Pilha A segunda tarefa da nossa terceira aula foi estudar a curva característica de uma pilha e criar um modelo teórico para explicar o seu funcionamento. Observamos que a tensão numa pilha é sempre 1,5V independentemente do seu tempo de uso. Então, o que ocorre quando uma pilha fica gasta? Montamos um circuito no qual a pilha fazia o papel de gerador. Para podermos variar a corrente, o circuito foi composto de um resistor variável e de uma resistência de proteção para que a pilha não entrasse em curto. A resistência variável era um cilindro em cujo eixo havia um fio enrolado e um carrinho. Deslizando o carrinho podíamos variar o comprimento do fio e conseqüentemente a resistência “resultante”. Os dados foram coletados com o DataStudio. Aqui cabem duas ressalvas: a primeira é que a resistência de proteção precisou ser muito elevada ( 100(5) Ω ) uma vez que o aparelho do DataStudio é muito sensível.A segunda é que para a tomada dos dados a variação da resistência foi efetuada rapidamente, para evitar erros de leitura (ruído) pelo DataStudio. Abaixo temos a curva característica da pilha: Note que muitos pontos estão praticamente sobre a mesma abscissa e isso ocorreu pela periodicidade na coleta dos dados efetuadas pela aparelhagem do DataStudio. O ajuste aplicado é uma função linear: V =−r.i Em que V é a tensão, i é a corrente; o termo linear é chamado Força Eletromotriz da pilha e o coeficiente linear poderia ser qualquer letra, entretanto pela análise dimensional verificamos que ele é uma resistência e, portanto, adotamos r. Os valores do ajuste linear são ε = 1460(4) mV e r = 5,90(47) Ω. Quando não há um circuito ligado à pilha espera-se uma tensão em seus terminais de 1,5V indicado pelo fabricante já que a corrente, nesse caso, é nula. Se adotarmos a incerteza do fabricante como metade da menor divisão indicada na pilha, isto é 0,05V, temos um valor compatível com o ε obtido pelo ajuste. Isso é um procedimento completamente grosseiro. Mas uma vez que não haja documentação disponível da pilha na qual a incerteza em sua tensão seja especificada, é de se esperar que o a leitura que gerou 1,5V não pudesse gerar 1,51V e, assim, a incerteza seria metade da menor divisão. Já “r” é um resistência e é fácil ver por uma análise dimensional. Mas o que ela representa? Já que no modelo não precisamos especificar uma corrente externa total e “r” também não é compatível com isso já que só o resistor de proteção tinha 100(5)Ω, concluímos que “r” está associado à pilha. “r” indicaria, portanto, uma resistência interna dependente do modo como a pilha foi construída: seus constituintes e o arranjo utilizado. A seguir temos o gráfico da potência fornecida pela pilha em função da corrente: Veja que esse gráfico é no mínimo esquisito. Uma vez que nosso modelo prediz para a pilha que a tensão é linear com a corrente, esperaríamos que o gráfico da potência (P)fosse do segundo grau, pois: P=V.i=−r.i. i= . i−r.i2 Entretanto o gráfico é claramente linear. Então, fizemos o ajuste por três funções diferentes: uma linear, uma parabólica e uma afim. Os resultados estão esquematizados na tabela abaixo: Termo quadrado (mW/mA²) ax²+bx+c -0,56E-2 Tabela1 – Coeficiente dos ajustes utilizados. Incerteza Termo linear Incerteza Independente Incerteza (mW/mA²) (V) (V) (mW) (mW) 2,9 E -2 1,45 0,59 0,019 2,8 ax+b 1,34 0,06 0,54 0,55 ax 1,40 0,02 Na tabela vemos termos cujas incertezas são maiores que eles próprios: portanto o termo é indeterminado ou o ajuste é inadequado. Assim, por exemplo, o coeficiente quadrático ou o independente podem ser desprezados. A melhor função é a afim (y=ax) e seu termo linear é compatível com o ε encontrado anteriormente. Isso também acontece com os termos correspondentes a ε nos outros ajustes como era de se esperar. Portanto, a resistência interna “r” é pequena e o termo quadrático na expressão da potência tem pouco efeito para os valores de corrente medidos e utilizados ao longo da discussão. Ainda pela expressão (2.0) deveria haver um máximo valor de potência para dada corrente,porém não pudemos observá-lo. Seria interessante refazer a experiência para determiná-lo, mudando o arranjo para isso (talvez) de modo a não utilizar o DataStudio para isso. A tensão fornecida pela pilha é constante. Tudo indica que ela está ligada à reação química que ocorre para gerar a corrente elétrica e isso explicaria a constância da tensão mesmo quando a pilha fica velha. Pesquisando um pouco, encontramos uma possível explicação. A corrente fornecida é associada a reações de oxido-redução na pilha. O número de elétrons fornecido na reação depende dos elementos envolvidos e da concentração molar dos mesmos. Os efeitos da concentração na tensão são dados pela Equação de Nerst: =0− [ Produtos] RT . log (Forma simplificada) nF [ Reagentes] Nela, R é a constante dos gases, T é a temperatura, n é o número de elétrons transferidos na reação e F é uma constante de conversão entre as unidades Farad e Coulomb. Então, as pilhas são construídas de modo que os elementos envolvidos e o balanceamento da equação conservem a razão das concentrações no log no valor unitário (chamadas Condições Padrão): assim a ddp é constante. Além disso, a equação informa uma dependência na Temperatura o que envolveria toda uma engenharia na construção da pilha para mantê-la constante em condições diferentes da Padrão. “ε0” depende (em primeira aproximação) apenas dos elementos envolvidos podendo ter o mesmo valor para reagentes diferentes. Isso é um dos motivos para umas pilhas utilizarem materiais mais tóxicos e mais baratos, ainda sim fornecendo a mesma tensão que as “legalizadas”. Quando a pilha pára de funcionar é porque os reagentes já foram desgastados. Entretanto, esse desgaste se faz de modo “uniforme” mantendo o log igual a zero e, conseqüentemente, a tensão constante..