Alzheimer, o mal que a idade traz

Propaganda
Página dupla/Elisandra V. Gaspareto Sé
Alzheimer, o mal
que a idade traz
Cérebro: a demência que afeta
36 milhões de pessoas no mundo não
tem cura, porém, há medicamentos
que reduzem temporariamente os
sintomas; os familiares do paciente
também precisam de cuidados
Eduardo Gregori [email protected]
E
ntidades de todo o planeta
uniram-se, sexta-feira, Dia
Mundial de Conscientização
da Doença de Alzheimer,
para promover ações que
alertem a população para a
doença que afeta 36 milhões
de pessoas no mundo – esse
número pode chegar a 115 milhões em 2050.
Em Campinas, a data foi marcada por atividades coordenadas pela Associação Brasileira
de Alzheimer (Abraz), em uma programação
que se estende por todo o mês.
A preocupação tem motivo. Estudos epidemiológicos apontaram que, no Brasil, em
2008, entre 6% e 7% dos idosos tinham algum
tipo de demência, totalizando 1,3 milhões de
pessoas. Entre eles, 799 mil foram diagnosticados com Alzheimer.
Metrópole conversou sobre o problema com a fonoaudióloga Elisandra Villela
Gasparetto Sé, mestre em gerontologia pela
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), doutora em linguística – área de neurolinguística – pela Unicamp, presidente da
Abraz Regional São Paulo e coordenadora da
Abraz sub-regional Campinas.
6 metrópole campinas 23/9/12
Metrópole – Quais as principais causas
do Alzheimer?
ElisandraVillela Gasparetto Sé – Ele é multifatorial, pois inúmeras doenças podem causar demência, como as relacionadas a fatores
genéticos, processos infecciosos, intoxicações
e comprometimentos lesionais no cérebro. É
possível classificar, nesse contexto da pesquisa
médica, as causas de demência em dois grandes grupos: com e sem comprometimento
estrutural do sistema nervoso central.
Quais os indivíduos mais suscetíveis à
doença?
A incidência de demência do tipo Alzheimer é de 1% até os 60 anos. Depois dessa faixa,
dobra a cada cinco anos – 2% até os 65; 4%
até os 70; 16% até os 80 e 32% até os 85 anos.
À medida que a idade aumenta, a frequência relativa se torna progressivamente maior,
embora também possa ocorrer crescimento
da prevalência de doença cerebrovascular
associada.
E quais são os sintomas que evidenciam
o surgimento do Alzheimer?
A principal alteração ocorre na memória
recente, que se configura de forma diferente
da amnésia. A amnésia de curto prazo refere-se à perda de memória para uso pessoal,
experiências, eventos públicos ou informação,
mas os outros domínios cognitivos se mantêm preservados. No Alzheimer, as perdas de
memória acompanham déficits de linguagem
e atenção para determinadas tarefas. É importante salientar que as variadas formas e causas
de alterações amnésicas são diagnosticadas
a partir da linguagem e se relacionam intimamente com ela, revelando-se no contexto
da comunicação. Não é raro profissionais da
saúde encontrarem dificuldade para diferenciar o comprometimento cognitivo leve
da demência em seus estágios iniciais, pois a
sintomatologia é similar.
Como saber se a doença já está em progressão?
O comprometimento da funcionalidade do
portador do Mal de Alzheimer comporta uma
gradação; ele não atinge de modo uniforme
todos os domínios da capacidade funcional.
Assim, a incapacidade para o desempenho de
atividades instrumentais da vida diária, como
fazer compras, cuidar das finanças e andar
pela cidade, ou a resultante de um comprometimento mais grave de locomoção, visão
ou audição não significam, necessariamente,
disfuncionalidade em outros domínios como
o cognitivo e o emocional.
O Alzheimer tem cura?
Não existe tratamento capaz de curar ou
retardar o início dos sintomas ou a progressão da doença. Mas há medicamentos que
reduzem temporariamente os sintomas, sem
alterar o curso do problema. Existem ainda
tratamentos não-farmacológicos que auxiliam
na manutenção das reservas cognitivas (uso
social do conhecimento adquirido ao longo da
vida). É importante manter o paciente exposto
a estímulos do ambiente e fazê-lo participar de
É importante
manter o
paciente exposto
a estímulos do
ambiente e fazêlo participar
de oficinas
de memória
e artesanato,
atividades
sociocognitivas
que ajudam a
preservar sua vida
social e evitam
que a doença
progrida de forma
muito rápida”
mílias desde os primeiros sintomas sobre o
diagnóstico diferencial, as abordagens para
ensinar o paciente a reconhecer e lidar com
seu comportamento e as falhas de memória,
e como lançar mão de estratégias para comunicar-se, lidar com alterações cognitivas
e comportamentais, e a preservar as funções
e a qualidade de vida.
oficinas de memória e artesanato, atividades
sociocognitivas que ajudam a preservar sua
vida social e evitam que a doença progrida
de forma muito rápida.
O que é possível fazer para melhorar a
qualidade de vida do paciente?
Atividades práticas e interativas para
exercitar as funções mentais, promovendo
o aprendizado por meio de jogos, exercícios
para treino da memória, atenção, percepção,
raciocínio lógico, linguagem e interação social,
dinâmicas de grupo, técnicas de reminiscências, autobiografia, revisão de vida e história
oral. Em Campinas, há oficinas de memória
nas Faculdades Abertas à Terceira Idade.
Os familiares também precisam de orientação para lidar com a doença?
A demência tem impacto importante na
vida social e na dimensão emocional de famílias e cuidadores. A falta de compreensão
e conscientização resulta em recursos insuficientes para lidar da melhor forma possível
com o mal. A família é espaço indispensável
DOMINIQUE TORQUATO/AAN
“
para garantia da sobrevivência de desenvolvimento, da proteção integral, da educação e
do envelhecimento. É a família que propicia
os aportes afetivos, além dos materiais necessários ao desenvolvimento e ao bem-estar dos
seus membros.
E qual é o trabalho da Abraz?
Transmitir informações sobre o diagnóstico e tratamento da doença e orientar sobre
aspectos cotidianos do acompanhamento do
paciente. Entre as atividades desenvolvidas
pela Abraz, destaco os grupos de apoio aos
familiares, o atendimento pessoal à família,
os boletins informativos e o site. O papel da
Abraz é ser o núcleo central dos envolvidos
com o Alzheimer e outras demências, oferecendo meios de atualização, permitindo
intercâmbio e apoiando ações voltadas ao
bem-estar do portador, da família, do cuidador
e do profissional. Nosso principal propósito é
ajudar as pessoas a entender e aceitar a doença, favorecendo o melhor encaminhamento
aos pacientes e uma vida mais digna para o
portador e seus parentes. Orientamos as fa-
Como a associação atua em Campinas e
no Brasil?
A Abraz, com suas sub-regionais, tem
grupos de apoio aos cuidadores familiares
em várias cidades do Estado. A participação
é gratuita. O grupo de apoio é um espaço
para o cuidado da família, um momento de
ajuda mútua para as pessoas próximas ao
paciente, em que há compartilhamento de
suporte emocional, de conhecimentos para
lidar com as transições da doença e de recursos de manutenção da identidade social do
familiar. Esse suporte e as orientações oferecidas atuam como força preventiva contra o
estresse e a favor da manutenção do bem-estar
do cuidador.
Como alguém que sofre com Alzheimer
na família contata o grupo?
O grupo de apoio da sub-regional Campinas funciona na Paróquia Divino Salvador,
toda primeira quinta-feira do mês, às 20h. A
participação é gratuita. A Paróquia fica na
Rua Júlio de Mesquita, 126, no Cambuí. O
contato também pode ser feito pelo telefone
3251-6433. No site, há endereços e contatos
dos grupos de apoios em várias cidades do
Estado de São Paulo e do Brasil.
Que atividades o grupo promove?
A Abraz Campinas, além de promover o
grupo de apoio uma vez por mês, tem o projeto do CineAbraz, que consiste na exibição
de filmes sobre a temática da doença e outras
demências e debates. O CineABRAz é realizado
na primeira quarta-feira do mês, na Paróquia
Divino Salvador, às 20h. Também realizamos
ciclo de palestras e o circuitoAbraz, cuja programação contempla palestras e grupos de
apoio em diversos locais da cidade quando
necessário. Em setembro, a associação realiza
a campanha do Dia Mundial da Doença de
Alzheimer.
Qual o objetivo da data?
Sensibilizar políticos e a população para
a problemática e transformar a doença de
Alzheimer em prioridade da saúde pública
nacional. „
campinas 23/9/12
metrópole
7
Download