Conhecimentos Históricos e Filosóficos da Educação Aula III Objetivo: a educação na Grécia Antiga. A) A educação grega. A grande inovação trazida pela cultura grega em relação às demais culturas da antiguidade foi a valorização da ideia do individuo consciente de si mesmo. Este elemento estava presente na política, na filosofia e na educação. Variando conforme a época e a cidade, a educação grega se afirmava como uma educação integral que visava a formação física e intelectual, corpo e alma. Antes do surgimento da polis a educação estava centrada nas famílias, com forte influência religiosa, sendo os filhos da aristocracia educados por preceptores contratados. Com a polis surge a escola (scholé), destinada aos filhos da aristocracia de grandes comerciantes. Nestas buscava-se a aprendizagem das funções características da classe dirigente, pensar, governar e guerrear. A pouca valorização do trabalho braçal, típica de uma sociedade escravista, contrastava com a valorização do chamado ócio digno, que possibilitava a reflexão e a ocupação com as tarefas mais elevadas. A palavra grega para escola scholé significava, segundo Maria Lúcia Arruda Aranha, “lugar do ócio”. Contudo, a educação física, voltada para os esportes e o preparo para guerra, era extremamente valorizada, sendo inicialmente mais valorizada do que a intelectual. Esparta e Atenas foram as duas cidades mais importantes da Grécia Antiga. A disputa entre elas pela hegemonia na península marcou de forma definitiva a história grega, culminando na Guerra do Peloponeso, nas últimas décadas do século V a. C.. As duas cidades fornecem modelos diferentes de experiência educacional, que refletiam a própria diferença que havia entre elas. Em Esparta predominava o modelo militarista, característico de uma sociedade de moral guerreira. Instituída por Licurgo no século IX a. C., o modelo espartano se baseava no fortalecimento do corpo e na obediência. Curiosamente, a educação espartana conferia atenção a formação das mulheres, pois estas deveriam ser fortes para gerarem filhos fortes. Quando uma mulher engravidava havia o cuidado extra com sua alimentação, de modo a favorecer o nascimento de crianças saudáveis. Caso a iniciativa não fosse bem sucedida e a criança nascesse deficiente, ou muito frágil, elas seriam descartadas. As crianças viviam junto com suas famílias até os sete anos de idade, quando então passavam a ser educados pela cidade. Desta idade até os doze anos a formação incluía além da educação física, música, canto e dança. Após isso se colocava toda a ênfase na formação para o combate. Aprendiam a suportar condições adversas como fome e castigos físicos, e a obedecerem ordens e respeitar aos mais experientes, valorizando a vida comunitária. Sua educação não valorizava a oratória e por isso não apreciavam os debates públicos. Este traço da cultura espartana sobreviveu no imaginário da civilização ocidental, dando origem a palavra da língua portuguesa, lacônico, cujo significado é “que fala pouco, com o uso de poucas palavras”. A Lacônia era a região onde viviam os espartanos. Em Atenas a educação diferia bastante da existente em Esparta. Em primeiro lugar era uma inciativa privada das famílias que deveriam escolher e pagar os preceptores. Isto excluía os mais pobres do acesso a educação fora das famílias. Outra exclusão se dava em relação às mulheres, pois nenhuma educação era fornecida a elas. Quando completava sete anos a menina ateniense se fixava no gineceu (parte da casa destinada às mulheres) onde era ensinada nos afazeres femininos. No caso dos meninos, a educação estaria dividida em três níveis, elementar, secundário e superior. Aos sete anos ele seria entregue aos cuidados de um escravo, o pedagogo (“aquele que conduz a criança”) que sempre acompanhava a crianças às aulas de educação física, na palestra (lugar onde se luta), com o pedótriba, às aulas de música com o citarista e aos mestres das letras o gramático, também conhecido como didáscalos. Menos valorizado e pior remunerado dos três preceptores, o mestre das letras ensinava leitura e escrita, por silabação, memorização e declamação, com base nos poemas clássicos de Homero e Hesíodo e as fábulas de Esopo. As crianças aprendiam também a realização de contas básicas com a utilização de um tipo de ábaco. Aos treze anos se encerrava a educação elementar. Para os mais pobres isto representava o fim da educação escolar, passando a se dedicarem ao trabalho. Os filhos das famílias mais ricas eram encaminhados ao ginásio, onde iniciavam a educação secundária, tanto física quanto intelectual (matemática, geometria, astronomia). Por volta do século IV a. C., os jovens na idade entre 16 e 18 anos, passaram a frequentar a efébia, escola de preparação para o serviço militar. Após o fim da obrigatoriedade do serviço militar a ênfase, na efébia, seria colocada no ensino de filosofia e literatura. O ensino superior surgiu por volta do século V a. C., com os sofistas. Os alunos ficavam vinculados a um filósofo que era responsável pela finalização da sua educação. São exemplos dessa prática, grandes pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles. No período helenístico, após a dominação macedônica, paralelo ao desaparecimento da autonomia das cidades estado, houve a diminuição da importância da educação física na formação das crianças e jovens, e o estabelecimento de uma maior padronização do currículo, que se baseava em sete disciplinas, “as sete artes liberais”. Três de cunho humanístico (gramática, retórica e dialética) e quatro de cunho científico (aritmética, música, geometria e astronomia). Houve também uma maior formalização do ensino superior com o surgimento de novas escolas e de centros de excelência como a cidade de Alexandria, no Egito.