Discurso do Reitor 2017

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Discurso de Acolhida e Abertura do Ano Acadêmico 2017
da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
Bom dia!
Inicio este momento de acolhida saudando os diretores dos departamentos de
Filosofia e Teologia, os Padres Delmar Cardoso e Geraldo De Mori, que comigo
compõem a mesa. Uma saudação especial ao nosso convidado de honra, o professor
Rudolf Von Sinner, que pronunciará a aula inaugural deste ano.
Autoridades:
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Saúdo igualmente, o Diretor de Assuntos Comunitários e Pastorais, Padre Jaldemir
Vitório. A Diretora Administrativa, sra. Edna Lúcia; o Secretário Geral da FAJE, o sr.
Celso Messias; o Coordenador do núcleo de extensão e especialização, o sr. Rodrigo
Ladeira.
Saúdo nossos queridos alunos e alunas, razão de ser desta instituição. E igualmente os
membros de corpo docente da FAJE, cuja dedicação à pesquisa e ao ensino projeta o
nome da Faculdade, segundo as últimas avaliações oficiais, como um dos melhores
centros de formação em Filosofia e Teologia de nosso país.
Uma saudação à equipe de Biblioteca da FAJE, que guarda nosso tesouro mais
precioso. E aos membros dos serviços gerais, que mantêm nossas instalações
impecáveis. Enfim, saúdo com amizade a todos os colaboradores da Faculdade Jesuíta.
É uma alegria trabalharmos juntos. Temos uma bela equipe!
Queridos amigos e amigas da FAJE, que vieram hoje apoiar este início de ano
acadêmico, com sua presença e simpatia. Sejam todos bem-vindos! Esta casa é de
vocês. Este centro de formação somente tem sentido se irradia, através da
comunidade acadêmica, luz e discernimento para o mundo em que vivemos.
Eis porque decidi deixar de lado o tradicional relatório de atividades da Faculdade
Jesuíta, este ano. Ele será publicado em nosso Site e enviado a toda comunidade
acadêmica por email, oportunamente. Preferi apontar os principais eixos do ano que
hoje, oficialmente, se inicia. Os temas que nos estimularão a ir mais longe em nossos
estudos filosóficos e teológicos, pois vão abrir horizontes imprevistos e imprevisíveis
em qualquer currículo acadêmico.
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Começo por aquele círculo diabólico que tem abalado todos nós há alguns: o desprezo
pelo Bem Comum. Corrupção, má gestão, mentalidade social individualista são alguns
sintomas deste desprezo pelas riquezas materiais, culturais e espirituais de nossa
nação. Sim, estas riquezas de nosso povo têm sido desprezadas, ou seja, tratadas como
bens particulares e não como o que são de fato: bens comuns. Assim, pareceu-nos
urgente organizar o Simpósio Internacional Filosófico Teológico deste ano em torno do
tema da “Busca do Bem Comum”, refletindo sobre a política e a economia nas
sociedades contemporâneas. O Simpósio já se encontra organizado, os professores
convidados, a programação preparada. Promoveremos uma reflexão interdisciplinar e
ecumênica, conjugando teologia, filosofia, economia, ciência política, etnologia,
sociologia e direito. Vocês receberão a carta convocatória e a programação dentro de
duas semanas. Fizemos um grande esforço a fim de trazer especialistas de renome
nacional e internacional para tratarmos da questão, no nível mais elevado possível.
Aproveito, aliás, para esclarecer que o tema da “busca do bem comum” é dinâmico e
não concerne apenas às “riquezas”, mas também o desenvolvimento das capacidades
dos cidadãos e, em consequência, a oferta de oportunidades para que estas
capacidades humanas floresçam para o bem de todos. Inclui ainda a questão da
autoridade, hoje tão desgastada. E o resgate da política como mediação fundamental
da vida em comunidade.
Neste sentido, inicio o ano já convocando a todos para que se preparem para o
Simpósio Internacional, que terá lugar nos dias 04 a 06 de outubro, na próxima
primavera. Várias programações de nosso ano acadêmico, tanto no departamento de
Filosofia quanto no departamento de Teologia nos prepararão para este momento
chave de nossos esforços.
Evoco a seguir dois acontecimentos que também marcarão este ano. Emprego a
palavra “acontecimento” num sentido forte: trata-se de algo novo, verdadeiramente
inovador e criativo, que inaugura possibilidades antes inimaginadas.
O primeiro deles concerne à comemoração dos quinhentos anos da Reforma
Protestante, de forma ecumênica, com efetiva participação católica. O termo
“comemoração” é aqui importante. Não se trata de uma “celebração”, mas de fazer
memória comum das grandes contribuições da Reforma para o cristianismo, ao mesmo
tempo em que se reconhecem os limites e mesmo os pecados cometidos por católicos
e luteranos ao longo destes cinco séculos.
Mas há algo novo, o que constitui propriamente o “acontecimento”. Uma nova
atmosfera, que tem apenas 50 anos, e onde se respira o ar fresco do diálogo
ecumênico. Ela nos conduziu à “Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação”,
que é de 1999!, com o conceito genial de “consenso diferenciado”. De repente, de
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forma surpreendente, num curto período histórico, foi superada a atitude plurissecular
de uma condenação recíproca. Voltamos ao Evangelho e começamos a caminhar lado
a lado. Ainda há caminho por fazer: como entender, por exemplo, a unidade da Igreja
numa forma que permita a sua irreversível pluralidade e diversidade hoje? Como
avançar na questão da hospitalidade Eucarística? São temas para nos provocar ao
longo dos cursos e da programação de atividades do ano.
O segundo evento encontra-se, aparentemente, mais limitado à comunidade católica.
Gostaria, no entanto, de introduzi-lo, recordando o comentário redigido por Lutero,
em 1521, sobre o Cântico de Maria, o Magnificat. Recordo em particular suas palavras
sobre o versículo “porque olhou para a humildade de sua serva”. Lutero observa que
seria absurdo considerar que a Virgem nesta passagem pretendesse autoproclamar-se
“humilde”. Isto seria um total contrassenso, pois a humildade verdadeira impediria
que alguém pretendesse ser considerado/a “humilde”. O que está dito no Cântico de
Maria, nos ensina Lutero, é que esta jovem pobre, desprezada e insignificante aos
olhos do mundo de então, espanta-se com a eleição gratuita feita por Deus, por pura
graça. Se tomarmos o ponto de vista de Maria (e não o nosso, que a admiramos tanto,
como exemplo de fé e entrega a Deus), compreenderemos o versículo perfeitamente.
Este é o sentido que desejo dar ao evento evocado na capa de nosso ano acadêmico.
Como vocês sabem, há trezentos anos, um grupo de humildes pescadores retirava de
suas redes o corpo e, a seguir, a cabeça da pequena imagem em terracota de Nossa
Senhora da Conceição. Esta imagem, “aparecida” das águas do Rio Paraíba, tornou-se,
ao longo das décadas, um dos grandes símbolos de fé do Continente Latino-americano.
A ela acorrem agradecidas multidões de fiéis, que se tornaram capazes de enfrentar a
dor, o sofrimento, a separação e a insegurança, graças à intercessão da Virgem junto a
Deus.
A questão é delicada, eu sei, pois há um só mediador, o Cristo. Mas o fato, a ser
interpretado, louvado ou criticado, é que muitos dos que se sentem pobres,
desprezados e insignificantes aos olhos deste mundo encontram em Maria um apoio
espontâneo quando se trata de unir-se em oração ao Senhor. Nossa Senhora
Aparecida, como é nomeada entre os católicos, constitui, portanto, um ícone do
Mistério divino e um dos polos de contato mais intensos com este Mistério, surgido na
história de nosso país. Ao recordarmos este acontecimento religioso, na capa do Ano
Acadêmico 2017, desejamos incentivar o estudo Filosófico e Teológico do fenômeno
religioso em geral e, em particular, da presença da Virgem Aparecida na cultura
brasileira, de forma crítica e ecumênica.
A questão ganha especial relevância quando nos perguntamos, por exemplo, pelo
lugar da mulher nas igrejas e nas religiões. Ou, ampliando mais o olhar, quando
fazemos o mesmo exame nas diversas instituições da sociedade, no mercado de
trabalho, na vida política e no cenário cultural. Pensemos nas instituições de ensino
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superior brasileiras, uma vez que somos uma delas. Onde e como estão presentes as
mulheres e com que desafios esta presença-ausência nos confronta?
Espero, portanto, que o tricentenário da Virgem Aparecida inspire reflexões, pesquisas
e discussões sobre este acontecimento suis generis. Primeiramente, dedicando-nos às
suas decorrências religiosas, sem, no entanto, ocultar as repercussões ou
inconsistências presentes em nossas relações sociais.
A Faculdade Jesuíta vem ampliando seus horizontes nos últimos anos. Dentro dos
limites de nosso tamanho e sem perder a marca da simplicidade, nossa programação
diversificou-se, tecemos redes com outras instituições brasileiras e internacionais,
promovemos a pesquisa entre os alunos da graduação, preparando-os para novas
ousadias no futuro (como mestrado e doutorado). Modernizamos nossos serviços de
secretaria e administração. Buscamos revalorizar nosso Campus, repensando os
espaços e cuidando da vida em nossos jardins. Temos, finalmente, renovado nosso
corpo de professores, o que é um dos grandes desafios, senão o principal.
A comunidade acadêmica da Faculdade Jesuíta mudou seu perfil, tornando-se mais
plural, nas dimensões religiosa, política e cultural. Espero que esta diversidade
encontre expressão adequada no cotidiano, em que o respeito e o apreço de uns para
com os outros seja a marca de nossa convivência. Buscar o Bem Comum, num espírito
de abertura e diálogo ecumênico e interreligioso, inspirados no exemplo da jovem
humilde de Nazaré, que se espanta com a graça e a liberdade infinitas de Deus: eis um
bom caminho, me parece, para o nosso ano acadêmico de 2017. Contamos com a
ajuda de todos. Somos frágeis, sem dúvida, mas a comunhão nos torna aptos a
enfrentar o futuro, com esperança que não se apaga jamais.
Álvaro Mendonça Pimentel SJ
Reitor da Faculdade Jesuíta
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