixa prioridade dos procedimentos odontológicos , diante dos numerosos problema apresentados pelo paciente.Entretanto, a influência da condição bucal na evolução do quadro dos pacientes internados tem sido demonstrada através dos inúmeros trabalhos que comprovam que a quantidade e complexidade do biofilme bucal aumentam com o tempo de internação e os cuidados inadequados de higiene oral a que são submetidos os pacientes críticos (MORAIS et al, 2006 ). Historicamente, o primeiro serviço de Odontologia Hospitalar (OH) completo teve início em um hospital geral da Filadélfia (EUA) , em 1901,como relatam Santos e Soares Júnior , em seu livro Medicina Bucal, ed. Santos , 2012 . O então médico John Shoemaker descobriu que os pacientes do hospital necessitavam de cuidados odontológicos . Em 1940 , Henry Archer demonstrou que existiam nos Estados Unidos poucos serviços coma a característica de suporte odontológico para pacientes hospitalizados . Vinte anos depois Paul Willis considerou definido e aceito o profissional de Odontologia com objetivos e metas nos cuidados de OH.ainda segundo os autores , em 1943 a ADA( American Dental Association) estabeleceu o Council on Hospital Dental Service, que dá creditação aos serviços de OH.(WILLIS, 1965) " No Brasil é difícil determinar com precisão quando e onde a OH teve seu início , pela falta de informação documentada. No município de São Paulo é possível citar uma das instituições precursoras da OH, o Hospital das Clínicas da Faculdade de medicina de São Paulo(HCFMUSP), que já em sua inauguração em 1945 contava com uma equipe de cirurgões dentistas atuando de maneira plena .A presença de cirurgões dentista no complexo HCFMUSP vai ao encontro de princípios da instituições de assistência , ensino e educação." (SANTOS E SOARES JÚNIOR, 2012) 7 Outra instituição ainda segundo Santos e Soares Júnior , 2012 é a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo em que , em 1940 o cirurgião- dentista Prof. Mário Grazziani ingressou no corpo clínico do hospital e fundou o primeiro serviço de Cirurgia Buco Maxilo facial do Brasil. Se existem dúvidas com relação ao início da Odontologia Hospitalar no Brasil, mais complicado ainda é haver um consenso acerca do início das atividades em UTIs . Nos referenciamos por alguns relatos de pioneiros como a Prof. Teresa Márcia Nascimento de Morais , que publicou alguns artigos científicos em 2006, do Hospital de Barretos -SP (MORAIS et al , RBTI, 2006), e do Prof. Paulo Sérgio da Silva Santos , que também se dedicou a respaldar cientificamente este início destas as atividades (RBTI-2008). Entretanto em 2006, a SOBRATI , foi a primeira Sociedade Nacional a incorporar em seu quadro associativo a Odontologia. Em 2008, através de seu Presidente Douglas Ferrari , provocou avanços na portaria que insere o CD em UTIs sugerindo a denominação Odontologia Intensiva . Ainda em 2008, houve a criação de um Departamento Odontológico pela AMIB, mediante os esforços da Dra, Teresa Márcia e Dra. Edella Pucelli e em 2010, finalmente a ANVISA , publica uma portaria , a resolução delegada colegiada(RDC) n°7 , que discorre sobre os requisitos mínimos a serem cumpridos em Unidades de Terapia Intensiva , e a partir dela a Odontologia passou a ser incorporada oficialmente aos cuidados intensivos .(ANVISA , 2010) A realidade da Odontologia Hospitalar e Intensiva no Brasil vem melhorando a cada dia , e os estudos científicos têm papel relevante neste processo de inclusão deste profissional. Entretanto , diante de inúmeras evidências que explicitam o paradigma do impacto dos cuidados bucais e sua correlação com condições sistêmicas (RUTKAUSKAS 2000) , o maior desafio , ainda solucionar a questão financeira , daí a necessidade da união da classe, promovendo estudos de impacto orçamentário, publicação de artigos científicos , divulgação de imagens comprovando resolutividade nos atendimentos e de dados positivos dos hospitais que já se adiantaram e acreditaram no beneficio evidente e na humanização do serviço . Existe em tramitação o projeto de Lei (PL-2776/08 ), que foi aprovado por unanimidade no Senado Federal em out/2013, , que trata da obrigatoriedade da presença de cirurgiões dentistas em UTIs, mas este aguarda sanção pela Presidência da República . Em 2011, segundo fonte do portal do Governo de São Paulo , foi realizado um projeto piloto no Hospital Estadual Mario Covas em Santo André , nesta ocasião foram atendidos 615 pacientes da Unidade de Terapia Intensiva em 3 meses de visitas diárias do CD. Foram realizados 774 procedimentos especializados , e a partir daí foi possível dimensionar o recurso humano necessário, demanda e custos. Após este projeto verificou-se retornos financeiros e de satisfação como no caso de crianças em uso de metotrexato, para tratamento de câncer, com mucosites que contaram com atendimento odontológico, acelerando o retorno para dieta oral, suspendendo uso de sondas, diminuição de medicamentos para dor e antibióticos . Em pacientes psiquiátricos graves, em que a dor odontogênica é comum , pela própria dificuldade de higienização , após o diagnóstico e tratamento , percebeu-se que a diminuição da agitação em virtude deste conforto, e a identificação de um Sarcoma de Kaposi (tumor maligno) em um paciente portador de HIV. A partir deste resultado positivo, criou-se um projeto dentro do programa Sorria Mais SP, que levaria este programa para mais sete hospitais estaduais , e posteriormente para toda a rede estadual de SP, com um investimento de R$ 35 milhões por ano. (http: www. saopaulo.sp.gov.br -SORRIA MAIS SP-01/02/12- consultado em julho 2016). De acordo com Mello, Nery e Nogueira, 2015, as doenças da cavidade bucal compartilham importantes fatores de risco como fumo, álcool, hábitos dietéticos inadequados e má higiene- com quatro principais grupos de doenças crônicas: doença cardiovascular, doença respiratória , câncer e diabetes- e rapidamente acumulam-se evidências de associação da doença periodontal à doença coronariana, acidente vascular encefálico (AVE), prematuridade , diabetes e pneumonia. Corroborando ainda para fortalecer as associações , trabalhos demostram que estratégias visando a otimização da condição bucal associam-se `a repercussão sistêmica positiva. As autoras afirmam ainda que , o comprometimento importante da saúde que leva situações de risco à vida , podem também manifestar-se inicialmente ou repercutir na cavidade bucal. A atenção à saúde bucal deve ser portanto, parte das ações de promoção de saúde de forma multidisciplinar, com uma maior integração entre médicos e cirurgiões dentistas e melhor conhecimento dos dois importantes pilares que compõem a interface condição bucal e saúde: as manifestações bucais de doenças sistêmicas e a repercussão sistêmica de doenças bucais . Essa ação e o conhecimento são importantes em pacientes hospitalizados , particularmente, pacientes graves e admitidos em unidades de terapia intensiva. 9 Diante de tantas evidências científicas e clínicas que demonstram a íntima relação da condição bucal com uma boa situação sistêmica e evidenciam necessidade de divulgar modelos de assistência odontológica já instalados e atuantes , será realizado uma descrição do trabalho da equipe, e uma breve descrição dos procedimentos realizados , com imagens fotográficas, facilitando a compreensão. 2.1-Modelo de Assistência da Odontologia Intensiva no Hugo O Hospital de Urgências de Goiânia , é referência em atendimento de pacientes de trauma , e possui uma unidade neurológica de cuidados intensivos , recebendo também pacientes vítimas de AVC. Possui 58 leitos de UTI, divididos em 4 unidades . E uma unidade de pronto atendimento com demanda variável. A equipe de Odontologia é composta de 4 cirurgiões - dentistas e 4 técnicas em saúde bucal (TSB). A rotina inclui visitas diárias aos leitos das UTIs, examinando individualmente as necessidades de cada paciente. Estas visitas e o atendimento são realizados de segunda a sexta , períodos matutino e vespertino. Antes do exame clínico, o prontuário do paciente é analisado, observando possiveis intercorrências, e uso de medicações . O acesso a esta história clínica é realizado eletrônicamente através de um software chamado Wareline . Posteriormente procede-se realização do exame no paciente, define-se as condutas e preenche-se a ficha odontológica (vide APÊNDICE A) , que também está inserida nesta plataforma Wareline. Havendo necessidade de prescrição de medicamentos como em casos de pomadas para cicatrização, medicamentos para candidose ou em casos de miíase, a prescrição também é feita no wareline e sai juntamente com a prescrição médica para que a equipe de enfermagem ministre ao paciente . As técnicas em Saúde bucal (TSB) percorrem os andares e enfermarias realizando uma busca ativa de pacientes com alguma condição de urgência odontológica , bem como dos pedidos de parecer solicitados por médicos e equipe. O CD visita este paciente na enfermaria, se houver então necessidade de algum procedimento e existir a possibilidade de deambulação, o paciente pode ser atendido no consultório com a ergonomia preservada , caso contrário , o paciente é atendido a beira leito como realizado nas UTIs. 2.2 – Atenção com a Segurança do Paciente A prevenção de eventos adversos é uma tendência atual e complementa a maneira humanizada de observar e tratar o paciente. “A Odontologia Hospitalar e Intensiva exige preparo específico para que o CD ao abordar o paciente consiga avaliá-lo de maneira completa, independente de sua alteração sistêmica. Discutir riscos e benefícios de sua conduta terapêutica coma equipe multidisciplinar avaliar a necessidade e a oportunidade de determinada intervenção odontológica e estabelecer comunicação adequada com as demais equipes que atendem no ambiente hospitalar .” (SANTOS E SOARES JÚNIOR , 2012) Destinou-se um subcapítulo para o tema segurança , baseado na observação que , o paciente de terapia intensiva , entubado, em ventilação mecânica, sedado, monitorizado , invadido com acessos central e periférico, sondas , e outros dispositivos, não faz parte do universo de atendimento habitual e rotineiro do cirurgião dentista . São inúmeras as situações adversas às quais um profissional que não possua o conhecimento adequado, pode desencadear , Portanto o estudo teórico, o prático, o treinamento para que se indique um bom momento para intervir , são pré requisitos essenciais ao desenvolvimento de um trabalho responsável e resolutivo. Segundo o Prof. Paulo Sérgio Santos , o Código de Ética Odontológica, contempla a Odontologia Hospitalar no capítulo IX, artigo 18, citando que compete ao CD internar e assistir pacientes em hospitais públicos e privados , com e sem caráter filantrópico, respeitadas as normas técnico administrativas das instituições.Na sequencia, no artigo 19 dispõe que as atividades odontológicas exercidas em hospitais obedecerão às normas do Conselho Federal . Por fim, o artigo 20 dispõe que se constitui infração ética , mesmo em ambiente hospitalar , executar intervenção cirúrgica fora do âmbito da Odontologia. (CÓDIGO DE ÉTICA ODONTOLÓGICA) CFO-118/2012 Tendo em vista as situações colocadas , relacionou-se algumas particularidades e habilidades que o CD deve demonstrar para que ele desenvolva seu objetivo, isento de qualquer tipo de ressalva na conduta. Dentre elas: o Respeito pelo paciente , pela equipe cuidadora e bom relacionamento dentro da UTI; o Consulta do prontuário para se inteirar quanto ao uso de anticoagulantes, usos de drogas vaso ativas 11 o Conhecimento e segurança para indicar um bom momento procedimento,tendo em vista que para o paciente de UTI, é e um "bom" necessário uma boa avaliação acerca do benefício do procedimento indicado; o Saber interpretar exames complementares que fazem parte da rotina de UTI; o Estar sempre atento aos parâmetros ventilatórios e de monitorização ; o Solicitação de autorização do familiar, no caso de exodontias , para que fique bem claro, sua indicação , da não possibilidade de reabilitação na unidade ; o Tamponamento orofaríngeo para evitar aspiração de partículas , durante a execução do procedimento; o Teste do sugador antes do uso, tracionando a porção terminal para evitar que ela se solte na boca do paciente; o Observação do cuff que reflete a pressão do balonete ; o Evitar instilar quantidade excessiva de líquidos na boca do paciente entubado, e aspirar conjuntamente para que se evite a sensação de afogamento e consequente broncoaspiração destes líquidos; o Nos casos de remoção de aparelho ortodôntico, pegar autorização (APÊNDICE B) com a família previamente, e removê-los com o fio e ligas para evitar que as peças pequenas (brackets ) se soltem e sejam aspirados pelo paciente; o No caso de remoção de próteses, é realizada a higienização, identificação, entrega para a enfermeira chefe da unidade que ao entregá-la para o familiar, solicita a assinatura do termo de recebimento das(s) prótese(s); o Cuidados com a manutenção da cadeia asséptica , protegendo os aparelhos, cabos e fios , utilizando-se de papel filme ou capas de tecidos autoclaváveis ; o Instalação preventiva do protetor bucal de silicone , ao perceber algum sinal de contração involuntária para evitar lesões em lingua ou mucosa jugal ; o Disponibilização de um termo de autorização para uso da imagem, em que a família do paciente , fica ciente do registro fotográfico para fins didáticos , sempre preservando a identidade ; (vide APÊNDICE B) o Hidratação labial a fim de evitar fissuras e ressecamentos; o Atenção com o posicionamento do tubo, o mais centralizado possível para que se evite lesões pela pressão do tubo nos lábios ; o Supervisão e orientação da higiene oral , avaliando o melhor método bem como necessidade de troca de escova e raspadores ; Foi desenvolvido também POPs para todos os procedimentos odontológicos realizados, para se obter uma uniformização e padronização entre a equipe; tornando evidente a preocupação de se exercer a Odontologia Intensivista com responsabilidade . O Protocolo Operacional Padrão – POP – é um recurso importante na prática da assistência a saúde . O POP de Procedimentos odontológicos do HUGO conta com a revisão sistemática pela SCIH da unidade e está disponível para consulta pelos profissionais da equipe. O POP de higiene oral ( cópia controlada ) está disponível nas 4 UTIs , para a consulta da equipe de enfermagem. ( vide APÊNDICE C) Para a realização dos procedimentos de forma segura , além de seguir rigorosamente o POP de cada procedimento , é fundamental a atenção aos cuidados gerais antes da abordagem que consistem em: interagir com o médico assistente e equipe multiprofissional, identificar o paciente e confirmar a identificação, consultar prontuário atentando-se para a existência decomorbidades e uso de medicações anticoagulantes ou outras com potencial de agravamento do quadro clínico bucal, conferir monitoramento e cuff, se identificar, explicar o procedimento ( de posse da autorização prévia do familiar ou responsável ). O teste da segurança da ponta do sugador descartável e o tamponamento oro-faríngeo são necessários na grande maioria dos procedimentos odontológicos a fim de se evitar a ocorrência de eventos adversos. 13 2.3 - Atuações Específicas da Odontologia em pacientes da Terapia Intensiva A fim de se demonstrar alguns dos procedimentos realizados , apresentou-se em imagens , situações frequentemente encontradas pelos profissionais : vide APÊNDICES D/ E/ F/ G/ H/ I . Ressalta-se que todas as imagens são do arquivo pessoal das autoras e se encontram devidamente autorizadas para divulgação científica. 3 -Metodologia Realizou-se a pesquisas de artigos em bibliotecas convencionais e virtuais (LILACS , MEDLINE ), consultas a revistas através da BVS , livros didáticos de autores consagrados e a experiência adquirida em 07 anos de atuação. Foram inseridas imagens fotográficas, e todo o material burocático desenvolvido pela equipe , a fim de ilustrar e facilitar o entendimento . Palavras-chave: Odontologia –UTI, paciente crítico, odontologia hospitalar, segurança do paciente 4 - Considerações Finais Diante destas evidências, pode-se afirmar que Odontologia Intensiva de forma geral , e a que já realiza seu trabalho no HUGO, é uma necessidade , e não um luxo para o paciente. Após a visualização de algumas destas imagens de situações recorrentes em Terapia intensiva , é desconcertante imaginar que estes pacientes podem estar desassistidos em serviços que ainda não contemplem em seu corpo clínico os odonto intensivistas. A efetividade da atuação do cirurgião- dentista no Hospital de Urgências de Goiânia, agrega qualidade ao cuidado restabelecendo em alguns casos a mastigação e consequentemente a nutrição para o paciente crítico. Ressalta-se que mesmo nos casos em que a sequela pela doença de foi maior , este atendimento odontológico proporciona um tratamento mais digno com diminuição de morbidades, trazendo resultados positivos para o restabelecimento da saúde geral do paciente critico. Para integrar uma equipe multidisciplinar em ambiente de UTI, além da qualificação técnica na área específica de atuação , é fundamental que o profissional tenha conhecimento das medidas de redução do risco de danos desnecessários ao paciente, visando minimizar ou excluir falhas que possam resultar na ocorrência de eventos adversos na prestação da assistência. Ter ciência do protocolo de identificação do paciente e fazer essa confirmação antes do atendimento (pulseiras, identificação no leito...),bem como dos protocolos para a prática da higiene das mãos , prevenção de quedas, prevenção de úlceras por pressão , cirurgia segura e protocolo de jejum do hospital . A inter-relação com os demais profissionais com o conhecimento do diagnóstico, intervenções , observação do tipo de dieta, contenção física, monitoramento, posição da cabeceira e todo o contexto envolvido na segurança do paciente e assegurados no bundle de combate a PAV, são cuidados que todos envolvidos na assistência precisam estar atentos nas UTIS do Hospital de Urgências de Goiânia para que o resultado esperado da interdisciplinaridade seja alcançado. De posse do domínio de todas as condições peculiares ao ambiente de UTI, o cirurgião – dentista atuará de forma específica, realizando o exame da face e cavidade oral, identificando e tratando as patologias encontradas bem como supervisionando e treinando as equipes técnicas para efetuarem a adequada higiene oral , seguindo as diretrizes do POP de procedimentos odontológicos da unidade. A Odontologia em UTI já é uma realidade, e todos os esforços contínuos que vem sendo realizados , no sentido de divulgar conhecimento, experiência , vão se somar e vão resultar no reconhecimento pelos administradores de Hospitais, da importância da área, na humanização, promoção de saúde e na significativa redução de custos para as instituições. 5- Referências Bibliográficas CALDEIRA, PM; Cabucci, RAS - Higiene Oral de Paciente em Intubação Orotraqueal internados em UTI - Revista Enfermagem Integrada , V 4 - n 1 – 2011 p 713 – 741. 15 COUNCIL ON HOSPITAL DENTAL SERVICE BASIC STANDARDS OF HOSPITAL DENTAL SERVICE - The Journal of the American Dental Association, 62 : 106 - 109, 1961 in : Medicina Bucal – A prática na Odontologia Hospitalar , Santos, Ed.Santos, 2012, p 35 http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias//lenoticias MELO PMVG et al - Interface Saúde e Condição Bucal. In : Fundamentos de Odontologia em Ambiente Hospitalar/UTI, Elsevier,2015; p 137 - 143 MORAIS ,TNM e SILVA A - Fundamentos de Odontologia em Ambiente Hospitalar / UTI - 1º ed- RJ - Elsevier , 2015. 389 p . TELES, JMM e FERNANDES , HS - Considerações médicas sobre a importância da interdisciplinaridade . In : Fundamentos da Odontologia em Ambiente Hospitalar / UTI, Elsevier, 2015 p 129 – 135. RUTKAUSKAS JS - The medical necessity of periodontal care. Periodontal 2000. 2000; 23 : p 151 – 156. SANTOS, PSS e SOARES JR , L.A.V - Medicina Bucal : A prática na Odontologia Hospitalar , 1ª ed, Santos : Ed. Santos , 2012. 315 p WILLIS PJ. The role of dentistry in the hospital, J. Am Dent Soc Anesthesiology ; 12 : p 40 - 4 Apêndice APÊNDICE A - Ficha Clínica da Odontologia no software Wareline APÊNDICE B – Modelo de autorização para uso de imagem e termo de consentimento para realização de procedimento a ser autorizado pelo familiar 17 APÊNDICE C - Modelo de POP de higiene oral para consulta pela enfermagem, disponibilizado nas UTIs . APÊNDICE D – Instalação de bucal duplo protetor em caso de lesão por auto- injúria APÊNDICE E – Instalação de protetor bucal simples em mordedura de língua APÊNDICE F – Orientações de higiene para enfermagem (bundle da PAV) 19 APÊNDICE G – remoção de prótese, evitando uma broncoaspiração em caso de intubação emergencial APÊNDICE H – Restauração provisória com CIV (cimento de ionômero de vidro) , corrigindo lesões cariosas q serviam de alojamentos para bactérias APÊNDICE I – Paciente acidentado com trauma dentário e avulsão dos incisivos inferiores , foi realizada splintagem com resina fotopolimerizável 21