Discurso do orador da turma na cerimônia de colação de

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Discurso do orador da turma na cerimônia de colação de grau em
Filosofia pela FAJE em 2011
Caros professores, amigos, familiares e colegas de turma. Hoje nos
reunimos para celebrar a conquista de mais uma meta em nossas vidas.
Hoje temos a certeza de que a vida se faz de conquista de metas, basta
contemplar a alegria estampada nos rostos de cada um de nós formandos e
nos rostos dos que compartilham desse momento conosco.
Quando iniciamos os estudos de Filosofia, uma pergunta, entre tantas
outras, possibilitadas pelo ato de filosofar, despontava como a questão de
fundo, da qual o saudoso Pro. Ricardo Fenati nos introduziria no mundo da
Filosofia. A pergunta era a seguinte: A Filosofia nos humaniza? Ela é
capaz de nos oferecer uma nova visão de mundo, a partir da qual
possamos ser mais sensíveis aos problemas da humanidade?
A resposta precisa de um esclarecimento conceptual: De qual Filosofia
estamos falando? O que entendemos, nós, por Filosofia? Nos referimos
àquela que é causa formal e eficiente de tantos sistemas filosóficos, cuja
dialética da história nos legou tantos baluartes do saber? Ou falamos da
Filosofia que brota do concreto de nossas vidas, que nos arranca do estado
inerte de acomodação e que nos faz enxergar as várias facetas de um
mundo aparente que esconde o mais absurdo processo ininterrupto de
desumanização?
Fazer ou estudar Filosofia não pode existir sem uma conexão com a
realidade. Conceitos sem intuições, que advém da constatação de nossos
sentidos mais íntimos, são vazios. Por isso, nos três anos da Graduação
aprendemos que o Ser que moveu a nossa intelecção e que exigiu de nós
ampliarmos os limites dos conceitos lingüísticos, não é Deus, nem muito
menos eu. O Ser, que o ensino jesuíta oferecido nessa instituição de padrão
internacional, sempre 1º lugar no ENAD, conjuga o Eu e o Tu. Ele rompe
com os muros da falsa segurança do individualismo e se concretiza no
reconhecimento do outro, para só assim podermos viver humanamente.
Somos muito gratos a todos os professores, que nos apoiaram e que
souberam, na paciência de sua sabedoria acumulada, esperar que os frutos
de seus ensinamentos fossem surgindo vagarosamente. Agradecemos à
família FAJE que possibilita uma convivência amiga e próxima entre
alunos, professores e funcionários em geral.
Além dos agradecimentos fica a lembrança e a saudade de tantos colegas
que, durante esse tempo, foram ficando pelo caminho ou que ainda estão
nos bancos da Paidéia fajeana esperando a coruja de minerva concluir o
seu vôo.
Para concluir gostaria de ratificar o que fora dito nos parágrafos anteriores,
só que de forma poética:
SER PARA SER1
Uma rosa é. Uma árvore é. O ar também é.
Ser, estar, permanecer, ficar são verbos de ligação
Ligam o aparente à categoria de ser pela ação.
O caipira é. O asno é. A criança que pede esmola não é.
Logo: Por que algumas coisas são e outras não? O que faz a distinção entre elas?
Nesse jogo da conjugação, um verbo pode ser muita coisa. O haver pode ser existir;
O partir pode ser despedida ou divisão; o mangar pode ser fruta... Porém um único
verbo não pode ser associado a certos substantivos; é o verbo PASSAR. Com esse
temos de ter muito cuidado, ele não pode estar junto com fome, passar fome. Com sede,
passar sede. Com privação, passar privações. Jamais isso pode acontecer.
A razão para tal determinação reside no fato d’eles destruírem o ser.
O vir-a-ser é um movimento constante, é a passagem da potência ao ato. É movimento
da vida, do existir. É a elevação do estado de ser feto a ser cidadão de direito. Direitos
que só serão garantidos se o ser for reconhecido, e reconhecimento só acontece entre
semelhantes. Por isso, não se pode admitir o passar do ter para o não ter, pois essa
passagem é para o não-ser.
Ser é viver, é reconhecer, é fazer valer viver.
É grito por respeito, por justiça, por partilha.
É dizer que tem direito e que quer ver garantido.
É sonhar com outro eu, que também existe assim como o que sonha.
Ser é e não pode não ser.
Ser pessoa é e não pode não ser.
Belo Horizonte, 03 de dezembro de 2011.
1
Texto publicado em Pensar-Revista Eletrônica da FAJE, v. 2, n. 2 (2011), p. 225. Acessível em
http://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/pensar/article/view/1426/1812
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