I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015 Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015 UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas A experiência brasileira em planejamento econômico de 1930 a 1964 André Vinicius Marujo (Unioeste) [email protected] Kátia Fabiane Rodrigues (Unioeste) [email protected] Resumo A utilização do planejamento econômico pode ser considerada como uma forma racional de administração pública que se tornou popular a partir da década de 30. No Brasil, o planejamento começou a ser utilizado a partir de 1939, no governo de Getúlio Vargas, nessa época, o país passava por um momento de mudança de seu eixo econômico e objetivava consolidar uma base industrial. Assim, este artigo tem como objetivo descrever o início do processo de planejamento econômico no Brasil no período de 1930 a 1964. Nesse sentido, observa-se que as duas primeiras tentativas de planejamento tiveram pouco impacto na economia, devido às várias falhas técnicas na elaboração do plano. O planejamento econômico somente apresentou resultados positivos e mudanças relevantes a partir de 1956, com a implementação do Plano de Metas. Portanto, o período analisado teve grande importância para a introdução do planejamento econômico no país, além disso, aponta-se que a experiência adquirida nesses planos, serviu de base para os próximos. Palavras-chave: Intervenção do estado. Planejamento econômico. Economia brasileira. Área Temática: Áreas Afins das Ciências Sociais Aplicada. 1 Introdução As décadas anteriores à depressão de 30 foram marcadas por crises que acometeram a economia brasileira, ao passo que esse período revelou os estrangulamentos do sistema econômico e financeiro nacional, baseado em uma ideologia liberal. Considerando as condições e as consequências da crise, diversos grupos da sociedade perceberam que a estrutura político-administrativa do país era inadequada frente às faces dos desequilíbrios econômicos. Por esse motivo, os novos representantes empenharam-se em reformular, 1 I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015 Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015 UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas reestruturar e integrar órgãos preexistentes e criar outros, com objetivo de promover as condições para o equilíbrio da estrutura produtiva brasileira (IANNI, 1991). Diante desse cenário, o governo federal criou conselhos, comissões, institutos, fundações e formulou planos. Além desse aparato, promulgou leis, decretos e promoveu debates sobre a situação financeira e econômica do país. Tais ações adentraram em todos os estratos da sociedade, pois, o propósito dessas ações era estudar, coordenar, disciplinar e reorientar as atividades produtivas. Estas mudanças configuram transformações no cenário brasileiro, que até o momento era caracterizado pelo liberalismo urbano e direcionado às relações externas do país (IANNI, 1991). Perante a instabilidade do setor externo na década de 1930, a economia brasileira passava por um período de mudança em seu modelo de produção, que ficou conhecida como substituições de importações, do qual visava produzir internamente o que país importava e, dessa forma dinamizar o mercado interno. Para reforçar essas mudanças, Getúlio Vargas implementou o Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa Nacional e O Plano de Obras Públicas e Equipamentos, em 1943 e 1944, respectivamente. Estes dois planos podem ser considerados como, os primeiros planos econômicos brasileiros, e possuíam objetivos similares, que eram promover a criação de indústrias de base (SOUZA, 2008 e ROSSETTI, 1987). Visando a industrialização do país, Getúlio Vargas criou em 1942 a Coordenação de Mobilização Econômica, concedendo poderes, para coordenar a alocação dos recursos produtivos nacionais, além disso, criou em 1943 o Serviço de Racionamento e em 1944 o Serviço de Abastecimento Interno, com o propósito de melhorar a destinação dos produtos internos. Assim, a planificação econômica desenvolvida por Vargas, principalmente pela criação da Coordenação de Mobilização Econômica, promoveu o crescimento da indústria no país após o final da Segunda Guerra Mundial, passando de uma taxa média de crescimento do setor industrial de 6,5% de 1939 a 1945 para 8,5% nos próximos dez anos após o fim da guerra (BRESSER PEREIRA, 1988 e REZENDE FILHO, 1998). No final dos anos 40, já no governo de Eurico Gaspar Dutra, foi elaborado o Plano SALTE, este tinha como objetivo o desenvolvimento do país por meio da melhoria dos setores de saúde, alimentação, transportes e energia (MELO E SOUZA, 2012). A intervenção do Estado na economia via planos econômicos, aprofunda-se no governo de Juscelino Kubitschek, nesse governo a indústria e os investimentos em 2 I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015 Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015 UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas infraestrutura de apoio passam a ser relevantes, mediante a implantação do Plano de Metas (LACERDA et al., 2010). De fato, o período entre 1930 e 1964, foi caracterizado pelo início do processo de intervenção do estado na economia, via planos econômicos. Diante disso, o presente trabalho tem como objeto analisar a experiência do Brasil no processo de planejamento econômico entre 1930 e 1964. Para tanto, foi realizado uma pesquisa exploratória, caracterizando os principais planos do período, bem como seus objetivos, resultados e o cenário econômico em que foram implementados. 2 Intervenção do estado e o planejamento econômico Com a crise de excesso de oferta da década de 30, a visão harmoniosa da auto- regulamentação do mercado e da lei de Say, defendida pelos economistas clássicos, não fornecia mais as bases para retomada do equilíbrio macroeconômico. Desta maneira, surge uma nova teoria com propósitos contrários ao pensamento clássico e com suporte diferente para explicar a crise de 30 (a teoria keynesiana). Desenvolvida por John Maynard Keynes, a teoria macroeconômica Keynesiana, tinha como base a intervenção do Estado na economia por meio de políticas monetárias e fiscais, principalmente em momentos de recessão econômica. (KEYNES, 1996 e LOPES e VASCONCELOS, 2000). Keynes (1996) acreditava que a intervenção seria necessária, pois o livre mercado provocava uma disparidade entre o nível de poupança e investimento da economia, ademais, o “espírito animal” dos empresários, assim entendido por ele, não garantiria o crescimento e desenvolvimento econômico do país. Desta forma, o estado deveria intervir na economia em qualquer setor do qual considerasse necessário, principalmente em setores onde a inciativa privada tenha dificuldades em atuar ou não deseja atuar e, justificava, que as forças de mercado poderiam não ser suficientemente fortes para levar a economia ao pleno emprego. Desta maneira, com o suporte da nova teoria desenvolvido por Keynes, o estado passou a ter uma participação maior na economia a partir da década de 1930, com o intuito de corrigir as distorções econômicas provocadas pela crise mundial. Nesse contexto, o planeamento econômico ficou mais evidente nas economias capitalistas. Segundo Gonçalves (1976), o planejamento econômico pode ser definido como a elaboração de programas para solução de problemas ou realização de objetivos de ordem econômica. Desta maneira, ele pode ser aplicado em diversas escalas e setores, como, por exemplo, às empresas, à economia nacional e à economia mundial, dependendo da 3 I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015 Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015 UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas delimitação do planejamento. Assim, Tinbergen (1969) complementa afirmando que o planejamento econômico, tem como objetivo, desenhar os passos para o crescimento econômico, ou seja, apresentar uma visão de futuro da economia de um país, além disso, indica qual o montante possível e que se deseja alcançar do produto nacional. Contudo, a necessidade de planejamento econômico é evidenciada por DELFIN NETTO (1966), que afirma que as economias que não são adeptas ao planejamento econômico, acabam restringindo suas escolhas no futuro e, devido à má locação de recursos, desperdiçam recursos escassos e oportunidades para promover o desenvolvimento econômico da nação. Nesse sentido, o planejamento econômico permite uma análise crítica sobre os possíveis caminhos para auferir o desenvolvimento econômico de maneira eficiente. Ademais, Fonseca (2006) afirma que o desenvolvimento econômico não ocorre de forma natural, pelo contrário, ele deve partir da atuação do estado na economia com a criação de programas econômicos que promovam a correção das falhas existentes na economia. Desta maneira, o autor afirma que, historicamente, a utilização de planejamento em nações está associada, de maneira direta, com a criação e expansão de bases industriais, o aumento da produção agropecuária, a elevação nos níveis de exportação e a promoção do crescimento e desenvolvimento econômico das nações, ou seja, pode-se afirmar que o planejamento econômico está relacionado com o progresso econômico de uma nação. Desta maneira, o planejamento econômico se popularizou a partir da década de 30, principalmente em países europeus. No Brasil, não houve grandes planejamentos econômicos que se destacam no período antecedente ao ano de 1939. Para Costa (1971, p.14) “a falta de continuidade com que a administração pública encarou problemas que exigiam ação constante e previamente elaborada” é característico da fase colonial, no Império e na Primeira República. Rossetti (1987) afirma que as mudanças na elaboração dos planejamentos econômicos no país se iniciam no período de 1939/56 quando os métodos de formulação e a abrangência política e da programação econômica foram objeto de mudanças relevantes. 3 A experiência brasileira no planejamento econômico O período da República Velha (1989-1930) se consolidou sob a forma de um Estado Oligárquico e com um modelo econômico baseado na agroexportação do café, atingindo altas taxas de crescimento econômico. Porém, este modelo possui uma elevada limitação devido ao seu alto nível de vulnerabilidade econômica ao setor externo. Pelo lado da exportação, o país dependia, basicamente, da exportação do café que, durante a década de 20, era responsável 4 I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015 Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015 UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas por 80% das exportações brasileiras, assim, a demanda do produto oscilava conforme a situação econômica mundial. Por outro lado, o país dependia da importação de produtos manufaturados para suprir a demanda interna destes produtos (LAFER, 1987). Desta forma, em 1929, com a crise mundial, o modelo agroexportador entrou em colapso devido à baixa na demanda mundial pelo café. Contudo, com a Revolução de 1930, que depôs o presidente Washington Luís (1926-1930), o país teve a oportunidade de deslocar seu eixo econômico com a alteração e diversificação de sua produção. Segundo Lafer (1987), o fim do Estado Oligárquico e início do Estado Burguês, possibilitou o desenvolvimento industrial do país. Souza (2008) afirma que, com a vitória de Getúlio Vargas nas eleições de 1930, iniciou-se uma reformulação econômica e social no país com o objetivo de substituir o modelo atual agroexportador para um modelo industrial. A substituição do modelo era baseada em um sistema nacionalista e intervencionista que objetivava as substituições das importações por meio do incentivo a produção interna dos produtos do qual o país importava. Com essa mudança, Getúlio Vargas acreditava que o país poderia crescer independente da dinâmica do qual estava à economia mundial. Além disso, Getúlio garantiu os direitos trabalhistas básicos com a criação do Ministério do Trabalho em 1930. Entre o período de 1930-1936, o país iniciou a criação de uma indústria de base e a fortificação do mercado interno. Porém, em 1937, Getúlio Vargas institui um estado autoritário em que chamou de “Estado Novo” do qual manteria a sua visão nacionalista e argumentava que a intervenção do estado seria mais intensa, independente do setor econômico. No mesmo ano, ocorreu a criação do Conselho da Economia Nacional com o objetivo da coleta de dados, avaliação e a criação de sugestões para as diretrizes econômicas futuras do país. Neste período, Vargas começa a dar importância à programação da economia no médio/longo prazo (LAFER, 1987). Desta maneira, em 1939 Vargas institui o Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa Nacional que tinha como principais objetivos a realização de obras públicas com o intuito de criar indústrias de base e da melhoria da defesa nacional. Assim, o plano tinha como objetivo organizar o governo do Brasil “para as necessidades decorrentes da Guerra de 39-45 e deve ser considerado mais como um mecanismo político-administrativo de defesa do que de desenvolvimento econômico-social” (MELO E SOUZA, 2012, p.1677). O plano teve duração curta, tendo seu fim no ano de 1943 tendo pouco impacto na economia do país visto sua delimitação a área governamental (MELO E SOUZA, 2012). 5 I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015 Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015 UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas No ano seguinte, em 1944, a mesma equipe técnica do plano de 1939 elabora o Plano de Obras e Equipamentos, encarregando o Ministério da Viação e Obras Públicas a executar as obras públicas de infraestrutura. O plano era similar ao de 1939 e continha praticamente os mesmos objetivos. Assim, apesar de o plano demonstrar um avanço técnico na elaboração planejamento econômico pelos dirigentes brasileiros, não ficou claro a origem dos recursos financeiros a serem utilizados e devido à falta de projetos de estudos de viabilidade econômica adequados, colaborando para que o plano fosse extinto em 1946 (MELO E SOUZA, 2012). Ademais, mesmo que estas duas primeiras tentativas de planejamento econômico careciam de capacidade técnica e não obtiveram resultas consideráveis, cabe destacar a experiência adquirida pelo governo para a elaboração dos planos posteriores (ROSSETTI, 1987). Segundo Lafer (1987), com fim do governo de Getúlio em 1945, o período de 19301945 foi marcado por uma série de medidas econômicas e inovações institucionais com o intuito de promover a importância da participação do Estado nas relações econômicas e políticas do país. Além disso, Vargas promoveu o debate dos problemas econômicos do qual o país enfrentava e iniciou a elaboração de planos econômicos para a correção dessas falhas. No ano seguinte, em 1946, o candidato à presidência do qual Getúlio Vargas apoiava, Eurico Gaspar Dutra, venceu as eleições. Segundo Souza (2008), em seu governo, Dutra desperdiçou reservas cambiais que foram acumuladas no governo anterior e permitiu as importações industriais que, anteriormente, era suprimido. Neste período, o país começou a apresentar problemas relacionados ao desiquilíbrio externo (devido ao aumento das importações), a desvalorização cambial e a inflação passa a crescer a um ritmo acelerado. Assim, Dutra avaliou a situação econômica do país e concluiu que as principais deficiências se localizavam na saúde, alimentação, transporte e energia. Desta maneira, com o intuito de solucionar estes problemas, Dutra decidiu sistematizar, de forma racional, a utilização dos recursos do país visando estabelecer um programa global de inversão planificada. Desta análise, resultou o Plano SALTE (SOUZA, 2008). No ano de 1948, o Plano passou pela avaliação do Conselho Econômico que, após uma análise crítica, concluiu que o programa não era exequível em razão de demonstrar falhas, sendo, a principal, a ausência de um sistema consistente de financiamento para assumir os gastos com a realização das obras e serviços propostos. Porém, mesmo com este parecer negativo, o Plano SALTE foi executado em 1949 com previsão de cinco anos (MELLO E SOUZA, 2012). 6 I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015 Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015 UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas O plano chegou ao seu fim em 1954, já no governo de Getúlio Vargas, e, como já havia previsto o Conselho Econômico, o Plano não atingiu nenhuma meta proposta. Dentro as principais falhas cabem destacar a falta de incentivo do governo de Dutra, que foi responsável pela coordenação nos dois primeiros anos de implementação do plano, a ausência de controle e fiscalização na execução, a inexistência da distribuição, de maneira clara, das responsabilidades executivas de cada parte envolvida no plano, como a previsão de datas e a distribuição de recursos. Além disso, o problema de financiamento, como já havia apontado o Conselho, também teve grande colaboração para a falha do programa. Ademais, o tempo estipulado para o Plano SALTE foi incorreto, visto que Dutra somente teria mais dois anos de mandato e o mesmo resolveu por em execução um plano que teria continuidade em outro governo e, devido a toda troca de seus representantes, comprometeria todo o Plano (SOUZA, 2008). Todavia, mesmo que o Plano SALTE tenha apresentado diversas falhas técnicas e não tenha alcançado suas metas, Rossetti (1987) ressalta que o plano contribuiu para uma mudança metodológica no que se refere ao planejamento da economia no país, tendo iniciado uma avaliação crítica da situação econômica do país por meio da observação das falhas da economia, a elaboração de soluções para os problemas e a execução de planos para correção destas falhas, ou seja, a introdução do planejamento no Brasil com o objetivo do desenvolvimento econômico do país. Segundo Souza (2008), após o fracasso do Plano SALTE e o suicídio de Getúlio Vargas (1951-1954), iniciou-se um debate ideológico no país sobre o rumo que a economia brasileira deveria tomar. Segundo o autor, “de um lado, a continuidade do modelo nacionaldesenvolvimentistas e, de outro, a inauguração de um modelo que implicava maior abertura de capital estrangeiro” (SOUZA, 2008, p. 28). No ano seguinte a morte do ex-presidente, Juscelino Kubitscheck é eleito presidente da República e, segundo Lafer (1987), implantou um plano econômico com maior complexidade e eficácia do que todas as tentativas anteriores: o Plano de Metas. Este Plano teve início em 1956 e objetivava a consolidação da estratégia de substituição de importações proposta por Vargas, em seu primeiro mandato, a eliminação de pontos de estrangulamento na economia do país e a consolidação de uma base industrial desenvolvida. Além disso, objetivava-se promover investimentos em infraestrutura, a elevação da produção de bens intermediários e incentivos à introdução de setores de capital e de consumo de bens duráveis. 7 I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015 Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015 UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas Ademais, previa a maior abertura de capital estrangeiro para empresas estrangerias por meio de incentivos econômicos, fiscais e políticos (GREMAUD et al., 2002). Gremaud et al. (2002) afirma que o plano foi elaborado com base nos estudos desenvolvidos pelo grupo BNDE-Cepal que observou a existência de uma demanda reprimida no setor de consumo de bens duráveis e que, com a coordenação de investimentos e incentivos ao setor, poderia alavancar o crescimento deste setor e do setor de bens intermediários que, por consequência da criação de empregos e renda, acabaria estimulando outros setores como o de bens intermediários e de bens de consumo leves. O Plano de Metas teve seu fim em 1961 e, segundo Lafer (1987), pode se considerar que o cumprimento das metas foi bem satisfatório e que o plano se tornou um exemplo de elaboração e execução. Gremaund et al. (2002) alega que o país teve grandes transformações na base produtiva com a baixa da agricultara no período do plano e a consolidação da base industrial no país por meio do crescimento do setor de consumo de bens duráveis. Ademais, destaca-se a elevação da taxa de crescimento do país que teve uma média de crescimento de aproximadamente 8,2% ao ano durante o período do plano. Com o final do mandato de Juscelino Kubitschek (1956-1961) e o início do mandato de João Goulart (1961-1964), o país presenciava uma situação econômica fragilizada com altos níveis de inflação, esgotamento da estratégia de substituição de importações e com a diminuição da taxa de crescimento do PIB. Por outro lado, a situação política do país estava conturbada com a renúncia de Jânio Quadros e a tentativa de implementação do parlamentarismo no Brasil. Contudo, no ano de 1963, Goulart anuncia o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social (LAFER, 1987). O Plano Trienal foi elaborado por Celso Furtado, que na época, era Ministro da Fazenda e objetivava, segundo Lafer (1987), a recuperação da taxa de nível de crescimento do período de 1957-1961, a redução da taxa de inflação resultante do Plano de Metas para 25% ao ano, a execução das reformas de base, o aperfeiçoamento dos mecanismos de distribuição de renda, a contenção do investimento público e do salário real e a renegociação da dívida externa. Contudo, o plano não conseguiu contentar nenhum dos dois lados da economia brasileira. Segundo Souza (2008), para a parte da população que era favorável a abertura da economia para o capital estrangeiro, as reformas de base impediam o apoio desta classe. Por outro lado, os nacionalistas repugnavam o plano devido ao fato de que no curto prazo, a população teria uma péssima condição de vida. Consequentemente, com a inexistência de 8 I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015 Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015 UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas apoio da população e até por parte de membros de partidos que apoiavam o governo, o Plano Trienal acabou se tornando um “plano de gaveta”. 4 Considerações finais A década de 30 foi um período de intensas mudanças na economia brasileira, tais como: o esgotamento do modelo agroexportador, a criação de um novo modelo baseado na substituição de importações, a tentativa da criação de uma base industrial no país e a dinamização do mercado interno. Nesse sentido, Vargas criou o Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa Nacional e o Plano de Obras e Equipamentos em 1939 e 1919 e 1944, respectivamente, sendo considerados os dois primeiros planos econômicos implementados no Brasil. Estes planos, foram feitos pela mesma equipe do governo e demonstravam uma carência técnica no seu desenvolvimento, apresentando as mesmas falhas limitando-se apenas a área governamental. Ademais, já no governo de Dutra em 1949, foi adotado um plano com objetivo do desenvolvimento econômico do país nas áreas de saúde, alimentação, transporte e energia. O plano Salte, apresentou uma considerável evolução técnica na sua elaboração em comparação com os dois primeiros planos, contudo, ainda apresentava falhas técnicas na elaboração, o não cumprimento das metas estipuladas. Apesar disso, cabe ressaltar a importância destas primeiras tentativas na introdução da programação econômica no país, mesmo que não tenham tido sucesso, a experiência adquirida por este plano colaborou para o desenvolvimento dos próximos planos. O objetivo de consolidar uma base industrial no país volta a ter prioridade no governo de Juscelino Kubitscheck, que buscava seguir a ideologia de Vargas na substituição de importações, visando o fortalecimento do mercado interno. O Plano de Metas foi implementado em 1956 e pode ser considerado como o primeiro plano brasileiro de grande sucesso, visto que, cumpriu a maioria das metas estipuladas, tornando-se um exemplo de programação econômica. Com o sucesso do plano, em 1963, Celso Furtado desenvolveu o Plano trienal com o objetivo de retomar o crescimento econômico do ano de 1957-1961 e diminuir a taxa de inflação provocada pelo Plano de Metas. Porém, como Furtado não conseguiu apoio de nenhuma parte da população, nem da parte que apoiava a abertura da economia ao capital externo e nem dos adeptos ao nacionalismo, o plano não conseguiu ser executado e tornou-se um “plano de gaveta”. 9 I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015 Cascavel, PR, Brasil, 16 a 18 de novembro de 2015 UNIOESTE-Universidade Estadual do Oeste do Paraná CCSA-Centro de Ciências Sociais Aplicadas Desta maneira, o período de 1930 a 1964 teve importante relevância para o planejamento econômico no Brasil, desde a sua introdução ao seu aperfeiçoamento. Assim, apesar das primeiras falhas, a experiência adquirida, proporcionou a formulação de planos melhores e que tiveram grande importância no crescimento e desenvolvimento econômico do país a partir de 1964, sendo utilizado de maneira intensa nas décadas seguintes. Referências BRESSER PEREIRA, L. C. Desenvolvimento e crise no Brasil 1930-1983. São Paulo: ed. Brasiliense S.A. 1985. COSTA, J. 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