Universidade Federal de Rondônia Núcleo de Saúde Mestrado em Biologia Experimental Caracterização do vírus dengue circulante no Estado de Rondônia Leonir Santos de Souza Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental, da Universidade Federal de Rondônia, como requisito à obtenção do título de Mestre em Biologia Experimental. Porto Velho - RO 2005 1 Universidade Federal de Rondônia NÚCLEO DE SAÚDE Mestrado em Biologia Experimental Caracterização do vírus dengue circulante no Estado de Rondônia ” Leonir Santos de Souza Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental, da Universidade Federal de Rondônia, como requisito à obtenção do título de Mestre em Biologia Experimental. Orientador: Prof. Dr. Luiz Hildebrando Pereira da Silva Apoio: WHO/DR – Special Programme for Research and training in tropical Disease, Financiadora Nacional de Projetos – FINEP e a Rede da Amazônia Legal de Genoma – REALGENE. Porto Velho – RO 2005 2 FICHA CATALOGRÁFICA De Souza, Leonir Santos Caracterização do Vírus Dengue no Estado de Rondônia / Leonir Santos de Souza. nº pág.61. Dissertação (mestrado) – Fundação Universidade Federal de Rondônia. Porto Velho, 2005. Área de concentração: Virologia Orientador: Profº Dr. Luiz Hildebrando Pereira da Silva. 1. Dengue 2. Diagnóstico molecular 3.Rondônia 3 DEDICO À minha mãe Maria e ao meu pai José, que apesar das limitações sempre valorizaram o estudo e a construção do conhecimento investindo suas energias e incentivos a todos os filhos. Aos meus dois queridos filhos, Henrique e Lívia que enchem minha casa de alegria e novidade. 4 AGRADECIMENTOS Ao meu DEUS Jeová הוהי, a quem recorro em oração em todos os momentos da vida. À Leonardo da Vinci Monteiro, meu marido e companheiro a treze anos, pelo seu bom humor e paciência. À Glauciane por disponibilizar seu tempo no laboratório e pela ajuda inestimável. Aos meus irmãos Leina, Leon, Moisés e José que são minha referência de família. À Denaia, que aceitou o desafio de cuidar da minha casa, dos meus filhos, trazendo tranqüilidade e organização ao meu dia-a-dia. À Maria Antônia, Lúcia Helena e Marisete que ficaram e cuidaram das crianças nas horas que precisei. Aos colegas da Unidade de Virologia: Belgrano, Eduardo, Jaylson, Kellen, e Soraya. Aos colegas de trabalho da Escola Estadual José Otino de Freitas. 5 AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Ao Professor Dr. Luís Hildebrando Pereira da Silva pela oportunidade e por proporcionar melhores condições para realização dessa pesquisa. Ao MSc. Weber Cheli Batista que abriu as portas do laboratório de Virologia e dispensou do seu tempo e energia para cooperar com o meu trabalho. À MSc. Deusilene Souza Vieira que ajudou incondicionalmente, acompanhando o meu trabalho de perto, dando sugestões e esclarecimentos. 6 RESUMO O dengue é a virose de transmissão vetorial mais relevante em termos de morbidade e mortalidade, apresentando quatro sorotipos distintos. O Estado de Rondônia apresenta um número crescente de casos de dengue. Portanto, a caracterização molecular e a subtipagem do vírus dengue além de deteminar o sorotipo circulante na região e a origem do vírus, nos auxilia no estabelecimento de uma correlação de virulência das amostras estudadas. Para identificar os sorotipos da dengue circulante no Estado de Rondônia coletaram-se oitenta e quatro amostras de soros de pacientes entre os meses de janeiro de 2004 a fevereiro de 2005. Isolou-se em células C6/36. Todas as amostras foram submetidas à extração pelo método TRIzol®. Em seguida, realizou-se RT-PCR com os primers universais FG1 e FG2 que identifica Flavivirus. Para caracterizar os sorotipos, os amplicons foram submetidos a Hemi-Nested PCR utilizando os primers nden-1, nden-2, nden-3 e nden-4. Das oitenta e quatro amostras, quarenta e quatro foram positivas para Flavivirus e quarenta negativas, sendo todas as positivas sorotipadas como dengue tipo 3. Cinco amostras das quarenta e quatro foram escolhidas aleatoriamente, sendo seqüenciadas e comparadas com o DENV-3 circulante no Brasil pelo programa Clustal W, também construiu-se uma árvore filogenética através do método neighbouring joining, indicando que DENV-3 de Rondônia é a mesma que circula em outras regiões do Brasil. Todas as amostras caracterizadas como DENV-3 foram submetidas a RSS-PCR, para se saber a origem da cepa circulante no Estado, quarenta e três é do tipo C de origem na América Central, Sri Lanka ou Indonésia e uma do tipo B de origem nas Filipinas ou Indonésia. 7 ABSTRACT Dengue is the most relevant virus of vectorial transmission when it comes to morbidity and mortality, showing four different serotypes. The State of Rondônia presents an increasing number of dengue cases. Thus, the molecular characterization and the subtype of the virus, besides determining the serotype which is surrounding the region and the virus origin, helps us to establish a kind of correlation among the virulence of the samples. Eighty-four samples of patients’ serum were collected between January 2004 and February 2005, in order to identify the surrounding dengue serotypes in the State of Rondônia. They were isolated in C6/36 cells. All samples were submitted to extraction by TRIzol ® method. Subsequently, RT-PCR was made with the universal primers FG1 and FG2, which identify the Flavivirus. The amplicons were submitted to PCR Hemi-Nested, in order to mark the serotypes, using nden-1, nden-2, nden-3 e nden-4 primers. From the eighty-four samples, forty-four were positive to Flavivirus and forty negative, though all positive samples were serotyped as dengue type 3. Five out, from the forty-four samples were randomly chosen, sequenced and compared to DENV-3 surrounding in Brazil, by Clustal W program. A philogenetic tree was also built through the neighbouring joining method, showing that the Rondônia DENV-3 is the same one which circles other regions in Brazil. All the samples marked as DENV-3 were submitted to RSS-PCR, in order to identify the origin of the surrounding family in the State. Forty-three are type C, from Central America, Sri-Lanka or Indonesia and one is type B, from the Philippines or Indonesia. 8 LISTA DE FIGURAS Figuras nº Página 01– Mapa político do Estado Rondônia ................................................... 20 02– Esquema de um Vírion de Dengue ................................................... 23 03– Esquema da cadeia de leitura (ORF) e sua ordem de tradução ....... 24 04– Mapa de Rondônia das áreas amostrais .......................................... 31 05– Gel de agarose mostrando os amplicons da RT-PCR ..................... 39 06– Gel de agarose mostrando os amplicons da Hemi-Nested-PCR para caracterização do DENV-3 ....................................................... 40 07– Seqüência gênica do DENV3 do Estado de Rondônia ...................... 41 08– Alinhamento das amostras de Rondônia ........................................... 41 09– Árvore filogenética............................................................................. 43 10– Gel de agarose mostrando o produto da RSS-PCR para subtipagem do DENV3 ......................................................................................... 44 9 LISTA DE TABELAS Tabelas nº Página 01– Seqüência dos primers e região de anelamento no genoma DENV . 35 02– Referencia do seqüenciameno gênico dos DENV3........................... 36 03– Seqüência dos primers e região de anelamento na RSS-PCR ......... 37 04– Origem dos subtipos de DENV3 identificados na RSS-PCR ............. 37 05– Resultados das amostras analisadas com primers FG1 e FG2 ........ 39 06– Resultados das amostras analisadas através da Hemi-Nested-PCR 40 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS C – Proteína do capsídio. cDNA – DNA complementar. CEPEM – Centro em Pesquisa em Medicina Tropical. CIVD – Coagulação intravascular disseminada. DENV – Vírus Dengue. DENV1 – Vírus Dengue tipo 1. DENV2 – Vírus Dengue tipo 2. DENV3 – Vírus Dengue tipo 3. DENV4 – Vírus Dengue tipo 4. DNA – Ácido Desoxirribonucléico. DHF – Febre Hemorrágica do Dengue. DSS – Síndrome do Choque da Dengue. E – Proteína do envelope. ELISA – Ensaio Imunoenzimático. FC – Fixação do complemento. IFI – Imunofluorescência indireta. IH – Inibição da hemaglutinação. LACEN – Laboratório Central de Rondônia. LCR – Liquor céfalo raquidiano. Min. – Minutos. NS – Não estrutural. NS1 – Proteína não estrutural 1. NS2a – Proteína não estrutural 2a. 11 NS2b– Proteína não estrutural 2b. NS3 – Proteína não estrutural 3. NS4a – Proteína não estrutural 4a. NS4b– Proteína não estrutural 4b. NS5 – Proteína não estrutural 5. OMS – Organização Mundial de Saúde. ORF – Cadeia aberta de leitura. PAHO – Organização da Saúde Pan Americana. PCR – Reação em Cadeia de Polimerase. prM – Proteína pré de Membrana. RNA – Ácido Ribonucléico. RNC – Região não codificadora. RSS – Restrição de Sítio específico. RT – Transcriptase reversa. SESAU – Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Rondônia. SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde. TN – Teste de Neutralização. YFV – Vírus da Febre Amarela. 12 SUMÁRIO 1 – INTRODUÇÃO .................................................................................. 14 1.1 - Considerações Gerais ............................................................ 14 1.2 - Aspectos Históricos ................................................................ 15 1.3 - Aspectos Epidemiológicos ...................................................... 16 1.3.1 - DENV nas Américas ............................................................. 17 1.3.2 - DENV no Brasil .................................................................... 18 1.3.3 - DENV em Rondônia ............................................................. 19 1.4 - Patogenia da DENV ............................................................... 21 1.5 - Genoma Viral .......................................................................... 23 1.6 - Proteínas Virais ....................................................................... 24 1.7 - Diagnóstico Laboratorial ......................................................... 26 1.7.1 - Testes Sorológicos ................................................................. 26 1.7.2 - Isolamento Viral ...................................................................... 26 1.7.3 - Detecção do Genoma Viral..................................................... 27 1.7.4 - Seqüenciamento Viral............................................................ 28 2 – JUSTIFICATIVA................................................................................ 29 3 – OBJETIVOS ...................................................................................... 30 4 – MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................... 31 4.1 - Amostras Biológicas ............................................................... 31 4.2 - Isolamento Viral ...................................................................... 32 4.3 - Extração do RNA .................................................................... 32 4.4 - RT-PCR .................................................................................. 33 4.4.1 - Confecção do cDNA ............................................................. 33 13 4.4.2 - PCR e Hemi-nested-PCR....................................................... 33 4.5 - Purificação .............................................................................. 35 4.6 - Seqüenciamento do DENV ..................................................... 35 4.7 - Subtipagem do DENV-3 ......................................................... 36 5 – RESULTADOS.................................................................................. 38 5.1 - Isolamento Viral em Cultura de Célula .................................. 38 5.2 - RT-PCR .................................................................................. 38 5.3 - Caracterização Molecular do DENV ....................................... 38 5.4 - Análise de Seqüenciamento do DENV-3. ............................... 41 5.5 - Análise Filogenética ............................................................... 42 5.6 - Análise da Subtipagem do DENV-3 por RSS-PCR ................ 44 6 – DISCUSSÃO .................................................................................... 45 7 – CONCLUSÃO ................................................................................... 51 8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 52 ANEXO A .......................................................................................... 59 ANEXO B .......................................................................................... 60 14 1. INTRODUÇÃO 1.1 Considerações Gerais O dengue é a virose de transmissão vetorial mais relevante em termos de morbidade e mortalidade, sendo transmitida pela fêmea do mosquito Aedes aegypti (BANCROFT, 1906 apud FOCACCIA & VERONESI, 2002). Esta virose se apresenta nos grandes centros urbanos de várias regiões do mundo, principalmente em áreas tropicais e subtropicais, sob a forma de epidemias de grande magnitude ou sob a forma hiperendêmica, nos lugares onde há um ou mais sorotipos circulantes, como no caso do Brasil (TEIXEIRA et al., 1999). O vírus do dengue (DENV) classifica-se em quatro sorotipos antigenicamente distintos, denominados dengue sorotipo 1 (DENV-1), dengue sorotipo 2 (DENV-2), dengue sorotipo 3 (DENV-3) e dengue sorotipo 4 (DENV-4) (SCHERER, 1968 apud FOCACCIA & VERONESI, 2002). Cada um desses sorotipos possui diversos genótipos que diferenciam entre si por variações na seqüência de nucleotídeos, em nível dos genes da glicoproteína E, e da junção dessa glicoproteína com a proteína NS1(CALISHER et al., 1989). A infecção por qualquer um dos quatro sorotipos pode produzir manifestações que variam desde uma síndrome viral inespecífica e benigna, até um quadro grave e algumas vezes fatal de febre hemorrágica do dengue (Dengue hemorrhagic Fever – DHF) ou síndrome do choque do dengue (Dengue Shock Sydrome – DSS). São fatores de risco para casos graves: a cepa do sorotipo infectante, o estado imunológico e genético do paciente, a concomitância com outras doenças prévias por outro sorotipo viral da doença (TAUIL, 2001). 15 No Brasil, as flaviviroses provocadas principalmente pelo dengue e febre amarela apresentam quadro febril exantemático. Entretanto, a dengue manifesta-se de forma variável quanto ao tipo e à intensidade dos sintomas, na maioria dos casos se desenvolvendo benignamente. 1.2 Aspectos Históricos O DENV e o vírus da febre amarela (“yellow fever virus” -YFV) foram os primeiros microrganismos a serem denominados vírus e descritos como agentes filtráveis e submicroscópicos em 1902 e 1907, respectivamente. Durante a primeira década do século XX, o vírus dengue mostrou ser transmitido por artrópodes, mas não foi isolado até 1943 (FIELDS et al., 2001). Somente depois, foi que se alcançaram o conhecimento e a tecnologia necessários para o desenvolvimento de pesquisas laboratoriais com estes agentes. As primeiras evidências do ciclo de transmissão do dengue foram publicadas por Bancroft em 1906 (BANCROFT, 1906 apud FOCACCIA & VERONESI, 2002), que levantou a hipótese de o mosquito da espécie Aedes aegypti ser o vetor da infecção, o que, depois, foi confirmado por Siler e outros pesquisadores (SILER et al., 1926 apud FOCACCIA & VERONESI, 2002) e Simmons e associados (SIMMONS et al., 1931apud FIELDS, 2001). Com isto, foi possível estabelecerem os elos epidemiológicos envolvidos na transmissão da doença resumidos na cadeia: mosquito infectado, homem susceptível, homem infectado, mosquito infectado (MARTINEZ, 1999). O isolamento do DENV só ocorreu na década de 40, por Kimura em 1943 e Hotta em 1944 tendo-se denominado Mochizuki a esta cepa (HOTTA S. & KIMURA R., 1952 apud FIELDS, 2001). Sabin e Schlesinger em 1945, isolaram a cepa Hawaii, sendo que, neste mesmo ano Sabin ao identificar outro vírus em Nova 16 Guiné, observou que as cepas tinham características antigênicas diferentes das primeiras cepas isoladas (SABIN, 1952 apud FOCACCIA & VERONESI, 2002). Em 1956, no curso da epidemia de DENV no Sudeste Asiático, novos isolados apresentaram características antigênicas diferentes (Martinez, 1999). Em 1968, havia milhares de isolamentos do DENV e uma grande confusão com relação à classificação dos mesmos. Scherer sugeriu ao comitê da Organização Mundial de Saúde (OMS) a classificação dos vírus do dengue em quatro tipos distintos, agrupados com base no relacionamento antigênico, assim denominou-se às primeiras cepas sorotipo 1, à Nova Guiné sorotipo 2 e aos isolados do Sudeste Asiático como sorotipos 3 e 4 (SCHERER, 1968 apud FOCACCIA & VERONESI, 2002). 1.3 Aspectos epidemiológicos Nas Américas, Aedes aegypti é o único transmissor desse vírus com importância epidemiológica. Esta espécie de mosquito é originária da África, onde se adaptou ao ambiente doméstico criado pelo homem, tornando-se antropofílico (DYE, 1999). Suas larvas são encontradas em depósitos artificiais de águas, tais como caixas d’água, pneus velhos, garrafas, enfim tudo o que acumula água. Estas características de adaptação permitiram que se tornassem abundantes nas cidades e facilmente transportados para outras áreas por meios de transportes terrestres, aéreos ou marítimos, o que aumentou sua competência vetorial, ou seja, sua habilidade em se infectar, replicar e transmitir o vírus da dengue (ROSEN, 1988). O Aedes albopictus é uma espécie oriunda das selvas asiáticas e até recentemente restrita àquele continente, nos últimos anos disseminou-se pelas Américas através dos transportes marítimos intercontinentais (RODHAIN et al., 17 1999). Não é um mosquito peridomiciliar, prefere ocos de árvores para depositar seus ovos e tem hábitos antropofílicos e zoofílicos diurnos, no entanto, sua importância epidemiológica como transmissor da dengue se restringe apenas ao continente asiático (METSELAAR et al., 1980). A distribuição e a freqüência das infecções pelo DENV estão intrinsecamente relacionadas com a plasticidade de adaptação do Aedes aegypti ao ambiente habitado pelo homem, e distingue-se das outras doenças infecciosas e parasitárias, porque a ocorrência dela não está relacionada com as más condições sociais e econômicas das populações (BARRETO et al., 1994; TEIXEIRA et al., 2003). Portanto, é complexa a inter-relação dos fatores envolvidos na dinâmica da circulação dos quatro sorotipos do DENV, o que gera incertezas sobre os determinantes das suas apresentações epidemiológicas. 1.3.1 DENV nas Américas Os registros da circulação do DENV nas Américas, data do século XVIII, a primeira descrição foi feita por Benjamin Rush, em 1780 nos EUA, embora se suspeite que o vírus venha causando epidemias, há vários séculos (SILER et al., 1926 apud FOCACCIA & VERONESI, 2002). A partir de 1826, epidemias de dengue foram registradas em intervalos irregulares no Sudeste dos EUA e países da Bacia do Caribe. Os sorotipos envolvidos nessas epidemias não eram conhecidos até 1953, quando foram isoladas as primeiras amostras de DENV-2 em Trinidad. Dez anos depois, foram isoladas as primeiras amostras de DENV-3 em Porto Rico, sendo estes dois sorotipos responsáveis pelas epidemias ocorridas no continente na década de 60 (GUBLER, 1987). 18 Desde a década de 70 até os dias atuais, os problemas com as epidemias do DENV agravam-se, particularmente, nos países localizados entre as linhas dos trópicos, tendo sido estimado um número maior que 10 milhões de infecções por ano. Enquanto que, na década de 80, ocorre em Cuba o acontecimento mais relevante na história do DENV, com a primeira epidemia de DHF/DSS descritas nas Américas. O vírus DEN-2 é associado a esta epidemia, que foi precedida por outra causada pelo vírus DEN–1, em 1977 (KOURI et al., 1986). Nesta mesma década, o DENV-1 foi responsável por grandes epidemias em países da América do Sul, como: Brasil, Bolívia, Paraguai, Equador e Peru (GUBLER, 1997). Nos anos 90, o quadro epidemiológico das Américas agravou-se e epidemias de dengue clássica foram freqüentemente observadas em vários centros urbanos, muitas delas associadas à ocorrência de casos de DHF. Atualmente, os quatros sorotipos estão circulando em quase todo o continente, com ocorrência sistemática de casos de dengue hemorrágico (GUBLER, 1992 apud FOCACCIA & VERONESI, 2002; PAHO, 2003). 1.3.2 DENV no Brasil A primeira epidemia do vírus dengue com confirmação laboratorial aconteceu em 1982, na cidade de Boa Vista, capital do Estado de Roraima, onde foram isolados DENV-1 e DENV-4. Estes agentes estavam circulando em diversos países do Caribe e no norte da América do Sul e sua introdução, possivelmente, ocorreu por via terrestre, pela fronteira da Venezuela (OSANAI et al., 1986). Na década de 80 a dengue tornou-se um problema de saúde pública nacional quando houve a dispersão por diversos Estados do país do DENV-1 introduzido na cidade de Nova Iguaçu, Estado do Rio de Janeiro (SCHATZMAYR 19 et al., 1986). A situação da dengue foi agravada pela introdução do DENV-2 no Estado do Rio de Janeiro no ano de 1990, que resultou no aparecimento das formas mais graves da doença (NOGUEIRA et al.,1990). No período compreendido entre 1986 e 1993, as epidemias atingiram mais os grandes centros urbanos, porém, a ausência de uma política nacional eficaz de combate ao vetor resultou na rápida dispersão do vírus pelo país e conseqüentemente na ocorrência de epidemias em diversos Estados (Boletim Epidemiológico - Fundação Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, 1999). O DENV-3 foi introduzido no Brasil em 1998, oriundo de casos importados em São Paulo e se disseminou por todo país de forma rápida e desde então várias epidemias vêm ocorrendo simultaneamente em todo o país. Dois anos depois, o mesmo sorotipo viral causou epidemias no Estado do Rio de Janeiro com confirmação laboratorial de 91 casos em três diferentes municípios (ROCCO et al., 2001). 1.3.3 – DENV em Rondônia O Estado de Rondônia, localizado totalmente na Amazônia Legal e na Região Norte do Brasil, possui 238.512,80 km 2. Faz fronteira com Bolívia em uma extensão de 1.342 km de linha divisória em sua totalidade delimitada por rios. Os limites territoriais são: ao norte, nordeste e noroeste com o Estado do Amazonas; ao leste e sudeste com o Mato Grosso; ao sul e sudoeste com a República da Bolívia. Possui 32 municípios localizados na Amazônia Legal e 20 municípios situados em faixa de fronteira. Tem uma população estimada em 1.130.847 habitantes (IBGE, 2004). 20 A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde registrou no Estado de Rondônia 5.762 casos suspeitos de dengue durante o ano de 2004, com importante aumento no número de notificações a partir do mês de setembro, relativo a semana epidemiológica 44. Em janeiro de 2005 foram notificados 2.605 casos e em fevereiro 1.345, demonstrando um declínio no número de casos notificados a partir de fevereiro. (SVS, boletim de 14/02/2005) Os municípios em situação de epidemia, e que registraram mais de 2.700 casos da doença em 2005, foram: Jaru, Cacoal, Ariquemes, Pimenta Bueno, Vilhena, Ji-Paraná, Outro Preto D’Oeste e Rolim de Moura. Nestes municípios estão concentrados 91,3% dos casos notificados. Em três deles, Cacoal, Jaru e Ouro Preto D’Oeste, ocorreram 18 casos de dengue com manifestações neurológicas. Todos são investigados pela SVS. (SVS, boletim de 18/02/2005) FIGURA 1 – Mapa político do Estado de Rondônia, com ênfase na BR-364 e na fronteira delimitada com o Rio Mamoré. (Fonte: SEDAM/2004) 21 1.4 Patogenia do DENV O dengue clássico apresenta-se com febre alta, acompanhada de cefaléia, dor retrocular, mialgias, artralgias afetando os punhos, dedos, tornozelos e artelhos, embora as articulações maiores também possam ser atingidas, algumas vezes apresenta anorexia, náuseas e vômito. Observa-se o aparecimento de exantema, epistaxe e petéquias após o terceiro dia, sendo proeminente no tórax, dorso, braços e pernas (KURANE et al., 1992; MONATH & HEINZ, 1996 apud FIELDS, 2001). Acredita-se que existam duas formas opostas de resposta imune ao dengue, a primeira previne e propicia a recuperação nas infecções e a segunda relaciona-se a imunopatologia do dengue hemorrágico (HALSTEAD, 1988). A primeira forma de reposta esta relacionada com a infecção primária por dengue que estimula a produção de anticorpos IgM, detectáveis a partir do quarto dia, após o início dos sintomas, atingindo os níveis mais elevados por volta do sétimo ou oitavo dia e declinando lentamente, passando a não serem detectáveis após alguns meses. As IgG são observadas, em níveis baixos, a partir do quarto dia após o início dos sintomas, elevam-se gradualmente atingindo altos valores em duas semanas e mantêm-se detectáveis por vários anos, conferindo imunidade contra o sorotipo infectante, provavelmente por toda vida. A segunda forma de resposta imune aos vírus do dengue é paradoxal, pois prejudica os hospedeiros previamente infectados, sendo responsável pela DHF/DSS (HALSTEAD, 2002; KURANE et al., 1992; MONATH, 1986; MONATH et al., 1996). O quadro clínico da DHF inicia-se de forma similar ao dengue clássico, com febre alta, náuseas, vômitos, mialgias e artralgias. Os fenômenos hemorrágicos surgem no segundo ou terceiro dia da doença, com petéquias na face, véu palatino, 22 axilas e extremidades. Podem ocorrer púrpuras e grandes equimoses na pele, epistaxes, gengivorragias, metrorragias e hemorragias digestivas moderadas. A esplenomegalia, hematêmese e dor abdominal indicam mau prognóstico, com provável evolução para choque (Secretária Estadual de Saúde-RJ, 1988). Os sintomas relacionados a DSS costumam surgir entre o terceiro e o sétimo dia da doença, mantendo-se este estado crítico por 12 a 24 horas. Os pacientes mostram-se agitados e em alguns casos referem dor abdominal, posteriormente, tornam-se letárgicos, afebris e com sinais de insuficiência circulatória: pele fria manchada e congestionada, cianose perioral, pulso rápido e sudorese fria. A pressão arterial mostra-se convergente, baixa ou imensurável. Instala-se acidose metabólica e coagulação intravascular disseminada (CIVD), com ausência de tratamento, o óbito costuma ocorrer em quatro a seis horas (NOGUEIRA et al., 1991; VASCONCELOS et al., 1994). A DHF/DSS tem como base fisiopatológica uma resposta imune anômala envolvendo leucócitos, citocinas e imuno-complexos, causando aumento da permeabilidade por má função vascular endotelial sem destruição do endotélio, causando queda da pressão arterial e manifestações hemorrágicas, associadas a trombocitopenia (HOBER et al., 1993). Apesar da similaridade de certas manifestações sistêmicas e hemorrágicas, observam-se peculiaridades clínicas que, seguramente, ocorrem por conta do tropismo dos agentes etiológicos pelos diferentes órgãos do hospedeiro. Nas formas graves de dengue o quadro choque é um componente clínico dominante. Portanto, as febres hemorrágicas de origem viral exibem características diferentes quanto a sua etiologia, epidemiologia e patogênese. 23 1.5 Genoma viral O DENV pertence ao gênero Flavivirus; seu material genômico é composto por uma fita única de RNA com polaridade positiva e o seu comportamento é de RNAm; com aproximadamente 11Kb. Sua estrutura é esférica, medindo aproximadamente 40-60 nm de diâmetro, o envelope tem a mesma composição da membrana plasmática das células eucarióticas e possui projeções em sua superfície conforme mostrado na figura 2. 40 - 50 nm . Envelope E (55 -60 KDa) Membrana M (9 KDa) Cápside C (14KDa) RNA fita simples (+) – (11KDa) Figura 2 – Esquema de um vírion de dengue. Vírus esférico, envelopado de capsídeo icosaédrico constituído das proteínas estruturais E, M e C com RNA de polaridade positiva. Fonte: RICE, 1996. O genoma do vírion do dengue possui 10 genes contidos em uma cadeia aberta de leitura (ORF – open reading frame) que codificam três proteínas estruturais e sete não-estruturais. O genoma é precedido por uma região 5’ não codificante (RNC5’) e sucedido por uma região 3’ não codificante (RNC3’) e não possui cauda de poli-A. Os genes estão na seguinte ordem: 5’-C-preM-E-NS1NS2a-NS2b-NS3-NS4a-NS4b-NS5-3’, conforme representado na figura 3 (Rice, 1996). A tradução da ORF resulta em uma poliproteína que é processada por “signal-peptidase” da célula hospedeira em três proteínas estruturais (E, prM e C) que têm papel importante na biologia do vírus uma vez que são responsáveis por 24 várias atividades biológicas, incluindo montagem dos vírions (maturação), fusão celular, imunogenicidade, induzindo a produção de anticorpos neutralizantes e anticorpos inibidores da hemaglutinação. As sete proteínas não estruturais (NS1NS2a-NS2b-NS3-NS4a-NS4b-NS5), são responsáveis pela replicação dos vírus e processamento da poliproteína (RICE et al., 1985). Cadeia Aberta de Leitura 5’ ESTRUTURAL 3’ NÃO ESTRUTURAL Tradução POLIPROTEÍNA C prM E 1 2A 2B 3 4A 4B 5 COOH Figura 3 – Esquema mostrando a cadeia aberta de leitura (ORF) e sua tradução em uma poliproteína com as 3 proteínas estruturais (C, prM e E) e 7 não estruturais (NS1, NS2A, NS2B, NS3, NS4A, NS4B e NS5). Fonte: RICE, 1996. 1.6 Proteínas Virais A proteína C, com peso molecular de 14 Kda forma juntamente com o RNA viral o nucleocapsídio (KHROMYKH et.al., 1997). A glicoproteína pré M (prM) com cerca de 140 aminoácidos e 18,1 a 19,1KDa, dá origem à proteína M de aproximadamente 8,5 a 9KDa, é produzida durante o processo de maturação viral. A proteína E é uma glicoproteína com cerca de 55 a 60KDa, constitui o principal componente do envelope viral e representa o mais importante alvo do sistema imune, estando diretamente relacionada com a imunogenicidade das cepas, além 25 de participar do processo de adesão e penetração do vírus junto à membrana da célula hospedeira, estimula o sistema imune através da indução de anticorpos neutralizantes, proliferação de monócitos e macrófagos (HENCHAL et al., 1990; RICE, 1996). A proteína não estrutural 1 (NS1), com peso molecular aproximado de 40 KDa, possui atividade na maturação viral, sendo responsável pela fixação do complemento (MACKENZIE et al., 1996). Esta é inserida no lúmen do retículo endoplasmático via um peptídio sinal que é clivada pela ação de signalases celulares geradas na porção N terminal da proteína (CHAMBERS et al., 1990). Estudos sugerem a participação da NS1 na fase precoce da replicação viral bem como na virulência (PLETNEV et al., 1993). A proteína NS2 é dividida nas porções NS2a e NS2b. A porção NS2a, com aproximadamente 24KDa, hidrofóbica, não tem função totalmente conhecida (NESTOROWICZ et al.,1994). A porção NS2b com aproximadamente 27KDa, é portadora de atividade proteolítica, forma um complexo com a NS3, necessária para a função serino-protease da NS3 (JAN et al.,1995). A NS3 é uma proteína citoplasmática relativamente grande com 70 KDa, funciona como serino-protease envolvida na clivagem pós-translacional da poliproteína viral (GORBALENYA et al.,1989). A NS4 é clivada em duas porções: NS4a e NS4b, ambas com aproximadamente 27KDa. Estas duas porções juntamente com as proteínas NS2a e NS2b associam-se à membrana da célula infectada durante o processo de maturação viral (MONATH et al., 1996). A proteína não estrutural 5 (NS5) é uma provável RNA polimerase dependente de RNA de origem viral (RdRp), com aproximadamente 104KDa, sendo a mais conservada e essencial para a replicação viral (RICE et al.,1985; VICKY et al., 1999). 26 1.7 Diagnóstico Laboratorial A confirmação diagnóstica da infecção causada pelo vírus dengue pode ser feita somente em laboratório usando para isso: testes sorológicos, isolamento viral ou detecção do genoma viral (KING et al.,1991; GUZMAN et al., 1996). 1.7.1 – Testes Sorológicos Atualmente é usado o ensaio imunoenzimático (ELISA) para detectar a presença de anticorpos anti-dengue no soro do paciente. O ELISA e suas variantes, como por exemplo, o MAC-ELISA, discrimina anticorpos do tipo IgM e IgG indicando uma primo-infecção ou não. Outros testes sorológicos menos utilizados por sua complexidade técnica são: inibição da hemaglutinação (IH), fixação do complemento (FC), teste de neutralização (TN) (CHUNGUE et al., 1989). 1.7.2 – Isolamento Viral Diferente dos testes sorológicos o isolamento viral somente é realizado em laboratórios estruturados para tal evento. Três métodos são rotineiramente empregados: inoculação intracerebral em camundongos recém-nascidos, inoculação intratorácica em mosquitos do gênero Toxorhynchities sp e cultivo em células de mosquito e/ou mamíferos. A inoculação intracerebral em camundongos recém-nascidos apresenta uma grande desvantagem como, elevado custo, demora para o isolamento e baixa sensibilidade em relação ao DENV (GUBLER et al., 1988; HAMMON et al., 1960; SABIN, 1952 apud FOCACCIA & VERONESI, 2002). O cultivo em células de mamíferos apresenta as mesmas desvantagens que a inoculação intracerebral em 27 camundongos: elevado custo, demora para o isolamento e baixa sensibilidade (GUBLER et al.,1988; VORDAM et al., 1997). A inoculação intratorácica em vetores adultos é o método mais sensível para o isolamento do vírus. As espécies de vetores mais utilizadas para o isolamento viral: Toxorhynchities amboinensis e Toxorhynchities splendens (GUBLER et al., 1988). As desvantagens desta técnica são o intenso trabalho e a necessidade de insetário para a produção de um grande número de mosquitos para a inoculação (KUBERSKI et al.,1977; GUBLER et al., 1988). O cultivo em células de mosquito é uma das metodologias mais empregada no isolamento do DENV. A linhagem mais utilizada é a C6/36 ou AP61, originárias de larvas do Aedes albopictus. O uso destas linhagens celulares tem proporcionado um resultado rápido, sensível e econômico para o isolamento do vírus (FIGUEIREDO et al., 1992; GUBLER et al., 1988). A detecção da presença do vírus é feita através de imunofluorescência indireta (IFI) dos tecidos do mosquito, ou das células cultivadas “in vitro”. 1.7.3 Detecção do Genoma Viral Nas décadas de 80 e 90, com o surgimento da técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) precedida da extração e da transcrição reversa (RTPCR), a identificação de vírus tornou-se mais rápida (CHOMCZYNSKI & SACCHI, 1987). Diversos primers foram desenvolvidos e metodologias complementares, tais como a nested-RT-PCR foram incluídas na detecção do genoma do dengue (DEUBEL et al., 1997; HENCHAL et al., 1991; LANCIOTTI et al., 1992; MORITA et al., 1991; MULLIS et al., 1987; TANAKA et al., 1993). 28 Além de se detectar e sorotipar o genoma do dengue, pode-se fazer a identificação do subtipo das cepas utilizando uma técnica relativamente simples e rápida que utiliza o método do RSS-PCR para subtipagem, distinguindo-se a cepa por restrição de sítio específico da proteína E do cDNA viral (HARRIS et al., 1999) Através desta técnica que tipa os patógenos baseados em diferenças genéticas, é possível revelar importantes informações na transmissão e diferenças na manifestação da doença. A habilidade de se detectar genótipo particular em comunidades, pode identificar fatores de riscos associados com a cepa (Harris et al., 1999). 1.7.4 Seqüenciamento viral Desde a década de 80, o genoma completo de vários Flavivirus vem sendo seqüenciado, começando pelo YFV, seguido pelo 4 tipos de DENV (MASON et al., 1987; RICE et al., 1985, HAHN et al., 1988; OSATOMI et al., 1990). Através do seqüenciamento pode-se fazer o alinhamento dos nucleotídeos usando o programa Clustal W e construir árvore filogenética com finalidade de analisar e comparar os sorotipos seqüenciados. Atualmente o seqüenciamento do genoma do DENV é utilizado não apenas para indicar a origem do vírus, mas também, mutações que provavelmente podem causar diferença em sua patogenia (AQUINO et al., 2005). A detecção de diferenças no alinhamento genético do agente infeccioso pode ajudar na identificação desses patógenos associados a diferentes manifestações da doença (HARRIS et al., 1999). 29 2 – Justificativa Justifica-se a identificação e caracterização molecular do DENV no Estado de Rondônia para se determinar o sorotipo circulante na região, numa tentativa de se estabelecer uma correlação de virulência das amostras, seu impacto sobre a população e sua importância epidemiológica. 30 3 – Objetivos Geral: Identificar quais sorotipos do vírus da dengue circulantes no Estado de Rondônia através de métodos moleculares. Específico: Testar diferentes primers para caracterização molecular do vírus da dengue. Seqüênciar os vírus dengue isolados no estado. Realizar o RSS-PCR para identificar a origem geográfica do vírus circulante no estado. Fazer análise interpretativa dos resultados da subtipagem por RSS-PCR. Inferir dados filogenéticos sobre a origem e mutações de nucleotídeos dos diversos vírus isolados em Rondônia. 31 4 – Materiais e Métodos 4.1 Amostras Biológicas As amostras biológicas de sangue, foram coletadas com o Laboratório Central de Rondônia (LACEN) e na Unidade de Virologia do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical de Rondônia – CEPEM, entre o período de Janeiro de 2004 a Fevereiro de 2005. Também, nas Unidades Mistas de Saúde de Ariquemes, Jaru, Ouro Preto D’Oeste, Cacoal, Colorado D’Oeste e Vilhena no período de Janeiro de 2005. Os municípios que tiveram o DENV isolado pela Unidade de Virologia estão representados na figura 4 em vermelho. Foi explicado verbalmente para o paciente o destino da amostra, sendo as mesmas coletadas com sua anuência. Selecionou-se pacientes entre o 1º e o 5º dia de sintomas clínicos da doença, onde foram coletadas 84 amostras para o isolamento viral. ÍNDICE 1 – Vale do Paraíso 2 – Nova União 3 – Teixeirópolis 4 – Urupá 5 – Mirante da Serra 6 – Ministro Andreaza 7 – Castanheiras 8 – Novo Horizonte 9 – Rolim de Moura 10 – São Felipe 11 – Primavera 12 – Nova Brasilândia Figura 4 – Mapa de Rondônia mostrando em vermelho a localização das cidades onde foram coletados os soros de pacientes com suspeitas de dengue. Fonte Secretaria do Desenvolvimento Ambiental de Rondônia - SEDAM. 32 4.2 Isolamento Viral Para isolamento viral utilizou-se o clone C6/36, proveniente do mosquito Aedes albopictus (FIGUEIREDO, 1990). As células foram cultivadas em placa de 24 orifícios, estéreis (Corning, USA) com meio de cultura Leibowitz – L15 (Gibco BRL, USA) suplementado com solução de 10% de triptose fosfato (Sigma, USA), 10% de soro fetal bovino (Gibco BRL, USA) e 1000U/ml de penicilina e 1mg/ml de estreptomicina, e quando a monocamada estava confluente foi inoculada 200μl das amostras de soros diluídas 1:100 em meio L-15 completo. Incubou-se a placa em estufa a 28º C por sete dias verificando a presença do efeito citopático diariamente, em microscópio invertido (Nikon, USA). 4.3 Extração do RNA Para extração do RNA viral contido no sobrenadante de culturas celulares infectadas ou direto do soro do paciente, utilizou-se o método TRIzol®, método este baseado na utilização de solução monofásica de fenol e isotiocianato de guanina. Para este método, adaptou-se o protocolo original descrito por Chomczyrsk et al. (1987). Portanto, 500μl da amostra de fluido celular foi homogeneizado com 750μl do reagente TRIzol®. O homogeneizado foi incubado por 5 minutos à temperatura ambiente (TA), sendo que após incubado foi adicionado 150μl de clorofórmio. A solução foi centrifugada em 12.000 rpm, por 15 minutos, a 4ºC. A fase aquosa foi separada e o RNA precipitado após centrifugado a 14.000 rpm, por 5 minutos, a 4ºC. O RNA foi retirado seco, suspenso em 50μl de água DEPC e estocado a – 70ºC. 33 4.4 – RT-PCR 4.4.1 Confecção do cDNA Após a extração realizou-se a transcrição reversa para confecção da fita de cDNA. Incubando-se 5μl do RNA extraído com 3μg de primer randômico pd(N)6 (GIBCO BRL,USA), 1μl de dNTPs 10mM (GIBCO BRL, USA). Aqueceu-se a amostra por 5 min à 65ºC. Acrescentou-se logo após este tempo 4μl do tampão (20mM Tris-HCL (pH 7,5), 100mM NaCl, 0.1mM EDTA, 1mM DTT, 0.01% (v/v) NP40, 50%(v/v) glicerol), 2μl DTT 0.1M,10U/μl inibidor de Rnase e 200U/μl SuperScript (GIBCO BRL,USA) e completou-se o volume para 20μl. Incubou-se por 1 hora a 42º C. Por fim, incubou-se por 10min à 70º C para desnaturar a transcriptase reversa. 4.4.2. PCR e Hemi-nested-PCR Para identificação do Flavivirus utilizou-se os primers universais FG1 e FG2, que amplificam um fragmento de 938 pb do gene NS5 que identifica os vírus dengue, encefalite Saint Louis, Bussuquara, Cacipacoré, Iguape, Ilhéus, Rocio e Febre Amarela (BRONZONI et al., 2005; SCARAMOZZINO et al., 2001). Para a PCR misturou-se 3,0μl do cDNA, com 5U/μl de Taq DNA polimerase (GIBCO® BRL, USA), 10μl do tampão 10x (Tris-HCL 200mM, KCL 500mM), 2mM de MgCl2, 0.2mM dNTPs 10mM, 0,5 pmol/μl dos primers. Completou-se o volume final para 50μl com água ultra-pura. As seqüências dos primers são mostradas conforme tabela 1. Submeteu-se a amostra a um hot start a 94ºC por 5min. Seguiram-se 30 ciclos térmicos de 94ºC por 1min; 53ºC por 1min e 72ºC por 2min em termociclador (Eppendorf, Alemanha). Submeteu-se 7μl dos produtos da PCR, os amplicons, a corrida eletroforética em gel de agarose 2,0% (GIBCO® BRL, USA) diluídos em 34 TAE (0,04M de Tris base, 0,04M de ácido acético e 0,0001M EDTA), acrescido de brometo de etídio 1μl/ml. Observou-se a presença de amplicons através de transiluminador com luz ultravioleta. Determinou-se o tamanho dos amplicons através da comparação da linha de migração com as bandas do marcador de peso molecular de 100pb (Invitrogen – USA). Realizou-se a Hemi-nested-PCR para a caracterização molecular dos 4 sorotipos do vírus dengue. Utilizou-se 2μl do amplicon, 1,0μl de Taq polimerase (GIBCO® BRL, USA), 1,0μl do tampão 10x da enzima (Tris-HCL 200mM, KCL 500mM), 1,0μl de MgCl, 1,0μl dNTPs 10mM e 0,5pmol/μl dos primers FG1, nden1 gerando fragmento 472pb para DENV-1, nden2 gerando fragmento 316pb para DENV-2, nden3 gerando fragmento de 659pb para DENV-3, nden4 gerando fragmento de 222pb para DENV-4. As seqüências dos primers da Hemi-nestedPCR são mostradas na tabela 1. Ajustou-se o volume final para 30μl. Submeteu-se a mistura a 25 ciclos térmicos de 94ºC por 1min, 53ºC por 1 min e 72ºC por 2 min, seguido de uma extensão final de 72ºC por 10 minutos em termociclador (Eppendorf, Alemanha). Submeteu-se 7μl dos amplicons a corrida eletroforética em gel de agarose 2,5% (GIBCO® BRL, USA) diluído em TAE, acrescido de brometo de etídio 1μl/ml. Observou-se a presença do amplicom conforme descrito anteriormente. 35 Tabela 1 – Seqüência dos primers e região de anelamento no genoma do DENV Primers Seqüência Região Referência FG1 5’TCAAGGAACTCCACACATGAGATGTACT 3 NS5 Bronzoni et.al.; 2005 FG2 5’GTGTCCCATCCTGCTGTGTCATCAGCATACA 3 NS5 Bronzoni et.al.; 2005 Nden1- 5’ CGTTTTGCTCTTGTGTGCGC 3’ NS5 Bronzoni et.al.; 2005 Nden2- 5’GAACCAGTTTGGTTDRTTTCATCGCTGCC 3 NS5 Bronzoni et.al.; 2005 Nden3- 5’ TTCCTCGTCCTCAACAGCAGCTCTCGCACT 3 NS5 Bronzoni et.al.; 2005 Nden4- 5’ GCAATCGCTGAAGCCTTCTCCC 3’ NS5 Bronzoni et.al.; 2005 4.5 Purificação Após a confirmação, os amplicons foram seccionados do gel com lâmina de bisturi estéril e purificado com Kit Perfectprep Gel cleaniup Kit (Eppendorf, USA), conforme instrução do fabricante. 4.6 Seqüenciamento do DENV Os amplicons obtidos da Hemi-Nested-PCR foram diretamente seqüenciados pelo método de interrupção da síntese da cadeia de nucleotídeo por dideoxinucleotídios, sem prévia clonagem e utilizando os respectivos primers sense e anti-sense. O DENV3 isolado das amostras analisadas foi seqüenciado na Unidade de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, utilizando o seqüenciador Personal Seq 4X4 gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Luiz Tadeu Moraes Figueiredo. Para obtenção da seqüência utilizou-se o kit Thermo Sequenase Cy5.5 dye terminator cycle sequencing (Amersham-Pharmacia-Biotech, USA). Para a mistura, utilizou-se aproximadamente 5µg de DNA purificado, 3,2 pmol do primer sense, 3,2 pmol do 36 primer anti-sense, 0,5 l de cada dideoxinucleotídeos (ddATP, ddCTP, ddGTP e ddTTP) contidos no kit, 1µl de DNA. Submeteu-se as amostras a 25 ciclos térmicos de 96ºC por 10 seg, 50ºC por 5 seg e 60ºC por 4 min. Em seguida, precipitou-se os amplicons com álcool isopropílico e depois foram submetidos ao seqüenciador automático Personal Seq 4x4 (Amersham-Pharmacia-Biotech, USA). Desenhou-se uma árvore filogenética usando o programa Clustal W do European Bioinformatics Institute, pelo método neighboring joining que determina a diferenciação molecular do vírus pelo comprimento dos clados do fenograma. Os números de acesso ao GenBank, assim como as referências bibliográficas se encontram na tabela 2. Tabela 2 - Referência usada para adquirir a seqüência gênica dos DENV3 através do GenBank. Acesso ao GenBank M93130 Referência Bibliográfica Osatomi,K. & Sumiyoshi,H., 1990. AF317645 Yuan,X., Geng,L., Li,X., Yu,M. Não-publicado AY679147 Miagostovich,M.P., dos Santos,F.B. & Nogueira,R.M.R. Nãopublicado AY099338 Peyrefitte,C.N., Couissinier-Paris,P., Mercier-Perennec,V., et. al. 2003. 4.7 Subtipagem do DENV-3 por Restrição Sítio Específica (RSS-PCR) Para subtipagem do DENV3 utilizou-se a técnica de subtipagem do sorotipo 3 do DENV por restrição de sítio específico - RSS-PCR, que faz análise da seqüência do gene E do DENV, a seqüência dos primers são mostradas na tabela 3 (HARRIS et.al.; 1999). A origem e o fragmento de cada subtipo de DENV-3 são mostrada na tabela 4. Para a RSS-PCR utilizou-se 3,0 μl do cDNA, com 5U/μl de 37 Taq DNA polimerase (GIBCO BRL, USA), 5,0 μl do tampão 10x (Tris-HCL 200mM, KCl 500mM) 2 mM de MgCl 2, 0,2 mM dNTPs 10mM, 0,5 pmol/μl dos primers. Completou-se o volume final para 50 ul com água ultra-pura. Submeteu-se a amostra a 30 ciclos térmicos para amplificação nas seguintes temperaturas: 94ºC por 30s, 55ºC por 1min, e 72ºC por 2 min e uma extensão final de 72ºC por 5 min. Submeteu-se 7μl dos produtos das PCR a corrida eletroforética em gel de agarose 1,5% (GIBCO BRL,USA) diluídos em TAE (0,04 M de Tris base 0,04M de ácido acético e 0,001M EDTA), acrescido de brometo de etídio 1μl/ml. Observou-se a presença de amplicons através de transiluminador com luz ultravioleta. Determinouse o tamanho dos amplicons através da comparação da linha de migração com as bandas do marcador de peso molecular de 100 pb (Invitrogen – USA) Tabela 3 - Seqüência dos primers e região de anelamento na RSS-PCR Primer Seqüência Região Referência RSS5 5’ CCAACATAACAACTGACTC 3’ E Harris, et.al.; 1999. RSS6 5’ GGCAAGGGAAGC(C/T)TGGTA 3’ E Harris, et.al.; 1999 RSS7 5’CTACATTTTAAGTGCCCCG 3’ E Harris, et.al.; 1999 RSS8 5’ GACAGGCTCCTCCTTCTTG 3’ E Harris, et.al.; 1999 Tabela 4 - Origem dos subtipos de DENV-3 identificados na RSS-PCR Subtipo Origem Fragmento A Indonésia, Filipinas e Malásia. 527pb e/ou765pb B Filipinas e Tailândia 655pb e/ou893pb C El Salvador, Guatemala, Nicaragua, Trinidade e Sri Lanka 527pb 38 5.0 - RESULTADOS 5.1 Isolamento Viral em Cultura de Célula Oitenta e quatro amostras de soro de pacientes com suspeita clínica de dengue foram inoculadas em células C6/36 na tentativa de isolamento viral. A visualização diária das placas permitiu a verificação da presença de efeito citopático em 24% dos poços das placas utilizando o microscópio invertido (Nikon, USA). Mesmo aqueles poços que não apresentaram efeito citopático foram submetidos a RT-PCR, pois o DENV é um vírus que causa pouco efeito citopático em relação às outras arboviroses. 5.2 RT-PCR Após a extração do RNA viral pela técnica do TRIzol , as 84 amostras foram submetidas à reação de transcrição reversa e posteriormente foram amplificadas pela técnica de PCR. Primeiramente, utilizou-se o par de primers, FG1 e FG2, universal para Flavivirus, gerando fragmento de 938pb. Obteve-se 44 amostras positivas e 40 negativas para Flavivirus, conforme tabela 5 e figura 5. 5.3 Caracterização Molecular do DENV por Hemi-nested PCR Os amplicons das 44 amostras positivas foram submetidas a Hemi-nested PCR, resultando na caracterização do DENV-3, os resultados das amostras por municípios são mostrados na tabela 6. Quarenta e quatro amostras geraram fragmento de 659pb caracterizando DENV-3, conforme figura 6. 39 Tabela 5 - Resultado das amostras analisadas, por município na primeira PCR, utilizando primers FG1 e FG2. Municípios Positivas Negativas Total Ariquemes - 03 03 Cacoal - 04 04 Colorado D’Oeste 08 06 14 Jaru 02 04 06 Ouro Preto D’Oeste 12 07 19 Porto Velho 20 10 30 Vilhena 02 06 08 Total 44 40 84 M 1 2 3 4 5 6 7 938pb 500pb Figura 5 - Gel de agarose a 2% corado com brometo de etídio mostrando os amplicons da RT-PCR com primers universais para Flavivirus. Em M: Marcador de peso molecular de 100pb. Linha 1 a 5: fragmento de 938pb das amostras de soro. Linha 6: controle positivo, DENV-2 Ceará. Linha 7: controle negativo, sobrenadante de células C6/36 não infectadas. 40 Tabela 6 – Resultado, por município, da caracterização das amostras através da Hemi-Nested-PCR. Municípios DENV3 Colorado D”Oeste 08 Jaru 02 Ouro Preto D’Oeste 12 Porto Velho 20 Vilhena 02 Total 44 M 500pb 1 2 3 4 5 6 7 659pb 316pb Figura 6 - Gel de agarose de 2,5%, corado com brometo de etídio, mostrando os amplicons da Hemi-Nested-PCR para caracterização do DENV-3 (659pb). Linha M: marcador de peso molecular de100pb. Linha 1 a 6: fragmento de 659pb das amostras de soro caracterizados como DENV-3. Linha 7: controle positivo DENV2 Ceará, fragmento de 316pb. 41 5.4 Análise do Sequenciamento do DENV-3 O DENV3 isolado das amostras analisadas foi seqüenciado na Unidade de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Analisou-se através da pesquisa de similaridade a seqüência do DENV3 de isolados de Colorado D’Oeste, Jaru, Ouro Preto D’Oeste, Porto Velho e Vilhena com seqüências nucleotídicas de DENV-3 encontradas no Genbank, utilizando o programa Clustal W disponível no site do European Bioinformatics Institute. A seqüência parcial obtida com as amostras é mostrada na figura 7. De acordo com os dados mostrados pelo programa, as amostras analisadas apresentaram 98% de similaridade com o DENV-3 quando comparadas entre as amostras isoladas no Estado de Rondônia, conforme mostrado na figura 8. 1 61 121 181 241 301 TCTTTTTGGGGAGTCTGCTTGGAATTTGTATTGCTCTGTCCAGGTATGGACCTCGTTGGT GACGAAGATTCCACTTCCACATTTGAGTTCTTTGCCTTTCCAGTTTATAACACATCCCAT GTCAGCTTGCACCACAGCTCCCAGATAGAGTGTAATGATTCCTATCGCAATGCATGAAAA TGACATGGATGTGTTTTTTGAATTCAACCCTATCCAAGTCAAGAGAACTCCTATTCCGAT TTTCATTACCCAAGAGACTCCACTGAATAGGGCTGTGTAAGCACTTCCGAAATATTTGGT GCACCATTTTGCCTAATGAGTTCAGAACACCACCCACTGATCC 343 60 120 180 240 300 Figura 7 – Seqüência gênica parcial do DENV3 isolado no Estado de Rondônia. DENVRO1 DENVRO2 DENVRO3 DENVRO4 DENVRO5 GGGGGTGTGTGACTACCATGGCTAAGAACAAGCCAACGTTGGATATAGAGCTTCAGAAGA GGGGGTGTGTGACTACCATGGCTAAGAACAAGCCAACGTTGGATATAGAGCTTCAGAAGA GGGGGTGTGTGACTACCATGGCTAAGAACAAGCCAACGTTGGATATAGAGCTTCAGAAGA GGGGGTGTGTGACTACCATGGCTAAGAACAAGCCAACGTTGGATATAGAGCTTCAGAAGA GGGGGTGTGTGACTACCATGGCTAAGAACAAGCCAACGTTGGATATAGAGCTTCAGAAGA ************************************************************ 180 180 180 180 180 DENVRO1 DENVRO2 DENVRO3 DENVRO4 DENVRO5 CCGAGGCCACCCAATTGGCGACCCTAAGGAAGCTATGCATTGAGGGGAAAATTACCAACA CCGAGGCCACCCAATTGGCGACCCTAAGGAAGCTATGCATTGAGGGGAAAATTACCAACA CCGAGGCCACCCAATTGGCGACCCTAAGGAAGCTATGCATTGAGGGGAAAATTACCAACA CCGAGGCCACCCAATTGGCGACCCTAAGGAAGCTATGCATTGAGGGGAAAATTACCAACA CCGAGGCCACCCAATTGGCGACCTTAAGGAAGCTATGCATTGAGGGGAAAATTACCAACA *********************** ************************************ 240 240 240 240 240 Figura 8 –Alinhamento parcial das amostras do Estado de Rondônia feito pelo programa Clustal W. 42 5.5 Análise Filogenética A árvore filogenética (fenograma) obtida pelo programa ClustalW do European Bioinfomatics Institute, pelo método de neighbouring joining, mostra pelo tamanho das linhas do clado a diferenciação molecular do vírus. Para elaboração dessa árvore além dos DENV seqüenciados do Estado de Rondônia, foram incluídos os DENV isolados no Brasil e DENV3 isolados de um caso de DHF/DSS ocorrido em Porto Velho (Figura 9). A árvore mostra dois clados partindo de um único ramo com o DENV3 isolado de um caso de DHF/DSS em Porto Velho juntamente com o DENV3, cepa H87 (M93130) originário da Filipinas e a cepa 80-2 (AF317645) originária da China. No clado maior é onde se inserem os DENV3 isolados no Estado de Rondônia juntamente com os outros DENV3 isolados em outras regiões do Brasil (AY679147) e na Martinica (AY099338), o que corrobora com os achados por outras instituições nacionais de pesquisa. 43 Figura 9 – Árvore filogenética mostrando os ramos com dois clados diferenciando as amostras isoladas no Estado de Rondônia. 44 5.6 Análise da Subtipagem do DENV-3 por RSS-PCR O cDNA das quarenta e quatro amostras caracterizadas como DENV-3 foram submetidas a RSS-PCR. Sendo que, uma das amostras de Porto Velho-RO gerou um fragmento de 655pb, subtipada como B e as demais amostras dos Municípios de Colorado D’Oeste, Jaru, Ouro Preto D’Oeste, Porto Velho e Vilhena geraram fragmentos 527pb, subtipadas como C conforme figura 10. M 1 2 3 655pb 500pb 4 5 6 7 527pb Figura 10 - Gel de agarose de 1,5% corado com bromento de etídio mostrando o produto da RSS-PCR para subtipagem do DENV-3. Linha M: marcador de peso molecular de 100pb. Linha 1: fragmento de 655pb da amostra de PVH. Linha 2 a 6: fragmento de 527pb das demais amostras. Linha 7 controle negativo DENV-2 Ceará. 45 6 - Discussão O apoio laboratorial, tanto sorológico como o isolamento viral, é considerado fundamental na vigilância ativa do dengue, em virtude da necessidade de confirmação diagnóstica, particularmente logo aos primeiros casos suspeitos em uma área indene, e também para a determinação da extensão geográfica da circulação e identificação dos sorotipos presentes bem como a informação sobre a possibilidade de ocorrência de formas graves de acordo com a origem dos sorotipos circulantes (TEIXEIRA et al., 1999). Os avanços no campo da biologia molecular tornaram possível estudar com maior facilidade o genoma dos Flavivirus, em especial o DENV. Diversos primers foram desenhados para amplificação do genoma do dengue. São amplificados os genes da proteína E, a intersecção entre C/prM, NS1 e NS3 e NS5 (BRONZONI et al., 2005; FIGUEIREDO, 1998; HARRIS et al., 1999; HENCHAL et al., 1991; LANCIOTTI et al., 1992; TANAKA, 1993). O uso da RT-PCR com primers universais para Flavivirus colabora, inicialmente, para um rápido diagnóstico da família viral facilitando o segmento com os primers para a Hemi-nested-PCR que identifica o vírus isolado. A padronização de diagnósticos moleculares rápidos na Unidade de Virologia identifica e caracteriza molecularmente o DENV, pois este altera seu potencial epidêmico e suas manifestações clínicas quando se move entre as populações, o que faz com que as apresentações epidemiológicas das infecções se expressem de modo muito variado. Assim as epidemias podem ser explosivas, seguidas de circulação endêmica, outras epidemias se comportam diferentemente, delineando picos epidêmicos consecutivos até estabelecer um período de baixa endemicidade de maior ou menor duração (TEIXEIRA et.al., 1999). 46 A reemergência das infecções causadas pelos quatro sorotipos do vírus dengue em diferentes regiões geográficas evidencia a força do processo dinâmico e progressivo de adaptação das populações de mosquitos que servem como transmissores do dengue, bem como, a velocidade de circulação e replicação viral. Durante as últimas décadas houve significante aumento da transmissão do vírus dengue em todo o mundo, resultado de uma expansão na distribuição geográfica deste, com a transmissão contínua dos sorotipos virais e emergência da DHF em áreas onde a doença não tem prevalência (CHAMBERS et al., 1997; PINHEIRO et al., 1997). O Estado de Rondônia, de acordo com SVS no ano de 2004 apresentou 5.762 casos suspeitos de dengue, o que evidencia que esta doença constitui uma indiscutível problemática de saúde não apenas pelas respostas imuno-patológicas dos diferentes sorotipos do vírus, mas também pela possibilidade de agravamento do cenário atual considerando que não há como prever, sob firmes bases científicas, futuras ocorrências de epidemias, inclusive das formas mais graves desta enfermidade, pois os fatores que determinam a reemergência destas infecções são difíceis de serem eliminados. De acordo com a SVS nos primeiros meses de 2005 os municípios de Jaru, Cacoal, Ariquemes, Pimenta Bueno, Vilhena, Ji-Paraná, Ouro Preto D’Oeste e Rolim de Moura apresentavam situação de epidemia, registrando mais de 2.700 casos da doença. Nestes municípios concentraram-se 91,3% dos casos notificados. Em três deles, Cacoal, Jaru e Ouro Preto do Oeste, ocorreram 18 casos de DENV3 com manifestações neurológicas (SVS 14/02/2005). Houve a coleta dos soros dos pacientes em conjunto com o Laboratório Central de Rondônia (LACEN), sendo que os resultados obtidos pela Unidade de Virologia corroboram 47 com os obtidos pela Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Quanto ao aparecimento de sintomas de neurovirulência do DENV3, não foi possível coletar o liquor céfalo raquidiano (LCR) para isolamento de vírus, pois os pacientes já se encontravam após o período de convalescença. Foram coletadas apenas amostras para o diagnóstico sorológico de DENV. Em estudos sobre neurovirulência do DENV3 na Malásia, após os seqüenciamento de cepas neurovirulentas, isoladas entre 1992 a 1994 e não-neurovirulentas, isoladas entre 1974 a 1981, não houve mutações significativas nos aminoácidos componentes da Proteína E. Assim, a neurovirulência pode estar associada a mutações em proteínas não-estruturais ou nas regiões não-codificantes (FONG et al., 2004) Os números apresentados podem não mostrar a totalidade dos indivíduos infectados, pois ocorre a subnotificação dos casos de DENV, podendo ser citado entre outros motivos, pelo menos três observados no atendimento feito na Unidade de Virologia. O primeiro é pela freqüência de infecções inaparentes. Segundo, em virtude de o quadro clínico ser confundido com muitas viroses febris. Terceiro motivo, após a epidemia estabelecida os pacientes fazem o tratamento sintomático em domicílio por não haver a existência de terapêutica específica. No presente trabalho foram estudadas 84 amostras de soros de pacientes com suspeita clínica de dengue que apresentavam quadro clinico de 1 a 5 dias de sintomas, coletados no período de janeiro de 2004 a fevereiro de 2005, nas cidades de Ariquemes, Cacoal, Colorado D’Oeste, Jarú, Ouro Preto D’Oeste, Porto Velho e Vilhena no Estado de Rondônia. Inicialmente, os soros das amostras foram submetidos ao isolamento viral em cultura de células C6/36, clone do Aedes albopictus. Onde, observaram-se através de microscópio invertido algumas 48 alterações morfológicas nas células. Das oitenta e quatro amostras, 24% sofreram alteração na sua morfologia, caracterizando o efeito citopático. Após o isolamento viral e acompanhamento das amostras, seguiu-se à extração do RNA viral e RT-PCR. O cDNA resultante da RT foi submetido à PCR, utilizando primers FG1 e FG2 universal para Flavivirus, que amplificam fragmento de 938pb do gene NS5 (BRONZONI et al., 2005). O PCR é seguida de uma Heminested-PCR com a finalidade de caracterizar as amostras DENV, utilizando primers específicos para cada sorotipo do vírus (BRONZONI et al., 2005). Atualmente o uso de primers universal para identificação de arbovírus constituiu-se a melhor opção para identificação desses vírus, principalmente em uma região favorável a propagação destes. Visando tornar confiáveis os resultados, amostras obtidas no GenBank associadas a cinco amostras seqüenciadas de Porto Velho foram analisadas através da pesquisa de similaridade pelo programa Clustal W. O cladograma confirma os resultados do seqüenciamento, com exceção da amostra coletada de uma paciente com suspeita de DHF no Hospital “João Paulo II”. A amostra foi coletada na segunda quinzena de dezembro de 2003 e a identificação e caracterização molecular foi realizada em fevereiro de 2004. Essa amostra formou um clado atípico, pois sua similaridade é com DENV3 isolados na Filipinas. O resultado sugere a introdução de uma nova cepa no país, pois no Brasil as cepas circulantes de DENV3 têm origem na América Central. Foram realizados os testes de IgM e IgG confirmando a doença. O soro obtido da paciente foi por cinco vezes repassado em células C6/36 de lotes diferentes e seqüenciados todas às vezes, provando assim não se tratar de uma contaminação laboratorial. 49 Das quarenta e quatro amostras dos municípios de Colorado D’Oeste, Jaru, Ouro Preto D’Oeste, Porto Velho e Vilhena caracterizadas como DENV-3, quarenta e três amostras foram tipadas como tipo C, de origem na América Central, circulante em El Salvador, Guatemala e Nicarágua (HARRIS et al.; 1999) e portanto, compatível com o DENV3 circulante no Brasil. Em consonância com a árvore filogenética obtida, a RSS-PCR identificou um paciente de DHF como sendo do tipo B, com origem na Tailândia ou Filipinas sugerindo a entrada de uma nova cepa oriunda de outro continente no país. A tipagem de cepas é uma ferramenta fundamental para a análise epidemiológica molecular, fornecendo informações importantes sobre a dispersão dos vírus, sendo este tipo de informação de suma importância podendo ser usada para alertar as autoridades de uma potencial epidemia, mobilizando a implementação de recursos apropriados para a prevenção e controle desta moléstia (MIAGOSTOVICH et al.; 2003). A RSS-PCR já foi utilizada para subtipar amostras de epidemias causadas por DENV2 e DENV3 ocorridas na Nicarágua, El Salvador e Brasil (BALMASEDA et al., 1999; SIMONE et al., 2004). Sendo assim, a RSS-PCR mostrou ser uma importante metodologia utilizada na detecção rápida da penetração de novas cepas virais em determinadas comunidades, contribuindo para o monitoramento dos sorotipos do vírus circulantes e na adoção de medidas preventivas contra à disseminação de novos sorotipos, cooperando com futuros estudos relacionados à epidemiologia e a biologia molecular, bem como, com o desenvolvimento de futuras estratégias de controle da doença. No entanto, quando comparada com outras técnicas moleculares utilizadas na Unidade de Virologia de Porto Velho, foi considerada de difícil reprodutibilidade, sendo sua padronização dificultada pelo fato de que os reagentes usados não 50 foram os mesmos recomendados pela autora Harris et al. (1999) no artigo sobre RSS-PCR. Tendo em vista que, o Estado de Rondônia se encontra numa região que favorece o fluxo de pessoas provenientes de outras regiões do país e de outros países, acaba se tornando uma porta de entrada para a circulação de novos sorotipos, o que sugere a necessidade da ampliação na vigilância no sentido de isolar, sorotipar e subtipar novas amostras do DENV, para tentar estabelecer uma correlação de virulência do sorotipo circulante no Estado com outras cepas já estudadas. 51 7 - CONCLUSÕES Diante dos resultados apresentados nesta pesquisa pode-se concluir que: A RT-PCR seguida da Hemi-nested-PCR utilizando primers de arbovírus mostrou-se eficiente para o diagnóstico molecular do DENV e seus respectivos sorotipos. Através dos estudos epidemi-moleculares no Estado de Rondônia confirmou-se que o sorotipo circulante do vírus dengue é o DENV3. A RSS-PCR pode colaborar com a detecção de novos subtipos de DENV3. 52 7 – Referências bibliográficas: AQUINO, V.; ANATRIELLO, E.; GONÇALVES, P.; SILVA, E.; VASCONCELOS, P.; VIEIRA, D.; BATISTA, W.; BOBADILLA, M.; VAZQUEZ, C.; MORAN, M. e FIGUEIREDO, L. Vírus Dengue tipo 3, no Brasil e Paraguai, 2002-2004. Emerging Infectious Diseases, Manuscrito 05-0924, p.8-11. 2005. BALMASEDA, A.; SANDOVAL, E.; PÉREZ, L.; GUTIÉRREZ, M. and HARRIS, E. Application of molecular typing techniques in the 1998 Dengue Epidemic in Nicaragua, American Journal Tropical Medicine and Hygiene, Califórnia, v. 6, n. 16, p. 893-897, 1999. BANCROFT, T.L. On the etiology of dengue fever. 1906. In: VERONESI, R. and FOCACCIA, R. Tratado de infectologia, 2ª ed. 2v. São Paulo: Atheneu, cap 13 p.204, 2002. BARRETO, M.L.; CARMO, E.H. Situação de saúde da população brasileira: tendências históricas, determinantes, e implicações para as políticas de saúde. Informe Epidemiológico do SUS; v. 3 , p. 7-34, mar/abr,1994. 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