XVII Congresso da Sociedade Brasileira de Radioterapia Ensaio Clínico Randomizado: Prevenção de radiodermite em pacientes com câncer de mama utilizando o chá de camomila e extrato de brassica oleracea. Enfª: Graziella Dias Pinheiro Machado Introdução Os tratamentos para o câncer de mama são, a cada dia, mais complexos e eficazes, não obstante a ocorrência de efeitos colaterais, como a radiodermite, que ainda representa um importante fator limitante do tratamento com radiações ionizantes. A radiodermite é definida como um conjunto de lesões cutâneas provocadas por uma exposição excessiva à radiação ionizante. (INCA, 2014) Introdução Uma das formas de prevenção e tratamento das reações causadas pela radioterapia no Hospital Araújo Jorge é a aplicação de compressa com chá de camomila. A camomila, considerada o tratamento padrão, é uma planta muito conhecida e utilizada tanto aqui no Brasil como em outros países, sendo considerada uma planta medicinal, atuando de diversas formas no organismo e possuindo grande importância para a saúde e estética. Introdução Diversos produtos manipulados por indústrias farmacêuticas estão em investigação para a prevenção e tratamento de radiodermites. Um deles é o extrato de Brassica oleracea, hortaliça da família Brassica, conhecida popularmente como repolho, que tem alto poder cicatrizante, sendo comprovado em mais de dez anos de estudos científicos. Esse extrato é um poderoso emoliente que proporciona uma hidratação intensiva e prolongada. Esse extrato também é utilizado com eficiência no tratamento e cicatrização de feridas (DEBRIDAN FARMA). Objetivos Comparar o efeito da compressa com chá de camomila e do creme de extrato de Brassica oleracea na prevenção de radiodermite em mulheres com câncer de mama. Método • Ensaio clínico randomizado, controlado, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (parecer nº 948.941). • Amostra: 43 mulheres com câncer de mama em radioterapia adjuvante, com idade igual ou maior que 18 anos e prescrição de radioterapia entre 30 e 34 frações de radioterapia, com dose de 180 a 200 cGy por dia. • Coleta de Dados: agosto de 2013 a junho de 2014 Método • Randomizadas em dois grupos da pesquisa (Grupo 1: camomila; Grupo 2: Brassica oleracea) • As pacientes foram avaliadas a cada 5 ciclos de RT, desde o início até o término da RT. • Desfecho primário: presença de radiodermite, segundo a classificação da escala do Grupo de Radioterapia em Oncologia (Radiation Therapy Oncology Group- RTOG). • As análises foram realizadas no programa SPSS versão 21. Resultados O perfil das mulheres em ambos os grupos de intervenção foi homogêneo para a maioria das variáveis controladas (Tabela 1). A diferença foi significativa para a variável cor de pele, em que as mulheres do grupo Brassica oleracea eram brancas, em sua maioria, enquanto que a maioria das mulheres do grupo Camomila eram pardas. Outra diferença significativa foi de que as mulheres do grupo Camomila tinham mamas pendentes em maior número. Resultados Tabela 1. Características sociodemográficas e clínicas de pacientes com câncer de mama em tratamento radioterápico. Goiânia, 2014. Camomila (n=23) N Idade média (DP) Escolaridade Estado Marital (CasadaxSolteira) Cor da Pele Branca Parda Negra Renda per capita (reais) Volume mamário P M G Mama pendente Tipo de pele (Seca, normal e oleosa) Dor (Sim x Não) Número de Comorbidades Classificação IMC Baixo peso Peso normal Sobrepeso IMC médio (DP); min-max Tabagismo (Sim x Não) % 50,9 (10,1) Brassica oleracea (n=20) N % 53,4 (13,2) 5 21,7% 17 73,9% 1 4,3% 548,92 (336,8) 12 60,0% 8 40,0% 00 00% 615,74 (380,37) 2 12 9 14 6 12 2 5 8,7% 52,2% 39,1% 60,9% 30,0% 60,0% 10,0% 25,0% P 0,533 0,715 0,425 0,024 0,501 0,068 0,018 0,567 0,446 0,224 0,059 11 47,8% 7 30,4% 4 17,4% 26,3 (4,5); 18,8-38,2 3 15,0% 11 55,0% 5 25,0% 28,6 (4,9); 18,8-37,7 0,069 0,359 Resultados Todas as mulheres desenvolveram radiodermite ao longo do tratamento radioterápico. Percebeu-se um aumento exponencial de mulheres com radiodermite grau 1 a partir da 15ª sessão, todavia nenhuma apresentou toxicidade intensa (grau 3 ou 4). Resultados • Ao concluírem 25ª sessão, notou-se uma semelhança entre os grupos em ambas as toxicidades apresentadas. • O grupo que fez uso da compressa fria com o chá de camomila apresentou 60,9% de radiodermite GI e 34,8% GII. • Já o grupo da Brassica oleracea, 50% concluiu a 25ª sessão apresentando radiodermite GI e 40% GII. Resultados Tabela 2. Incidência de radiodermite segundo a intervenção indicada para as mulheres em tratamento radioterápico para câncer de mama. Goiânia, 2014. RTOG Avaliação basal 0 5 sessões Rtx* 0 1 10 sessões Rtx* 0 1 15 sessões Rtx* 0 1 2 20 sessões Rtx* 0 1 2 25 sessões Rtx* 0 1 2 30 sessões ± 1 sessão Rtx* Grupo Chá de Camomila (n=23) Grupo Brassica oleracea (n=20) 23 (100%) 20 (100%) P 0,473 22 (95,7%) 01 (4,3%) 18 (90%) 02 (10%) 0,181 17 (73,9%) 06 (26,1%) 18 (90%) 02 (10%) 0,073 10 (43,5%) 12 (52,2%) 01 (4,3%) 14 (70%) 06 (30%) 00% 0,180 01 (4,3%) 18 (78,3%) 04 (17,4%) 05 (25,0%) 12 (60%) 03 (15%) 0,934 01 (4,3%) 14 (60,9%) 08 (34,8%) 02 (10,0%) 10 (50,0%) 08 (40,0%) 0,672 0 1 2 35 sessões ± 1 sessão Rtx* 00 12 (63,2%) 07 (36,8%) 0 1 2 00 02 (100%) 00 00 08 (72,7%) 03 (27,3%) 1,000 00 01 (50,0%) 01 (50,0%) Discussão Considerando a grande parte da população em radioterapia assistida por serviços de oncologia no país, é necessário considerar o custo de produtos indicados para a prevenção da radiodermite. O chá de camomila é de baixo custo, encontrado facilmente em estabelecimentos comerciais e em domicílio dos pacientes. O fator financeiro muitas vezes, pode dificultar na adesão de produtos utilizados para a prevenção das toxicidades e os profissionais dos serviços devem avaliar a acessibilidade, custo benefício na assistência prestada à esses pacientes. Camomila - Baixo custo - Fácil acesso (Aprox. $7,00 tratamento) Brassica oleracea - Custo mais elevado - Vendido em farmácias específicas (Aprox $80.00 tratamento) Conclusões • Concluímos que o efeito da Camomila e da Brassica oleracea na prevenção de radiodermite em pacientes com câncer de mama foi semelhante. • Inúmeros artigos, ainda buscam com estudos produtos eficazes na prevenção da radiodermite. Devemos assim, atentarmos quanto há indicação desses produtos (FREDMAN,GM,2014). Os profissionais devem avaliar o perfil dos pacientes em relação a acessibilidade e ao custo benefício dos produtos oferecidos na prevenção da radiodermite. Referências • AGUIAR et al., Perfil sociodemográfico e clínico das pacientes em tratamento do câncer mamário. Rev Inst Ciênc Saúde. 2011; 26 (2): 191-5. • ANDRADE et al., Prevenção de reações de pele devido à teleterapia em mulheres com câncer de mama: revisão integrativa, Rev. Latino-Am. Enfermagem 20 (3): [8 telas] maio-jun. 2012. • BATISTON et al., Conhecimento e prática sobre os fatores de risco para o câncer de mama entre mulheres de 40 a 69 anos, Rev. Bras. Saúde Matern. Infant, Recife, 11 (2): 163-171 abr. / jun. • DEBRIDAN FARMA. Debridan: Brassica oleracea. Folder explicativo recebido em 2014. • INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, Estimativa 2014: Incidência de Câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro, 2014. • INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, Alimentos, Nutrição, Atividade Física e Prevenção do Câncer. Uma perspectiva global. Tradução de Athayde Handson Tradutores. Rio de Janeiro, 2014, 12 p. Referências • RUFFO et al., Temporal trends in female breast cancer mortality in Brazil and correlations with social inequalities: ecological time-series study, BMC Public Health (Online) v. 15, p. 96, 2015. • RUFFO et al., Incidence and risk factors for winged scapula after surgical treatment for breast cancer. Journal of Clinical Nursing (Print), v. 23, p. 2525-2532, 2014. • SCHMUTH et al., Topical corticosteroid therapy for acute radiation dermatitis: a prospective, randomized, double- blind study. Br J Dermatol. 2002; 146 (6): 983-91. • SHUKLA P et al., Prophylactic beclomethasone spray to the skin during postoperative radiotherapy of carcinoma breast: a prospective randomized study. Indian J Cancer. 2009; 43 (4): 180-4 • ZAPPONI, A.L.B; MELO, E.C.P. Distribição da mortalidade por câncer de mama e colo de útero segundo regiões Brasileiras, Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 out/dez; 18 (4): 628-31.