Criminosos lucram com a guerra síria - Internacional

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29/03/2016
Criminosos lucram com a guerra síria - Internacional - Estadão
Criminosos lucram com a guerra síria - Internacional Estadão
Jamil Chade, Correspondente / Genebra - O Estado de S. Paulo
20 Março 2016 | 05h 00 - Atualizado: 20 Março 2016 | 05h 00
Com infraestrutura e cumplicidade de autoridades, contrabandistas tiraram € 4
bilhões de refugiados em 2015, 10% do PIB da Síria
GENEBRA - Dados colhidos por investigadores da Frontex - a agência de fronteiras da União
Europeia (UE) - mostraram que em 2015 grupos criminosos retiraram de famílias de refugiados e
imigrantes o equivalente a 10% do PIB da Síria para levá-los para o território europeu. O pagamento
para o contrabando, às vezes com cumplicidade de autoridades, chegou a € 4 bilhões.
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No ano passado, 1 milhão de refugiados entraram no território europeu: a grande maioria, da Síria.
Mas, para os investigadores, é a forma pela qual essas pessoas cruzam as fronteiras que chama a
atenção.
Diante de uma Europa que não consegue estabelecer uma estratégia para lidar com o fluxo, o
caminho é literalmente ocupado por grupos criminosos que vendem os serviços de transporte,
contrabando, documentos e até mapas às famílias tentando escapar da morte.
Nos últimos dias, líderes europeus têm insistido que o plano da UE para lidar com os refugiados
precisa também reprimir os grupos de traficantes de pessoas. Mas, para organizações humanitárias
como Médicos Sem Fronteira (MSF) e mesmo a ONU, a existência desses serviços clandestinos é
resultado do fracasso da Europa em oferecer soluções a quem tenta fugir.
O problema, segundo a Frontex, é que “a maioria dos lucros dos migrantes contrabandeados é
usado por organizações criminosas para financiar outras iniciativas ilícitas, como venda ilegal de
drogas e de armas”.
Por pessoa, o custo de sair da Turquia e chegar à Alemanha, por exemplo, pode variar entre € 2 mil
e € 5 mil. Em parte, esse dinheiro tem alimentado e fortalecido o crime internacional.
Para conseguir retirar o máximo de benefícios e diante da concorrência para controlar as rotas, os
grupos de contrabandistas passaram a agir de forma “profissional”, a organizar trajetos e fechar
acordos com autoridades locais.
A principal rota é a que liga Turquia e Grécia. Em 2015, 870 mil pessoas usaram esse trajeto e o
número de grupos contrabandistas também se proliferou. “Cada uma dessas redes controla uma
área de ponto de partida específica”, explicou a Frontex, apontando para diferentes grupos de Izmir,
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Bodrum e Istambul.
Segundo as investigações, os grupos ainda se dividem por nacionalidades de migrantes e organizam
o transporte das cidades até os portos turcos de onde os barcos partem para cruzar o mar até a
Grécia.
Além do transporte, os grupos oferecem informações sobre o processo de asilo na Europa e até
documentos falsos. Segundo a Frontex, a maior demanda é por passaportes sírios, além de cartas
de identificação, certificados de nascimento e carteira de motoristas. Na Europa, os migrantes sabem
que, hoje, apenas poderão ficar se provarem que estão fugindo da guerra na Síria.
As ilhas de Chios e Lesbos, na Grécia, são os principais destinos das travessias feitas, na maioria
das vezes em barcos de borracha. Para essa modalidade, os preços variam entre 500 e mil euros
por pessoa. Mas, para as famílias mais ricas, os contrabandistas também oferecem barcos maiores a
€ 10 mil. Quando o clima está ruim para a travessia, os contrabandistas chegam a oferecer
descontos de até 50% aos refugiados.
Líbia. Outra rota com uma rede de traficantes cada vez mais organizada é a que liga a Líbia ao sul
da Europa. Hoje, os grupos criminosos contam com cidadãos líbios oferecendo seus serviços aos
migrantes, ex-combatentes, milícias e mesmo homens das forças regulares.
Com operações de transporte cada vez maiores, com centenas de passageiros, as viagens
passaram a ter verdadeiros administradores, e são, muitas vezes, perigosas.
Testemunhas disseram à Frontex que traficantes violentos, cruéis, cometeram abusos sexuais em
barcos e obrigaram dezenas de pessoas a realizar pagamentos com pistolas apontadas para suas
cabeças.
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