Encarte da Música

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Departamento de Música
da Universidade de Brasília
Certas Canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece
Como não fui eu que fiz?
Tunai e Milton Nascimento
A palavra canção origina-se do latim cantio’ onis, que significa ação
de cantar, de tanger um instrumento, canto, cantiga, cântico, encantamento, feitiçaria (HOUAISS, 2000).
Pode-se dizer que a canção é a relação entre música (melodia) e palavra (letra). Palavra cantada ou canto falado, a canção pode estar associada também a uma melodia entoada ou a um tipo de forma musical.
Na tradição musical podemos identificar e diferenciar vários tipos de
canção: de ninar, de trabalho, do rádio, de protesto, de louvor, de roda,
de caráter ritual, de concerto, da cultura popular ou folclórica, para
vender ou comercial. A relação melodia e letra pode ainda apresentar
formas distintas como ária, duetos, coral, estrófica, narrativa.
O termo canção, portanto, está associado a diferentes significados
que variam de acordo com o contexto histórico, cultural, social, estético
e tecnológico. Todos esses aspectos estão interligados e devem ser
tratados de forma integrada e complementar.
Existe “canção sem palavra”?
A expressão canção sem palavra surge no Romantismo (séc XIX),
quando algumas peças instrumentais foram assim identificadas pelo
seu caráter lírico e melódico, enfatizando a relação entre a língua e a
linguagem musical.
Qual é a forma da canção?
A canção pode apresentar diferentes formas ou estruturas. Na análise
dessas estruturas devemos observar que melodias repetem-se, como
e quantas vezes. A repetição nos permite identificar entre canção de
estrofe única, binária (AB), ternária (ABA ou ABA’), estrófica ou em
forma rondó (ABACA). Os temas melódicos na canção podem ser contrastantes e expressar diferentes sentimentos: alegre – triste, agitado ­–
calmo, vibrante-melancólico. Os estudos de análise musical identificam
a Forma AB como a Forma Canção padrão.
Como a canção se configura na história da música ocidental?
O que é canção? Como identificamos
uma música como canção?
Qual a origem da Canção?
Pode-se dizer que a “ação de cantar” nasce com o
homem. Na Grécia Antiga, por exemplo, poesia e
música constituíam um só elemento expressivo e
artístico. Nessa sociedade, o cantor/poeta tinha
um papel importante, pois era a “voz” da tradição,
seus mitos e crenças.
Imagem do século a.C.
O canto na Idade Média:
entre o sagrado e o profano
Você já ouviu o Canto Gregoriano?
O Canto Gregoriano é definido como “palavra de
Deus cantada”. É um canto monofônico em latim,
de ritmo livre baseado na palavra cantada.
Coro de monges
beneditinos
E a Trova?
Na Idade Média, os trovadores ou menestréis cantavam poemas conhecidos como trovas. Suas canções falavam de amor, amizade e críticas sociais.
No século XVII a canção se
dramatiza na Ópera
Entende-se por ópera o drama encenado com música. Nesse espetáculo, a canção está relacionada
com o diálogo e o enredo das cenas. Identificamos
diferentes modalidades de canto na ópera: recitativo (não cantado); ária; duetos; trios; coro.
Cena da ópera Aida
Você sabe o que é Castrati?
Castrati eram meninos que para preservar a voz
aguda infantil eram castrados na pré-adolescência.
Eles faziam grande sucesso na música religiosa e
nas óperas do período renascentista e barroco.
Ópera e Musical é a mesma coisa?
Imagem do musical Cats,
da Broadway, em Nova York
Como a ópera, o musical é composto de música
e enredo, porém com maior destaque para a interpretação teatral e a dança. O musical apresenta
um grande número de canções e uma diversidade
de ritmos e gêneros musicais.
MC de Hip-Hop | Foto: Lidy san Juan
Billie Holiday
BB King
“Todo o jazz vem da
música cantada e todo
o canto vem da música
instrumental”
Rap e Repente, o que
eles têm em comum?
(Berendt)
A canção no Jazz:
improviso e vocalises
Blues: o lamento dos escravos
Blues significa tristeza. Na música, as
canções-lamento das plantações se
tornaram um ícone da música afro-americana. Do campo para a cidade,
o blues adotou o microfone, uma
harmonização padrão, a blue note e a
guitarra elétrica.
Nascido do blues, do negro spiritual e
do ragtime, o termo jazz (1910-1920)
identifica a música instrumental e
vocal norte-americana. Apesar da origem vocal, o jazz se consolidou como
música instrumental, onde a voz, à
maneira de instrumentos, realiza improvisos melódicos e rítmicos.
O repente, como o Rap, é
um canto narrativo, crítico e
satírico, em que se destacam
o improviso com rimas e os
duelos entre músicos. Porém,
o repente utiliza instrumentos como a viola caipira, a
sanfona ou o pandeiro.
O Rap é a canção do Hip-hop?
O movimento Hip-hop surge na década de 70
como expressão artística e política dos negros
americanos. Seu conjunto é formado por 4
elementos: MC, DJ , Grafite e Break.
O Rap (Rhythm and poetry ou ritmo e poesia) é a voz do Hip-hop. As letras ritmadas,
cantadas e faladas, são o canal pelo qual o MC
(Master of Ceremony: mestre de cerimônia)
se expressa pela rima previamente elaborada
ou improvisada (freestyle).
Como a canção se configura nos gêneros da música popular?
KL Jay
Plebe Rude
Rock já morreu?
A vez da canção e rebeldia
Rock é sentimento, atitude, comportamento ou falta dele. Como prática social, ele
embalou gerações, ditou moda, foi palco
de protestos, reuniu milhares pela paz e
criou ícones. A canção no Rock, com seus
ritmos frenéticos ou melancólicos, expressa
angústias, anseios, revolta e desejos.
Quem faz a instrumentação do Hip Hop?
O DJ (Disc Jockey) é o instrumentista do Hip-hop,
responsável pela criação e performance da batida,
base para o Rap. Seu instrumento é a pick-up, onde
o músico conduz as bases rítmicas e cria os scratchs.
O Violeiro, de Almeida Júnior
VOCÊ SABIA?
O que seria do Rock sem o Riff?
A música Até Quando Esperar (Plebe Rude) completa,
em 2011, 25 anos de sua
gravação e questiona a
desigualdade social e
distribuição de renda.
No Rock, os Riffs melódicos e rítmicos consagraram várias músicas: Sweet Child of Mine, Smoke
on the Water e Que País é Esse. Os Riffs são
pequenas frases musicais repetidas ao longo da
música, tocadas sobre uma base harmônica e
executadas por guitarra, baixo ou teclado.
A Canção Sertaneja entre o amor,
o cotidiano e a crítica social e política
Da tradição ao pop, do sertanejo raiz ao sertanejo
universitário, as melodias e a sonoridade da música
sertaneja expressam romantismo e retratam a vida
bucólica, a amizade e o cotidiano do homem do campo, sem perder o caráter irônico e satírico em letras
que criticam a sociedade, a política e a cultura urbana.
Tem canção no Samba?
Do samba-de-roda (Bahia) às passarelas dos sambódromos, da casa da “Tia Ciata” ao Teatro Municipal, o ritmo
sincopado do samba conquistou o mundo e gerou uma
diversidade de subgêneros: samba-canção, samba-exaltação, partido alto, samba-enredo, samba de breque.
Samba (1956), de Cândido Portinari
A canção invade os lares: a Era do Rádio
Na década de 30, o rádio se consolida como principal meio
de comunicação e entretenimento. Os primeiros programas exploravam a voz empostada (influência do canto
lírico) e o som de orquestras em gravações ao vivo. O rádio
consagrou diferentes gêneros musicais como: samba-canção, baião, foxtrot, bolero, jazz.
Carmen Miranda
A Bossa Nova: a voz cool
Na década de 50, músicos como João Gilberto e Tom
Jobim inovaram a canção popular brasileira com uma
proposta musical intimista e sofisticada: voz suave, batida
de samba e “um banquinho e um violão”. A Bossa Nova
inova ainda na harmonização das canções, o que a aproxima da canção francesa e do Jazz.
João Gilberto
“Caminhando e cantando,
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...”
(Geraldo Vandré)
“Pra não dizer que não falei das flores”:
a canção de protesto
Até hoje, a canção de Geraldo Vandré é símbolo de
resistência e luta. Ela se tornou um ícone da oposição ao
regime militar e foi uma das canções consagradas pelos
Festivais da Canção nas décadas de 60 e 70.
Você conhece alguma outra canção de protesto?
Tropicália: ode a estética antropofágica
O tropicalismo foi um movimento artístico despojado, polêmico e crítico, contemporâneo dos festivais. Na música,
os artistas inovaram com a inserção de guitarras elétricas
e ruídos influenciados pelo rock e pela música erudita contemporânea. Seus figurinos e performances eram exuberantes e expressavam uma atitude rebelde e contestadora.
Glossário
Aria: peça musical, lírica, geralmente cantada. Há árias instrumentais, mas como peça vocal
predomina em óperas, cantatas
e oratórios.
Baião: gênero musical nordestino com padrão rítmico característico executado pela zabumba,
triângulo e sanfona.
Blue Note: nota alterada no
blues, geralmente um semitom
mais grave que a nota natural, o
que gera a atmosfera melancólica
Bolero: gênero musical de origem espanhola que se popularizou na América Latina influenciando vários ritmos, inclusive
o samba.
Coro: conjunto de vozes (soprano, contralto, tenor e baixo) que,
na ópera, representa um papel
principal ou secundário no desenvolvimento do enredo.
Dueto: diálogo entre duas vozes
numa peça vocal ou instrumental. O dueto pode envolver vozes distintas como um soprano
e tenor.
Forma Musical: termo que identifica a estrutura de organização
dos elementos musicais em uma
peça musical.
Forma Canção: estrutura musical predominante em canções
populares, que adota a forma
binária e ternária como
modelo padrão.
Freestyle: rap de hora – feito na
hora – de forma livre e improvisada do rap.
Gênero Musical: termo utilizado para indicar a classificação de diferentes músicas,
agrupando-as de acordo com
suas características rítmicas, melódicas, harmônicas,
instrumentais, formais e
temáticas.
Harmonia: agrupamento vertical ou simultâneo dos sons.
Improviso: prática musical,
aleatória ou organizada de
acordo com a harmonia e estrutura musical de uma obra.
Melodia: organização sonora
de alturas e durações em estruturas com sentido musical.
Monofonia: significa uma
única voz, ou seja, a monofonia é um tipo de textura
musical com uma única linha
melódica.
Recitativo: peça musical
recitada (tempo da fala), com
pouca variação de altura
freqüente em músicas sacras,
operetas e óperas.
Ritmo: organização de durações do som em estruturas e
padrões com sentido musical.
Samba-Canção: é o samba
mais lento e melodioso com
influências do Bolero.
Samba-Exaltação: samba de
caráter nacionalista e letras
patrióticas muito difundido
na década de 1940.
Samba-Enredo: samba
característico dos desfiles de
carnaval, bem marcado que
narra o enredo ou personagem homenageado pela
escola de samba.
Partido Alto: baseado no
improviso, o partido alto é
considerado samba de elite,
arte de grandes sambistas.
Samba de Breque: samba com
paradas chamadas break em
que o cantor fala ou dialoga
com a platéia com humor e
ironia.
Pick-up: ou toca-disco é
aparelho que toca o disco
de vinil, utilizado pelos DJ’s
para criar sons e efeitos que
acompanham o rap.
Scratch: técnica dos DJ´s em
que o disco é girado repetidamente para frente e para
trás de acordo com um padrão
rítmico ou pulso.
Polifonia: significa várias
vozes. É um tipo de textura
musical em que várias linhas
melódicas são executadas e
ouvidas simultaneamente.
Vocalises: motivos e frases
melódicas que visam aprimorar a técnica do cantor. Pode
ser ainda tipo de canto em
que o canto utilizaonomatopéias e sílabas diversas para
executar motivos e frases
melódicas e rítmicas.
Ragtime: gênero musical de
origem afro-americana com
ritmo sincopado e contratempo.
Ministério da Educação
REUNI
Universidade de Brasília
Instituto de Artes
Reitor da UnB
José Geraldo de Sousa Junior
Vice-reitor da UnB
João Batista de Sousa
Decana de Graduação
Marcia Abrahão
Diretora do Instituto de Artes
Izabela Brochado
Vice-diretora do Instituto de Artes
Nivalda Assunção
Comissão de Professores
Alexei Alves de Queiroz, Cecília Borges, Fátima
Aparecida dos Santos, Felícia Johansson, Maria
Cristina de C. de Azevedo, Marília Panitz Silveira,
Nayara Moreno de Siqueira e Renata Azambuja
Estagiários técnicos
Produção: Tiago Cruvinel
Coordenação pedagógica: Luiza Mader Paladino
IdAs e Vindas é um
programa que engloba os
quatro departamentos do
Instituto de Artes – IdA, da
Universidade de Brasília,
formado pelos cursos de
Música, Desenho Industrial,
Artes Cênicas e Artes Visuais.
Esse programa pretende
divulgar a produção artística
gerada no IdA, convidando
os visitantes à refletirem
sobre os processos e
fazeres artísticos
patrocínio
Bolsistas do Departamento de Música
Almir Cassio Arcanjo Silva, Hugo Leonardo
Guimarães, Jefferson Amorin, Marina Ferraz,
Rafael Alves Miranda e Tatiana Mourão Figueiredo
Volunário do Departamento de Música
Marcos André Ferreira Marques
Registro e Edição
Gustavo Macedo Freitas (Faculdade de Comunicação)
Revisão
Kuka Escosteguy
Identidade Visual
Lamparina Design
Programação Visual
Henrique Eira
Apoio
SESC – DF
realização
apoio
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