RASTREAMENTO DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO NO BRASIL: HISTÓRICO E DIRETRIZES ATUAIS DA SILVA, Angélica1; COSER, Janaina² Palavras-chave: Rastreamento. Câncer cervical. Diretrizes Introdução O câncer do colo do útero é segundo tumor mais frequente em mulheres, ficando atrás apenas do câncer de mama. No Brasil, para os anos de 2012 e 2013, são esperados 17.540 novos casos de câncer de colo do útero, fazendo 4.986 vítimas fatais. Na região sul, este é o quarto tipo de tumor mais incidente com taxa de 14 para cada 100 mil mulheres, representando uma mortalidade de 4,2 para cada 100 mil (INCA, 2011). Em estudos epidemiológicos, relata-se que o Papilomavírus Humano (HPV) é o principal fator de risco associado às neoplasias cervicais. Porém, outros fatores também podem estar associados, como: sexarca precoce, alta paridade, número de parceiros sexuais, desnutrição, higiene e tabagismo (ALBRING; BRENTANO; VARGAS, 2006). O câncer do colo do útero inicia-se a partir de uma lesão precursora, e caracteriza-se por replicação desordenada do epitélio de revestimento comprometendo o estroma, podendo se difundir por outros órgãos, mas quando diagnosticado precocemente, possui chance de cura de até 100% dos casos (BRASIL, 2011). Estima-se que o período de evolução de uma lesão cervical inicial para a forma invasiva e, por conseguinte, maligna é de aproximadamente 20 anos. Desta forma, este período relativamente longo, permite que sejam estabelecidas ações preventivas eficientes para alterar o quadro evolutivo da doença (BRASIL, 2013). Assim, esse trabalho de revisão bibliográfica, pretende discutir o rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil de acordo com os critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Metodologia O presente trabalho caracteriza-se como um estudo de levantamento bibliográfico, o qual foi realizado em periódicos da área da saúde e nas Diretrizes do Ministério da Saúde, relacionados com o câncer do colo do útero, enfatizando o programa de rastreamento desta doença no Brasil. 1 2 Acadêmica do curso de Biomedicina – Universidade de Cruz Alta. [email protected] Docente do Curso de Biomedicina - Universidade de Cruz Alta. [email protected] Histórico da Prevenção do Câncer de Colo do Útero no Brasil As primeiras iniciativas para o controle de neoplasias do trato genital feminino no Brasil surgiram a partir de 1940 por meio de profissionais que trabalhavam com a citologia e a colposcopia (BRASIL, 2011). Segundo Teixeira et al. (2012), os cursos para a formação de citologistas surgiram como consequência das iniciativas de rastreamento do câncer de colo do útero pelo exame de Papanicolaou que até então era realizado por médicos residentes, supervisionados por médicos patologistas. Criou-se esta especialidade para acelerar os exames e aumentar a qualidade dos programas de rastreamento. Posteriormente, em 1956, fundou-se o Centro de Pesquisas Luíza Gomes de Lemos no Rio de Janeiro, objetivando tratar casos de câncer de mama e do trato genital feminino, sendo este, o primeiro órgão para o controle deste tipo de neoplasia no Brasil. Mais tarde, entre 1972 e 1975, o Ministério da Saúde implementou o Programa Nacional de Controle do Câncer, destinado a enfrentar o câncer em geral, mas, com ênfase no rastreamento do câncer do colo do útero (BRASIL, 2011). Já em 1984, houve a implantação do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher , que visava oferecer os serviços de básicos de saúde, além de atividades preventivas contra o câncer e estimulando a consulta ginecológica. Dois anos mais tarde, foi instituído o Programa de Oncologia que lançou o Projeto de Expansão da Prevenção e Controle do Câncer Cervico-uterino identificando as ações mais importantes para o seu controle, estipulando a periodicidade e a faixa etária para a coleta de material citopatológico (BRASIL, 2011). O projeto Viva Mulher foi lançado em 1977, com o objetivo de tratar as doenças sexualmente transmissíveis, consideradas fatores de risco ao câncer cervical, e também, estimular a realização periódica do exame de Papanicolaou (BICALHO, ALEIXO, 2002). As ações deste projeto iniciaram em Curitiba, Recife, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Belém e Sergipe, e somente em 1998 foram expandidas por todo o país. Neste mesmo ano, foram instituídos pelo Ministério da Saúde o Programa Nacional de Combate ao Câncer de Colo do Útero e o Sistema de Informação do Câncer do Colo do Útero (SISCOLO) que se tornou um forte aliado no monitoramento e gerenciamento de ações contra o câncer (BRASIL, 2011). No ano de 2005 foram estabelecidos planos estaduais e municipais de saúde, por meio da Política Nacional de Atenção Oncológica, com o objetivo de identificar e tratar precocemente as neoplasias cervicais (BRASIL, 2011). Assim, recentemente, foi lançado o Plano de Fortalecimento da Rede de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer, que prevê, entre outras ações, o Fortalecimento do Programa Nacional de Controle do Câncer de Colo de Útero por meio das seguintes estratégias: 1) Fortalecimento da gestão do Programa; 2) Qualificação de equipes da Atenção Básica para o rastreamento; 3) Gestão da Qualidade dos exames de Citopatologia; 4) Garantia da confirmação diagnóstica e tratamento das lesões precursoras e, 5) Acompanhamento e monitoramento (BRASIL, 2013). Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero Segundo as Diretrizes de Rastreamento do Câncer do Colo do Útero (BRASIL, 2011), as principais estratégias para o controle do câncer do colo do útero no Brasil, baseiamse na disponibilização do exame citopatológico (Papanicolaou) para as mulheres entre 25 e 64 anos de idade, no tratamento adequado da doença, de suas lesões precursoras e no monitoramento da qualidade do atendimento à mulher. Além disso, o controle e registro dos indicadores do câncer do colo do útero são importantes para avaliação das ações de detecção precoce desta doença no país. O intervalo de realização do exame é de três anos após dois exames negativos com intervalo anual e deve ser interrompido quando após os 64 anos, a mulher apresentar dois exames negativos consecutivos com intervalo de cinco anos. As mulheres acima desta idade, que nunca realizaram o Papanicolaou, devem realizar dois exames com intervalo de um a três anos, e, se ambos forem negativos, podem ser dispensadas de exames adicionais (BRASIL, 2011). Nomenclatura dos laudos citopatológicos e condutas preconizadas Atualmente a emissão de laudos citopatológicos segue a Nomenclatura Brasileira, que se baseia no Sistema Bethesda 2001 (INCA, 2012). Este sistema classifica as anormalidades de células escamosas em quatro categorias: (1) Células escamosas atípicas (ASC); (2) Lesão intra-epitelial escamosa de baixo grau (LSIL); (3) Lesão intra-epitelial escamosa de alto grau (HSIL); e (4) Carcinoma de células escamosas. A categoria ASC contém duas subcategorias: ASC-US (células escamosas atípicas de significado indeterminado), que se refere às alterações sugestivas tanto de LSIL como de SIL de grau indeterminado, e ASC-H (células escamosas atípicas, não é possível excluir uma HSIL), cuja designação é reservada para os casos onde as alterações citológicas são sugestivas de HSIL. Diante de um resultado de exame citopatológico de ASC-US, mulheres com 30 anos ou mais, devem repetir o exame citopatológico com um intervalo de 06 meses, precedida, quando necessário, do tratamento de processos infecciosos e melhora do trofismo genital. Para as mulheres com idade inferior a 30 anos, a repetição do exame está recomendada no intervalo de 12 meses (BRASIL, 2011). Mulheres com diagnóstico de LSIL devem repetir o exame citopatológico em seis meses. Já as pacientes que apresentarem citologia sugestiva de lesão de alto grau ASC-H e HSIL, deverão ser encaminhadas à Unidade de Referência Secundária para realização de colposcopia em até três meses após o resultado (BRASIL, 2013). Considerações finais Diante do exposto, observa-se que ao longo de muitos anos várias ações vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de reduzir a ocorrência do câncer do colo do útero no Brasil. Entre elas, está o desenvolvimento de Diretrizes que visam contribuir com o trabalho dos profissionais envolvidos no cuidado da saúde da mulher, auxiliando-os na adoção das melhores decisões em situações específicas, desde a realização do exame, até o seguimento das mulheres de acordo com o resultado do laudo citopatológico. Referências ALBRING, L.; BRENTANO, J.E.; VARGAS, V.R.A. O câncer do colo do útero, o Papilomavírus Humano (HPV) e seus fatores de risco e as mulheres indígenas Guarani: estudo de revisão. Revista Brasileira de Análises Clínicas, Rio de Janeiro, v. 38, n. 2, p. 8790, 2006. BICALHO, Sérgio Martins; ALEIXO, José Lucas Magalhães. O Programa “Viva Mulher”: Programa Nacional de Controle de Câncer de Colo Uterino e de Mama. Revista Mineira de Saúde Pública, nº 1, ano 01-Janeiro a Julho/2002. BRASIL. Ministério Da Saúde. Diretrizes Brasileiras Para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero. Rio de Janeiro, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Fortalecimento da Rede de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer. Disponível em: portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/2b_060511. Acesso em 30 de setembro de 2013. INCA. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Inca, 2011. INCA. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação-Geral de Prevenção e Vigilância. Nomenclatura brasileira para laudos citopatológicos cervicais. 3. ed. – Rio de Janeiro: Inca, 2012, 23 p. TEIXEIRA, Luiz Antonio; PORTO, Marco Antonio Teixeira; SOUZA, Letícia Pumar Alves. A expansão do rastreio do câncer do colo do útero e a formação de citotécnicos no Brasil. Revista de Saúde Coletiva, v. 22, n. 2, p. 713-731, 2012.